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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Alfredo de Freitas Dias Gomes, nasceu a 19 de Outubro de 1922

(Salvador, 19 de outubro de 1922 — São Paulo, 18 de maio de 1999)


Alfredo de Freitas Dias Gomes, (Salvador, 19 de outubro de 1922 — São Paulo, 18 de maio de 1999)mais conhecido como Dias Gomes.  Era membro de uma família de classe média que o estimulava nas atividades culturais. Assim, desde a infância interessou-se pela literatura (chegou a ter publicado um pequeno livro de poesias) e por representações teatrais. Escreveu sua primeira peça "A Comédia dos Moralistas" aos 15 anos de idade, em 1937. Embora não tenha sido encenada, a obra foi premiada e publicada pelo Serviço Nacional de Teatro. 

Residindo na cidade do Rio de Janeiro, a então capital federal, o jovem autor escreveu "Pé de Cabra", sua primeira realização teatral de sucesso, que foi produzida e encenada pelo ator Procópio Ferreira e exibida em diversas capitais brasileiras nos anos de 1943 e 1944. A peça foi proibida no dia da estréia por ser considerada marxista, o que fez despertar no autor a vontade de ler Marx, um escritor que pensava de modo semelhante ao seu. Liberada mais tarde, serviu, no entanto, para caracterizar Dias Gomes como comunista muito antes de ele ingressar, de fato, no partido comunista brasileiro.

Convidado pelo dramaturgo Oduvaldo Viana, em 1945 o autor transferiu-se para São Paulo (SP), onde fez parte do corpo de redatores da rádio Panamericana, por um ano. Foi contratado também das Emissoras Associadas. Voltando ao Rio de Janeiro, paralelamente à criação de textos teatrais, continuou a trabalhar no rádio até a década de 60, onde fez de tudo: direção administrativa, redação de textos (humorismo, variedades, dramaturgia), e chegou a atuar como rádio-ator. Seu principal trabalho, entretanto, foi como adaptador de peças do repertório universal para serem exibidas no programa semanal Grande Teatro, que teve a duração de dez anos. Fez mais de 500 adaptações para o rádio-teatro.

Também para a televisão, nesses anos 50, o autor escreveu textos como comédias, teatros policiais e shows. Perseguido politicamente em 1953, continuou produzindo, mas não assinou seus trabalhos durante um ano.
Em todo esse período, a atuação mais marcante de Dias Gomes foi como escritor de textos teatrais, sua grande paixão. 

A notoriedade de Dias Gomes como autor foi obtida com a peça "O Pagador de Promessas" (1959) que, ao ser adaptada para o cinema, obteve grande sucesso e conquistou vários premios internacionais. "O Pagador de Promessas" é uma das peças brasileiras recordistas em traduções e encenações no exterior. Nos Estados Unidos foi encenada quatro vezes, por diferentes diretores norte-americanos.

No teatro, Dias Gomes criou ainda obras como: "Os Fugitivos do Juízo Final", "A Revolução dos Beatos", "O Santo Inquérito", "O Berço do Herói"," A Invasão", "Campeões do Mundo", "Vargas", "O Rei de Ramos", "Meu Reino por um Cavalo", dentre outras. Alguns desses textos serviriam de fonte de inspiração e desenvolvimento de personagens para diversas telenovelas. 

Nos anos 60, época da censura militar, o autor teve a peça "O Berço do Herói" (1965) proibida de ser encenada. A partir desse ano, mais de 300 peças, de diversos autores, foram proibidas. Com a criação do Ato Institucional número 5 (1968), que cerceou a liberdade de expressão, os autores nem mais podiam protestar contra a censura. 

Nesse período, o autor ingressou na televisão, na então TV Globo, onde já trabalhava sua esposa Janete Clair, autora de telenovelas. Adaptando um texto folhetinesco, "A Ponte dos Suspiros", de autoria de Michel Zevaco, ambientado em Veneza (Itália), no século 16, conseguiu, habilmente, ir alterando a trama do dramalhão, comentando assuntos políticos em sociedades autocráticas, despistando a censura através de situações ambientadas no ano de 1500. Ainda assim, considerando que o tema era forte para ser exibido às 19h, a emissora preferiu transferir "A Ponte dos Suspiros" para as 22 h, inaugurando esse novo horário de telenovelas na emissora. 

