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terça-feira, 8 de junho de 2010

A 9 de Junho de 1917, nasceu Eric Hobsbawm

Eric Hobsbawm: Entrevista

Nascido em Alexandria (Egito) em 1917, o historiador Eric Hobsbawm, viveu nas cidades de Viena e de Berlim, antes de iniciar sua vida acadêmica em Londres. Considerado um dos mais importantes historiadores atuais, Hobsbawm, além de velho militante de esquerda, continua utilizando o método marxista para análise da história, sempre a partir do princípio da luta de classes, defendendo até hoje seu compromisso com o comunismo.
Sem Eric Hobsbawm, hoje com 83 anos, não haveria um retrato tão amplo da história dos séculos XIX e XX em seus diferentes aspectos, como o que foi retratado nos 
quatro livros que escreveu sobre o período.
Após analisar a história do Ocidente nos dois últimos séculos e de expor as tendências para o atual em O Novo Século (Companhia das Letras), lançado aqui em 2000, o historiador está escrevendo sua própria biografia .
Em entrevista publicada no jornal 
Folha de São Paulo em 15 de fevereiro de 2001, Hobsbawm fala de seus trabalhos mais recentes, suas visões de história e das tendências do pensamento ocidental.

O historianet publica abaixo a íntegra dos principais trechos da entrevista concedida pelo historiador para o jornal Folha de São Paulo.
Folha - O senhor está escrevendo a história de sua vida, pode dizer algo sobre ela ?
Hobsbawm -
 Como dizia um grande amigo meu, Fernand Braudel ("O Mediterrâneo"), um historiador nunca está de folga. Tudo o que fazemos, de uma maneira ou de outra, está ligado a atividade de fazer história. Por isso posso dizer que esse livro não será apenas uma biografia íntima, e sim uma mistura disso com minha trajetória intelectual. Afinal, as pessoas não vivem apenas a sua vida privada.
Folha - O senhor fez livros abrangentes, que se preocuparam em fazer um amplo painel de grandes períodos. Concorda que hoje exista uma tendência oposta, que faz com que pesquisadores limitem seus estudos a problemáticas e períodos de tempos menores ?
Hobsbawm - 
Sim. Acho que a história feita em ambiente acadêmico tende, atualmente a ser mais especializada, por causa da maneira pela qual a profissão está estruturada. É preciso fazer pesquisa para alcançar uma determinada graduação, depois, mais pesquisa para fazer-se doutor, e assim por diante. O foco, então, tem de ser específico para obedecer a esse mecanismo.
Acredito que, hoje, mesmo para um historiador experiente, está cada vez mais difícil propor uma abordagem ampla de um período muito grande. Acho que meu caso é exceção. A maioria da história que é escrita hoje é mais pontual, mais especializada.
Folha - A culpa seria então das regras da universidade ?
Hobsbawm - 
Acho que as universidades têm responsabilidade. Ao formatarem a profissão dessa maneira, inibem análises amplas. A história mais geral tem sido escrita agora por muitas pessoas. É raro que só um autor o faça.
Folha - Acha que isso é positivo ?
Hobsbawn - 
Acho que é mais desejável que a história mais ampla seja feita de maneira individual, pois assim é mais fácil que o público comum a leia. Por outro lado, sem o trabalho dos especialistas é impossível para um autor sozinho fazer um bom trabalho que seja ao mesmo tempo abrangente e sintético, como o que eu venho tentando fazer.
Folha - Quando você começou, a vida acadêmica estava relacionada à vida política das pessoas. Acredita que isso fez com que parte importante da produção literária fosse bloqueada?
Hobsbawm - 
Num sentido mais amplo, não. Não existem muitos países que censuraram a história. Havia aqueles ligados à então União Soviética, onde era impossível escrever história a não ser que se tivesse determinadas opiniões. Em outros países, no geral, havia uma visão consensual sobre o capitalismo, mas sempre houve espaço para que outra visões servissem como reflexão e para que se publicasse sobre elas.
Meus livros, mesmo durante a Guerra Fria, foram muito bem recebidos nos EUA, nas universidades principalmente, mesmo sem corresponder às linhas políticas que ancoravam aquele governo. Devo dizer que, no mesmo período, eles não seriam publicados na União Soviética.

Folha - O senhor ainda não se aborreceu com a quantidade de entrevistadores que perguntam porque você ainda é comunista ?
Hobsbawm - 
Sempre tentei escrever história inspirado pelo marxismo, mas o valor dessa história não depende de meus pontos de vista. As pessoas sabem que minhas idéias são de esquerda, e, em alguns momentos, isso fez com que eu fosse mais popular. Em outros momentos, menos. O valor da minha história não está em atender as pessoas com minhas opiniões, mas em ser uma boa história e por isso ser aceita.

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