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sábado, 26 de março de 2011

Queda do governo português


Queda do governo português


Quarta-feira passada, o primeiro-ministro português apresentou a sua demissão, depois do chumbo do PEC 4, na Assembleia da República.
Depois de o governo negociar, actualizar e elaborar um novo pacote de medidas com os técnicos do BCE e da Comissão Europeia, que iria torcionar ainda mais os mesmos de sempre, acrescentava entre outras, as pensões mais baixas dos idosos, a pobreza mais atroz, a que não se manifesta, a que vive sozinha, a que tem mais dificuldades para preencher impressos para usufruir de subsídios. Tristeza de um povo que põe de parte, seus cidadãos e cidadãs, por não ver neles qualquer tipo de rentabilidade.

A queda era desejada por todos, a oposição em geral e o governo em particular. Aqui entramos no campo perverso da política dos últimos anos e que paulatinamente tem levado o país ao descalabro total.
Logo após o chumbo, Sócrates, assessores e porta-vozes do PS, desdobrando-se em comunicações nos media, repetem os mesmos termos freneticamente e anteriormente combinados; coligação negativa, oposição irresponsável, quando todos os parceiros europeus tinham elogiado as medidas, empenho total para evitar a "ajuda" externa. Repetindo estes termos-chave até à exaustão. Termos que se voltarão aos próprios.
Quando o país à beira da bancarrota e este governo grande responsável por isso, não querendo tomar o ónus de pedir formalmente a tal "ajuda", encena este palaciano golpe de teatro, forçando a oposição em peso a derrubar o governo, para logo a partir daí passar à fase seguinte da dramatização "o mais possível", de que tentaram salvar o país da "ajuda", mas a oposição é que não deixou.

Discutir, se é José ou Pedro, ou outrora, Cherne ou Guterres, ou Santana e Ferro, é lateral ao que se passa de facto. A política é a mesma, alimentar os clientelismos partidários, e eles são vorazes, e os outros interesses que financiam tudo isto, para obter lucros bem chorudos.

Este PS que (des)governou o país nos últimos seis anos, seguiu inocentemente a política do endividamento mórbido, duplicou a dívida externa, sem a contrapartida do PIB/per capita, aumentou desmesuradamente o rácio da distribuição da riqueza, cada vez menos a terem mais.
E há medida que saíam mais medidas de austeridade, cada vez mais se questionavam acerca da justeza dessas medidas. Empresas públicas com prejuízos crónicos a pagaram chorudos prémios de gestão, administradores públicos com todas as mordomias enquanto ao mesmo tempo se cortavam ordenados, aumentava-se o IVA, cortava-se no abono de família e no subsídio de desemprego.
Além de dificultar a vida de milhões de portugueses que recebem pouco mais de meia-dúzia de centenas de euros, em profundo contraste com as vigarices de milhões e milhões de euros que no lado privado, como por exemplo, no BPN se fizeram. Para estes o Estado é fraco e paga-lhes as brincadeiras com bancos virtuais. Quando se fala tanto em mercado livre, é de estranhar que os ex-ministros do PSD "das maiorias" do actual presidente da república, não cubram os prejuízos. Ao que parece nem um cêntimo pagaram.
Então o mercado livre é muito bom! Muito bom para receber e usufruir dos lucros, se houver prejuízo, o povão que pague, pois sistematicamente vota neles.
Não consegue se desamarrar, de que é tudo marketing, nada mais.

No plano internacional, o Eurogrupo, já tem um pacote prontinho e à medida das necessidades de Portugal, 75 mil milhões. Que número tão redondo e bem definido.
Até parece, que já andavam a algum tempo a prepara-lo!
Até parece, que existe algo de mais profundo, nesta questão do abate do euro! Primeiro, a Grécia, depois os holofotes viraram-se para a Irlanda, de seguida Portugal ficou na berlinda e enquanto esperneia, já se apontam a Espanha e a Bélgica.
Nesta página, de uma insuspeita entidade internacional, pode-se constatar o montante da nossa dívida, acima da Rússia, da China, do Brasil, da Finlândia, do México, da Indonésia e da Argentina, só como exemplo.

Já Eça de Queiroz escrevia em 1867 algo que parece, escrito hoje, provando que o tempo é relativo:
"Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o Estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?"
(Eça de Queiroz, 1867 in "O distrito de Évora")

Em concomitância com tais factos reais, mesmo que José Sócrates, aparecesse em palco travestido de "loira poderosa" a cantar no melhor inglês técnico que lhe ocorresse, "Tell it to My Heart", a maior parte teria ainda enormes dificuldades em despertar.
E nestas moengas existem muitos Josés Sócrates...






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João J. C.Couto

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