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domingo, 12 de dezembro de 2010

A 13 de Dezembro de 2007 é assinado o Tratado de Lisboa


O Tratado de Lisboa vai passar para a história como o momento em que a Europa fez um rebranding. A sua cerimónia de assinatura, com a presença dos dirigentes dos 27 Estados Membros da União Europeia, foi um acontecimento sem precedentes, que veio pôr Lisboa no mapa geopolítico do futuro da Europa, e o Grupo Euro RSCG Portugal no centro dos eventos protocolares europeus.
O director criativo da Euro RSCG Design & Arquitectura, que foi à reunião de entrega de briefing para este projecto, estava convencido de que tinha sido chamado para desenhar um púlpito para um evento.

Só quando chegou ao local de reunião, o Mosteiro dos Jerónimos, é que percebeu que se foi chamado ali para desenhar somente um púlpito, este teria de ser especial. Muito especial.

Tratava se de um concurso para organizar a cerimónia da assinatura do Tratado de Lisboa, em 2007. Um acto único, que iria reunir, nos claustros do quinhentista Mosteiro dos Jerónimos, as canetas de tinta permanente dos dirigentes dos 27 países que integram a União Europeia, para assinarem o início da entrada em vigor das novas regras políticas comunitárias.

A reunião, marcada no local escolhido para celebrar o evento, tinha mais de 20 participantes oriundos das mais diversas entidades políticas e policiais envolvidas na organização.

O desafio, naquele caso, não era propriamente a minuciosa complexidade logística, cheia de normas e procedimentos protocolares, mas sim o local escolhido para a sua realização. Nem mais nem menos que o monumento mais importante de Lisboa, senão de Portugal.

Assinale se que o Mosteiro dos Jerónimos é um edifício classificado como monumento nacional, com mais de cinco séculos de história, de estilo manuelino, onde se torna difícil encenar um espectáculo – qualquer que ele seja - por qualquer alteração mínima estar vedada à partida ou sujeita a fortes condicionamentos oficiais.

Um exemplo. A cerimónia desenrolar-se ia na zona descoberta dos claustros num 13 de Dezembro em Lisboa. Logo, havia a necessidade de não acreditar na bondade meteorológica e de construir uma cobertura amovível para a área quadrada, de 50 por 50 metros. Não será difícil imaginar a complexidade em idealizar uma cobertura, bem como a forma de a encaixar, que se integrasse na arquitectura do local e, sobretudo, que não danificasse o património.

O projecto da Euro RSCG Design & Arquitectura era tão completo que previa a deslocação das comitivas dos vários Estados-Membros, desde o aeroporto até ao Mosteiro dos Jerónimos. Por isso, propunha que a encenação começasse na zona de chegadas no aeroporto, com uma decoração alusiva ao tema.

O projecto contemplava a decoração do trajecto nas avenidas até Belém, bem como a criação da identidade corporativa do evento, do seu pictograma, do estacionário, de toda a comunicação, da produção, da cenografia, da iluminação, do som, da construção da cobertura e da decoração dos claustros. Previa também a montagem de estruturas amovíveis, para albergar as várias delegações, a segurança e o circo mediático esperado, bem como o desenho da recepção do palco do evento, do púlpito, das cadeiras, do local para a fotografia final de família do Tratado de Lisboa, mas também das casas de banho para os Chefes de Estado. “Isto só foi possível porque houve, desde logo, uma vontade da equipa de estabelecer um novo patamar de protocolo”, conta o director criativo responsável pelo projecto.

O elevado nível criativo da proposta fez com que a agência ganhasse o concurso com distinção. Todas as disciplinas envolvidas, o design, a arquitectura, a secção de eventos, o planeamento e a produção, responderam com um forte espírito criativo e de grupo para que a proposta fosse, como se veio a verificar, acolhida com sucesso.

Uma das apostas criativas era a própria identidade corporativa do Tratado de Lisboa proposta. O logótipo era composto por um exercício gráfico simples, onde o substantivo “Lisboa” (ou Lisbon) delimitava as palavras “Tratado De”, entre o prolongamento vertical de duas maiúsculas simuladas. O “L” e o “A” (“N”, na versão em língua inglesa) faziam em Lisboa o papel de dois altos e estreitos muros. Uma metáfora visual que poderia ser lida como a união entre todos os parceiros europeus e que ajustava o nome da capital portuguesa ao limite do mais importante tratado da história europeia. Sobre o lettering, assentava um quadrado vazado a azul oceânico, com um grafismo dinâmico, que sugeria o movimento compassado das ondas.
O evento constituiu um sucesso ao mais alto nível protocolar. Apesar de se tratar de um acontecimento com uma agenda marcadamente política, concorrido por altas figuras das nações europeias, altos funcionários europeus, convidados especiais, e por uma entourage de jornalistas e operadores de câmara, correu conforme o previsto. Apesar de ser um daqueles projectos de grande tensão dentro de uma agência, nada houve a assinalar fora o stress natural. Como diria um embaixador de carreira, se não houve gaffes ou incidentes diplomáticos, foi uma vitória da diplomacia.

Para isso contribuiu o apertado programa protocolar, a coreografia e a cenografia propostas para o desenrolar previsto do evento. Mas também a meteorologia que, após dias de chuva, se manifestou com um céu azul e um sol radioso, que fez brilhar a cidade e a cerimónia da assinatura do Tratado de Lisboa.
Para se ter uma ideia mais aproximada do que aconteceu dentro dos claustros, decorados imaculadamente de branco, sempre que um dirigente assinava em representação do seu país, toda a iluminação do Mosteiro dos Jerónimos mudava para a cor desse mesmo país. Visualmente, o espectáculo luminoso enchia de luz as janelas retalhadas na pedra e mostrava, de forma harmoniosa, o contraste entre a História do presente e do passado.

No dia 13 de Dezembro, os dirigentes dos 27 Estados-Membros assinaram o tão esperado novo Tratado da UE, manifestando, assim, claramente, a sua vontade de conduzir a Europa rumo ao século XXI.

Os jornais assinalaram que a cerimónia da assinatura teve um palco à altura do acontecimento: o magnífico Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.

Para além dos elogios públicos, o programa da cerimónia foi reconhecido internacionalmente com a atribuição de um prémio de protocolo mundial. Mário Soares, o grande obreiro da adesão de Portugal ao mercado comum europeu, acontecida no mesmo cenário 21 anos antes, deu no próprio local os sentidos parabéns depois de assistir, “espantado”, ao espectáculo montado nos Jerónimos.

As cadeiras brancas que hoje ocupam a sala de reuniões nobre da sede do Grupo Euro RSCG Portugal, com uma vista privilegiada para o rio Tejo, no Parque das Nações, são as mesmas onde se sentaram os Presidentes e Primeiros-Ministros presentes na assinatura do Tratado de Lisboa.

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