Previsão do Tempo

sábado, 6 de março de 2010

Faz no dia 6 de Março 18 anos que morreu Maria Helena Vieira da Silva

Vieira da Silva nasceu em 1908, filha única de Marcos e de Maria Vieira da Silva. Não foi à escola, vinham ensiná-la a casa. Entre 1919/1927 estuda desenho com Emília Santos Braga; pintura com Armando Lucema, professor da Escola de Belas Artes; posteriormente estuda por iniciativa própria Anatomia, frequentando o curso leccionado pelo professor Vilhena, de Belas Artes, leccionado na Faculdade de Medicina. Filha única, criança solitária é a família que a remete para a observação para não cair em aborrecimento. «(...) Diziam-me: Uma menina inteligente não se aborrece. Olha. Olha. Olha para os livros. (...) para a árvore, (...) para o pássaro. (...) ouve música. Ouve o barulho. (...) ». (Jean-Luc Daval, 1994, p.95). No mundo dos livros, da cor, dos sons encontra refúgio nas horas em que se sente completamente sozinha e profundamente triste. A imaginação está no seu olhar. O conhecimento dos livros e da vida, a partir destes, leva-a a configurar outras coisas. Existe uma continuidade em si. Era persistente. A sua obra viria a ter o poder dessa revelação. Não tinha amigos, mas desde muito cedo, apenas com dois anos de idade, viaja pela Europa juntamente com os pais. A Suíça, Paris, Bretanha, Inglaterra são paragens obrigatórias. Irá conhecer a cultura e o povo do Brasil mais tarde. Os marcos fundamentais da sua infância foram , as constantes viagens a música e a biblioteca do avô materno, Silva da Graça, o fundador do jornal O Século, de tendências liberais. Fechada no seu espaço individual, cedo toma consciência da sua integração num grupo de maior dimensão quando, na biblioteca do avô, estabelece contacto com informações que chegavam através de panfletos, documentos, programas. Será, nesta mesma biblioteca, que Vieira da Silva estabelecerá contacto com outras culturas. É através dos livros que descobre a Pintura Ocidental. Tinha liberdade para frequentar teatros e concertos. Desde a mais tenra idade estuda piano e a própria família incentiva-a a desenvolver o interesse pela a música. Esta é uma paixão que a acompanha toda a vida. O som da música acompanhará o seu acto de pintar. A sua curiosidade leva à exploração de vários estilos musicais. Analisa obras, interpretações, estuda e aprofunda conhecimentos com leituras complementares. O conhecimento da música proporcionará à pintora, a capacidade de integrar diversos agentes pictóricos, nos seus traços abstractos e sempre se Verificará uma aproximação entre a música e a pintura. Entretanto o ambiente do país, e em Lisboa, era de tensão e de fortes emoções. A conjuntura política, o próprio governo, inspirava instabilidade e os confrontos entre monárquicos e republicanos eram permanentes. No seu apartamento, de portas encerradas, observa toda os tumultos, e conflitos em que as angústias eram quase permanentes. Ao fazer referência a estes momentos diz: «Vivi muito desenraizada. É verdade, tinha uma casa em Lisboa, família, talvez hábitos até, mas nunca sabia o que o dia seguinte me traria.» (Guy Weelen, 1992, p.18). Qualquer imprevisto, ou acontecimento repentino, desmuronava projectos que na ocasião eram feitos. Projectos não eram possíveis, o futuro mostrava-se instável. A incerteza, as agitações e os sinais que anteviam desastres passíveis de imaginar (ex.: objectos fora do seu lugar, os tinidos dos lustres), antecediam a cruel e fria morte. Esta figura temível era destruidora prematura de gestos, vozes, amizades acabadas de fazer, transformando as recordações num grande manto de pequenos e fragmentados retalhos da vida diária.«O amanhã tinha forma de interrogação suspensa!». (Guy Weelen, 1992, p.18)O facto do ambiente familiar não ter sido afectado pelos conflitos políticos contribuiu para o seu equilíbrio psicológico, apesar do passado ficar impresso na memória mais profunda. Aos vinte anos Vieira da Silva escolhe Paris para estudar. É na "cidade das luzes" que realizará a maior parte das suas obras, mas, na sua memória, Lisboa permanece como "cidade dos primeiros encantos".Lisboa é retratada, na sua pintura labiríntica, com uma minuciosa e extraordinária descrição. A luz branca, espelhada nos azulejos que revestem as superfícies dos antigos edifícios desta cidade, é evocada numa composição que sugere rimas, ritmos, assemelhando-se a uma "partitura orquestral".Esta luz branca é, em parte, diminuída pela névoa em tons de cinzento de Paris, pela bruma que se mistura com outras cores que complementam: azuis e ocres. O próprio Cézanne reconhecia que o cinzento era a tonalidade a que o pintor devia ser sensível, pois não o sendo não poderá ser considerado pintor. Este tom, esta cor, é aquilo que reúne todas as cores, incluindo o branco. De Portugal absorve em todos os sentidos e sob todas as perspectivas, a luz, as estações, os cheiros, as cores.«Já não podia progredir em Lisboa. A pintura que fazia já não me satisfazia. Não sabia como fazer nem o que fazer. Tinha começado a fazer escultura o que me foi muito útil porque me deu um contacto com o real. Reproduzia o que via, era capaz de esculpir uma cabeça. Isso deu-me confiança.» (Jean-Luc Daval, 1994, p.96)A sua partida para Paris tem como intuito encontrar-se a si própria; pintar tanto o espectáculo que a rodeava (de acordo com os meios de que disponha) como tudo o que era inesperado, a multiplicidade de acontecimentos e as suas contradições. 

