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sábado, 10 de abril de 2010

A 11 de Abril de 1961 o General Botelho Moniz tenta fazer um golpe de estado palaciano,

Há quarenta anos, em 1961, o regime Salazarista começava a tremer. A oposição tornava-se mais audaz, a agitação instalava-se no seio das Forças Armadas, a guerrilha eclodia nas colónias africanas. O ano que começara com o massacre de plantadores de algodão, em greve na zona de Malange (Angola), viria a revelar-se como uma cadeia de acontecimentos nefastos para a tranquilidade da Ditadura, há 35 anos implantada em Portugal.
Em Janeiro de 1961, o capitão Henrique Galvão, à frente de um grupo de exilados políticos, desviava o paquete "Santa Maria". Em Fevereiro, estalava a insurreição angolana. Em Abril, o general Botelho Moniz, ministro da Defesa Nacional, via gorar-se a sua tentativa de golpe de estado palaciano. Em Agosto, o PAIGC proclamava a passagem à insurreição, na Guiné. No fim do ano, a Índia tomava o chamado Estado da Índia portuguesa. A Oposição estava particularmente activa: uma grupo afim do que desviara o "Santa Maria" desvia um avião da TAP. Dirigentes comunistas fogem da cadeia de Caxias, a Oposição Democrática desiste das "eleições" à boca das urnas. Em Dezembro, a PIDE assassina, numa rua de Lisboa, o pintor e escultor comunista José Dias Coelho. No mesmo mês, o general Humberto Delgado entra, clandestinamente, em Portugal; no dia seguinte, frustra-se o assalto ao quartel de Beja.
O ano de 1961 foi, de tal modo fértil em acontecimentos, que bastaria debruçar-nos sobre um só deles para que ficasse elaborado um trabalho, pleno de interesse e significado. Como pretendemos focar uma imagem global daquilo que se passou, no aspecto político, há quarenta anos atrás, optámos por honrar os eventos sob a forma de cronologia, necessariamente sucinta.


Janeiro

Dia 15 - A Igreja Católica divulga uma nota, através da Imprensa, onde apoia o regime colonial-fascista.Dia 21 - Inicia-se em Curaçao, a "Operação Dulcineia", que se traduz no assalto ao "Santa Maria", rebaptizado pelos ocupantes de "Santa Liberdade". Comanda a operação Henrique Galvão, dissidente do regime, à frente de militantes do DRIL (Directório Revolucionário Ibérico de Libertação), treze portugueses, onze espanhóis e dois venezuelanos. Na acção, regista-se a morte de um oficial do navio e de dois feridos. Nos planos de Galvão figuraram ataques a Fernando Pó, possessão espanhola, e a Luanda, com o apoio de rebeldes locais.Dia 25 - Um avião norte-americano sobrevoa o "Santa Maria", indicando, pela primeira vez, a sua verdadeira posição.Dia 27 - O dirigente angolano Mário Pinto de Andrade declara que a luta de libertação das Colónias é independente dos planos de Delgado e Galvão para derrotar a Ditadura.Dia 28 - É entregue ao Presidente da República, Almirante Américo Tomaz, um documento subscrito por elementos te Américo Tomaz, um documento subscrito por elementos da Oposição; representada por Azevedo Gomes, Eduardo Figueiredo e Acácio Gouveia, que solicitam uma audiência.Dia 31 - É divulgado o documento "Programa para a Democratização da República", cujo primeiro signatário é Mário de Azevedo Gomes.
Henrique Galvão conferencia com o almirante Allen Smith, da Armada americana, a bordo do "Santa Maria".
Suspensão do jornal "República".
Agitação estudantil contra o não reconhecimento, pelo Governo, da direcção da Casa dos Estudantes do Império, eleita democraticamente.
Revolta na Baixa do Cassange (Angola).

