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sábado, 5 de junho de 2010

Ainda sobre o Abade Correia da Serra


Cientista de renome, o Abade Correia da Serra deu importante contributo à investigação científica em áreas como a Botânica e a Geologia. Fundou, com o duque de Lafões, a Academia das Ciências de Lisboa. Viveu em Londres, Paris e Estados Unidos. Gozando de grande prestígio intelectual, conviveu com os maiores cientistas da época. Publicou valiosos trabalhos nas mais conceituadas revistas. “Teve grande influência na política norte-americana, e poucos sabem disso”, aponta a jornalista Rosário Sá Coutinho.


O Abade Correia da Serra foi uma figura nacional que marcou a sua época. Procurou integrar Portugal no contexto científico e intelectual europeu. Personalidade multifacetada, desenvolveu intensa investigação científica em vários campos, particularmente nos da Botânica e da Geologia. Foi, com o duque de Lafões, fundador da Academia das Ciências de Lisboa. 

José Francisco Correia da Serra nasceu em Serpa em 6 de Junho de 1750. Ficou conhecido no meio científico como Abade Correia da Serra. Filho do médico Luís Dias Correia, mudou-se com a família para Roma, onde começou a sua educação. Culto e interessado, dedicou-se afincadamente à botânica, antiguidades e ao estudo de várias línguas, como o inglês, francês, alemão, árabe, italiano, espanhol. Reconhecendo a rara inteligência de José Correia da Serra, o duque de Lafões, D. João de Bragança, auxiliou-o nos estudos e levou-o consigo numa viagem que durou um ano. O Abade “era uma pessoa do mundo, um homem viajado e vivido”, diz Rosário Sá Coutinho, editora da revista “Blue Travel”. Em 1775 foi ordenado sacerdote, já depois de o pai ter regressado a Portugal. A família tinha-lhe destinado a carreira eclesiástica. 

Regressou a Portugal em 1777. Quando chegou, deparou-se com a notícia da morte do pai e foi novamente ajudado pelo duque de Lafões. Em 1779 criaram a Academia das Ciências de Lisboa, o grande projecto conjunto que teve a protecção da rainha D. Maria I. Neste âmbito, Correia da Serra promoveu extensa actividade de organização dos programas, investigação e publicação de textos científicos. O cientista deu particular enfoque à botânica. Foi o maior cultor da carpologia e da fisiologia vegetal. Procurou estabelecer as semelhanças mais significativas entre as plantas, de forma a agrupá-las em famílias e introduzindo o conceito de simetria. 

Colaborou com revistas de grande prestígio internacional, como “Philosofical Transactions”, da Royal Society, “Archives Littéraires de l’Europe” ou “The American Review”. Realizou ainda investigações em geologia, estudando a formação dos solos no Kentucky, Estados Unidos. 


Acusado de ligações aos jacobinos, o Abade Correia da Serra foi obrigado a abandonar Portugal em 1795. Viveu em Londres, Paris e Estados Unidos. Gozando de grande prestígio intelectual, foi bem recebido e conviveu de perto com as mais ilustres figuras das letras e das ciências em qualquer destes países. Em Londres, foi nomeado conselheiro da Delegação Portuguesa, mas, pouco tempo depois, foi destituído do cargo e seguiu para Paris. 

Nos Estados Unidos teve grande influência na política norte-americana como ministro plenipotenciário de Portugal, a partir de 1816. Privou com as maiores figuras da época, sobretudo com Thomas Jefferson, com quem se correspondeu durante bastante tempo, tendo visitado tantas vezes a propriedade do antigo Presidente americano que um dos quartos da célebre “Monticello” tem o seu nome. “Li muitas das suas cartas. Falavam sobre muitas áreas com uma intimidade incrível. Trocavam desde receitas de cimento até teoria política”, conta Rosário Sá Coutinho. “Nunca tivemos um português com tanto prestígio nos Estados Unidos.” Já em Portugal, foi deputado às Cortes pelo círculo de Beja em 1822, falecendo um ano depois nas Caldas da Rainha.

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