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sábado, 28 de agosto de 2010

A 29 de Agosto de 2005 New Orleans foi atingida pelo furacão Katrina


O furacão trouxe miséria e morte... o sistema tornou as coisas piores!
O Furacão Katrina atingiu a região costeira do Golfo dos Estados Unidos – e, no seu rasto, deixou uma indescritível devastação e revelou de mil maneiras o que há de errado com este sistema capitalista.
Em Nova Orleães, dezenas de milhares de pessoas encheram o Superdome e o Centro de Convenções, seguindo as instruções das autoridades. Pensando que aí encontrariam segurança, comida e abrigo, as pessoas tentaram o seu melhor para enfrentar a situação, depois de caminharem com água pela cintura, por vezes percorrendo muitos quilómetros. Muitas pessoas partilharam os poucos medicamentos, comida e outros bens que tinham com outros que estavam ainda pior.
Vista aérea de Nova Orleões inundada
Vista aérea de Nova Orleões inundada
Mas, pouco depois de milhares de pessoas terem começado a chegar, as condições tornaram-se intoleráveis e ficou claro que apenas poderiam piorar. Após apenas 24 horas, crianças e velhos começaram a sofrer os efeitos da desidratação e alguns morreram. As pessoas ficaram desesperadamente famintas, não havia energia eléctrica e os dejectos começaram a entupir as casas de banho. Estavam cercados por água a transbordar de doença e morte.
Essas pessoas estavam a fazer o que pensavam que os responsáveis queriam que fizessem – mas o “auxílio ao furacão” do governo de facto tornou as coisas piores para as pessoas!
Quando verificaram que não chegava ajuda nenhuma, as pessoas da cidade foram obrigadas a tomar a iniciativa de se salvarem a elas próprias. Procuravam comida e água onde quer que pudessem, incluindo tirando-a de lojas abandonadas. Por causa disso, as pessoas foram apelidadas de criminosas e ameaçadas de morte por terem tomado essas medidas.
As pessoas foram heróicas face a esta situação e tudo isto mostrou a sua capacidade de se organizarem e tomarem os assuntos nas suas próprias mãos. Por exemplo, um rapaz de 20 anos apoderou-se de um autocarro escolar para tirar as pessoas das ruas de Nova Orleães para o Astrodome de Houston (a mais de 500 quilómetros), onde as autoridades tinham prometido ajuda aos refugiados. O grupo, constituído sobretudo por adolescentes e jovens, utilizou todo o dinheiro que tinha em gasolina e outros bens como fraldas. Houve outros exemplos como este – sem dúvida que mais exemplos surgirão quando começarem a aparecer as histórias dos sobreviventes.
E em toda a sociedade houve uma grande efusão de simpatia e apoio às vítimas deste furacão. Muita gente da classe média ficou completamente enfurecida pelo que viram em resultado do Katrina. Alguns jornalistas em Biloxi e Nova Orleães quase foram levados às lágrimas e exprimiram a sua raiva por não se estar a fazer mais. Muita gente correu a oferecer ajuda.
Em vez de realmente salvarem as pessoas, o governo e as suas forças armadas trataram dezenas de milhares de pessoas desesperadas, a sofrer de fome e doentes como se fossem um inimigo. Um grupo de pessoas famintas que arrombaram a cozinha do Centro de Convenções para preparar comida para eles e para os outros foi escorraçado pelas tropas da Guarda Nacional. Uma das pessoas disse: “Eles sacaram as armas e disseram-nos que tínhamos de deixar aquela cozinha ou eles fariam explodir os nossos malditos crânios. Nós não queremos a ajuda deles. Dêem-nos alguns veículos e nós sairemos daqui!”
O governador do Luisiana ameaçou que as tropas da Guarda Nacional iriam “atirar a matar” sobre quem estivesse a tirar bens de lojas. E Bush declarou uma “tolerância zero” contra os “saqueadores”.
Milhões de pessoas viram o sofrimento brutal das gentes em todos os noticiários. Milhões de pessoas interrogaram-se sobre onde estaria a ajuda!? Por que demorou tanto tempo!? Mas as autoridades ignoraram as necessidades básicas das pessoas e, além disso, responderam ao desespero das massas com armas e medidas de um estado policial.
Que tipo de governo começa por colocar as pessoas numa situação totalmente desumana como esta – e depois ameaça disparar a sangue frio sobre elas quando tentam sobreviver o melhor que podem?
Apenas um governo e um sistema que põe o lucro e a preservação das relações capitalistas de propriedade acima das pessoas e cuja principal preocupação é manter o controlo social sobre as massas, sob a ameaça de armas.
Um sistema e respectiva classe dominante que assim agem são totalmente dispensáveis e ilegítimos – eles NÃO têm direito a governar.
Mesmo uma voz da classe dominante como o comentador conservador David Brooks, que do seu ponto de vista reaccionário teve que admitir: “As cheias lavam a superfície da sociedade, a forma estabelecida como as coisas foram feitas. Elas expõem as estruturas do poder subjacentes, as injustiças, os padrões de corrupção e as desigualdades não assumidas.”
Tendo ficado expostos, os que estão no poder apenas prometem mais miséria e repressão para as massas. O Brigadeiro General Gary Jones, comandante da Força Conjunta de Trabalho da Guarda Nacional da Luisiana, disse ao jornal Army Times: “Este lugar vai parecer uma Pequena Somália, nós vamos sair à rua e trazer de volta esta cidade. Esta será uma operação de combate para retomar esta cidade sob controlo.”
Esta repressão sobre as massas deve enfrentar oposição e resistência. Tudo o que está a acontecer na sequência deste furacão revela quanto este sistema está fundamentalmente podre e é profundamente criminoso. Mas nestes acontecimentos e no modo como milhões de pessoas a eles responderam, também podemos ver as sementes de um outro futuro – a verdadeira possibilidade e o potencial de nos libertarmos deste sistema através de uma revolução e da construção de uma sociedade inteiramente nova. Ainda não é claro como esta situação imediata se irá desenvolver nas próximas semanas e meses. Nesta época verdadeiramente invulgar, o que as pessoas fizerem pode mudar a história.

