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quarta-feira, 7 de julho de 2010

A rendição de Pancho Villa deu-se 1 8 de Julho de 1920

Segundo o historiador Friedrich Katz, o general revolucionário Francisco Villa construiu durante a Revolução Mexicana o maior exército revolucionário da América Latina. Embora suas façanhas militares durante a Revolução Mexicana sejam notáveis, sua maior ousadia foi invadir o território ianque, atacar uma cidade e depois, perseguido por mais de 10 mil homens (alguns dirão 20 mil) com aviões e artilharia, sair com sua saúde melhor do que antes da invasão.
Antes que se formasse uma expedição para capturar Villa, o USA já havia invadido o México pelo menos mais duas vezes. Primeiro entre 1846 e 1848, quando depois de inúmeras batalhas conseguiram entrar na Cidade do México, impondo um acordo onde o México perderia metade do seu território, os atuais estados do Texas, Califórnia, Nevada, Utah, Novo México, Arizona e partes do Colorado, Wyoming, Kansas e Oklahoma em troca de 15 milhões de dólares. A segunda invasão aconteceria durante o governo de Huerta, com a ocupação do porto de Veracruz.
As invasões ianques deixaram um profundo espírito anti-gringo na população mexicana, que seria capitalizado por Villa em 1916 e 1917.

O ATAQUE DE VILLA A COLUMBUS

Após a tomada da capital do México pelas tropas de Villa e Zapata em dezembro de 1914, é instaurado um governo provisório.
As forças revolucionárias se dividem entre constitucionalistas (Obregón, Carranza e Pablo González) e convencionalistas (Zapata e Villa, que aceitaram os termos da Convenção de Aguascalientes) Os constitucionalistas, contra todas as apostas, conseguem infringir importantes derrotas a Divisão Norte de Villa e os zapatistas são obrigados a retornar a Morelos.
Após uma sucessão de derrotas, traições e intrigas, Francisco Villa volta para o norte, é abandonado por alguns de seus generais e dissolve a Divisão Norte, continuando a luta revolucionária com a utilização de táticas de guerrilha.
Em outubro de 1916 o USA reconhece Carranza como governante do México e fecha a fronteira para a compra de armas por Pancho Villa. A Revolução Mexicana foi feita em um país que não produzia armas e munição, dependendo de um abastecimento frequente na fronteira ianque. Um comerciante lituano que vivia no USA havia trapaceado, recebido o dinheiro villista, mas não entregado o carregamento de armas. Outros, aproveitando das dificuldades no exército de Villa chegariam a vender munição defeituosa. Somando os problemas com a munição, o reconhecimento do governo de Carranza pelo USA, a possibilidade de tomar um banco e se vingar dos ianques pela ajuda dada aos carrancistas na Batalha de Água Prieta, Francisco Villa começa a arquitetar o plano de invasão e tomada da cidade gringa de Columbus. "Vamos bater os gringos em sua própria terra e, de quebra, pegar aquele que nos roubou a munição!"
Villa reuniria suas tropas, pouco mais de 500 homens, e iniciaria uma marcha sinuosa, complexa e que somente ele conheceria o destino. No dia 9 de março de 1916 os villistas atacam a cidade de Columbus, Novo México, pegam a guarnição militar de surpresa e enfrentam uma pequena resistência da população civil. Conseguem pegar algum dinheiro no Banco, armas, alguma munição e cavalos, mas não encontram o tal comerciante.
A cidade de Columbus não era grande coisa, possuía menos de mil habitantes, mas entraria para a história como o destino da única invasão militar latino-americana ao USA, o que não é pouca coisa e demonstra uma tremenda ousadia de Villa.

A FRACASSADA EXPEDIÇÃO PUNITIVA

O governo ianque, que desde essa época já utilizava a artimanha de eleger um inimigo estrangeiro como bode-expiatório para suas ações militares, transforma Pancho Villa em inimigo público nº1, distribui avisos com uma recompensa pela sua cabeça e forma uma expedição militar para capturá-lo.
Alguns dirão que foi intencionalmente, outros dirão que não, mas o fato foi que a invasão das tropas ianques no México em busca de Villa causou um grande embaraço para o governo de Carranza, já que este pretendia capturar Villa. Por outro lado, a aceitação da presença de tropas do USA era sinal de traição nacional do governo, inadmissível para uma população que conhecia o imperialismo ianque desde que metade de seu território fora usurpado no século XIX. Muitos tinham avôs mortos nas batalhas contra os gringos e as histórias do heroísmo eram contadas e cantadas nos povoados nortenhos.
O então presidente do USA, Woodrow Wilson, ordena a formação de uma campanha militar, inicialmente de pouco mais de 5 mil soldados e oficiais, que cruzam a fronteira em busca de Villa. A expedição conhecida como "expedição punitiva", chegaria a mobilizar mais de 10 mil homens, entre os quais estariam os futuros generais da 2º guerra mundial, Patton e Eisenhower — este último seria também presidente.
Francisco Villa, não podendo enfrentar diretamente as tropas ianques, passou à atividade guerrilheira, acossando, despistando e confundindo os gringos; dividia e reagrupava suas tropas, enviava tropas de reconhecimento, provocava, marchava em outra direção. Sumia, aparecia, tomava povoados, expropriava banqueiros, recrutava novos combatentes e dispersava novamente.
Algumas histórias são famosas, como a emboscada de um avião que sobrevoava uma possível região onde estaria Villa. Ao ver uma bandeira do USA, pousou. Eram villistas que com esse artifício capturaram um avião e o utilizaram para localizar as posições inimigas.
Villa havia recebido um tiro na perna em combate contra os carrancistas, o que o deixou doente por um tempo. Crendo que morreria, por diversas vezes a imprensa do USA armaria um alvoroço em torno de sua morte, abririam possíveis covas de Villa, para logo depois descobrirem vacas e ossos de outros animais. O próprio Villa os enterrava para confundir o inimigo e colocava uma cruz com os dizeres: "Aqui jaz Francisco Villa".
Enquanto perseguiam Villa, enterravam-se em território cada vez mais hostil, chegavam a povoados e recebiam pedradas, marchavam pelo deserto, por montanhas que desconheciam e nenhum sinal de Villa. Contra homens que já lutavam naquele terreno a quase uma década, todo o equipamento ianque era inútil. Salinas Carranza ironizaria a velocidade da macha das tropas gringas: "nossas mulheres, a pé, percorriam essa distância".
Com um amplo sistema de informação, o apoio da população camponesa e um profundo conhecimento do terreno, Villa conseguiria não ser capturado, e inclusive evitaria as tropas carrancistas, ganhando mais apoio popular para um novo ressurgimento.

