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quarta-feira, 14 de abril de 2010

A 14 de Abril de 1865,deu-se o atentado a Abraham Lincoln

O assassino de Lincoln era de ascendência portuguesa

Completam-se hoje, 26 de Abril de 2006, 141 anos sobre a morte de John Wilkes
Booth, o actor que dias antes assassinara o presidente Abraham Lincoln. Foi
no dia 26 de Abril de 1865. Eram 7:00 da manhã, um pelotão de cavalaria cercou
o celeiro da fazenda Garrett, em Bowling Green, Virginia, onde se escondiam
Booth e um cúmplice, David Herold, que se entregou imediatamente. Quanto a
Booth, terá sido abatido pelo sargento Boston Corbett, indivíduo que acabou os seus
dias num manicómio, onde se castrou. Aliás, não parece que nenhum dos
envolvidos no atentado tivesse muito juízo. Lincoln foi morto a 14 de Abril, cinco
dias depois do fim da Guerra Civil que exauriu os EUA. Enquanto ocupou a
presidência, foi duramente criticado, mas após a sua morte até mesmo os inimigos
passaram a elogiar-lhe a grandeza de espírito e abnegação. Mas nada disto é
novidade e o que me leva a abordar hoje o assunto também não será, mas não deixa de
ser interessante o facto de John Wilkes Booth descender de judeus portugueses.
Na obra “The Mad Booths of Maryland”, há referência a um tal John Booth, um
ourives judeu exilado de Portugal devido aos seus liberais ideais políticos,
que veio a casar com uma prima de John Wilkes, famoso agitador de Westminster.
Booth era admirador da peça “Júlio César”, de Shakespeare e quando o primeiro
filho nasceu chamou-lhe Junius Brutus Booth, judeu sefardita português como o
papá e convém esclarecer o significado disso.
Sefardita é o nome usado para referir os descendentes de judeus oriundos de
Portugal e Espanha. A palavra tem origem em Sefárdica, denominação hebraica
para a Península Ibérica.
Os sefárdicos estiveram na origem de Portugal. Egas Moniz, o famoso aio de D.
Afonso Henriques, que ficou na história por ter ido a Toledo, descalço e um
baraço ao pescoço, oferecendo a vida ao rei Afonso VII, de Leão, pela promessa
de vassalagem que o monarca português não cumprira, era sefárdico, tal como
Yahia Ben Yahia, o ministro das finanças de D. Afonso Henriques.
Os judeus chegaram a representar 10 por cento da população de Portugal e
todos se entendiam, mas tudo mudou com a chegada da Inquisição em 1497, vinda de
Espanha.
Refira-se que Portugal foi mais tolerante que a Espanha e, embora muitos
infelizes tenham sido queimados nos autos-de-fé, muitos judeus continuaram a viver
calmamente em Portugal fazendo-se passar por convertidos ao catolicismo e só
em Lisboa seriam mais de 20 mil.
Tudo se complicou em 19 de Abril de 1506, durante uma missa na igreja de S.
Domingos, no Rossio. Alguém considerou que a luminosidade de um castiçal era
milagre, um cristão-novo duvidou e deu origem a um pé de vento como não há
memória em Lisboa. Os sinos tocaram a rebate e, durante três dias e duas noites foi
declarada caça aos judeus, homens, mulheres e crianças. Quando o rei D.
Manuel resolveu restabelecer a ordem e lançar também para a fogueira os dois frades
dominicanos instigadores da matança, já tinham morrido 4.000 pessoas.
Foi a página mais negra da história da Inquisição em Portugal e não tem sido
muito lembrada. Mas a semana passada, assinalando os 500 anos da matança no
Largo de S. Domingos, o cardeal patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, pediu
perdão aos judeus, um pouco à semelhança do que fez há anos Mário Soares, então
presidente da República, durante uma visita à Sinagoga Touro, em Newport, RI,
a mais antiga dos EUA e construída por portugueses.
Depois do massacre, os judeus portugueses começaram a deixar Portugal e
espalharam-se pela Europa, norte de África e acabaram vindo também para os EUA. No
dia 7 de Setembro de 1654, viajando no barco francês Saint Charles, chegaram a
New York, que então era colónia holandesa e se chamava New Amsterdan, 23
judeus portugueses, aos quais se seguiram muitos outros que constituiram
importantes comunidades em Newport, Filadélfia, Charleston e Savannah.
Uma das famílias sefarditas portuguesas mais influentes foram os Mendes
Seixas, chegados em 1730. Gershom Mendes Seixas foi o primeiro rabino dos EUA e um
dos três representantes do clero na cerimónia de posse do presidente George
Washington em 1787. Benjamin Mendes Seixas fundou a Bolsa de New York, Moisés
Mendes Seixas fundou o Banco de Rhode Island e o filho,  David Mendes Seixas,
fundou o Instituto de Surdos e Mudos de Filadélfia, o primeiro do país.
Foram também muitos sefárdicos para Inglaterra, nomeadamente um tal Pinto
antepassado do dramaturgo Harold Pinter, Prémio Nobel de Literatura de 2005. E o
progenitor de Junius Brutus Booth, nascido em 1796, em Londres e que se
revelou um notável actor.
Fez parte da companhia do Covent Garden de 1817 a 1829, interpretando figuras
como Ricardo III, Iago, Macbeth e outros menos vilões; em 1821, já casado com
a esbelta Mary Ann Holmes e com um filho de dois anos nos braços (Edwin
Booth), Junius lança-se à conquista da América e em pouco tempo esgotava teatros em
New York, Baltimore, New Orleans e Washington.
Em Agosto de 1822, Junius comprou uma propriedade em Bel Air, perto de
Baltimore, no Maryland, onde já viviam dois primos do pai. Hoje, há cerca de 50 mil
Booths nos EUA e só à sua parte Mary Ann e Junius fabricaram 10.
Junius teve uma carreira brilhante e uma vida infeliz, amargurada pela morte
de vários filhos, o alcoolismo e as excentricidades. Morreu em 1852, a bordo
de um barco do Mississippi, quando andava em digressão.
Edwin Booth teve ainda mais prestígio como actor do que o pai. Depois do
atentado tresloucado do irmão decidiu deixar o palco, mas o público exigiu o seu
regresso e respeitou-o até à sua morte em 1893.
John Wilkes Booth nasceu a 10 de Maio de 1838 e estreou-se no palco aos 17
anos, em Baltimore. Seguindo a tradição familiar e tornou-se um brilhante actor
shakespearniano, ganhando 12 mil dólares por ano, uma quantia fabulosa para a
época. Era idolatrado sobretudo pelas mulheres, que o consideravam “o homem
mais bonito da América”, o que levou um jornal a comentar depois do atentado:
“o homem mais bonito da América matou o mais feio.”
Todos os Booth eram simpatizantes do Norte, só John era sulista. Ainda antes
do começo da guerra, em 1859, quando estava a actuar em Richmond,
apresentou-se como voluntário na milicia da Virginia que capturou o abolocionista John
Brown, mais tarde executado depois de um julgamento sumário.

