Previsão do Tempo

terça-feira, 14 de abril de 2015

A 14 de Abril de 1909 - Nasce Joaquim Soeiro Pereira Gomes




 Joaquim Soeiro Pereira Gomes,nasceu a 14 de Abril de 1909  em Gestaçô, concelho de Baião. É filho de Alexandre Pereira Gomes e de Celestina Soeiro Pereira Gomes. 1915. Vai viver para casa de uma tia em Espinho e começa ali a frequentar o ensino primário. 1920. Matricula-se em Coimbra no curso de regentes agrícolas. 1928. Após a conclusão do curso, durante a festa de formatura, conhece a futura esposa, Manuela Câncio Reis. 1930. Parte para Angola, para trabalhar na Companhia Agrícola de Cassequel, em Catumbela. Insatisfeito com o trabalho e com o clima, chocado com o tratamento dado aos nativos e com problemas de saúde, regressa no ano seguinte. 1931. Casa com Manuela Câncio Reis e emprega-se na fábrica Cimento Tejo, em Alhandra, para onde vai viver. 1934. Primeira aparição pública do casal, colaborando na revista Carnaval, da autoria de Francisco Filipe dos Reis, pai de Manuela. 1935. Envia o conto O Capataz a O Diabo para publicação. É cortado pela censura. São realizados melhoramentos na Charca da Hortinha e começam as lições de natação. 1937. É levada à cena a revista Sonho ao Luar, no Teatro Salvador Marques, em Alhandra. Adesão ao Partido Comunista. 1938. Inauguração da piscina do Alhandra Sporting Clube. 1939. Início da publicação de crónicas no jornal O Diabo. 1940. É publicado em O Diabo o conto O Pàstiure. 1941. A 15 de Fevereiro um grande ciclone devasta a região da Grande Lisboa. Soeiro Pereira Gomes e alguns amigos passam vários dias a socorrerem vítimas isoladas nos mouchões e outras ilhas e recantos do estuário do Tejo. Neste mesmo ano a editora Sirius, no Porto, publica a primeira edição de Esteiros. 1944. Após movimentos grevistas de grande amplitude na cintura industrial de Lisboa, Soeiro Pereira Gomes passa à clandestinidade. 1946. É eleito delegado ao II Congresso do Partido Comunista Português. 1948. É eleito para o Comité Central do PCP. É-lhe detectado um cancro nos brônquios. 1949. A 5 de Dezembro falece em Lisboa, em casa da sua irmã, a escritora Alice Gomes, após um internamento de dois meses, com um nome suposto, no Instituto Português de Oncologia.


