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sexta-feira, 9 de julho de 2010

A 10 de Julho desencadeou-se, a OPERAÇÃO HUSKY

Tomou-se a decisão de executar a "Operação Husky", a invasão da Sicília em julho de 1943. Os objetivos eram: "(1) tornar mais segura a comunicação através do Mediterrâneo; (2) desviar a pressão alemã sobre a frente russa; (3) aumentar a pressão sobre a Itália", conforme consta do livro de Samuel Eliot Morison "Sicília, Salerno, Anzio - janeiro de 1943 - junho de 1944”.

Portanto, a operação contra a Sicília começou porque, segundo escreveu Morison, "algo tinha que ser feito no teatro Europeu em 1943"; esta operação constituía "um fim em si própria e não um trampolim para a Itália ou qualquer outro lugar". Ninguém sabia o que viria depois; não houve acordo em Casablanca sobre a estratégia subseqüente ou sobre objetivos seguintes. Também não haveria qualquer acordo até a conclusão da campanha da Tunísia e o colapso das forças Ítalo-germânicas na África do Norte em maio de 1943. Por fim, na Conferência Trident, em Washington, os ingleses concordaram que se deveria montar uma operação de travessia do canal em 1944, não em 1943; os americanos concordaram com a realização de operações limitadas no Mediterrâneo (depois da Sicília) "com o objetivo de eliminar a Itália da guerra. Não foi fixado um método exato para eliminar a Itália. O General Eisenhower ia planejar as operações para tal fim, mas a decisão final só poderia ser tomada pelos Chefes do Estado-Maior Conjunto".

Em maio de 1943 os americanos ainda indagavam: "Daqui, para onde vamos?" e os ingleses ainda estavam irritados com a dúvida. As campanhas aliadas no Mediterrâneo tiveram um parto difícil; na realidade, até os últimos instantes ninguém sabia sequer se a criança nasceria e, em caso positivo, se cresceria para atingir a maturidade estratégica. Logo, não chega a ser surpresa o fato de as discórdias e divergências complicarem e atrasarem o verdadeiro plano de operações para a invasão da ilha.

O plano inicial para a operação Husky foi elaborado em fevereiro e março pelo Grupo-Tarefa 141 (assim chamado por causa do número do quarto do Hotel Saint George, quartel-general aliado em Argel, onde o grupo de planejamento se reunia). O plano desenvolveu-se enquanto a campanha da Tunísia estava no auge, com os principais comandantes designados para a invasão da Sicília ainda comandando unidades aliadas na África do Norte. Nele previa-se a utilização total da superioridade naval aliada e visualizavam-se desembarques americanos e Ingleses bastante separados e decalados, abrangendo um período de quatro a cinco dias. Os objetivos iniciais eram os portos e os aeródromos, dos quais dependiam as operações posteriores de limpeza da ilha. Os ingleses desembarcariam nas partes leste e sudeste da Sicília, de Catânia até Gela, e os americanos na parte oeste e em torno de Palermo.

Morison comenta com mordacidade que o plano inicial levou meses indo e vindo entre Londres, Argel e Cairo (quartel-general do Vice-Almirante Sir Bertram H. Hamsay, comandante da Força-Tarefa Leste, unidade naval inglesa que ia ser constituída principalmente no Egito). O plano sofreu comentários, objeções e críticas; o excesso de cozinheiros estraga a sopa. O plano original estabelecia que a cidade chave de Messina, no estreito e em frente à ponta da bota italiana, teria que ser conquistada por terra e que haveria necessidade de dois portos sicilianos bons, para apoiar a conquista da ilha; estes dois portos também deveriam ser conquistados por terra, a fim de evitar perdas desnecessárias e ações anfíbias além das previstas para os desembarques iniciais nas praias. Finalmente, o plano estabelecia a necessidade de conquista rápida de aeroportos na parte sudeste da ilha com a finalidade de ajudar a obtenção da superioridade aérea.

