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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

As Cortes de Almeirim de 1580, iniciaram-se a 11 de Janeiro de 1580


As Cortes
Almeirim acordara cedo naquela Segunda-Feira dia 11 de Janeiro de 1580.
Pelas ruas do povoado que, naquela altura, contava pouco mais de 200 fogos, circulava uma pequena multidão, composta por gente de todas as camadas sociais.
O ambiente era de apreensão e havia consciência de "todos os perigos que na verdade se podiam temer", pois a sombra de Castela começava a avançar sobre o Reino, com a figura de Filipe II, um dos sérios pretendentes ao trono, por morte de D. Sebastião.
Na sala da rainha do Paço Real, iam reunir-se as Cortes, mandadas convocar, para nelas se resolverem os problemas de sucessão da Corôa.
Assistia o Cardeal D. Henrique, fazendo uma derradeira tentativa e sentindo a morte a rondar-lhe o leito, para resolver tão grave momento que atingia a Pátria.
Sentado num largo cadeirão de braços, de ceptro na mão, "tão magro que mais parecia múmia que homem vivo", o decrépito cardeal, estava incapaz de encontrar solução para não colocar o país nas mãos do rei de Castela.
Pronunciou a oração de abertura D. António Pinheiro, grande defensor do partido castelhano, tornando-se suspeito e alvo de severas críticas por parte do povo, este que se mantinha firme e obstinado, tentando, por vários meios, a salvação da independência nacional, já que a nobreza se encontrava dividida, em boa parte, subordinada pêlos agentes da Filipe da Filipe II.
Neste acto importante que durou vários dias, fez-se ouvir Fedo Moniz, eleito procurador do povo de Lisboa e que representava a força popular, tentanto impugnar as sugestões ao cardeal-Rei, para o sucessor de D. Sebastião. No dia 18 de Janeiro, frente a um crucifico de rosto firme e gesto nobre, Febo Moniz protestou, com veemência, causando espanto na Corte, pela audácia com que a sua voz se ouvia contra a eleição do Rei de Castela.
Com firmeza, apesar dos seus 64 anos, Fedo Moniz disse que não era possível deliberar em tais situações pois "via que sua Alteza se aconselhava com gente suspeita e inimiga da liberdade do País".
O diálgo entre o doente Cardeal e o enérgico procurador foi-se desenrolando, até que o soberano, impaciente e convencido de que trabalhava em vão para arredar as repugnâncias do domínio estrangeiro, mais tímido do que irado, pergunta:
- O que é que vós quereis?
Olhando bem de frente o Cardeal, com voz firme e segura, Febo Moniz, disse:
- Que vossa Alteza oiça o povo e se tiver que eleger, eleja Rei Português, porque sendo Castelhano, não será recebido nem obedecido.
Entregue vossa Alteza o Reino a um Príncipe Português e todos lhe beijarão a mão.

A 31 de Janeiro de 1580, falecia o o Cardeal-Rei D. Henrique, curiosamente nascido a 31 de Janeiro de 1512.
Sem nada se ter resolvido, a 15 de Março, as Cortes que já tinham sido transferidos para Santarém, são dissolvidas e o País passa então a ser governado por Filipe II de Castela, a partir desse momento.


