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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Para reflectir - MÃE TENHO MEDO, TIRA-ME DAQUI POR FAVOR!

MÃE TENHO MEDO, TIRA-ME DAQUI POR FAVOR!



"Minha querida mãe, por favor, sei que sou apenas uma criança, sei que ainda não percebo tudo da vida, sei que tu amas o nosso país e a nossa terra, mas por favor mãe, tira-me daqui, por favor! Tenho medo mãe, muito medo, pois já não te vejo sorrir, choras sempre que chega o dia 15 porque eu sei que não tens dinheiro para comprar coisas para a casa, sei que choras porque trabalhas tanto e não nos consegues dar comida, livros, medicamentos e outras coisas que tu dizes que fazem falta. Sei que choras por não termos brinquedos novos há mais de dois anos, mas isso não me deixa triste mãe, o que me deixa triste é saber que o pai trabalha tanto e também anda triste. Tenho medo minha querida mãe, muito medo, muito mais agora que vi o pai a chamar nomes ao senhor que estava a falar na televisão, aquele de gravata, que o pai chama de ladrão... Mãe eramos tão felizes, a nossa família é de honra, os avós sempre traba
lharam e nos ensinaram a respeitar os outros e a cumprir os nossos deveres e agora isto parece um inferno. O pai diz que o nosso país tem mais de trezentos deputados, que as Câmaras Municipais são buracos sem fundo, que as empresas públicas foram criadas para roubar o máximo, que os políticos nunca são culpados de nada e que nós, o povinho, é que sofre com tudo. Eu nem livros tenho para este ano, bem sei que vocês mos queriam comprar, mas mãe eu lá me arranjo com as fotocópias. Bem fez o João, que emigrou com os pais para o Luxemburgo e está sempre a por coisas lindas no facebook. A Cristina foi com os pais para a Bélgica e está sempre a por fotos de coisas novas. Nós aqui só gritamos, berramos e choramos. Aqui na aldeia já nem escola há, nem centro de saúde, nem nada temos. Nas cidades o pai diz que vivem nas ruas e cada vez mais famílias entregam as casas aos bancos. O dinheiro não chega para nada, mas isso nem me importa mãe, desde que não vos visse sempre a chorar... O pai estava a dizer que os portugueses deveriam deixar de pagar impostos, deveriam de deixar de pedir fatura e fazer tudo por fora, pois quanto mais damos mais nos roubam. Enfim, não percebo nada disso, mas vamos embora daqui mãe, por favor, para qualquer outro país, mas por favor vamos embora daqui e vamos ser felizes, como eramos dantes. Não queremos ser ricos, como diz o pai, só queremos que não nos pisem mais. O pai está revoltado porque a avó morreu sem ser operada, estava há três meses na lista de espera e a doença era grave, por isso não resistiu, o que deixa o pai ainda mais revoltado, pois ele sempre descontou os impostos e diz que não merecia isto. Não aguento mais as vossas lágrimas mãe, por isso vamos embora daqui. Por favor mãe. E mãe, só uma coisa, se formos embora e se um dia tivermos dinheiro, depois dos livros para a escola só vos vou pedir uma coisa que desejo muito: umas sapatilhas para jogar à bola."


Texto: Paulo Costa

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