O General Sir Bernard L. Montgomery, comandante do 8º Exército inglês que ajudava a administrar o coup de grâce ao Afrika Korps na Tunísia, achou tempo para condenar o plano em termos incisivos, no dia 23 de abril. Achou muito disperso o ataque projetado, a ser executado por um efetivo reduzido sobre um espaço grande demais, e não considerou adequadas as medidas que visavam à conquista imediata de dois aeroportos.

Em que pese a oposição dos comandantes americanos e do Almirante-de-Esquadra Sir Andrew B. Cunningham, Comandante-chefe Naval dos ingleses no Mediterrâneo, que julgavam bom o plano original, "Monty" consegue impor o que basicamente, era a sua idéia sobre como deveria ser montada a invasão.

No dia 2 de maio, em Argel, "Monty" foi capaz de "vender" a sua alteração para o plano original de invasão da Sicília ao General Walter Bedell Smith, em conversa realizada dentro de um banheiro do Hotel St. George, onde Smith foi "arrasado" pelo inglês persistente. Em caráter experimental, "Ike" também aceitou o plano alterado. Em uma reunião de estado-maior, "Monty" explicou suas idéias pormenorizadamente: acreditava em um ataque concentrado, ao invés de um disperso; julgava necessário mais duas divisões e a conquista rápida de dois aeródromos no sudeste e de um porto; expressou seu receio sobre um "desastre" se fosse desencadeado o ataque disperso. Conforme ele próprio declarou em suas "Memórias":

"Sei que muitas pessoas me consideram um tipo cansativo. Acho que provavelmente isto é verdade. Faço força para não ser maçante, mas já vi cometerem tantos erros nesta guerra e acontecerem tantos desastres, que não consigo conter a ânsia de tentar evitar a repetição disto tudo; é esta tentativa que me torna um tipo cansativo. Seria horrível se nos ocorresse um desastre na Sicília”.

O plano Husky, revisto, só foi finalmente aprovado no dia 13 de maio, cerca de dois meses antes da data fixada para o dia D. Apenas dois meses antes do desencadeamento do maior ataque anfíbio e aerotransportado já tentado; dois meses antes da primeira tentativa aliada de forçar as defesas da cidadela da Europa.

O General Dwight D. Eisenhower, um militar sociável, atencioso e simpático, que era o Comandante Supremo Aliado na África do Norte, continuava no comando geral da operação Husky. Subordinados a ele, o Almirante Cunningham, inteligente, duro e estimado lobo do mar, era o comandante naval mais graduado e tinha sob suas ordens o Almirante Ramsay, comandante da Força-Tarefa Leste (inglesa), o Vice-Almirante H. Kent Hewitt, comandante da Força-Tarefa Oeste (americana), e o Marechal-do-Ar Arthur W. Tedder, que comandava todas as forças aéreas aliadas no Teatro do Mediterrâneo. Outro subordinado era o General Sir Harold R. Alexander, que desempenhara o papel de sub-comandante de Eisenhower durante a campanha da Tunísia e comandava o 15º Grupo de Exércitos, composto pelos 8º Exército inglês (comandado pelo General Montgomery) e 7º Exército americano (comandado pelo Tenente-General George S. Patton). O 7º Exército iria para a "concentração" partindo de Bizerta e de outros portos para oeste, no litoral da África do Norte; o 8º Exército partiria de Malta e de portos no Mediterrâneo oriental, alguns distantes como Alexandria e Port Said.

Os dois exércitos concentrariam seus ataques em regiões contíguas do sudeste da Sicília, do norte de Siracusa ao oeste de Licata - mais de 160 quilômetros de litoral - tendo como objetivos imediatos um conjunto de aeroportos importantes; a conquista dos portos ocorreria mais tarde. Os desembarques anfíbios cobriam uma frente equivalente à de oito divisões, constituindo uma operação sem precedentes sobre praias abertas. Ia ser suplementada pela maior operação aerotransportada até então montada: o lançamento simultâneo de um regimento aeroterrestre norte-americano e de um regimento de planadoristas ingleses na noite anterior ao assalto anfíbio; depois seriam lançados mais pára-quedistas.