Vozes do Luisiana: “Estamos Muito Mais Que Indignados”

Desespero na cidade
Desespero na cidade
A caminho de Nova Orleães, falei com um habitante de Thibodeaux que tinha ido de helicóptero até Nova Orleães para ajudar a reparar geradores. “Eles não estão a dizer às pessoas o que lá está a acontecer”, disse ele. “Há corpos em todo o lado. Há cadáveres nas ruas de Nova Orleães. Um desastre natural transformou-se numa catástrofe humana; uma tempestade violenta fez jorrar uma torrente de raiva e amargura entre as pessoas.”
Um homem que cresceu no 9º Bairro de Nova Orleães – na vizinhança imediata do açude e das margens do Lago Pontchartrain – falou comigo. Ele rompeu em soluços quando me disse que ainda não sabia onde estavam a sua mãe, a tia e as irmãs. Depois disse-me o seguinte: “Não diga que eles não tinham um plano. O problema não é esse. Eles tinham um plano e este foi o seu plano. Bloquear a cidade e deixar morrer as pessoas que não conseguirem sair. São pobres e são negros. Deixem-nos morrer, este foi o seu plano.”
Uma mulher telefonou para um programa de rádio, desesperada por ajuda. Ela contou a história de um amigo idoso isolado há vários dias, desesperado, doente e desidratado. Na sexta-feira, ele tentou atravessar a ponte sobre o Rio Mississípi, mas foi mandado para trás por soldados fortemente armados porque tinha um documento de identidade da Paróquia de Orleães e não foi autorizado a atravessar a “fronteira” para a Paróquia de Jefferson. “Ele vai morrer no seu apartamento”, disse ela.
Todas a gente com quem falámos fervilhava de raiva e explodia de mágoa. As pessoas estavam chocadas – porque estavam a ser tratadas como refugiados; estavam a ser chamadas de refugiados. Estavam chocadas porque a todos os níveis do governo nada foi feito para os ajudar. “Como podemos ser refugiados no nosso próprio estado? A minha família está aqui desde os dias da escravatura” disse um habitante de Kenner. “E agora é suposto que eu seja um refugiado?” “Nós não estamos indignados. Estamos muito mais que indignados”, disse um jovem da zona norte de Nova Orleães. “Se alguém pudesse olhar para dentro de nós e ver como nos sentimos, veria isto. Estamos muito mais que indignados.”

Se o Povo Mandasse na Sociedade – Conseguiríamos Fazer Muito Melhor!

