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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco, nasceu em Coimbra no dia 1 de Fevereiro de 1937 e faleceu em Lisboa a 30 de Novembro de 1995

Fernando Assis Pacheco





Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco, nasceu em Coimbra no dia 1 de Fevereiro de 1937 e faleceu em Lisboa a 30 de Novembro de 1995. Notabilizou-se como jornalista, crítico , tradutor e escritor . Filho de pai médico e de mãe doméstica , licenciou-se em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra, tendo vivido nesta cidade até que foi chamado para o serviço militar em 1961 Desde muito jovem se interessou pelas artes e letras, foi actor de teatro (TEUC e CITAC) e redactor da revista Vértice, o que lhe permitiu privar de perto com o poeta neo-realista Joaquim Namorado e com poetas da sua geração, como Manuel Alegre e José Carlos de Vasconcelos. Publicou a primeira obra em Coimbra, com o patrocínio paterno, “Cuidar dos Vivos” , livro estreia, com poemas de protesto político e cívico, com afloramento dos temas da morte e do amor. Em apêndice, dois poemas sobre a guerra em Angola, que terão sido dos primeiros publicados sobre este conflito. O tema da guerra em África voltaria a impor-se em Câu Kiên: Um Resumo (1972), ainda que sob "camuflagem vietnamita", livro que em 1976 conheceria a sua versão definitiva: Katalabanza, Kilolo e Volta. Memória do Contencioso (1980) reúne "folhetos" publicados entre 1972 e 1980, e Variações em Sousa (1987) constitui um regresso aos temas da infância e da adolescência, com Coimbra como cenário, e refinando uma veia jocosa e satírica já visível nos poemas inaugurais. A novela Walt (1978) comprova-o exuberantemente. Era notável em Assis Pacheco a sua larga cultura galega (origens do avô), sobejamente explanada em alguns dos seus textos jornalísticos e no seu livro Trabalhos e Paixões de Benito Prada. Em 1991 publica a “A Musa Irregular” em que reuniu toda a sua produção poética. Nunca conheceu outra profissão que não fosse o jornalismo: deixou a sua marca de grande repórter no Diário de Lisboa, no jornal A República, no JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, no Musicalíssimo e no Se7e, onde foi director-adjunto. Foi também redactor e chefe de Redacção de O Jornal, semanário onde durante dez anos exerceu crítica literária, tendo sido também colaborador da RTP. Entre os seus poemas destaco dois, Última Tesão e Nini dos meus Quinze Anos, este último musicado e cantado por Paulo de Carvalho. Penso que nunca escreveu nenhum Fado, mas podia ter escrito, tinha “Alma” para tal. Escreveu um poema bem popular que já referi “Nini dos meus Quinze Anos”, mas que nas suas biografias, nem sequer é referido… Porque será? Se calhar até escreveu alguns Fados… Quem sabe se também foram ignorados!


Seria o Amor Português (variações sobre um fado)

Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhãs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
- tanto pó sobre os móveis tua ausência.

Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam à porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.

Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo, no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silêncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.

Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
"Que me importa que batam à porta..."
Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.

Longas manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhãs
e lhes perdi a conta, pois é como se
no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,
um homem uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis circunstâncias da vida.

Que me importa, agora que me importas,
que batam, se não és tu, à porta.


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