Seu próximo texto, "Verão Vermelho", em 1970, fez o autor voltar às raízes brasileiras (tão bem expressas em suas obras teatrais), exibindo um tema urbano de relações familiares conflitantes no qual colocava sua opinião política sobre a sociedade do país, com discussões a respeito da educação e da reforma agrária.
As encenações seguintes, principalmente "Bandeira Dois" (exibindo o sub-mundo dos chefões do jogo do bicho no Rio de Janeiro) e "O Bem Amado" (tendo como tema principal a corrupção política na administração de uma pequena cidade bahiana) foram grandes sucessos nacionais e consagraram definitivamente o autor, no veículo. 

Assediado pela imprensa em geral, Dias Gomes declarava suas intenções de produzir textos para a televisão em que o debate das questões sociais brasileiras e a quebra de alguns tabus fossem tão importantes quanto a trama romântica.

Apesar de ter os temas apoiados no eixo amor-dor, a telenovela, a partir dos anos 70, sempre procurou retratar a realidade da sociedade com a qual se comunicava. Essa identificação concorreu para manter o interesse do telespectador.

Ao ser criticado pela militância de esquerda por ter aderido à produção de textos inferiores como os de novela e ainda mais numa emissora de TV que era um dos sustentáculos do governo militar, Dias Gomes declarou: " Eu levei para a televisão a minha temática, o meu universo teatral, único modo que tinha de me conservar fiel a mim mesmo, sem me deixar dominar pelo monstro televisivo. Foi uma linguagem que tive que aprender levando em conta que a televisão é um meio linear, superficial, efêmero. Quase todas as novelas que fiz foram, basicamente, extraídas de minhas peças: "O Bem-Amado" é uma peça teatral, "Bandeira 2" foi tirada em parte de "A Invasão", "Quando os Homens criam Asas" virou "Saramandaia", "Roque Santeiro" é "O Berço do Herói". Mesmo o que escrevi diretamente para a TV nunca se afastou do meu universo teatral.
A televisão é um veículo que mostra uma realidade da qual é produto, por isso não tenho preconceito algum em trabalhar nela, aliás, se tivesse não teria ido. Mas se eu pudesse escolher passaria a vida toda escrevendo para o teatro. Fui para a televisão num momento em que todas as minhas peças estavam sendo proibidas e eu precisava sobreviver economicamente. Por outro lado, dentro das minhas convicções sociais, achei importante encarar essa platéia gigantesca. Toda a minha geração sonhou com o teatro popular. A televisão me oferecia esse meio de expressão popular. Fui para a rede Globo e me senti à vontade porque, naquela época, nunca alguém mudou uma vírgula dos meus textos, nem me disse o que escrever. Meus textos eram alterados pela censura militar. Várias vezes a censura pediu a minha cabeça e a de outros autores comunistas, mas a Globo não concordou. Apenas mais recentemente a censura interna da emissora interferiu num texto meu, mudando diversas coisas na nova versão, para a TV, que eu tinha feito de O Pagador de Promessas."

O gênero humor aliado à crítica social foi introduzido na televisão em 1968 por Bráulio Pedroso em Beto Rockefeller, novela que marcou a ruptura dos textos latinos na dramaturgia de novelas da televisão brasileira. Dias Gomes desenvolveu o mesmo tipo de dramaturgia televisiva, com maior diversificação de temas e personagens, em razão de sua prática com esses textos no teatro.

O seu modo de utilizar temas surrealistas ou mesmo absurdos em suas histórias abriu o leque de perspectivas da temática do gênero. O surrealismo já havia sido introduzido na telenovela desde os anos 60, em histórias sobre extra-terrestres ou super-heróis, não obtendo grande aceitação do público. A maneira de mesclar o realismo fantástico, o insólito, com a realidade e com o tipos folclóricos do país foram muito bem explorados pelo autor em novelas como "O Bem Amado", "Saramandaia" ou "Roque Santeiro" e tiveram enorme aceitação. Roque Santeiro, aliás, continua até a atualidade a telenovela de maior audiência da TV.

Apesar do sucesso, o autor declarava continuamente que não pretendia mais fazer televisão e que chegava mesmo a abominá-la, em razão do veículo nocivo em que ela havia se transformado ao buscar sucesso e audiência a qualquer preço. Mesmo assim, foi sempre solicitado a escrever ou adaptar suas obras. Cansado do longo trabalho de fazer telenovelas, preferiu, nos últimos anos, realizar minisséries, que considerava mais imediatas e uma boa forma de abordagem dos temas nacionais.

Em 1985, Dias Gomes criou e dirigiu, até 1987, a "Casa de Criação Janete Clair", na TV Globo. 

A novela "Roque Santeiro" foi levada ao ar pela TV Globo, após 10 anos de interdição pela censura. A peça "O Rei de Ramos" foi adaptada para o cinema, com o título "O Rei do Rio", com direção de Bruno Barreto. 


