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quinta-feira, 7 de maio de 2015

Luiz José Gomes Machado Guerreiro Pacheco nasceu em Lisboa a 7 de Maio de 1925



Luiz José Gomes Machado Guerreiro Pacheco nasceu em Lisboa a 7 de Maio de 1925 e morreu no Montijo a 5 de Janeiro de 2008, foi um escritor, editor, polemista, epistológrafo e crítico de literatura português.
Nasceu na freguesia de São Sebastião da Pedreira, numa velha casa da Rua da Estefânia, filho único, no seio de uma família da classe média, de origem alentejana, com alguns antepassados militares.
O pai era funcionário público e músico amador.
Desde cedo teve a biblioteca do seu pai à sua inteira disposição e depressa manifestou enorme talento para a escrita.
Estudou no Liceu Camões e chegou a frequentar o primeiro ano do curso de Filologia Românica da Faculdade de Letras de Lisboa, onde foi óptimo aluno, mas optou por abandonar os estudos.
A partir de 1946 trabalhou como agente fiscal da Inspecção Geral dos Espectáculos, acabando um dia por se demitir dessas funções, por se ter fartado do emprego.
Desde então teve uma vida atribulada, sem meio de subsistência regular e seguro para sustentar a família crescente (oito filhos de três mães adolescentes).
Esse período difícil da vida inspirou-lhe o conto Comunidade, considerado por muitos a sua obra-prima.
Nos anos 1960 e 70, por vezes viveu fora de Lisboa, nas Caldas da Rainha e em Setúbal.
Começa a publicar a partir de 1945 diversos artigos em vários jornais e revistas, como O Globo, Bloco, Afinidades, O Volante, Diário Ilustrado, Diário Popular e Seara Nova.
Em 1950, funda a editora Contraponto, onde publica escritores como Raul Leal, Vergílio Ferreira, José Cardoso Pires, Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Natália Correia, Herberto Hélder, etc., tendo sido amigo de muitos deles.
Dedicou-se à crítica literária e cultural, tornando-se famoso (e temido) pelas suas críticas sarcásticas, irreverentes e polémicas.
Denunciou a desonestidade intelectual e a censura imposta pelo regime salazarista. Denunciou, de igual modo, plágios, entre os quais o cometido por Fernando Namora em Domingo à Tarde sobre o romance Aparição de Vergílio Ferreira - "O caso do sonâmbulo chupista".
A sua obra literária, constituída por pequenas narrativas e relatos (nunca se dedicou ao romance ou ao conto) tem um forte pendor autobiográfico e libertino, inserindo-se naquilo a que ele próprio chamou de corrente "neo-abjeccionista".
Em O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o Seu Esplendor (escrito em 1961), texto emblemático dessa corrente e que muito escândalo causou na época da sua publicação (1970), narra um dia passado numa Braga fantasmática e lúbrica e a sua libertinagem mais imaginária do que carnal, que termina de modo frustrantemente solitário.
Alto, magro e escanzelado, calvo, usando óculos com lentes muito grossas devido a uma forte miopia, vestindo roupas usadas (por vezes andrajosas e abaixo do seu tamanho), hipersensível ao álcool (gostava de vinho tinto e de cerveja), hipocondríaco sempre à beira da morte (devido à asma e a um coração fraco), impenitentemente cínico e honesto, paradoxal e desconcertante, é sem dúvida, como pícaro personagem literário, um digno herdeiro de Luís de Camões, Bocage, Gomes Leal ou Fernando Pessoa.
Debilitado fisicamente e quase cego devido às cataratas, mas ainda a dar entrevistas aos jornais, nos últimos anos passou por três lares de idosos, tendo mudado em 2006 para casa do seu filho João Miguel Pacheco, no Montijo e daí para um lar, na mesma cidade.
Um ano após a morte de Mário Cesariny, a 26 de Novembro de 2007, em jeito de homenagem ao poeta, Comunidade foi editada em serigrafia/texto com pinturas de Artur do Cruzeiro Seixas pela Galeria Perve.
Nessa efeméride, Luiz Pacheco foi entrevistado pela RTP, no seu quarto e último lar de idosos.
Morreria algumas semanas depois, a 5 de Janeiro de 2008, de doença súbita, a caminho do Hospital do Montijo, onde declararam o óbito às 22h17.
Tinha 82 anos. Antes do funeral, o seu corpo esteve em câmara ardente na Basílica da Estrela, por onde passaram muitos admiradores, familiares e amigos. Entre eles, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa.
