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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Em sua casa, na Namíbia Morreu o escritor Ruy Duarte de Carvalho 12.08.2010 - 16:16 Por Joana Amaral Cardoso


Em sua casa, na Namíbia

Morreu o escritor Ruy Duarte de Carvalho

12.08.2010 - 16:16 Por Joana Amaral Cardoso





O escritor, poeta, cineasta, artista plástico, ensaísta e antropólogo Ruy Duarte Carvalho morreu na sua casa na cidade de Swakopmund, na Namíbia, aos 69 anos.

Desde que se reformara, o escritor passou a residir na cidade costeira de Swakopmund, a segunda maior cidade da Namíbia, e foi ali que hoje foi encontrado já sem vida. Não são ainda conhecidas as causas da sua morte, soube o PÚBLICO. De acordo com o filho do escritor, Ruy Duarte de Carvalho não dava notícias há alguns dias.

Nascido em Portugal, naturalizou-se angolano em 1983 por motivos que, como explica no catálogo do ciclo que o Centro Cultural de Belém lhe dedicou em 2008, se prendem com o sentimento, de que teve consciência aos 12 anos, depois de a sua família ter emigrado para Moçâmedes (Angola), de que tinha ali a sua "matriz geográfica".

No mesmo texto, reproduzido na página da sua editora de sempre, Livros Cotovia, explica: "Lembro-me de ter nascido, ou então de ter mudado inteiramente tanto de alma como de pele, pelo menos uma meia dúzia de vezes ao longo da vida e nenhuma delas foi lá onde terei, pela primeira vez, dado conta da luz do mundo. De que havia uma matriz geográfica que essa é que me dizia de facto muito intimamente respeito pela via quem sabe de uma qualquer memória genética, dei conta aos doze anos - lembro-me sempre de cada vez que ainda por lá passo e se calhar é para isso que ando sempre a ver se passo por lá – a comer pão e com um ataque de soluços no meio do deserto de Moçâmedes, por alturas do Pico do Azevedo. E de que havia uma razão de Angola que colidia com a razão de Portugal, disso dei definitivamente conta já a trabalhar nas matas do Uíge quando, em março de 1961, eclodiu a sublevação nacionalista no norte de Angola."

No mesmo texto, o escritor e ensaísta explica a sua experiência da independência de Angola: "Acabei por voltar a Angola em 1974 e por passar a noite de 10 para 11 de Novembro de 1975 no município do Prenda, em Luanda, a filmar às zero horas, que foi uma hora zero, a bandeira portuguesa a ser arreada e a de Angola a subir no mastro".

Em 1989 recebeu o Prémio Nacional de Literatura e o seu "Desmedida Luanda, São Paulo, São Francisco e Volta, Crónicas do Brasil" (Livros Cotovia), recebeu o Prémio Literário Casino da Póvoa, atribuído no âmbito do encontro Correntes d'Escritas na Póvoa de Varzim, em 2008.

A sua formação passou pela Escola de Regentes Agrícolas de Santarém, pelo curso de realização de cinema e televisão em Londres (realizou filmes para a TV angolana e para o Instituto do Cinema de Angola) e pelo doutoramento pela École de Hautes Études en Sciences Sociales de Paris com uma tese dedicada aos pescadores da costa de Luanda, com o título "Ana a Manda" (1989).

Foi professor das universidades de Luanda, Coimbra e São Paulo, além de ter sido professor convidado da Universidade de Berkeley, na Califórnia, e realizou dos filmes "Nelisita: narrativas nyaneka" (1982) e "Moia: o recado das ilhas" (1989).

É autor de "Vou lá visitar pastores" (1999), da poesia de "Chão de Oferta" (1972) ou "A Decisão da Idade" (1976) - a sua poesia está reunida em "Lavra" (2005). Assinou ainda os diferentes estilos de "A Câmara, a Escrita e a Coisa Dita... Fitas, Textos e Palestras" (2008), "Actas da Maianga" (2003), "Os Papéis do Inglês", "As Paisagens Propícias" (2005) e descrevia a sua obra como "meia-ficção-erudito-poéticoviajeira".

Em 2008, Rui Guilherme Lopes adaptou a obra "Vou lá visitar pastores" (1988), sobre os Kuvale, uma sociedade pastoril do sudoeste de Angola, encenada e interpretada por Manuel Wiborg e que esteve em cena noTeatro A Barraca, na Culturgest, no FITEI (Porto), no Festival de Almada e no Festival de Agosto em Maputo, Moçambique.

De acordo com a sua editora de sempre em Portugal, a Cotovia, a sua obra "Vou lá visitar pastores"
está editada no Brasil pela Gryphus, "As actas da Maianga" foi editado em Angola pela Chá de Caxinde , que também editou "Os Papéis do Inglês", obra que chegou ao Brasil pela Companhia das Letras de São Paulo e a Itália pela La Nuova Frontiera.

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