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domingo, 25 de abril de 2010

O imperador de Roma Marco Aurélio, nasceu em 26 de Abril de 121 a. C.


Marco Aurélio
Marco Annio Vero, o futuro imperador de Roma, nasceu em 26 de Abril de 121 a. C., durante o reinado do Imperador Adriano. O pai, Annio Vero, era um nobre romano, e o avô, com o mesmo nome, tinha sido Prefeito da Cidade e, por três vezes, Cônsul. Ambos os pais morreram ainda novos e, depois da morte do pai, Marco foi adoptado pelo avô, de quem ele fala com caloroso afecto e respeito. Os anos da infância foram felizes, e de estudo; uma série de tutores dos mais competentes tomaram conta da sua educação e treinaram-no nas doutrinas da filosofia estóica; e embora a sua saúde não fosse nunca muito robusta, gostava de montar a cavalo, caçar, lutar, e de jogos de ar livre. Quando tinha dezassete anos, o Imperador Adriano morreu e sucedeu-lhe Aurélio Antonino (vulgarmente conhecido como Antonino Pio), cuja mulher era uma tia de Marco chamada Faustina. Não tendo filhos varões, António adoptou o jovem sobrinho de sua mulher, mudou-lhe o nome para Marco Aurélio António, nomeou-o seu sucessor e prometeu-o em casamento à sua filha Faustina. O grau de felicidade que Marco encontrou neste casamento é, e continuará por ventura a ser, um enigma. Os cronistas contemporâneos deliciam-se a relatar pormenorizadamente histórias da despudorada licenciosidade da mulher, e afirmam que ela era tratada com uma indulgência censurável por um marido de longe bom demais para ela. Contudo, as provas de tudo isto são duvidosas; e o certo é que, quando ela morreu, trinta anos mais tarde, Marco sofreu com a sua perda. Ela dera-lhe cinco filhos que ele amava apaixonadamente; mas a morte roubou-lhe sucessivamente todos eles, à excepção do inútil Cómodo, que viveu o suficiente para suceder ao pai.

Dos dezassete aos quarenta anos, como companheiro próximo e colega de Antonino, Marco entregou-se à aprendizagem das artes de governo e à preparação para os seus futuros deveres de imperador. Nesses anos a majestosa imensidão da 
paxromana, mantida pela administração imperial,  estendeu-se a toda a Europa Ocidental e do Sul, ao Norte de África, à Ásia Menor, à Arménia e à Síria. Mas muito do fardo da governação deste vasto domínio centrava-se na pessoa do próprio imperador; e quando António morreu, em 161, caiu sobre Marco uma enorme e pesada responsabilidade. Contrariando os desejos do Senado, levou consigo para o trono, como colega, Lúcio Vero, o outro filho adoptivo de Antonino; e, pela primeira vez, Roma assistiu ao espectáculo de dois imperadores. Quase simultaneamente, os longos anos de serenidade imperial chegaram ao fim. Uma peste espalhou-se desastrosamente por todo o mundo ocidental. Inundações destruíram grandes quantidades de cereal em Roma, obrigando Marco a vender as jóias reais para aliviar o sofrimento dos seus súbditos famintos. A juntar à ansiedade da peste e da fome, ele encontrou-se a braços com sinais de guerra. A paz foi quebrada pelo fragor das armas. Nas fronteiras orientais, bandos de ferozes homens tribais do Marcomanni ("homens das marcas"), Quadi, e Sarmati invadiram a raia, numa série de tentativas determinadas de penetrar nas defesas do Império. Perante esta ameaça, Marco deixou Roma em 167, para assumir pessoalmente o comando das suas legiões depauperadas no Danúbio. Em 169 Vero morreu e, durante a maior parte dos treze anos seguintes, Marco ficou só no seu posto. Durante um curto intervalo, foi chamado à Ásia, onde o comandante das tropas, Avídeo Cássio, se revoltou e se fez proclamar imperador. Mas Cássio foi assassinado por dois dos seus oficiais; e, como é característico de Marco, quando aqueles lhe trouxeram a cabeça decepada, ele recuou e recusou recebê-los. Ordenou que todos os papéis de Cássio fossem queimados por ler, e tratou os rebeldes com clemência. Durante esta expedição ao Oriente, a sua mulher Faustina, que o acompanhara, morreu; e Marco voltou para o Danúbio para retomar a tarefa de suster a maré invasora da barbárie. Aí, por entre os pântanos enevoados e as ilhas fumegantes daquela melancólica região, ele buscava consolo para as suas horas de solidão e exílio na redacção das suas Meditações. Anos de trabalho árduo e conflito tinham-lhe exaurido o espírito; estava cansado da vida, e, nas suas próprias palavras, «à espera da saída para o retiro». Quando, por fim, uma doença infecciosa o atacou, ele ainda se arrastou alguns dias, vindo a morrer em 17 de Março de 180, com cinquenta e nove anos de idade e dezanove de reinado. «Não choreis por mim,» foram as suas últimas palavras, «pensem antes na pestilência e na morte de tantos outros.»