"EM TODO LUGAR E EM LUGAR NENHUM"

Depois de avançarem até Parral, uns 800 km desde a fronteira, o Governo do USA decide retirar suas tropas, afirmando terem alcançado seu objetivo de esmagar as forças villistas, mas quanto ao objetivo real, capturar Pancho Villa, um informe a Carranza seria mais realista: "Francisco Villa está em todo lugar e em lugar nenhum" . Acabava assim a "Expedição Punitiva", que não conseguira punir ninguém, mobilizara uma força descomunal contra apenas um homem e se retirava do México sem ter nem arranhado Pancho Villa. As tropas ianques terminariam com pelo menos 300 baixas e algumas centenas de feridos. Decerto que Villa não era o único objetivo, e certamente o USA pretendia influenciar os rumos da política mexicana. Mas, frente à resistência popular, tampouco conseguira esse objetivo oculto.
Pershing, o comandante da expedição, comandaria depois as tropas ianques na 1ª Guerra Mundial, onde teria mais êxito.
Após a retirada dos gringos, Pancho Villa recompõe novamente parte de seu exército, reagrupa guerrilheiros, reencontra o general Felipe Ángeles e novamente alcança vitórias sobre os carrancistas. Em 1919 morreria Zapata, em 1920, Carranza. Com as eleições e a vitória de Obregón, uma nova ordem parecia se firmar no país. Com algumas reformas e promessas de medidas que garantissem melhorias para os camponeses e pobres do México, Villa aceita os termos de uma rendição ao novo governo.
Entre os termos do acordo está a saída de Villa da vida pública, a anistia e a incorporação dos soldados villistas no exército; a distribuição de terras aos órfãos e viúvas dos combatentes e a entrega de uma fazenda em Canutillo para que ele e alguns membros de seu exército pudessem trabalhar e retirar o seu sustento. Mesmo dissolvendo seu exército Villa permaneceu com uma escolta de cerca de 50 homens.
Durante pouco menos de 3 anos, Villa, com algum apoio do governo, construiu uma escola, reformou o povoado de Canutillo e conseguiu produzir nas terras da colônia.
Francisco Villa não era socialista, nem mesmo havia participado de partidos ou organizações anti-imperialistas. Suas opções políticas foram se construindo a partir de sua revolta contra a opressão, entre combates e batalhas, pelas opções que a situação real apresentava diante de si.
Columbus cresceria, e como muita coisa no USA se transforma em Disneylandia. Foi criado um parque em homenagem ao homem que protagonizou a invasão ao seu território, o Pancho Villa State Park .
Villa declarou algumas propostas curiosas, como a de construir uma vala entre o USA e o México, e também uma distinta perspectiva para a sociedade pós-revolucionária, esboçada em uma entrevista ao jornalista John Reed, que em parte era o projeto da Fazenda Canutillo:
"Quando se estabelecer a Nova República, não haverá mais exércitos no México. Os exércitos são o maior apoio à tirania. Não pode haver ditador sem exército. Poremos o exército a trabalhar. Serão estabelecidas em toda república colônias militares, formadas por veteranos da Revolução. O Estado lhes dará posse das terras agrícolas e criará grandes empresas industriais para dar-lhes trabalho. Trabalharão três dias na semana e trabalharão duro, porque o trabalho honrado é mais importante do que lutar, e só um trabalho assim produz bons cidadãos. Nos outros dias receberão instrução militar, e por sua vez, instruirão todo o povo, para ensiná-lo a lutar. Então, se a Pátria for invadida, tomando-se apenas o telefone do Palácio Nacional na Cidade do México, em meio dia se levantará todo povo mexicano em seus campos e fábricas, bem armado, equipado e organizado para defender seus filhos e seus lares. Minha ambição é viver minha vida numa dessas colônias militares cercado se meus queridos companheiros, que sofreram tanto e tão profundamente ao meu lado. Creio que desejaria que o governo estabelecesse uma fábrica de curtume, onde pudéssemos fazer boas selas e freios, pois sei como fazê-los; o resto do tempo, desejaria trabalhar na minha granjazinha criando gado e semeando milho. Seria magnífico, creio, ajudar a fazer do México um lugar feliz."
 

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