No funeral, José Casanova, membro da Comissão Política e director do Avante!, lembrou a adesão de Luiz Pacheco ao PCP. «Um dia, há mais de vinte anos, o Luiz Pacheco dirigiu-se à Sede da Organização Regional de Lisboa do PCP – o CT Vitória, ali na Avenida da Liberdade e disse-me: “Quero inscrever-me no Partido”. Confesso que esta intenção militante do Luiz não me surpreendeu por aí além – mas é necessário confessar, também, que, por razões óbvias, ela me deu uma enorme alegria. Começou a preencher a ficha de inscrição, cuidadosamente, lentamente, a meio parou e disse: “Mas ponho uma condição”.»
E pôs a condição: quando morresse, queria um funeral «como o do Ary», com bandeira do Partido e discurso… «Era uma condição razoável, mais do que razoável e, desde logo, assentámos que assim seria. E assim está a ser: como ele quis que fosse», afirmou o dirigente do PCP.
A bandeira vermelha com a foice e o martelo e a estrela de cinco pontas lá esteve, na Basílica da Estrela, a cobrir a urna, e no cemitério. Já a segunda condição era de «muito mais difícil e complexa execução».
É porque, prosseguiu, «quando disse que queria discurso, o Luiz Pacheco, infelizmente, não especificou que tipo de discurso queria».
«Nem quereria que eu aqui viesse dizer que ele, Luiz Pacheco, espírito livre e independente, personalidade lúcida e irreverente, escritor e personalidade singular, soube reconhecer no PCP o partido dos trabalhadores, com tudo o que isso significa, e fez dele o seu partido». Até porque todos os que o conhecem «sabem que era assim e muitos amigos dele que aqui estão hoje, ou que nas últimas vinte e quatro horas passaram pela Basílica da Estrela, sabem do orgulho com que o Luiz lhes mostrava o seu cartão de militante – “com as cotas em dia”, como fazia questão de sublinhar».
Os que não sabiam ficaram a saber, continuou José Casanova, a importância que dava à sua ligação ao Partido, «de tal forma que, sempre que mudava de residência, a sua primeira correspondência era para informar os camaradas da sua nova morada». Ou ainda a importância que dava à leitura do Avante! que, revelou, «a partir de determinada altura, passou a ser quase exclusivamente o seu jornal». Era com alegria e satisfação que recebia a visita de camaradas e participava nas «conversas à volta do petisco».
Para o director do Avante!, também não seria desejo de Luiz Pacheco, que se dissesse no seu funeral que «a sua morte é uma enorme perda para a cultura portuguesa; que ele é um dos maiores escritores de maior importância do século passado, um estilista notável que marcou impressivamente a cultura portuguesa».
«E a verdade é que, aqui chegado, acho que é altura de terminar este discurso que não chegou a sê-lo», continuou José Casanova.
Antes de terminar, o dirigente do PCP realçou que fica a «imensa saudade que Luiz Pacheco deixa em todos nós. Saudade do amigo. Saudade do camarada. Saudade do escritor. Saudade do Luiz Pacheco exactamente como ele era e pelo que ele era». Uma saudade que, rematou, podemos ir matando, lendo-o.
O PCP reagiu à morte de Luiz Pacheco com uma nota da sua Comissão Nacional para as Questões da Cultura. Na ocasião, os comunistas realçam que Luiz Pacheco assegurou um lugar na história da literatura portuguesa, como editor e como escritor.
Enquanto editor, deve-se-lhe a publicação de obras de vários autores importantes, de Mário Cesariny e outros surrealistas a Herberto Hélder. Enquanto escritor, a sua obra, em grande parte ainda dispersa, «dá testemunho de uma prosa depurada e segura, ágil e capaz de recriar a palavra oral e popular, e o calão». Entre as suas obras, merecem especial destaque Comunidade, O libertino passeia por Braga, a idolátrica, o seu esplendor, O Teodolito, Exercícios de Estilo ou Memorando, mirabolando.
Na opinião dos comunistas, Luiz Pacheco é um autor em que vida e obra se confundem e se ampliam mutuamente, «em que a ficção, a crítica literária e a crítica da mundanidade literária se respondem e ecoam um fundo insistente e desassombradamente autobiográfico. Autor satírico, a sua obra combina a ironia e a subversão das convenções do moralismo conservador e hipócrita, com a capacidade de revelar o rosto agredido do ser humano, entre a opressão e o sofrimento da miséria e a alegria insurrecta».
A Comissão Nacional do PCP para as Questões da Cultura destacava ainda, na sua nota, a filiação comunista de Luiz Pacheco, que manteve até morrer. E lamentava profundamente o seu falecimento e a perda que ele significa para a cultura portuguesa, manifestando ainda as sentidas condolências aos seus familiares.

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