Previsão do Tempo

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Há um mundo a acabar à minha volta


Há um mundo a acabar à minha volta. Detecto os sinais mas faltam-me instrumentos de leitura para perceber que mundo vai substituir o mundo que está a acabar.
Dizem-me que o Estado Social faliu, que era previsível, que há muitos anos travava um guerra perdida contra a Matemática. E eu acredito. Os donos do sistema decidiram: vamos proteger as gerações que lucraram com o Estado Social  - quase todos os portugueses que têm hoje mais de 56 anos de idade - e deixar cair os restantes. Eu tenho 55 anos de idade. Faço parte dos caídos. Dos que vão ter de trabalhar até morrer ou, em alternativa, sair aos 70 anos de idade, ao fim de 50 anos de serviço e de descontos, com um aposentação equivalente a dois ordenados mínimos ou coisa parecida. Os meus amigos que nasceram um ou dois anos antes de mim conseguiram escapar, saindo com a protecção dos direitos adquiridos. Todos os direitos. Eu e as gerações mais novas do que eu fomos condenados pelos donos do sistema a trabalhar e a pagar para eles. Até ao fim das nossas vidas. Provavelmente enfiados num lar de idosos imundo, apertado e feio porque a magra aposentação das gerações que têm agora menos de 55 anos de idade não dará para coisa melhor.
O mundo que está a nascer e que eu não tenho instrumentos de leitura para poder compreendê-lo parece uma coisa feia, escura, sem forma definida e em mutação constante. O recuo da presença do Estado dos territórios mais recuados, perceptível no fecho de todas as escolas de pequenas dimensões, centros de saúde, maternidades e esquadras de polícia, é apenas uma das suas facetas visíveis.
Quando os territórios mais deprimidos e mais fracos perdem a presença do Estado e as populações ficam entregues à sua sorte, fica aberto o caminho para a substituição do regime democrático por outra coisa qualquer. O poder tem horror ao vazio. Outra coisa irá aparecer. Foi sempre assim. A democracia parlamentar só é um bom regime quando é servida por pessoas competentes, sérias e justas. Coisa que já não existe em Portugal. Logo, a democracia parlamentar portuguesa deixou de ser um bom regime.
Vem aí qualquer coisa para substituir o que deixou de servir. Não sei o que é nem como se chama. Mas dou-lhe o benefício da dúvida, quiçá as boas-vindas, na  esperança de que seja alguma coisa menos feia do que a que existe.
In "profblog" - Ramiro marques

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