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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A 14 de Agosto de 1945 deu-se a rendição incondicional do Japão

Faltava pouco para a meia-noite de 9 de agosto de 1945 quando o Conselho Supremo do Japão iniciou uma nervosa reunião no Palácio Imperial. Era o segundo encontro no mesmo dia, para tratar da mais deliacada questão que envolvia o país na Segunda Guerra: decidir pela rendição.

O encontro tinha como pano de fundo o temor de uma devastação sem precedentes na histário japonesa -- os Estados Unidos já haviam despejado duas bombas atômicas sobre o país, a primeira havia três dias, sobre Hiroshima, a segunda horas antes em Nagasaki, e os estrategistas previam que Tóquio seria o próximo alvo em pouco tempo. 

No dia anterior uma outra bomba havia explodido nas mãos da diplomacia nipônica, a declaração de guera da União Soviética. Ao redor da mesa ministros e chefes do Estado Maior da Guerra e da Marinha, além do velho almirante Kantaro Suzuki, primeiro-ministro, ouviram a palavra de um semideus, o Imperador Hirohito, filho da Deusa do Sol, que pela primeira vez sentava-se à mesa para tratar de assuntos até então delegados aos súditos. Hirohito começou censurando os militares que lhe prometeram vitórias arrasadoras e só trouxeram derrotas desmoralizantes, que levaram o Japão ao colapso pelo esforço de guerra. Lembrou que o país estava sem armas, sem recursos naturais, com linhas de comunicação e abastecimento cortadas, a população desabrigada e esfomeada, milhões de mortos. 

Foi a introdução para defender a paz imediata. O documento de rendição, elaborado por um grupo de ministros indicados pelo Imperador, foi apresentado às 3 horas do dia 10 e aceitava os termos da Declaração de Potsdam, com uma única condição: as perrogativas do soberano Hirohito, como Imperador, não seriam afetadas.

A resposta dos norte-americanos chegou no dia 12 e era categórica: "A partir da rendição a autoridade do Imperador ficará subordinada à do comandante-chefe das Forças Aliadas". Embora a decisão dos Estados Unidos tenha sido um golpe na soberania japonesa, foi a fórmula encontrada pelo secretário de Estado americano, James Byrnes, para evitar o julgamento de Hirohito como criminoso de guerra e ao mesmo tempo permitir a manutenção da monarquia no Japão.

A decisão do Imperador, entretanto, provocou mal estar entre os militares, que insistiam em resistir pela força. Desde o momento em que anunciou a intenção de pedir a rendição, na madrugada do dia 10, até o dia 14, quando em uma nova reunião do Conselho Supremo voltou a defender a paz, dizendo compreender os sentimentos patrióticos dos militares, mas lembrando que tinha o dever de salvar a nação, Hirohito tentou contornar o início da crise. 

Não teve sucesso. À noite estourou uma rebelião. Grupos de oficiais dos ministérios da Guerra, Estado Maior e da Divisão da Guarda Imperial passaram a matar aqueles que defendiam a rendição, acreditando que eles haviam passado ao Imperador informações falsas sobre o cenário real da guerra, levando-o a tomar uma decisão distorcida. Um grupo de oficiais tentou impedir que as rádios japonesas transmitissem o pronunciamento de Hirohito à população, informando que havia aceitado a rendição incondicional.

Só após a rápida e eficiente intervenção da Guarda de Tóquio a manifestação foi contida. Às 17 horas do dia 15 de agosto a população japonesa se reunia em volta de aparelhos de rádio, em todo o país, para ouvir uma voz desconhecida. O filho da Deusa do Sol começou a falar. A linguagem era formal, mas todos entenderam o recado: o Imperador queria o fim da guerra, a aceitação da derrota, da humilhação e da ocupação. "Depois de termos ponderado profundamente (...), oredenamos ao nosso governo que comunicasse aos governos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, China e União Soviética que aceitamos os termos de sua declaração conjunta", disse o Imperador. "Sabemos muito bem quais são os sentimentos mais íntimos de todos vós, nossos súditos (...). Entretanto, é de conformidade com os ditames do tempo e da sorte que resolvemos preparar o caminho para a grande paz de todas as gerações vindouras, importando em inevitáveis sofrimentos e em padecer o insuportável". Hirohito encerrou o pronunciamento enfatizando a esperança: "Uni totalmente vossa força para devotar-vos à construção do futuro. Cultivai o caminho da retidão. Fomentai a nobreza do espírito e trabalhai com resolução para que possais encarecer a glória inata do nosso espírito imperial e preservar a paz com o progresso do mundo". 

O discurso provocou um clima de desespero. Líderes militares rebeldes praticaram o haraquiri, kamikazes jogavam seus aviões na baia de Tóquio, enquanto pilotos da base de Atsugi davam vôos rasantes sobre o Palácio Imperial, atirando panfletos que denunciavam os traidores e convocavam as pessoas à luta até o extremo.

A reação levou Hirohito a enviar quatro integrantes da família real até as bases do exército no exterior, uma forma de garantir a obediência à capitulação. Na manhã do dia 2 de setembro o Japão estava pronto para a hora da verdade. A delegação chefiada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Mamoru Shigemitsu, chegou ao encouraçado Missouri, ancorado na baia de Tóquio, para a assinatura do termo de rendição. No tombadilho do navio uma mesa forrada por um pano verde guardava os documentos.
Alguns japoneses choravam. Foi a senha para o general Douglas MacArthur, que liderava a comitiva de representantes de países vencedores, quebrar o protocolo e fazer um rápido discurso. Falou da paz restaurada, repudiou o espírito de "desconfiança, malícia ou ódio", colocou vencedores e vencidos em condição de igualdade e pediu um esforço comum para restabelecer a dignidade humana. A guerra terminou.
MacArthur passou a chefiar, então, um governo militar imposto pelos vencedores, que se prolongou até 1951, com o propósito de reconstruir o país e devolvê-lo à vida democrática. Somente em 1951, com a assinatura do documento final da Conferência de São Francisco, nos Estados Unidos, que teve como signatários todos os aliados do bloco capitalista -- a URSS se recusou a participar da reuinião de cúpula --, a paz com o Japão foi definitivamente restaurada. Os Estados Unidos, então, já estavam preocupados com outras questões no cenário político internacional, como a vitória de Mao Tsé-Tung na China, a Guerra Fria e a Guerra da Coréia.

Assim terminou a maior tragédia mundial que a loucura do nazi-fascismo levou a todos os continentes.

Recordar a história é uma forma de advertir para os riscos dos regimes totalitários e para a loucura dos que pensam que há uma única forma justa de pensar, um Deus único, uma só forma de organização do Estado.

E, pior que tudo, acreditar que há raças superiores.

Infelizmente, o Japão continua, até hoje, sem exorcizar os fantasmas do passado e sem reconhecer o crime da sua agressão. O martírio de Hiroxima e Nagasaki, cruel, injusto e desnecessário, não absolve o Japão do passado belicista, imperialista e expansionista.

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