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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Manuel Antunes, nascido na Sertã a 3 de Novembro de 1918


Manuel Antunes
Nascido na Sertã a 3 de Novembro de 1918, e falecido em Lisboa a 18 de Janeiro de 1985, Manuel Antunes ingressou na Companhia de Jesus em 1936. No Instituto Superior de Filosofia Beato Miguel de Carvalho, em Braga, licenciou-se em Filosofia no ano de 1943. Em 1950, obteve a licenciatura em Teologia na Faculdade de Teologia de Granada (Espanha).
Este jesuíta que, desde 1957, leccionou na Faculdade de Letras de Lisboa a cadeira de História da Cultura Clássica, frequentada com reconhecido proveito intelectual por milhares de alunos, foi também insigne escritor de ideias. A produção escrita foi aparecendo sobretudo naBrotéria, revista mensal de cultura, de que veio a ser director entre 1965 e 1982, com uma curta interrupção. Aqui deixou, mês após mês, artigos sobre assuntos que vão da filosofia à política, da teologia à educação, da estética à crítica literária, quer assinando com nome próprio quer ocultando-se sob vinte e seis pseudónimos conhecidos.
A variedade de temas e de áreas de saber que cultivou revela um observador igualmente atento ao pormenor e ao conjunto, empenhado não só em nunca desfocar o real, mas sobretudo juntando todos os fragmentos na procura infatigável de sentido, o sentido do Todo. E esta procura foi igualmente construção. Construção do homem e do mundo, seres inacabados, imperfeitos. Por isso, a cultura enquanto trabalho incessante de inscrição e aperfeiçoamento da humanidade no homem constitui o vínculo substancial de toda a obra de Manuel Antunes.
O lugar da filosofia no conjunto dos escritos de Manuel Antunes só episodicamente foi preenchido com trabalhos de elaboração filosófica em contexto académico. O seu percurso docente votado quase por inteiro às matérias da cultura grega e romana não lhe proporcionou o enquadramento propício ao aprofundamento especializado das grandes interrogações metafísicas e ao aturado diálogo com os monumentos do pensamento filosófico que, no entanto, frequentou com exemplar assiduidade.
Ao escolher para tema da dissertação de licenciatura em Filosofia o estudo do “Panorama existencial de Kierkegaard a Heidegger”, deixou bem marcado o que seria o roteiro de diálogo com os Grandes Contemporâneos. Ao longo da vastíssima obra que nos legou, ficaram definidas com clareza quais as suas afinidades electivas: os pensadores e criadores onde a espessura e vibração do humano se confrontam com o questionamento ontológico. Devem a esta luz ler-se as páginas de serena paixão que dedica a Pascal, Kierkegaard e Heidegger.
Mas se o seu pensar filosófico não se encontra em tratados nem em estudos de ruminante erudição e só avulsamente se entrega à exegese de textos de filósofos consagrados, não deixa por isso de existir e de permear os muitíssimos escritos em que se ocupa de crítica literária, cultura clássica, educação, experiência religiosa, reflexão política, questões de actualidade e outros. Exercita assim uma atitude crítica e pensante sobre as manifestações culturais em que se objectiva a sua perspicaz filosofia da cultura. Nunca chegou a dar-lhe elaboração sistemática, mas dela se ocupa, designadamente, a propósito dos “conceitos fundamentais” de história, cultura e civilização, mito, logos, mística, clássico, teoria dos conjuntos, conceitos com que abrem as lições de História da Cultura Clássica na Faculdade de Letras de Lisboa.
Atento às contribuições das ciências humanas e sociais, nelas assenta as incursões hermenêuticas com que atravessa e tenta dilucidar os meandros e complexidades do ser e agir humanos. Lê-se, nos seus textos, a inscrição de uma antropologia filosófica, inquieta e confiante, ciente dos extremos e rupturas que dilaceram e, não obstante, apostada na conciliação das diferenças e na dialéctica dos contrários. É uma dedicação ao conhecimento do homem que se destina a torná-lo cada vez mais humano e que, ao mesmo tempo, se cumpre como etapa do longo caminho que leva à completa epifania do ser.
A antropologia de Manuel Antunes insere-se num projecto maior, o de uma ontologia que persegue o Ser enquanto nele se revela verdade, bem, beleza e unidade. Por esta via, a meditação sobre a condição humana em permanente crise de responsabilidade e esperança, que lhe atravessa o discurso ensaístico é, afinal, o modo muito peculiar de ele reflectir ontologicamente sobre o mundo como totalidade e destino.
Estamos em presença de um pensador da cultura intempestivo. No meio da apoteose do fragmentário e do disperso, ele segura a bandeira das grandes sínteses e promove o sentido da totalidade. E só a consegue verdadeiramente promover porque nunca vota ao desprezo o que poderia parecer marginal, débil, insignificante, heterodoxo. O Todo a que aspira é a restituição da plenitude de sentido através da germinação e do amadurecimento das sementes de verdade, onde quer que elas tenham caído.

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