Biloxi devastada depois da passagem do furacão Katrina
Biloxi devastada depois da passagem do furacão Katrina
Vejam o que fizeram este sistema capitalista e as suas leis do lucro a seguir ao furacão Katrina. Mas há uma alternativa a esta loucura: uma sociedade socialista, regida pela classe operária em que a produção satisfaça as necessidades do povo e sirva a transformação revolucionária da sociedade.
A ditadura do proletariado teria prioridades, princípios e métodos de dirigir a sociedade que seriam fundamentalmente diferentes e isto conduziria a resultados muito diferentes no caso de um desastre: o sofrimento das pessoas seria a prioridade imediata e seria atenuado – não piorado.
Imaginem um estado socialista que representasse os interesses do povo e pusesse isso no centro de tudo o que fizesse. Onde a liderança confiasse e mobilizasse as pessoas para resolver em conjunto os problemas em todos os domínios. Onde não só se escutasse os cientistas, mas onde estes ajudassem a educar as pessoas para compreenderem fenómenos como os furacões – e que, com esse processo, aprendessem com as pessoas. Onde as escolas dessem aos jovens uma compreensão científica da natureza e da sociedade humana. Onde houvesse debates e discussões alargadas e públicas sobre como lidar com coisas como os furacões, as medidas preventivas e os dinheiros e recursos governamentais destinados a lidar com esses problemas.
Quanto à opressão dos negros, tão nitidamente exposta em Nova Orleães, a Proposta de Programa do Partido Comunista Revolucionário (PCR) dos EUA diz que a política de um governo socialista revolucionário será “actuar imediatamente contra as instituições e o legado da opressão nacional. Por exemplo, a discriminação será imediata e vigorosamente proibida no emprego, na habitação e em todas as outras áreas... O estado dará preferência nos recursos e na ajuda às zonas menos desenvolvidas e mais atrasadas, em coordenação e com base no desenvolvimento global da sociedade. E nos momentos imediatamente a seguir à tomada do poder, a política de ‘levantar do fundo’ será aplicada em toda a sua extensão.”
O capitalismo requer e impõe que as pessoas compitam entre si e alimenta a mentalidade canibalesca que lhe está associada. Mas um estado socialista requer e impõe o contrário – que as pessoas trabalhem em conjunto para eliminar as desigualdades e reconstruir a sociedade. Os furacões e outros desastres naturais continuariam a ser desafios muito sérios. Mas as pessoas estariam numa posição fundamentalmente diferente para lidar com isso. Gente de todo o país seria imediatamente organizada para tratar de encontrar comida, medicamentos, ajuda e transporte para as pessoas. Seriam tomadas medidas extraordinárias para utilizar todos os recursos possíveis da sociedade – hotéis, casas, hospitais, médicos, condutores de autocarros, etc. Seriam satisfeitas as necessidades de toda a gente, com prioridade para os que tivessem necessidades mais urgentes – os doentes, os feridos e os pobres.
Não precisamos de nos limitarmos a imaginar esse tipo de sociedade – podemos olhar para o que foi conseguido na China sob a liderança de Mao Tsétung, quando a China era verdadeiramente socialista. Quando o novo governo revolucionário chegou ao poder em 1949, as vias fluviais, os diques e as barragens estavam há muito sem serem reparados e quase todos os anos centenas de milhares de pessoas sofriam com as inundações e a seca. Milhões de camponeses foram mobilizados com um “espírito de servir o povo” para imensos projecto hidráulicos que visavam mudar a própria paisagem para impedir grandes inundações e secas. E as massas levaram a cabo um amplo programa de mitigação das inundações que envolveu reparar e reforçar diques e zonas de segurança já existentes para acomodar 170 000 pessoas em caso de evacuação durante uma grande inundação. Foram mobilizados trezentos mil soldados e civis e todo o projecto foi completado em 75 dias.
Após o furacão Katrina, pudemos ver a total incapacidade do actual sistema para satisfazer as necessidades do povo. E pudemos ver o potencial para as massas fazerem as coisas de um modo diferente. Veja-se os exemplos de como as pessoas – em condições extremamente difíceis – tomaram a iniciativa, mantiveram-se unidas e descobriram maneiras criativas de tentar sobreviver. Isso foi feito apesar de e contra todas as tendências canibalescas da sociedade capitalista. E isso mostra o potencial do que poderia ser conseguido se a sociedade fosse organizada de um modo completamente diferente.

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