Soeiro Pereira Gomes nasce numa família rural, razoavelmente abastada. Não conhece a miséria na sua vida familiar, ao contrário do que se chega a afirmar, com certeza devido ao impacto causado pela sua obra, sobretudo Esteiros. É o mais velho de seis irmãos. A todos eles é proporcionada a oportunidade de estudar, com êxito diferente como é natural. Uma das suas irmãs, Alice Gomes, também é escritora de reconhecido talento, para além de professora e pedagoga. Outro dos seus irmãos é o matemático Alfredo Pereira Gomes.
Aos seis anos Soeiro Pereira Gomes vai para casa da madrinha, tia da sua mãe, que vive e trabalha em Espinho. A família pretende que tenha uma educação mais apurada, que não consegue proporcionar-lhe em Gestaçô. Joaquim faz o ensino primário e frequenta o liceu aqui em Espinho. A tia Leopoldina, viúva, sem filhos, é uma pessoa austera, que acha que a educação das crianças deve ser ministrada com dureza. Joaquim sente a falta do carinho familiar e do ambiente de que usufruía em Gestaçô. Sem dúvida que esta transição, de um ambiente familiar alegre e cheio de vida para outro, austero e exigente, lhe desperta a atenção para as situações de sofrimento e para as diferenças entre as pessoas, o que mais tarde o vai ajudar na percepção da realidade que vai retratar na sua obra.
Aos onze anos Joaquim parte para Coimbra. Matricula-se na então chamada Escola Nacional de Agricultura, no curso de engenheiros agrícolas, onde fica a estudar como aluno interno. Passa 8 anos na escola, concluindo o curso de agricultor diplomado aos 19 anos. É um amante do desporto e do convívio social. O hábito adquirido da disciplina e da severidade faz com que não estranhe a vida do internato. Cria amizades que vão perdurar. Frequenta os cafés e as tertúlias literárias, onde os estudantes são sempre bem recebidos. Os amigos referem que na altura já é amante de literatura. Conhece a futura esposa, Manuela Câncio Reis, irmã de um colega de curso, na festa de formatura.
A situação familiar degrada-se sob o ponto de vista económico. Pretendendo casar-se e não conseguindo obter uma posição profissional compatível com as suas habilitações, de modo a proporcionar -lhe uma situação suficientemente desafogada, Joaquim pensa tentar a vida em África. Responde a um anúncio, e vai trabalhar para Angola, numa companhia que explora o cultivo do açúcar. Contra as suas expectativas, é colocado num armazém. Para além da desilusão com o trabalho, e do choque que sofre com o tratamento que vê ser dado aos nativos, vem a contrair paludismo, doença que o vai acompanhar para o resto da vida. Regressa sem meios a Portugal.
Joaquim e Manuela resolvem não adiar mais o casamento. A família da esposa apoia-o e o casal fixa-se em Alhandra. O sogro, Francisco Filipe dos Reis, pessoa muito prestigiada na vila, chefe de escritórios na Fábrica dos Cimentos Tejo, arranja-lhe emprego como escriturário na firma.
Os primeiros tempos são sossegados. Joaquim integra-se rapidamente na vida da vila. Amante do desporto, começa a ir ao futebol aos domingos, no Alhandra Sporting Clube. Aí conhece muitos habitantes da terra, incluindo pessoas dos estratos sociais mais modestos. O casal começa também a colaborar com o pai de Manuela, que participa em numerosas actividades comunitárias, é um amante de teatro com formação musical, e participa na vida de colectividades desportivas e artísticas, tendo mesmo chegado a abrir um cinema ao ar livre. Trabalham na preparação de revistas que serão levadas à cena no Teatro Salvador Marques, na vila. Manuela torna-se numa compositora de música popular de mérito, chegando as suas músicas a adquirir fama nacional. Joaquim não é amante de teatro, mas colabora na preparação dos espectáculos e na elaboração dos textos. Frequenta em Lisboa as tertúlias do Café Portugal e do Chiado. Mais tarde, diz numa entrevista a O Primeiro de Janeiro, em 1943, que sempre ambicionou escrever, mas só em 1935 se abalança a enviar um conto a um concurso aberto por O Diabo. Esse conto, O Capataz, cuja publicação é impedida pela censura, traduz bem o modo como o autor vê, já na altura, o ambiente na fábrica e como sente a exploração a que os trabalhadores estão sujeitos.
Familiariza-se com os hábitos das crianças e jovens da terra. Observa o trabalho infantil nos telhais, pequenas fábricas que utilizavam o barro dos esteiros para fabricar telhas, tijolos e outros artigos. Vê as crianças nadarem nos esteiros e nas charcas, afloramentos naturais de água, muitas vezes cheios de lodo e de imundícies, e onde chegam a ocorrer afogamentos. Entretanto, começa a dar aulas de ginástica aos filhos dos operários da fábrica onde trabalha. Sempre amante do desporto, também vai nadar nas charcas. Um dia, é procurado por Luís Rato, carpinteiro, e Alfredo Peniche (conhecido por Alfredo Tinoco), fragateiro, que lhe apresentam uma ideia deste último, a de aproveitar a charca da Hortinha, no Telhal dos Canários, para fazer uma piscina. Joaquim aceita coordenar a comissão que se formou para promover, dirigir e executar as obras necessárias. Começam por arranjar a charca, dando-lhe melhores condições de higiene e segurança, e organizam aulas de natação para crianças e jovens dos dois sexos. Mobilizam a população e muitas entidades para obter os meios necessários à construção da piscina. Para o efeito, lançam um empréstimo público, de 2000 acções, a dez escudos cada, para ser subscrito pela população de Alhandra. Joaquim trabalha intensamente nesta iniciativa, mesmo como operário. É um sucesso.
É de salientar o carácter inovador da inclusão de elementos do sexo feminino na prática desportiva, o que na altura requer vencer preconceitos muito arreigados. Para dar o exemplo, Soeiro convence a esposa a ser a primeira pessoa a entrar na piscina, na inauguração.
A criação de bibliotecas nas colectividades é outra das iniciativas de Soeiro, assim como o lançamento de cursos de alfabetização e a realização de palestras sobre os temas mais variados. Mas o mais importante foi a conquista do respeito e do afecto das pessoas de Alhandra. Elas apercebem-se do enorme sentimento de solidariedade que o move, e das perspectivas que se lhes podem abrir, a partir de um trabalho sob a orientação de pessoas como ele.
Em Fevereiro de 1941, Alhandra e outras terras ribeirinhas são devastadas por um ciclone, acompanhado por uma cheia gigantesca do Tejo. São enormes os estragos e numerosas as vítimas. Soeiro e alguns amigos passam dias no rio e nos mouchões procurando socorrer os sobreviventes. Trazem de volta dezenas de trabalhadores isolados pelas águas. Na parte de Esteiros dedicada ao Inverno procura retratar o ambiente à volta da catástrofe.
Quando morre em Lisboa, a família decide levar o corpo para Espinho, onde tem um jazigo. A manifestação de solidariedade que faz com que o carro funerário seja desviado da estrada do Norte e percorra as ruas de Alhandra foi organizada pelo comité local do PCP, mas isso não lhe retira o significado. Sessenta anos depois ainda vivem muitas pessoas em Alhandra testemunhas do choque que causou na vila a notícia da morte do escritor, e da adesão geral a prestarem-lhe a última homenagem. Apesar do afastamento causado pela perseguição política que o levou à clandestinidade, não o tinham esquecido.



Sem comentários:

Enviar um comentário