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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Manuel Said Ali Ida, nasceu a 21 de Outubro de 1861




Manuel Said Ali Ida
(Petrópolis, 21-10-1861 - Rio de Janeiro, 27-05-1953)

Abominava que o biografassem. «Todos os amigos do Mestre pudemos observar a aversão que sentia do ingrato gênero que leva não poucos erros e falsidades aos pôsteros. [...] O Mestre não tinha mêdo de ser mal biografado; o de que não gostava era ver sua vida esquadrinhada e posta à luz, à curiosidade de todos. [...] As perguntas que lhe fiz sôbre sua vida e suas obras só tinham pronta resposta quando eu lhe prometia não escrever a respeito delas. [...] E, nos momentos em que desconfiava da curiosidade humana, concluía suas respostas: || - Se você, quando eu morrer, me fizer a biografia, de pirraça não vou lê-la!» (Evanildo Bechara, pp. 10-11). Cumpriremos o capricho, brevissimamente lhe traçando o longo percurso de vida.
A mãe; Catarina Schiffler, era alemã; o pai, que perdeu aos dois anos, tinha ascendência, que o nome Said Ali Ida ecoava, turca. Manuel estudou na cidade natal, até se transferir para o Rio com cerca de 14 anos, trabalhando então na livraria Laemmert. Foi professor, de Alemão, da Escola Militar e do futuro Colégio Pedro II, onde teve como aluno o poeta Manuel Bandeira, «medíocre aluno de uma turma cujos ases eram Sousa da Silveira, Antenor Nascentes, Artur Moses e Lopes da Costa» (Bandeira, p. 9); leccionou também Francês, Inglês, Geografia. Além da linguística, da literatura e do ensino, também lhe interessavam as ciências naturais («Na sua residência da Estrada da Saudade, em Petrópolis, cultivava a Botânica e estudava a vida das formigas, de que contava experiências curiosas. Ultimamente, desejava reunir materiais sôbre a inteligência dos animais, pois o verbête da Enciclopédia Britânica lhe não agradava») e tinha ainda «raros dotes de excelente pianista e a família guarda um álbum de desenhos onde se notam reais aptidões, na arte, do chorado Mestre» (Bechara, p. 13). Íntimo amigo de Capristano de Abreu, historiador e linguista beneficaram da mútua influência (Carvalho e Silva, pp. 49-50). Em 1944 ficou viúvo de Gertrudes Gierling, senhora alemã com quem casara no começo do século. 
Pode dizer-se que Said Ali foi o melhor sintaticista de português da sua geração, que não é a nem a de Epifânio nem a de Bechara, ainda que ambas tenham intersectado as margens dos seus 91 anos. Na 2.ª edição das Dificuldades, 1919, Ali lastima não ter podido aproveitar, por estar o volume já em impressão, algumas «valiosas conclusões» bem como «pontos em que me vejo forçado a dissentir» da póstuma mas recente Syntaxe Historica de Epifânio Dias. O próprio Evanildo Bechara conta como, com quinze anos, deu um dos passos mais felizes da sua vida: «apresentei-me ao Mestre na condição de obscuro discípulo e pedi-lhe a orientação. Lembro-me como se fôra hoje! Encontrei-o muito doente e combalido pelo último golpe rude que a vida lhe desfechara: a perda de sua espôsa. Encontrei-o a dilacerar inúmeras fichas do seu preciosíssimo fichário» (Bechara, p. 10). «Dos neogramáticos [Said Ali] não tirou, ao contrário de Leite de Vasconcellos, a orientação histórico-evolutiva, mas as bases doutrinárias para encetar uma sistematização nova dos factos gramaticais portugueses. A sua fisionomia filológica é a do que hoje chamaríamos um "estruturalista"» (Câmara Jr., p. 186) «É o carácter interpretativo que distingue a sintaxe de Said Ali e a extrema da dos seus contemporâneos. Melhor falando, êle é um esteticista, um intérprete de estilos, mais interessado em surpreender estados dalma do que em formular regrinhas tão fúteis quão insustentáveis à luz do raciocínio» (Neto, p. IX).

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