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quarta-feira, 17 de março de 2010

Augusto Abelaira nasceu a 18 de Março de 1926


Augusto Abelaira, 1926 - 2003
Augusto Abelaira, nascido a 18 de Março de 1926, em Ançã (Cantanhede ), passou a sua infância entre os Açores e o Porto, fixando-se em Lisboa em 1943. Licenciou-se em Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1953), depois de uma curta passagem pela Faculdade de Direito, apresentando uma tese, ainda inédita, sobre Garcia da Orta. Foi professor durante alguns anos, tendo-se dedicado posteriormente apenas à escrita, ou como jornalista ou como ficcionista e dramaturgo e mais esporadicamente como tradutor. Desempenhou alguns cargos, entre outros: director das revistas Seara Nova(1969-1973) e Vida Mundial (1974-1975), director adjunto de programas na RTP (1976) e presidente da Associação Portuguesa de Escritores (1978-1979).
Cedo se iniciou na política e na escrita literária, como o atestam os materiais existentes no espólio, de que se dá conta nesta exposição: jornais infantis, poesias, contos, peças de teatro. Sabe-se que em criança também ensaiou argumentos para filmes.
A sua estreia literária data de 1947 com um pequeno ensaio «Sinceridade e falta de convicções na obra de Fernando Pessoa» (Mundo literário, nº 51, 25 Abr. 1947), embora em 1945 uma poesia sua (género que cedo abandonou) já tivesse aparecido na imprensa (Primeiro de Janeiro, 11 Jul. 1945).
Os seus primeiros romances, que datam dos anos 40, permanecem até hoje inéditos, tendo sido recusados pelas editoras da época:Lugar-geométrico, Beco sem saída e Os anos Inúteis. Recusado também pelas editoras, mas neste caso por razões políticas, A Cidade das Flores foi publicado em edição de autor (1959), tendo sido sucessivamente reeditado ao longo dos anos (a última em 2004). É de salientar que as primeiras edições sofreram significativas alterações, ou mesmo reescrita, como pode ser visto nos exemplares existentes no espólio. Romance que marcou toda uma geração, Florença, cidade onde se situa a narrativa, tornou-se uma «cidade abelairiana», como lhe chamam numerosos leitores e amigos que ao longo da vida lhe vão enviando notícias dessa «cidade das flores».
Como ficcionista publicou 11 obras, tendo o seu último romance (Nem só mas também) sido publicado postumamente. Foi distinguido com vários prémios literários: Boas intenções (1963) recebe o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências; Sem texto entre ruínas o Prémio Cidade de Lisboa; Enseada amena(1966) o Prémio de Romance do IV Encontro da Imprensa Cultural e Outrora agora (1996) os seguintes prémios: Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB, Prémio da Crítica da Associação Portuguesa dos Críticos Literários, Prémio Municipal Eça de Queiroz, da C.M.L. e o Prémio P.E.N. Clube Português de Ficção.
Como dramaturgo publicou três peças de teatro, uma delas – A palavra é de oiro (1961) – foi proibida de representação pela Comissão de Exame e Classificação dos Espectáculos.
Como jornalista foi colaborador da imprensa diária (Diário Popular, Diário de Lisboa) e de numerosas revistas (Almanaque; Gazeta Musical e de todas as Artes; Vértice; Seara Nova). Foi também cronista de O Jornal (1978-1992) e do JL ( 1981-1996), com as colunas intituladas, respectivamente, «Escrever na água» e «Ao pé das letras» .
A sua intervenção política data dos tempos da Faculdade (MUD Juvenil), tendo integrado os movimentos de oposição ao regime. Em 1965 foi preso por alguns dias juntamente com outros membros do júri que atribui o Prémio da Novelística da Sociedade Portuguesa de Autores a Luandino Vieira, na altura preso no Tarrafal.
Os cafés são locais privilegiados em Abelaira, locais de convívio e locais de escrita. Fez parte das tertúlias dos cafés «Bocage», «Chiado», «Monte Carlo», entre outros, e mais tarde da «Nobreza» (a figura de Carlos de Oliveira sempre presente mesmo quando já ausente) e da «Cister». Outros cafés (como o «Caleidoscópio» nos últimos tempos) estavam particularmente vocacionados para a escrita («a primeira fase consiste em escrever, escrever para a frente»), porque as fases seguintes, de reescrita e montagem, têm de ser em casa («seria preciso andar com uma mala e espalhar muitos papéis»), mas o café é também local de observação: estou a observá-la, embora não com os olhos, mas com uma esferográfica, uma esferográfica azul, cilíndrica, macia, a observá-la e a procurar adivinhar quem ela é (ela, mulher subitamente desconhecida, letra a letra se esclarecendo enquanto estas páginas se escurecem). (Bolor, Bertrand, 1968, p. 14)

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