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quinta-feira, 8 de julho de 2010

A 9 de Julho de 518, morreu Anastácio Imperador Bizantino

Quando o Imperador Anastácio (491-518) ascendeu ao trono de Cons tantinopla, constatou que governava uma Igreja e um Império limitados às províncias orientais. O Ocidente fora alijado. O que não significava que exis tisse ,um Império "Bizantino". O império que Anastácio presidiu foi curiosa mente insatisfatório. Como ele deixou para trás o maior tesouro já registrado por um imperador romano, passou para a história como um grande gover nante. Na verdade, seu reinado foi excessivamente tumultuado. A mais sé ria oposição veio de dentro de sua capital, e pode ser vista como as contínuas dores do parto de Bizâncio. O patriarca de Constantinopla opôs-se à ascen são de Anastácio e insistiu em que, como preço de sua coroação, fizesse uma profissão de fé confirmando que, em questões de fé e conduta, o imperador se sujeitava à vigilância não apenas da Igreja, mas especificamente do patriar ca de Constantinopla. Isso causou uma nova reviravolta num relacionamento situado no coração de Bizâncio. Anastácio ficou numa difícil posição. Era um monofisista convicto; o patriarca de Constantinopla, um seguidor de Ca1cedônia. A população da capital ficou dividida, com uma grande parte de língua latina que tendia a favorecer Roma. Em 511, Anastácio depôs o pa triarca e substituiu-o por um clérigo mais flexível, que fez a seguinte con cessão às simpatias religiosas do imperador: permitiu o acréscimo do lema monofisista "que foi crucificado por nós" ao canto processional conhecido como trisagion: "Santo Deus, santo e poderoso, santo e imortal, tende piedade de nós". Isso levou a distúrbios nas ruas de Constantinopla. Anastácio era velho então, com mais de oitenta anos. Apresentou-se perante a plebe no hipódromo e ofereceu sua renúncia ao trono, diante do descontenta mento popular. O povo ficou encantado com essa exibição de humildade e aclamou-o mais uma vez. Quando todos partiram, o imperador mandou os guardas massacrá-los. Embora terminasse da forma como terminou, o inci dente serviu como prova do poder da opinião popular.

O massacre não acabou com os distúrbios populares, que passaram en tão a ser espontaneamente gerados por causa das atividades das facções do circo - os Azuis e os Verdes. Essas facções, que se tornariam um aspecto característico da vida pública bizantina até 1204, foram originalmente uma importação de Roma, parte do modo como a nova Roma se equipou com as instituições da antiga. O hipódromo era o principal lugar de reunião das pes soas da capital e as facções eram responsáveis pela organização das corridas e de outras atividades que ali se realizavam. Também se envolviam na acla mação de um novo imperador, depois da transferência do cerimonial da ele vação ao cargo imperial para lá em meados do século V Isso dava às suas ações um caráter político que faltava antes, e os imperadores passaram a prestar mais atenção às facções do circo no transcorrer do século V Como um gesto, Anastácio mandou decorar o camarote imperial no hipódromo com retratos de famosos corredores de bigas da época. Seu favorito era um líbio chamado Pórfiro, para quem ergueu pelo menos duas estátuas. Esses monu mentos representavam em parte o reconhecimento imperial de suas proezas esportivas, mas também um sinal de gratidão pela maneira como o competi dor ajudara, na liderança dos Verdes, a defender o Imperador contra as reclamações de um adversário.

A irrupção das facções na vida política de Constantinopla acrescentou um elemento em tudo anárquico. As facções não tinham nenhum programa religioso ou político bem definido, além da proteção de seus privilégios, mas valia a pena cultivar o apoio delas, como provou Anastácio. A composição social das facções era idêntica: os líderes e os patronos vinham das classes altas da sociedade; os ativistas eram arrebanhados entre os jovens de todos os setores da sociedade, que seguiam os líderes do momento. Os membros da facção eram dados a estilos particulares: usavam a barba e o bigode bem longos, à maneira persa; copiavam os nômades selvagens das estepes, deixando os cabelos crescer e escorrer pelas costas como uma juba, cortando-os ao mesmo tempo rentes na testa. Usavam capas e calças ao estilo bárbaro, e uma túnica presa bem justa nos pulsos, com mangas bufantes encapeladas e ombreiras de largura exagerada. Adotavam de propósito um estilo de roupa e penteado que os destacassem do resto da sociedade. Suas lealdades eram exaltadas, passando por cima de qualquer outro laço social concebível, mas só de vez em quando se revelava a base dessas lealdades.

No caso de Teodora, que se tornou a imperatriz de Justiniano, foi uma amarga experiência. Ela vinha de uma família que trabalhava para os Verdes. Seu pai era barbeiro deles. Morreu quando Teodora ainda era criança; a mãe se casou de novo, mas o novo marido não foi nomeado barbeiro dos Verdes, nem sequer quando Teodora foi com as irmãs ao hipódromo como suplicantes perante a facção reunida. Teodora se tornou uma adversária vitalícia e venenosa dos Verdes. Vinculou-se aos Azuis, e assim obteve a apresentação pela qual tanto ansiava a um patrono daquela facção. Foi Justiniano, um sobrinho de Justino I (518-27), que conquistou a dignidade imperial com a morte de Anastácio.

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