Nascido no Porto em 3 de Março de 1394, o Infante foi o quinto filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. Em 1414 convenceu o pai a organizar a expedição a Ceuta, que foi conquistada em 1415, marcando o início da expansão portuguesa. Se não existisse “um Infante D. Henrique, planeador, estratega, com a noção do que pretendia e a insistir sistematicamente, esta expansão teria ficado a meio, como ficou noutros países”, assegura Ferreira do Amaral.
O sucesso deste feito valeu ao Infante, nesse ano, os títulos de duque de Viseu, desconhecido então em Portugal, e de senhor da Covilhã, o que aumentou largamente o seu património. Aos rendimentos da sua casa senhorial juntou os da Ordem de Cristo, da qual foi nomeado regedor em 1420. Foi este desafogo económico que o levou a organizar, primeiro, uma armada de corso e, mais tarde, a exploração do Atlântico. “É o único português que figura em todas as histórias da Europa”, afiança o jornalista Carlos Magno. O Infante D. Henrique queria enriquecer mas, acima de tudo, conhecer novos mundos. Tinha aquela lucidez forte e taxativa dos visionários com um objectivo traçado. “Era muito pragmático. Procurou sempre engrandecer a sua casa, ao mesmo tempo que perseguia um sonho: o da cruzada”, concretiza João Oliveira e Costa, director do Centro de História de Além-Mar, da Universidade Nova de Lisboa. “Os descobrimentos nasceram dessa combinação.”
De facto, navios ao seu serviço chegaram pela primeira vez à Madeira em 1419 e aos Açores em 1427, ilhas que foram povoadas por ordem do Infante. Mas este homem de espírito voluntarioso e extraordinária obstinação queria ir mais além. O reconhecimento da costa ocidental africana era um dos seus objectivos. A passagem do cabo Bojador por Gil Eanes em 1434 foi um grande êxito e terminou com os medos ancestrais relacionados com aquelas paragens longínquas. Já tinham sido feitas diversas tentativas para dobrar o cabo, mas os navegantes acabavam sempre por recuar. “Se a sociedade global em que vivemos tem uma origem remota e indiscutível, é a passagem do cabo Bojador por Gil Eanes”, garante João Oliveira e Costa. O Infante D. Henrique “é o primeiro marco da globalização”, confirma Fernando Seara, presidente da Câmara de Sintra.
O Infante não se dedicou à navegação por simples aventura, “dedicou-se de forma científica, mas também religiosa, porque queria propagar a fé cristã e combater o islamismo”, diz o cantor João Braga. “Discutiu-se muito sobre o seu objectivo, mas acho que, na verdade, o objectivo final era fazer um ‘bypass’ ao cordão islâmico do Norte de África”, clarifica Ferreira do Amaral.
A sua biografia não é feita só de êxitos. De facto, foi um dos principais proponentes da conquista de Tânger, que se tentou em 1437 e que terminou de forma trágica devido à prisão e posterior morte no cativeiro do seu irmão, o infante D. Fernando. As viagens de exploração foram retomadas em 1441, com Dinis Dias a chegar ao rio Senegal e a dobrar o cabo Verde três anos depois. A Guiné é ainda visitada no seu tempo. Até ao ano da morte do Infante D. Henrique, em
Apesar de só ter sulcado as ondas do oceano para as suas expedições de conquista em Marrocos, ficou conhecido como “o Navegador”. Um cognome bastante merecido, pois é a ele que se deve o primeiro impulso e grande incitamento das navegações posteriores.
Segundo a lenda, o Infante D. Henrique fundou, como governador do Algarve, a mítica “Escola de Sagres”, com relevante importância, mas que nunca existiu no sentido físico, como explica João Oliveira e Costa: “É no Sudoeste algarvio que nasce a caravela dos descobrimentos e alguns dos instrumentos de orientação em alto-mar, que depois foram usados com sucesso. Nessa perspectiva, podemos dizer que houve uma ‘Escola de Sagres’. Não no sentido de um edifício.”
Apaixonado pelas ciências cosmográficas, o Infante foi o maior matemático do seu tempo, aplicou o astrolábio à navegação e inventou as cartas planas. Reuniu à sua volta os melhores cérebros internacionais no campo da ciência. “Trouxe o que de melhor havia na Europa em termos de navegadores, astrónomos, gente que conhecia o mar”, refere Filipe de Botton. “Foi buscá-los e deu-lhes todas as facilidades para poderem trabalhar”, explicita Teresa Lago, professora catedrática de Astrofísica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
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