Fevereiro
Dia 2 - O "Santa Maria" entra no porto de Recife (Brasil). Humberto Delgado e Henrique Galvão conferenciam, a bordo.Dia 4 - O "Santa Maria" é entregue ao adido naval português. É imediatamente ocupado por elementos da Legião Portuguesa, de propósito deslocados para o Brasil.
O governo brasileiro concede asilo político aos participantes da "Operação Dulcineia".
Começo da insurreição Angolana: O MPLA tenta o assalto à Casa de Reclusão Militar, ao Quartel da Companhia Móvel da PSP e à Emissora Oficial de Luanda.
Dia 16 - O "Santa Maria" chega a Lisboa.Dia 27 - "Pacificação" da Baixa do Cassange.
Março
Dia 11 - Tentativa insurreccional, conhecida por Revolta da Sé. Participam diversos elementos da Oposição, civis e militares, como o capitão Varela Gomes, capitão Vilhena, Manuel Serra, Emídio Santana.Dia 15 - Começo da insurreição no Norte de Angola, sob a égide da UPA (União dos Povos de Angola).Dia 21 - A fim de não repetir o "susto" Delgado, o Chefe de Estado passa a ser eleito por um Colégio Eleitoral.Dia 23 - Portugal abandona a sala de sessões da Assembleia Geral da ONU, no início da discussão da situação em Angola.Dia 24 - Os estudantes de Lisboa festejam o Dia de Estudante, apesar da vigilância policial. Esta será a última vez que a comemoração não é proibida.Dia 31 - É preso, em Luanda, o reverendo Mendes das Neves, vigário-geral da Diocese, por apoiar a revolta.
Álvaro Cunhal é eleito secretário-geral do PCP.
Galvão divulga, no Rio de Janeiro, um comunicado intitulado "Salazar demagogo".
Prisão e deportação para Portugal de nove padres angolanos.

Abril
Dia 4 - Aumento considerável do contingente da PIDE.Dia 9 - Henrique Galvão é entrevistado pelo "Estado de S. Paulo", onde pertencem os jornalistas portugueses Miguel Urbano Rodrigues e Vítor da Cunha Rego, participantes na "Operação Dulcineia".Dia 11 - O general Botelho Moniz, ministro da Defesa Nacional e figura destacada no pronunciamento do 28 de Maio, afirma "ser de interesse nacional a demissão de Salazar".Dia 12 - O Presidente da República reitera toda a confiança a Salazar, recusando-se a receber Botelho Moniz, que lhe solicitara audiência. Dia 13 - Remodelação governamental, com demissão de Botelho Moniz. Oliveira Salazar assume a pasta da Defesa. Kaulza de Arriaga; subsecretário de Estado da Aeronáutica, assume-se como o desmantelador da tentativa golpista de Botelho Moniz.Dia 18 - Partem para Angola tropas pára-quedistas aerotransportadas.
É criada a conferência das Organizações Nacionais das Colónias Portuguesas (CONCP), em Casablanca.
Dia 21 - Partem paquetes com tropas para Angola.Dia 30 - Greves de pescadores, em Peniche e Matosinhos.
Maio
Dia 4 - Nova remodelação ministerial.
Nas eleições associativas, os estudantes de Coimbra boicotam as listas da Mocidade Portuguesa. A lista associativa ganha as eleições.
O "Avante!" apela à deserção. Manifestações e protestos de soldados e populares contra a partida de tropas para Angola.
É criado o Movimento Nacional Feminino, de apoio ao Regime.

Junho
Dia 15 - Primeiro grande embarque de tropas para Angola.Dia 22 - Nova remodelação ministerial.
Paralisações e protestos contra a jornada de trabalho gratuito em favor da guerra de Angola. Boicote a espectáculos, a favor da guerra.