Militava ao tempo no partido Know-Nothing, associação chauvinista de extrema
direita que se opunha à vinda de mais imigrantes e era ardoroso defensor da
continuidade da escravidão dos negros, que certos jornais sulistas  da época
anunciavam como “peças da Guiné”.
Tinha também ligações à Carbonária de Itália, sociedade secreta análoga à
maçonaria, mas parece que, como foi dito na altura, fizesse parte de uma
conspiração de judeus banqueiros europeus, entre os quais os Rothschilds, para
controlar os EUA.
Durante uma boa parte da guerra civil (1861-1865), embora actuasse em palcos
nortistas, Booth trabalhou pelos confederados e o seu plano inicial foi raptar
Lincoln no dia 18 de Janeiro de 1865 e levá-lo para Richmond, quando estava
prevista a sua deslocação ao Teatro Ford a fim de assistir à peça “The Kentish
Revolution”.
A deslocação de Lincoln ao teatro foi cancelada e com a rendição do Sul a 10
de Abril de 1865, depois da derrota na batalha de Gettysburg, o rapto deixou
de fazer parte dos planos de John Wilks Booth, que passou a odiar ainda mais
Lincoln e tudo o que ele representava.
Dias antes do atentado, comentando um discurso do presidente para um amigo,
Booth observou: “É a última vez que ele discursa.”
Lincoln só viveu mais quatro dias. A 14 de Abril de 1865, às 9:30 da noite,
Booth entrou nervoso no bar Star Saloon, ao lado do Teatro Ford e pediu uma
dose de uísque, observando para um conhecido que estava ao balcão: “Você não vai
ver a peça esta noite? Deve ir. Verá um final maldito.”
A peça era a comédia “Our American Cousin” (O nosso primo americano). Booth
conhecia bem o teatro e não teve dificuldade em chegar  ao camarote 7, onde se
encontravam o presidente e a esposa, Mary e um casal de jovens acompanhantes.
Estava-se na segunda cena do terceiro acto, só havia um actor em cena quando
Booth entrou no camarote empunhando uma pistola de cano curto, uma Darringer
c.50 e disparou à queima-roupa na nuca do presidente, que viria a falecer na
manhã seguinte.
Booth saltou do camarote para o palco, gritando para o público estupefacto:
“Sic semper tyrannist!” (Assim acontece com os tiranos).
E fugiu coxeando, pois fracturara uma perna ao saltar do camarote. Na rua,
tinha um cavalo à espera e fugiu, mas foi abatido 12 dias depois.
Os sete cúmplices de Booth foram também capturados e enforcados a 7 de Julho
de 1865. Foram as últimas baixas da Guerra Civil e as mais inglórias. 
Com o seu gesto espectacular, John Wilkes Booth pensava vingar a derrota do
Sul, mas aconteceu o contrário, o atentado destruiu a derradeira possibilidade
de um acordo de paz com a benevolência de Lincoln.
John Wilkes Booth não está completamente esquecido, pelo contrário. O seu
retrato, desenhado por J. Wood, está à venda na internet por $19, mais $4 de
porte de correio e parece haver quem compre.
Ainda se publicam livros como “The Women Who Loved John Wilkes Booth” e o
realizador equatoriano Sebastián Cordero começará em breve a rodagem do filme
“Manhunt”. Trata-se de uma produção de 60 milhões de dólares protagonizada por
Harrison Ford e sobre a perseguição movida a Booth depois do atentado.

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