D. António Prior do Crato e as Cortes de Almeirim
As Cortes de Almeirim foram marcadas por diversas afrontas ao nacionalismo português.
Só os representantes da alta nobreza, puderam pernoitar na Vila de Almeirim.
Os representantes do Povo e também alguns do Clero, tiveram de se instalar em Santarém.
D. António Prior do Crato foi impedido de entrar em Almeirim e perseguido pelas tropas reais.
Foi afixada nas portas do Paço de Almeirim, um mandato real para a sua prisão.
D. António estava em primeiro lugar na sucessão do trono e merecia o apoio popular com toda a racionalidade.
Tal como os outros candidatos, D. Catarina de Bragança e Filipe II de Espanha, era neto do Rei D. Manuel I.
Era filho de D. Luís, irmão do Cardeal Rei.
Filho bastardo segundo o Cardeal, mas legitimo segundo o seu pai, que o tinha perfilhado e velado pela sua educação e formação.
D. Luís tinha trazido este seu filho único para Almeirim, onde passou toda a infância e juventude, recebendo uma educação cuidada, durante o reinado de D. João III.
O oposição do Cardeal, à candidatura de D. António, relevava da sua mentalidade eclesiástica fanática e toda a influência dos seus amigos da ordem Jesuíta.
Também dos nobres pró castelhanos.
D. António era filho de uma nova-cristã, ou seja de uma judia convertida ao cristianismo.
Este facto que causava a repugnância do Cardeal Rei, era também no sentido contrário, o que dava mais garantias ao Povo, pois ele não tinha pela sua ascendência maternal, qualquer ligação de interesse com a Espanha.
D. António era Infante de Portugal e tinha sido sempre um leal ao seu sobrinho D. Sebastião, tendo inclusive participado na batalha de Alcácer Quibir, onde foi feito prisioneiro e posteriormente resgatado após pagamento de uma elevada soma de dinheiro.
Expulso de Almeirim, D. António prior do Crato passa a Santarém.
No final do mês de Janeiro de 1580, morre o já há muito senil e moribundo Cardeal Rei.
Quando se anuncia a morte do Cardeal, o “espírito de Almeirim” atravessa o Tejo e o povo também.
D. António Prior do Crato é aclamado Rei em Santarém.
O povo cantou…
Viva El-rei D. Henrique
No Inferno muitos anos,
Por deixar em testamento
Portugal aos Castelhanos!

D. António avançou então para Lisboa, depois de obter esta aclamação em Santarém.
O povo de Setúbal reúne-se para apoiar o novo Rei aclamado.
No Porto, em Coimbra e em todo o Minho, o povo sai à rua para com regozijo o apoiar.
São muitos que do norte se metem ao caminho para o vir ajudar.
O povo de Lisboa recebe-o com alegria, apoio e simpatia. É também aí aclamado.
Muitos são os nobres que fogem para Espanha e apelam à intervenção de Filipe II.
Este tinha agora um motivo, para invadir Portugal.
Vir em defesa desses nobres, muito mais interessados na defesa dos benefícios e privilégios, do que em dar resposta ao nacionalismo popular.
Filipe II, envia para cercar Lisboa um enorme exército de 30.000 homens, chefiado pelo prestigiado Duque de Alba. Faz ainda sair de Málaga uma frota de cerca de 100 navios de guerra para apoiar este exército no cerco de Lisboa.
D. António prior do Crato, que não tinha tido tempo nem meios para preparar convenientemente nenhum exercito, enfrenta com um grupo de patriotas e trava com os espanhóis a batalha de Alcântara.
Ferido nessa batalha, não consegue resistir ao muito maior poderio militar dos invasores e é levado para Santo Antão do Tojal, onde se cura dos ferimentos.
Segue-se depois numa atitude de total determinação, uma longa e impressionante luta pelos seus direitos.
É uma das páginas mais dignas da história portuguesa, mas também uma das mais frustrantes.
É uma história grandiosa esta luta de D. António Prior do Crato, que deveria orgulhar todos os portugueses, mas que não é este o contexto para a contar.
Fica apenas a referência que D. António, em todos os anos em que não deu tréguas a Filipe II e com isso manteve acesa a esperança nacionalista do povo português, teve apoios significativos de Inglaterra e França, para a sua causa.
A célebre ” armada invencível” que Filipe II, enviou contra Inglaterra e que foi irremediavelmente derrotada, tem também como motivação este apoio britânico à causa de D. António Prior do Crato.
O último espaço do território nacional onde se manteve o “espírito de Almeirim”, foram os Açores e em particular a ilha Terceira, onde se travaram varias batalhas entre D. António Prior do Crato e a frota espanhola, que tudo fez para tentar evitar subjugação à corte espanhola.
Filipe II, sai vitorioso desta luta pela soberania portuguesa e quando das Cortes de Tomar, que o consagram como Rei dos portugueses, é-lhe atribuída a seguinte frase, referindo-se ai Reino de Portugal :
“Herdei-o; Comprei-o e Conquistei-o”

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