Sugerir que Marco não era um verdadeiro estóico parece paradoxal. Contudo, as suas meditações revelam um tipo de carácter que dificilmente agradaria a Zenão ou a Chrysipo. Os humores, variando entre a esperança e a depressão, o sensível retraimento perante companheiros desagradáveis ou a vista de sangue, a ânsia reprimida, mas evidente, por simpatia e afecto — tudo isto não eram sinais de um carácter moldado à antiga maneira estóica. A verdade é que Marco representa uma fase transitória de pensamento. Em lugar da velha afirmação de auto-suficiência, há uma timidez e uma predisposição para reconhecer os próprios fracassos; em vez da estóica virtude do orgulho, ele parece antecipar a virtude cristã da humildade. Por isso, ainda mais simpatizamos com as suas repetidas lutas pelo autodomínio e pelos seus esforços por orientar todos os impulsos naturais e emoções para o implacável serviço do dever. Sem dúvida que esta constante preocupação em se aperfeiçoar, esta insistência em aperfeiçoar máximas e lugares-comuns morais, produziram uma impressão desagradável em alguns leitores; e houve mesmo detractores que chamaram a Marco impostor e pedante. Penso que tal juízo mostra falta de entendimento da natureza do temperamento religioso; porque, quando um homem toma a sua religião seriamente, o auto-exame consciencioso e a aspiração à virtude têm obrigatoriamente de constituir uma muito grande parte de todas as suas peregrinações interiores e meditações. Aliás, os escritos de um S. Paulo ou de um Thomas à Kempis mostram tantos conselhos, exortações à santidade e citações de autoridades canónicas como as que encontramos em Marco; contudo, ninguém teve a audácia de acusar os seus autores de insinceridade — apesar mesmo das suas confessadas intenções de escrever para a edificação de uma larga faixa de leitores. Quando, por outro lado, escutamos as secretas conversas íntimas do imperador-filósofo com a sua própria alma, e nos lembramos de que ele nunca se dirige a qualquer ouvinte humano a não ser a ele próprio, creio que o nosso instinto nos diz que estamos na presença de um homem simples, humilde e absolutamente sincero.
Um pequeno facto, mas significativo, em que até agora, e tanto quanto eu sei, nenhum dos seus editores reparou, parece revelar a sua genuína bondade. Quando ele tem a oportunidade de se referir a pessoas em termos de louvor, nunca deixa de registar os seus nomes. Mas quando, como por vezes acontece, ele se permite um comentário desfavorável, um véu de secretismo cobre o transgressor, e nós ficamos apenas com um indício da sua identidade que nos é fornecido por um nada revelador "ele" ou "eles", este caridoso hábito — que podia talvez ser recomendado a alguns dos que hoje escrevem as suas memórias — merece particular atenção em alguém cuja sensibilidade deve ter sofrido quase diariamente afrontas das maneiras e da sociedade de então.

«Guiai-me, Zeus e Destino», diz a prece de Epicteto, «para onde quer que eu seja mandado. Obedecerei sem hesitar; mesmo que venha a tornar-me cobarde ou me retraia, sempre terei de ir.» Estas palavras exprimem adequadamente a atitude de Marco perante a vida. Se ele observa obliquamente que se trata «mais de luta do que de dança», a sua firmeza não vacila; e a peculiar doçura e delicadeza do seu carácter exerceu uma atracção que estes laivos de pessimismo não diminuem. «Santo e sábio por natureza, imperador e guerreiro por profissão», ele contempla, da solitária altura em que se encontra, as dores da mortalidade com olhos que estão desiludidos, porém serenos. «E portanto,» citando a homenagem de Mathew Arnold, «ele continua o amigo especial e o consolador das almas escrupulosas e difíceis, mas de coração puro e empenhadas na elevação, especialmente naquelas idades em que caminham à vista, e não por fé, mas em que ainda não têm uma visão aberta: a essas almas, talvez ele não possa dar tudo aquilo por que elas anseiam, mas dá-lhes muito, e o que ele lhes dá podem eles receber.» E sobre aquela sua estátua equestre que se ergue na Piazza Compidoglio, em Roma, escreveu Henry James que «na capital da Cristandade, o retrato mais sugestivo da consciência cristã é a de um imperador pagão».
Enquanto os homens continuarem a ser atraídos pelas lágrimas e triunfos da bondade humana, não faltarão leitores a Marco Aurélio. Melancólico, compassivo e desencantado, o último dos Estóicos ainda envergonha as nossas fraquezas e silencia a nossa insatisfação.

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