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terça-feira, 6 de julho de 2010

A 7 de Julho de 1897, nasceu Virgolino Ferreira de Silva " O Lampião"

Vida e morte do rei dos cangaceiros



A sua lenda é o equivalente brasileiro do Zé do Telhado e de Robin dos Bosques. Virgolino Ferreira da Silva, aliás o Lampião, morreu há 70 anos numa emboscada. Hoje, é das personagens mais populares da história do sertão brasileiro
Entre a verdade e a lenda, o Brasil não esquece a figura do Lampião
Poço Redondo, no estado brasileiro do Sergipe, assinalou este ano os 70 anos da morte de Lampião com uma enorme festa a que não faltaram dois gigantones representando o Rei do Cangaço e a sua mulher, Maria Bonita, caídos pelas balas dos polícias brasileiros a 28 de Julho de 1938 na Grota de Angico, nos arredores da cidade.
Centenas de pessoas, entre as quais muitas crianças, acompanharam a peregrinação dos bonecos pelas ruas de Poço Redondo, onde há uma Praça Lampião, e houve até direito a missa na Grota de Angico na presença da filha e da neta de Virgolino Ferreira da Silva e Maria Bonita - cujo verdadeiro nome era Maria Gomes de Oliveira.
Transformado numa das personagens lendárias mais populares do sertão brasileiro, Lampião, o Rei dos Cangaceiros, continua ainda hoje a dividir opiniões sobre a sua condição de herói ou vilão. Na história contada às criancinhas na escola, sempre foi um bandido sanguinário, pouco dado a idealismos e mais propenso à crueldade, perseguido durante 16 anos pelas autori- dades de oito estados diferentes e, finalmente, morto numa emboscada, com a mulher e nove dos seus ho-mens.
A sua neta, Vera Ferreira, há muitos anos que tenta lutar contra aquilo que considera as mentiras em torno da biografia do avô, lutando para que seja visto no contexto da história de um sertão pobre, onde a autoridade se exercia com recurso à violência, em prol dos ricos que travavam verdadeiras guerras de rivalidades, e a resposta dos bandidos era a esperada numa terra dura.
Para o escritor brasileiro Sérgio Dantas, o cangaço (palavra que se pensa derivar da canga dos bois, por os bandidos estarem obrigados a carregar os seus pertences consigo, pendurados do pescoço) é uma consequência das autoridades não cumprirem a sua função.
Nos anos 70, Lampião chegou a ser considerado um "bandido social" - usando a expressão cunhada por Eric Hobsbawm -, à imagem do Robin dos Bosques saxónico ou do português Zé do Telhado, alguém que fomentava a distribuição igualitária da riqueza que o Estado, dominado pelos grandes latifundiários, falhava em promover.
Os cangaceiros não eram mais do que o resultado de uma sociedade feudal numa terra pobre, dura, violenta e isolada, onde a justiça pelas próprias mãos fazia sentido e onde a dicotomia matar ou morrer praticamente resumia a vida.
Os corpos de Lampião, Maria Bonita e os homens que com eles caíram na emboscada foram decapitados pelos polícias chefiados pelo tenente João Bezerra e as suas cabeças exibidas durante dias na praça pública como troféu.
Virgolino Ferreira nasceu a 7  de Julho de 1897 no estado de Pernambuco, terceiro dos nove filhos de José Ferreira cujo assassínio, em 1920, o leva, junto com três irmãos, a entrar para o bando de Sinhô Pereira, célebre cangaceiro. O mesmo que lhe daria a alcunha de Lampião e dois anos depois lhe concederia a oportunidade de ser chefe ao abandonar o cangaço.
Durante os 16 anos em que foi Rei dos Cangaceiros, Lampião contribuiu enormemente para a sua transformação em personagem da história, conhecido em todo o Brasil. Vaidoso, diz-se que só usava perfume francês, tinha instinto de marketing e soube atrair jornalistas e fotógrafos para contar a sua história e, principalmente, para ser fotografado com os seus homens, nos seus trajes profusamente decorados, bordados pelas mulheres que se juntaram ao bando. Em 1936, Benjamin Abraão chegou mesmo a fazer um documentário, Lampeão, com participação do próprio.
Um desejo de protagonismo bom para a criação da lenda e mau para a vida de um foragido. A 4 de Junho de 1928, numa entrevista ao jornalista José Alves Feitosa, do jornal A Noite, Lampião desabafava: "Foram esses retratos, de que o Sr. fala, que me inutilizaram. Se não tivesse deixado fotografar-me, seria desconhecido e já poderia ter desaparecido, sumindo-me no mundo, indo-me para longe, ganhar a vida tranquilamente, sem atribulação dessa angústia constante de ser perseguido".

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