Cada exército corresponderia ao efetivo de dois corpos; o II Corpo de Exército do 7º Exército estava sob o comando do General Omar Bradley, um tipo de oficial calmo e popular. As forças dos Estados Unidos compreendiam as 1ª, 3ª, 9ª e 45ª Divisões de Infantaria, a 2ª Divisão Blindada, a 82ª Divisão Aeroterrestre, três batalhões de Rangers e outras unidades.

Havia uma representação simbólica da França Livre - de grande efeito psicológico, mas de pouco valor militar - constituída por cerca de 900 dos famosos "goums": era o 4º Tabor (batalhão) Marroquino, incorporado às forças americanas. Cerca de 900 goumiers berberes, com uma predileção especial pelas lâminas de aço e reputação de hábeis atacantes noturnos e cortadores de gargantas, lutaram na Sicília sob o comando de oficiais e sargentos franceses, empregando 117 cavalos e 126 mulas no seu sistema de suprimentos.

As forças inglesas incluíam a 1ª Divisão Canadense, que entrava em combate pela primeira vez, as 5ª, 50ª, 51ª e 78ª Divisões de Infantaria, um regimento de pára-quedistas, uma brigada de planadoristas e outras unidades. O total quase chegava a meio milhão de homens - 160.000 no assalto inicial - 14.000 viaturas, 600 carros de combate, 1.800 canhões, tudo transportado, apoiado e protegido por 2.600 navios.

Embora ninguém soubesse disto na ocasião, o ataque contra a Sicília ia ser "o assalto anfíbio maior e mais disperso da Segunda Guerra Mundial”.

Com 25.000 quilômetros quadrados de superfície, o terreno da Sicília era bastante dobrado, cheio de elevações e ravinas, além de ser muito erodido. A defesa da ilha estava a cargo do 6º Exército italiano, comandado pelo General Alfredo Guzzoni, com 66 anos de idade e que liderara a busca da glória na invasão italiana da Albânia, no início da guerra. O quartel-general de Guzzoni localizava-se em Enna, no centro da ilha. O 6º Exército contava com dois corpos, o XII (oeste), comandado pelo General Mario Arisio, e o XVI (leste), comandado pelo General Carlo Rossi.

A primeira parte da defesa do Eixo e a mais fraca, a defesa de 776 quilômetros de litoral siciliano, inclusive as praias e portos, estava confiada a seis divisões costeiras italianas (uma destas divisões só contava com o efetivo do núcleo-base) e a "pontos fortes marítimos" especialmente organizados. As divisões costeiras eram integradas, basicamente, por reservistas sicilianos, mal instruídos e idosos; os efetivos estavam bastante desfalcados, não havia equipamento moderno, a mobilidade era nula, existiam poucos canhões, todos de pequeno calibre, e o moral era baixo. Estas divisões não constituíam qualquer ameaça para os planos aliados. Como Mussolini considerava a aparência de poder mais importante que o poder real, elas representavam um problema maior para a defesa do que para o ataque. Os "pontos fortes marítimos", cada um subordinado a um comando naval, consistiam de canhões de Artilharia de Costa de grosso calibre e baterias antiaéreas.

Aparentemente, as garnições eram de melhor qualidade do que os reservistas das divisões costeiras, mas tinham sua ação limitada à defesa estática de determinados portos. O núcleo de poder do Eixo era formado por quatro divisões italianas e duas alemãs.

As divisões de Infantaria Assietta (26ª) e Aosta (28ª), integrantes do XII Corpo de Exército, tinham um efetivo de cerca de 11.000 homens, mas o apoio de Artilharia era deficiente (as peças eram tracionadas por cavalos). Em suas posições na parte ocidental da ilha, mais ou menos entre Sciacca e Palermo, estas divisões contavam com o apoio de um regimento independente de Bersaglieri - soldados que usavam um uniforme pitoresco e chapéu com plumas - e o grosso da 15ª Divisão Panzer Grenadier.

A leste, desdobradas de Caltanissetta até o canto sudeste da ilha e dai até Catânia, sob o comando do XVI Corpo de Exército, achavam-se as Divisões Livorno (4ª), com cerca de dois terços do efetivo motorizado e alguns carros de combate leves, Nápoles (54ª), o restante da 15ª Panzer Grenadier, uma brigada alemã denominada Grupo-Tarefa Schmalz e a Divisão Panzer Hermann Goering, com cerca de 100 carros de combate.