Obras TEATRO: A comédia dos moralistas (1939); Esperidião, inédita (1938); Ludovico, inédita (1940); Amanhã será outro dia (1941); Pé-de-cabra (1942); João Cambão (1942); O homem que não era seu (1942); Sinhazinha (1943); Zeca Diabo (1943); Eu acuso o céu (1943); Um pobre gênio (1943); Toque de recolher (revista), em parceria com José Wanderlei (1943); Doutor Ninguém (1943); Beco sem saída (1944); O existencialismo (1944); A dança das horas (inédita), adaptação do romance Quando é amanhã (1949); O bom ladrão, inédita (1951); Os cinco fugitivos do Juízo Final (1954); O pagador de promessas (1959); A invasão (1960); A revolução dos beatos (1961); O bem-amado (1962); O berço do herói (1963); O santo inquérito (1966); O túnel (1968); Vargas (Dr. Getúlio, sua vida e sua glória), em parceria com Ferreira Gullar (1968); Amor em campo minado (Vamos soltar os demônios) (1969); As primícias (1977); Phallus, inédita (1978); O rei de Ramos (1978); Campeões do mundo (1979); Olho no olho, inédita (1986); Meu reino por um cavalo (1988).

TELEVISÃO Telenovelas na TV Globo: A ponte dos suspiros, sob o pseudônimo de Stela Calderón (1969); Verão vermelho, (1969/1970); Assim na terra como no céu (1970/1971); Bandeira 2 (1971/1972); O bem-amado (1973); O espigão (1974); Saramandaia (1976); Sinal de alerta (1978/1979); Roque Santeiro (1985/1986); Mandala, sinopse e primeiros 20 capítulos (1987/1988); Araponga, com Ferreira Gullar e Lauro César Muniz (1990/1991).

Minisséries: Um tiro no coração, em co-autoria com Ferreira Gullar, inédita (1982); O pagador de promessas (1988); Noivas de Copacabana (1993); Decadência (1994); O fim do mundo (1996).

Seriados: O Bem-Amado (1979/1984); Expresso Brasil (1987).

Especiais (Telepeças): O Bem-Amado, em adaptação de Benjamin Cattan, TV Tupi, "TV de Vanguarda" (1964); Um grito no escuro (O crime do silêncio), TV Globo, "Caso Especial" (1971); O santo inquérito, em adaptação de Antonio Mercado, TV Globo, "Aplauso" (1979); O boi santo, TV Globo (1988); "A Longa Noite de Emiliano", inédita, TV Globo.

ROMANCES: Duas sombras apenas (1945); Um amor e sete pecados (1946); A dama da noite (1947); Quando é amanhã (1948); Sucupira, ame-a ou deixe-a (1982); Odorico na cabeça (1983); Derrocada (1994); Decadência (1995).

CONTOS A tarefa ou Onde estás, Castro Alves? in Livro de cabeceira do homem, ano I, v. III (Civilização Brasileira, 1967); A tortuosa e longa noite de Emiliano Posada, inédito.

CINEMA O pagador de promessas, direção de Anselmo Duarte, Leonardo Vilar, Glória Menezes, Dionísio Azevedo, Geraldo Del Rey, Norma Benguell, Othon Bastos e Antonio Pitanga (1962); O marginal (roteiro), direção de Carlos Manga, com Tarcísio Meira e Darlene Glória (1974); O rei do Rio (adaptação de O rei de Ramos), direção de Bruno Barreto, com Nuno Leal Maia, Milton Gonçalves e Nelson Xavier (1985); Amor em campo minado, direção de Pastor Vera, Cuba (1988).

A obra escrita de Dias Gomes foi reunida na "Coleção Dias Gomes", com a coordenação de Antonio Mercado, composta dos seguintes volumes: 1 Os heróis vencidos (1989); 2 Os falsos mitos (1990); 3 Os caminhos da revolução (1991); 4 Espetáculos musicais (1992); 5 Peças da juventude (1994); 6 Rádio e TV (a sair) 7 Contos (a sair).

Foi casado com Janete Clair, famosa autora de telenovelas da TV Globo falecida em 1983, com quem teve com quem teve cinco filhos: Guilherme, Alfredo (falecido), Denise, Alfredo e Marcos Plínio (falecido). Também foi casado com a atriz Bernadeth Lyzio , com quem teve as filhas Mayra e Luana. 

Desde 16 de julho de 1991, Dias Gomes ocupava a cadeira nº 21 da Academia Brasileira de Letras.

Morreu num acidente de trânsito, em 18 de maio de 1999, ao ser lançado para fora de um táxi que colidira em uma manobra irregular do motorista, que sobreviveu.

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