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quarta-feira, 28 de abril de 2010

A 29 de Abril de 2002, morreu Fernando Pessa


Fernando Pessa, 1902-2002


Foto de Fernando Pessa

Nasceu em Aveiro, em 1902, mas foi criado em Penela, perto de Coimbra onde fez o ensino secundário, no sentido de se preparar para os exames de admissão à "Escola de Guerra". O objectivo de Fernando Pessa era ir para a "tropa", e seguir a carreira militar, como fez o pai, mas "nessa altura havia oficiais a mais, como resultado da primeira Guerra Mundial e na Escola de Guerra só admitiam rapazes que frequentassem o Colégio Militar, em Lisboa", explica Fernando Pessa.
"A minha alcunha era o "Pardal", porque, tal como os pardais, não gostava de ficar fechado numa gaiola. Andava sempre de um lado para o outro", citado na sua biografia não autorizada.
Um sinal, talvez, do que estava para vir, como conta a Imprensa de Lisboa. Nos anos 20, a viver em Lisboa, dedicou-se aos seguros e foi esta a primeira de muitas mudanças:
aconteceu aos 25 anos, quando a convite do dono da empresa de seguros em que trabalhava, viajou para o Brasil. Esteve do outro lado do Atlântico tempo suficiente para se casar com uma brasileira. "Mas ela era ciumenta e o ciúme deu cabo do casamento".
Pessa regressou, então, a Portugal em 1934, cinco anos antes da Grande Guerra. Por graça, como admitiu mais tarde, concorreu a um concurso para locutores na recémcriada Emissora Nacional. Os testes de entrada eram bastante difíceis "principalmente no que respeitava à língua portuguesa. Nós podíamos falar menos mal o inglês, o espanhol e o francês ou outra língua qualquer, até com erros, mas o português tinha que ser sem erros. Uma prova bastante rigorosa. Mas a brincar a brincar consegui ficar em segundo ou terceiro lugar nesse concurso. De maneira que daí a 15 dias comecei a fazer jornalismo sem saber", adianta Fernando Pessa. Acabaria por entrar na empresa e para uma profissão que o acompanharia até ao fim da vida: a de jornalista.
O repórter dos anos 30 ainda se lembra do primeiro trabalho que "consistiu numa reportagem que desenvolvi no exterior, sobre um festival de acrobacia aérea, que na altura se realizou em Lisboa".
Uma rádio amadora onde o "trabalho era feito com base na dedicação e gosto por comunicar, e na curiosidade em descobrir histórias com piada. Eu só me profissionalizei muitos anos mais tarde, quando fui para a estação de rádio inglesa, a BBC, sediada em Londres, na Inglaterra. Os primeiros tempos da Emissora Nacional foram sobretudo tempos de papel e lápis", lembra Fernando Pessa.
Quatro anos depois, Pessa mudava novamente, trocando os microfones portugueses pelos estúdios da mais prestigiada rádio do mundo, a BBC de Londres.

Os anos do "Blitz"


Na BBC, Fernando Pessa, começou por trabalhar com sotaque na secção brasileira e só quando um colega português adoeceu é que ele foi chamado para ler o noticiário. É neste ambiente de excitação profissional que enfrenta as bombas de Hitler que caiem sobre Londres. Mas o barulho das noites londrinas não o incomodava: "as malditas bombas dos alemães, caíram por duas vezes, no prédio onde me encontrava a dormir e nem sequer acordei! Estava habituado a dormir oito horas por dia e assim continuei", relata Fernando Pessa.

O regresso a Portugal


Os anos passaram, a guerra terminou e, em 1947, Pessa regressou a Portugal para, uma vez mais, se ver envolvido em pleno processo histórico mundial. Desta vez, no Plano Marshall de ajuda económica à Europa, organizado pelos Estados Unidos. Mas era pouco e o jornalista dedicava-se também a sonorizar os documentários a que os portugueses assistiam nas salas de cinema. Foi por esta altura, onde se inclui ainda uma breve passagem pelo ramo dos seguros, que casou com Simone Alice Ruffier, filha de uma inglesa e de um americano, que conhecera em Londres.
Um dos primeiros aos microfones da rádio, Fernando Pessa foi o primeiro nos ecrãs da televisão portuguesa, quando apresentou os locutores que garantiriam a emissão Vera Lagoa, Maria Helena Varela Santos e Fialho Gouveia. O nome maior da rádio tinha, por fim, um rosto. Entre 1956 e 1976 trabalhou na RTP como colaborador, deixando para a História histórias como a do Leão de Rio Maior.
Fernando Pessa torna-se uma das figuras mais populares da RTP, embora só integrando os quadros da empresa após o 25 de Abril de 1974.
"Nunca me deixaram pertencer ao quadro do pessoal, tal como tinham impedido o meu regresso à Emissora Nacional, sempre pelo mesmo motivo: a minha estadia em Inglaterra", recorda Fernando Pessa que, no entanto, nunca se sentiu afectado pela Censura, porque escrevia as coisas de maneira a dar a volta ao "lápis azul".
25 de Abril de 1974, Portugal fez uma revolução e Pessa registou mais uma etapa. Repórter que nunca quis ser chefe "o seu gosto era andar na rua", disse dele Fernando Baslinha, um dos directores da RTP.
Pessa mostrou durante anos ao País os seus bilhetes postais. Hoje, é a imagem de um repórter atarefado e sempre de microfone na mão que todos guardam de Fernando Pessa, o jornalista que popularizou a expressão "E esta, hein!?".
Pelo seu trabalho, como repórter da II Guerra Mundial, Fernando Pessa foi distinguido com a Ordem do Império Britânico. E, em Portugal, a 10 de Junho de 1981, recebeu o título de Comendador.

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