Em Paris, em 1928,  na Academia La Grande Chamière, Maria Helena Vieira da Silva conhece Arpad Szenes, ao lado de quem viveu, durante cinquenta e cinco anos. Partilhando uma cumplicidade profunda e intensa no amor pela pintura, as suas obras e vidas interligam-se intimamente em respeito e admiração mútua. Sobre eles, dizia Mário Cesariny: «Arpad Szenes e Vieira da Silva são a mais bela história de amor e pintura que jamais conheci».Entre 1929 e 1932 participam ambos nos cursos de Bissière na Academia Ranson. Bissière encontra nas obras destes dois artistas, o seu prolongamento ontológico. A proposta estética de Arpad não se diferencia em muito da de Vieira da Silva.Apesar de terem estilos diferentes existe em ambos um respeito pela pureza dos meios de expressão seleccionados para o acto de pintar.Vieira da Silva inicia a partir de 1935, a realização de pinturas abstractas cujas concepções originais a posicionaram como uma das pintoras de vanguarda.Abandona temporariamente Paris, pois procura reflectir e precisa de solidão. É neste período que volta a Portugal. É igualmente nesta altura que António Pedro organiza uma exposição sua, na galeria U.P. e constata-se que os seus quadros são os primeiros quadros modernos que em Portugal se expõem desde Amadeu Sousa Cardoso.Quando em 1956 o governo de Salazar nega a nacionalidade portuguesa a Arpad Szenes, então em situação de apátrida, o casal decidiu-se pela naturalização francesa. Portugal com esta atitude não só perdeu uma pintora como repudiou mais um grande nome da sua cultura.A França é por excelência a pátria que a adoptou, que fez o seu nome atingir ressonâncias de nível internacional, pois Portugal, sua pátria natal, pouco fez por ela e o que fez, fê-lo  tardiamente - apenas nos útimos anos e depois da sua consagração internacional, o país acordou e demonstrou algum interesse, nomeadamente através da criação da Fundação Arpad Szenes -Vieira da Silva que assume a tarefa, de recolha e junção das obras de Vieira da Silva.O seu falecimento a 6 de Março de 1992, deixou um e irreparável  vazio na pintura deste século.  Sepultada junto a Arpad e a sua  mãe, num cemitério próximo de Loire, na França, deixa para a  posteridade os seus quadros, alguns dos quais estão expostos  na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva.

Sem comentários:

Enviar um comentário