Julho
Dia 27 - O Daomé (actual Benin) ocupa a feitoria portuguesa S. João Baptista de Ajudá, na costa da África Ocidental.
Agosto
Dia 9 - As tropas colonialistas reconquistam Nambuangongo (Angola).
Setembro
Dia 6 - É abolido o Estatuto do Indígena, em Angola, Moçambique e Guiné.Dia 20 - As tropas portuguesas reconquistam a Pedra Verde (Angola).
Outubro
Dia 5 - Manifestações em Lisboa e Alpiarça, que originam diversas detenções.Dia 13 - Carta Aberta de Amílcar Cabral, líder do PAIGC, ao governo Português, reclamando a independência da Guiné e Cabo Verde.Dia 26 - Os elementos das Forças Armadas ficam proibidos de participar em actos políticos, excepto eleitorais.Dia 27 - Henrique Galvão concede uma entrevista, em Estocolmo.
Manifestações anti-governamentais, exigindo o fim da guerra em Angola e a demissão de Oliveira Salazar.
Constitui-se, na Venezuela, o Movimento Democrático de Libertação de Portugal e suas Colónias.

Novembro
Dia 7 - Os candidatos da Oposição, presentes em oito círculos do Continente e Funchal, anunciam a desistência no acto eleitoral, marcado para dia 12.Dia 10 - "Operação Vagô", concebida por Henrique Galvão. Tomada de um avião da TAP da linha Casablanca-Lisboa, que sobrevoa Lisboa, Barreiro, Beja e Faro, lançando panfletos contendo o manifesto da Frente Antitotalitária dos Portugueses, Livres no Estrangeiro. Palma Inácio faz parte do comando.Dia 11 - Manifestações contra a burla eleitoral em Grândola, Couço, Covilhã, Ermidas, Alpiarça, Almada. Em Almada, as forças policiais as assassinam o militante comunista Cândido Martins Capilé.Dia 12 - Eleição de deputados à Assembleia Nacional. São eleitos todos os candidatos da União Nacional.Dia 13 - A política colonial portuguesa é condenada pela Comissão de Tutela da ONU, por 90 votos contra três.Dia 14 - Manifestações, em Lisboa, contra a burla eleitoral.Dia 28 - Reorganização da Legião Portuguesa.
Mário de Figueiredo é eleito Presidente da Assembleia Nacional, Supico Pinto preside à Câmara Corporativa.
Dia 29 - Abertura solene da VIII Legislatura.
Greve de estudantes da Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis.

Dezembro
Dia 4 - Os militantes comunistas Francisco Miguel, José Magro, Costa Carvalho, António Gervásio, Domingos Abrantes, Ilídio Esteves, Rolando Verdial e António Tereso evadem-se da prisão de Caxias no carro blindado, que estivera ao serviço de Salazar.Dia 9 - São presos militantes comunistas, entre os quais Octávio Pato, Pires Jorge e Carlos Costa.Dia 18 - A Índia ocupa Goa, Damão e Diu, praticamente sem encontrar resistência. Os portugueses renderam-se, contra as ordens de Salazar, e devido à inferioridade numérica dos efectivos.Dia 19 - Uma brigada da PIDE assassina o escultor e pintor comunista José Dias Coelho, na Rua dos Lusíadas, em Alcântara (Lisboa). A morte daquele funcionário clandestino do PCP serviu de tema à canção de José Afonso "A Morte Saiu à Rua".Dia 30 - Humberto Delgado entra, clandestinamente, em Portugal, para dirigir o assalto ao quartel de Beja.Dia 31 - Fracasso do assalto ao quartel de Beja. É morto o subsecretário de Estado do Exército. Um dos assaltantes, o capitão Varela Gomes, é ferido durante a acção.
Tentativa de formação de uma Frente Republicana.

Outros acontecimentos
Maria Lamas dirige a delegação portuguesa à Conferência para o Desarmamento e pela Paz. No regresso, avisada de que seria presa, exila-se em Paris.
É criada a Junta Patriótica Central (oposição).
Surge, no Malawi, a União Africana para Moçambique Independente.
O Bispo de Luanda apoia a luta angolana e bate-se pela libertação de Joaquim Pinto de Andrade, preso pela PIDE.

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