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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Manuel António Gomes tornou-se “Himalaia”, nasceu no dia 9 de Dezembro de 1868


Foi um inventor extraordinário. Em 1904 criou uma máquina solar, para substituir o uso do petróleo. Queria generalizar o acesso a uma forma de energia gratuita. Preocupou-se com a utilização de energias renováveis e, em simultâneo, inventou explosivos. Ajudou os pobres e viveu entre os ricos. Viajou por todo o mundo e por Portugal. Vegetariano, fitoterapeuta, cientista e teólogo, era sobretudo um homem do conhecimento. Foi professor e aluno durante toda a vida. Teve grandes sucessos e maiores fracassos. Mas realizou feitos enormes. Himalaia foi o seu nome.
Manuel António Gomes tornou-se “Himalaia” bem jovem, devido à sua altura. Mas maiores foram os seus feitos. Foi, definitivamente, um grande homem grande.

Nada fazia acreditar que da aldeia de Cendufe, concelho de Arcos de Valdevez, no Minho, sairia esta figura enigmática. Nasceu no dia 9 de Dezembro de 1868, filho e neto de agricultores pobres. Trabalhou na terra e pastou o gado, actividades que promoveram o seu interesse pela natureza.

Rapaz inteligente e curioso pelas coisas da vida, aos 14 anos foi para o Seminário de Braga, para poder continuar os estudos. Foi ali que recebeu a alcunha, que adoptou como nome próprio: Himalaia. Leu tudo o que conseguiu sobre astronomia, antropologia, física, química, zoologia, geologia, botânica. Adquiriu, ainda, o gosto pelo experimentalismo, graças aos métodos de ensino inovadores praticados no Seminário. Foi ordenado em 1890.

Seguiu para Coimbra para estudar matemática e tornou-se capelão no Colégio dos Órfãos, do qual foi nomeado vice-reitor. Nos cinco anos seguintes visitou como missionário alguns países africanos. Numa dessas viagens contraiu malária. Procurou, para se curar, umas termas - foi para Bad Wörishoffen, na Alemanha. Conheceu então Sebastian Kneipp, director da instituição, que o iniciou na fitoterapia, ou a cura com plantas. A partir desta altura, o Padre Himalaia dedicou-se a recolher diversos exemplares da flora, a estudá-los e a fabricar pomadas, chás e elixires, que distribuía não só pelos familiares e amigos como pelas populações mais pobres. Tornou-se um reconhecido terapeuta do kneippismo em Portugal.

Em 1899 conseguiu o patrocínio de uma benfeitora e partiu para Paris, onde assistiu a aulas de cientistas de reconhecido mérito. No ano seguinte, ainda na capital francesa - incentivado pelo clima de entusiasmo por tudo o que era novo e mecânico que antecedeu a Exposição Universal de 1900 -, iniciou as suas experiências com o protótipo de um forno solar, baptizado “Pireliófero”, que, traduzido à letra, significa “eu trago o fogo do Sol”.

Os arredores de Paris, em Neuilly-sur-Seine, foram o local escolhido para fazer a primeira experiência com esta máquina de 13 m de altura. Foi um sucesso. O mecanismo consistia num enorme espelho parabólico formado por 6177 pequenos espelhos, com uma superfície reflectora de 80 m². Concentrava-se assim a energia solar, que incidia nessa superfície, para atingir a temperatura proposta: 1500 °C. Objectivo: derreter todos os materiais colocados naquele foco de luz. Para que pudesse acompanhar o movimento do Sol, o Padre Himalaia concebeu um sistema de relojoaria. A segunda experiência realizou-se no topo dos Pirenéus orientais, tendo atingido, de temperatura, 1100 °C.
Na experiência realizada em Lisboa, em 1902, atingiu os 2000 °C e fundiu um enorme bloco de basalto. Conseguiu um novo patrocinador para a apresentação do “Pireliófero” na Exposição Mundial de 1904, a decorrer em Saint Louis, nos EUA. O investimento compensou, já que a invenção ganhou o grande prémio, duas medalhas de ouro e uma medalha de prata. Teve ainda possibilidade de viajar pelo país, estabelecendo valiosos contactos, mas tendo recusado a proposta do Presidente Theodore Roosevelt para se naturalizar americano.

Se ficou conhecido pela máquina solar, não foi apenas nesta que investiu a sua energia. Patenteou invenções como o “himalaíte” - nome que deu à empresa que explorou o invento. Tratava-se de um explosivo três vezes mais potente que a dinamite. Também trabalhou em formas de obter farinhas alimentares e rações para animais à base de crustáceos. O turbomotor, o motor a gás pobre, um sistema para provocar chuva artificial ou, ainda, o aproveitamento da energia solar através de fotopilhas foram outros dos seus projectos. O Padre Himalaia procurava - em todas as suas invenções, intervenções científicas e acções humanas - instaurar “uma alternativa tecnológica nova, baseada na organização territorial e social, assente em energias renováveis”, segundo diz numa carta a um dos irmãos. Fundou o Círculo Católico do Porto e foi membro da Academia das Ciências de Lisboa.

Em 21 de Dezembro de 1933, com 65 anos, acabados de fazer, depois de ter conhecido os continentes europeu, africano e americano e ter absorvido todo o conhecimento que conseguiu, o Padre Himalaia morre como capelão do Asilo de Velhos e Entrevados da Caridade, em Viana do Castelo.

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