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terça-feira, 22 de junho de 2010

A 23 de Junho de 1940, é inaugurada a exposição do mundo português

A exposição do mundo português 

[A Exposição do Mundo Português pretende ser] a cidade simbólica da História de Portugal, o padrão, o documentário, a síntese pela imagem da nossa história… [é] a primeira vez, no Mundo, que se expõe, em imagens e símbolos, uma Civilização.
Palavras de Augusto de Castro, Comissário Geral 
da Exposição do Mundo Português, de 1940.
A Exposição do Mundo Português foi a maior exposição realizada em Portugal até à Expo 98 e decorreu em Lisboa, de 23 de Junho a 2 de Dezembro de 1940. Pretendia comemorar duas datas da História de Portugal: a da Fundação da Nacionalidade (1140), sobre a qual passavam 800 anos e a da Restauração da Independência (1640), ocorrida 300 anos antes.
A responsabilidade pela organização do evento coube a Augusto de Castro, Comissário Geral, a José Leitão de Barros, Secretário-geral, a Sá e Melo, Comissário Geral Adjunto, e a Cotinelli Telmo, Arquitecto Chefe, tendo sido inaugurada pelo Chefe de Estado, Marechal Carmona, pelo Presidente do Conselho, Oliveira Salazar e pelo Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco.
Estava implantada na zona ocidental de Lisboa e provocou, à semelhança da Expo 98 organizada quase 60 anos depois, uma autêntica revolução urbanística nesse local. Situada entre a margem direita do Tejo e o Mosteiro dos Jerónimos, ocupava cerca de 560 000 metros quadrados. A sua praça central deu, inclusivamente, origem à Praça do Império, que é uma das maiores do continente europeu. Esta era composta por dois grandes pavilhões dispostos longitudinalmente. Eram o Pavilhão da Honra e de Lisboa e o Pavilhão dos Portugueses no Mundo.
A exposição encontrava-se organizada em pavilhões temáticos, que incluíam a História de Portugal, Economia, Cultura, Regiões e Territórios Ultramarinos. Tudo relativo, portanto, à Metrópole ou às Colónias. Havia, porém, uma excepção: o Brasil era o único país estrangeiro convidado.
Alguns exemplos de pavilhões presentes: após entrada pela Porta da Fundação, “guardada” por gigantescos cruzados, via-se a Secção Histórica, constituída pelos pavilhões da Formação e Conquista, Independência ou Descobrimentos. No lado oposto podiam ser visitados os pavilhões da Colonização, do Brasil ou da Fundação. Destacava-se a Secção de Etnografia que pretendia mostrar a vida, o dia-a-dia, das aldeias portuguesas e os seus aspectos etnográficos. Completavam o evento, neste espaço, o Jardim dos Poetas. As crianças não foram esquecidas pois dispunham de um Parque de Atracções, construído para seu divertimento.
Dada a proximidade do rio Tejo, foi concebido um Espelho de Água, um Padrão dos Descobrimentos (não o actual, mas uma escultura feita em estafe com esqueleto de madeira) e uma nau, a Nau Portugal, que, contudo, era a réplica de um galeão da Carreira da Índia do século XVII. Como curiosidade refira-se que foi construída em Aveiro e que se afundou na viagem inaugural, devido a mau manuseamento. Acabou, todavia, por ser pilotada até Lisboa e incorporar a exposição.
O Padrão dos Descobrimentos mostrava a gesta de Portugal, os feitos heróicos dos descobridores portugueses. A figura do Infante D. Henrique destaca-se na sua proa por ser a grande figura, o timoneiro da Expansão Portuguesa. Este monumento, inicialmente construído com carácter efémero, acabou por se impor e em 1965 foi reconstruído em pedra, podendo hoje ser admirado em Lisboa. Outros exemplos do seu legado: a Praça do Império, o Museu de Arte Popular, a Fonte Luminosa, os Cavalos-marinhos da Praça do Império ou mesmo o Aeroporto da Portela, construído como infra-estrutura da exposição. A própria marca da cerveja Sagres seria lançada na sequência da exposição.
Qual o significado da Exposição do Mundo Português? Era sobretudo político, revisitando o passado mas exaltando, também por isso, o presente. Não esqueçamos que o país vivia em paz, num mundo em guerra e que a ideia politicamente dominante era de um revivalismo da nossa História. O regime vigente expunha-se nestes símbolos de exaltação da Pátria. Por outro lado mostrava-se a fina-flor do modernismo português: a arquitectura de Carlos Ramos e Cristino Silva, a pintura de Almada Negreiros, Milly Possoz ou Carlos Botelho e a escultura de Carlos Maia e Hein Semke.
De acordo com Carlos Novais (textos do Catálogo Exposição do Mundo Português. Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo de Arte do Serviço de Belas Artes, 1998) “ A Exposição do Mundo Português era um gigantesco álbum de imagens, um livro colorido de glórias, de figuras, de datas e de costumes destinado, como todas as fotografias, a desbotar com o tempo.”
O Estado Novo não seria capaz de repetir este acontecimento. Os seus cerca de três milhões de habitantes constituíram um recorde nunca mais igualado em actividades culturais do regime.

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