Este efetivo de cerca de 30.000 alemães ia ser reforçado durante julho e agosto, no curso da batalha, com o todo ou partes de mais duas divisões (29ª Panzer Grenadier e 1ª de pára-quedistas), praticamente dobrando o efetivo alemão engajado na luta. Provavelmente, da ordem de 70.000 a 75.000 alemães participaram dos combates na Sicília, mas em nenhum momento o efetivo total germânico excedeu de 60.000 homens.

No papel, parecia formidável o efetivo total de 250.000 a 300.000 homens, sendo que um terço dispunha de boa mobilidade e um oitavo era de origem alemã. Entretanto, os italianos estavam impregnados pelo sentimento de derrota e descontentamento por uma guerra que a maioria deles não desejara.

No mar e no ar os aliados desfrutavam de uma superioridade enorme, tanto em quantidade como em qualidade.

A Luftwaffe apresentava-se bastante prejudicada pela dispersão de meios, seja na imensa frente na União Soviética, seja no oeste, onde os bombardeiros aliados estavam atingindo o coração da Alemanha, seja ao longo do litoral e das posições insulares no baixo ventre da Europa.

Estimava-se que existiam de 1.000 a 1.600 aviões do Eixo espalhados pelo sul da França, Sardenha e Córsega, Itália e Sicília; os aliados dispunham na África do Norte de 3.700 a 4.000 aviões organizados em forças aéreas estratégicas e táticas. Existiam na Sicília pelo menos uma dúzia de aeroportos principais e sete alternativos. No dia D, 10 de julho, achavam-se na ilha 220 aviões italianos de diversos tipos, mas apenas 79 estavam operacionais. Só permaneceram na ilha os caças; os aviões de ataque e os bombardeiros haviam sido retirados para o território continental em junho.

As forças navais aliadas eram superiores ao poder naval de que dispunha o Eixo, embora a Marinha italiana ainda constituísse "uma esquadra de verdade", apesar das derrotas e perdas sofridas. A Sicília não abrigava navio de guerra algum, exceto navios de patrulha, embarcações para serviço de porto e pouquíssimas lanchas torpedeiras. No papel, os navios de guerra ancorados nos principais portos italianos e na Sardenha ainda representavam uma força considerável. Incluíam 6 encouraçados, dois deles novos, 7 cruzadores, 48 submarinos e cerca de
75 contratorpedeiros e navios de escolta. Todavia, segundo afirma Morison, "estavam condenados à derrota por não disporem de radar, por causa da escassez de óleo combustível (o que os obrigava a permanecerem ancorados a maior parte do tempo) e por falta de aviação naval".

Quando a esquadra achava-se no mar, a Força Aérea italiana proporcionava pouca ou nenhuma cobertura aérea e a guerra já demonstrara que o poder naval moderno também implica em poder aéreo no mar. Para tornar as coisas ainda piores, em julho de 1943 os navios italianos não dispunham mais de bases protegidas eram fustigados, bombardeados e danificados pelos bombardeiros aliados, mesmo quando ancorados.

A frota de invasão aliada estava sendo apoiada e protegida, a curta e longa distâncias, por 6 encouraçados ingleses, 2 navios-aeródromos, 10 cruzadores ingleses, 4 navios antiaéreos e 3 monitores, além de 5 cruzadores americanos, 71 contratorpedeiros ingleses e 48 norte-americanos, juntamente com embarcações ligeiras holandesas, gregas, polonesas, belgas e norueguesas.

Portanto, a desigualdade era grande quando os comboios aliados levantaram ferros; o próprio Eisenhower avaliava que a campanha da Sicília poderia durar duas semanas. As duas semanas estenderam-se para 38 dias. A culpa disto pode ser atribuída à alteração do plano aliado, às divergências entre eles, à inexperiência americana, à cautela de Montgomery e às excelentes ações retardadoras dos alemães.

Fonte deste artigo: Batalhas ganhas e perdidas - Hanson W. Baldwin - Bibliex

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