A Crise ctual e os Ciclos de Kondratieff
No passado mês de Setembro fez 70 anos que o regime comunista de Moscovo assassinou um dos grandes génios do Século XX. Trata-se do economista Nikolai Dmytriyevich Kondratieff, executado numa prisão de Moscovo em 1938 após 8 anos de tortura e prisão, o que envergonha todos os marxistas. .
A Kondradieff se deve a descoberta dos ciclos longos. Para o efeito estudou as variações nos mercados do carvão e aço e a sua ligação com as fases em que se produzem inventos e as em que estes são aproveitados nas novas técnicas.
Ainda em 2007, o economista canadiano Ian Gordon adaptou os ciclos de Kondratieff à evolução financeira das nações, introduzindo um conceito de prolongada estação do ano, o que leva a considerar que o Mundo está num Inverno económico-financeiro:
Assim, em síntese, o actual ciclo longo de Kondratieff tem as seguintes fases ou “estações”:
1) Primavera com início no fim de 1949: A economia começa a renascer das cinzas da guerra mundial e da redução das dívidas de guerra. A confiança regressou e o optimismo instalou-se, mas a concessão e procura de créditos permanecia cuidadosa. Ninguém se esqueceu do Inverno1929-1949.
2) Verão iniciado por volta de 1966: A actividade creditícia aumenta, a inflação começa, os mercados entram em euforia, as matérias-primas começam a escassear. Esta fase terminou na recessão de 1980-1982.
3) Outono a partir de 1980-1982: Foi uma época excelente com poucas guerras. A falta de matérias-primas deixou de ser sentida e estas tornaram-se mais baratas, a começar pelo petróleo. Em compensação aumentou o valor da actividade rentista. Em muitos países assistiu-se a um surto da construção civil financiado por créditos baratos. A inflação do não dinheiro (activos mobiliários) permitiu o endividamento dos Estados, a abertura das fronteiras, as deslocalizações para os países emergentes; enfim, a globalização triunfante.
4) Inverno iniciado por volta de 2000 sem que se tenha dado muito por isso; as temperaturas financeiras permaneciam amenas. Pequenas quedas dos índices da bolsa eram seguidas de novas subidas. A política do juro baixo de Alan Greenspan camuflou um ciclo que deveria ser de “demolição” do endividamento. A falência da gigantesca Enron e das Worldcom nos EUA foi apenas um pequeno um aviso. As explicações foram de culpabilização dos administradores. Talvez seja possível recuar mais no tempo a data do início do actual Inverno, recordando uma queda bolsista de 1987 resolvida com injecções de liquidez por parte de alguns bancos centrais, a deflação japonesa a partir de 1990, a crise escandinava de 1992, a crise asiática de 1997 e a crise russa de 1998. Isto mostra que no interior das fases há também pequenos períodos de Primavera, Verão, Outono e Inverno.
Os ciclos longos de Kondratieff em todas as suas fases podem durar 60 a 80 anos e cada fase tende a durar uns 20 anos. O actual pico é mais o fim do Inverno que o início de uma longa depressão.
A crise de 1973-1974/5 foi apenas uma fase parcial do Verão devido ao grande aumento do preço do petróleo e algumas matérias-primas que logo a seguir voltaram à normalidade. Os enormes recursos obtidos pelos países petrolíferos foram investidos no Ocidente na compra de armas e bens de grande luxo que proporcionaram lucros tão avultados que houve quem lamentasse a subsequente quebra do preço do “crude”.
O actual Inverno de Kondratieff é uma passagem de situação de bem-estar para mal-estar, o que não parecia dramático, pois a análise dos últimos anos da comunicação social generalista deu-nos a ideia de que as sociedades estavam fartas do bem-estar e desejavam o mal-estar a qualquer preço, tão concentrados estavam os noticiários em tudo o que fosse mau. A crise actual é também a consequência de um desenvolvimento natural do excesso de produção e saturação dos mercados. A tese marxista do “Lumpenproletariat”, proletariado esfarrapado, que não consome e provoca a saturação do mercado mais ou menos ricos continua válida. A diferença relativa ao Século XIX é que a situação é global. Curiosamente, o tal proletariado esfarrapado que trabalha para o grande capital é o trabalhador da China Comunista com o seu salário de 50 cêntimos do dólar à hora. Os países europeus, incluindo Portugal, os EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Japão, Taiwan, etc. são os ricos com mercados saturados.
A China conseguiu rebentar com os mercados ocidentais, mas sofre a mesma sorte, pois as exportações estão em queda. Além disso, a crise significou a perda biliões de horas de trabalha em termos de desvalorização das gigantescas reservas monetárias investidas em activos mobiliários.
A grande infelicidade das economias é que o crescimento resulta sempre de uma intensificação da exploração do trabalhador. Quando se estabilizam os salários relativamente aos aumentos dos preços deixa de haver crescimento significativo.
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