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terça-feira, 9 de junho de 2015

A 9 de Junho de 1951 - Ruy Luís Gomes entrega no Supremo Tribunal de Justiça o processo de candidatura à Presidência da República, pela Oposição Democrática.



Ruy Luís Gomes nasceu no Porto em 5 de Dezembro de 1905. O seu pai, António Luís Gomes, tinha sido político na primeira república. Licenciou-se em Matemática na Universidade de Coimbra e doutorou-se em 1928. Em 1929 tornou-se Professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde entrou como assistente de Álgebra Superior e de Geometria Projectiva. Em 1930/31 foi encarregado da regência da cadeira de Física-Matemática. Em 1933 tornou-se Professor Catedrático, com 28 anos. Foi director do Gabinete de Astronomia, tendo promovido a instalação de um observatório astronómico escolar no Monte da Virgem.
Em 18 de Fevereiro de 1942 fundou o Centro de Estudos Matemáticos do Porto, anexo à Faculdade de Ciências. O grupo de apoio deste Centro era constituído pelos matemáticos António Aniceto Monteiro (1907-1980), António Almeida e Costa (1903–1978), Ruy Luís Gomes, Luís Neves Real (1910-1985), Gonçalves Miranda, Pereira de Barros e Pereira Gomes.
Foi eleito presidente da Comissão Distrital do Porto do Movimento de Unidade Democrática (MUD), tendo integrado as suas listas, razões pelas quais veio a ser preso. A morte do Prof. Abel Salazar (1889-1946), anteriormente demitido das suas funções universitárias pelo governo, provocou manifestações de descontentamento e de protesto contra o Estado Novo e pela instauração de um regime democrático. Ruy Luís Gomes foi um dos mais activos intervenientes e, por isso, foi novamente preso. Apoiou a candidatura do General Norton de Matos (1867-1955) à presidência da República. Entretanto o MUD tinha sido ilegalizado pelo governo. Foi então decidido por alguns membros deste Movimento fundar um outro, que se veio a denominar Movimento Nacional Democrático (MND), de que Ruy Luís Gomes seria presidente. Após a elaboração de um documento que proclamava os princípios defendidos pelo MND, Ruy L. Gomes foi mais uma vez preso. Voltou a ser preso quando começaram os problemas em Goa, Damão e Diu.
Em 1947, foi demitido das suas posições na Universidade no Porto por motivos políticos. Em 1951, foi proposto como candidato à Presidência da República, a par do Contra-Almirante Quintão Meireles, contra o candidato do regime, o General Craveiro Lopes, mas a sua candidatura foi reprovada pelo Conselho de Estado entretanto criado pelo governo de Salazar. Ruy L. Gomes comentava sobre este episódio: “Pela primeira vez eu reprovei na vida, a primeira reprovação que tive foi como candidato à Presidência da República.” (cit. in Evocação do Prof. Ruy Luís Gomes, 1996)
Em 1957 foi preso mais uma vez, juntamente com outros dirigentes do Movimento Nacional Democrático (MND), e julgado dez meses depois pelo Tribunal Plenário do Porto, tendo sido condenado a 24 meses de prisão. Em 1958 deixou Portugal e foi viver para a Argentina, tendo aceite, a convite de António Aniceto Monteiro, a regência de cursos de Análise Matemática, da licenciatura de Matemática no Instituto de Matemática da Universidade Nacional del Sur, na cidade de Bahia Blanca. Em 1962 foi para o Brasil, para a Universidade Federal de Pernambuco, onde já estavam Zaluar Nunes, Pereira Gomes e José Morgado.
Após o 25 de Abril de 1974 regressou a Portugal, onde chegou a 10 de Junho de 1974. Aceitou o cargo de membro do Conselho de Estado e assumiu as funções de Reitor da Universidade do Porto. Foi reitor nos anos de 1974 e 1975, tendo-se jubilado em 5 de Dezembro de 1975. Contribuiu para o lançamento do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, e continuou a desenvolver trabalho em matemática e a colaborar com a Sociedade Portuguesa de Matemática, tendo falecido no dia 27 de Outubro de 1984.


Actividade Científica

Doutorou-se pela Universidade de Coimbra em 1928, com a apresentação e defesa da tese intitulada Desvio das trajectórias de um sistema holónomo. Em 1933 tornou-se regente da cadeira de Física Matemática do último ano da Licenciatura em Ciências Matemáticas. Em 1933 apresentou provas públicas para Professor Catedrático, com a dissertação Sobre a estabilidade dos movimentos de um sistema holónomo. Nas suas aulas de Física-Matemática introduzia novos problemas em cuja resolução procurava envolver os seus alunos. Leccionou diversas vezes cursos de Teoria da Relatividade, Teoria do Potencial, Teoria da Medida e Integração, Espaço de Hilbert e Mecânica Quântica.
Na preparação da sua dissertação de concurso para Prof. Catedrático, Ruy Luís Gomes inspirou-se no artigo de Tullio Levi-Civita (1873-1941) “Sur L’écart géodésique” publicado na revista Mathematische Annalen. Estudou e utilizou outros estudos de Levi-Civita nos seus trabalhos, tendo estabelecido relações pessoais com este matemático, que promoveu a publicação de doze trabalhos de Ruy L. Gomes na revista Rendiconti della Academia dei Lincei. Dois dos trabalhos publicados nosRendiconti tratavam de temas ligados a noções introduzidas por Louis de Broglie, nomeadamente “Quelques considérations sur l´équation fondamentale de la nouvelle conception de la lumière de Louis de Broglie” e “Sur la propriété de l’opérateur H. de Louis de Broglie”. Estes trabalhos seriam referidos por de Broglie nas suas aulas no Instituto Henri Poincaré, o que proporcionou a Ruy Luís Gomes a publicação de alguns resultados na revista Journal de Physique et Radium.
Entretanto Ruy Gomes foi convidado pelos membros do Núcleo de Matemática, Física e Química, fundado em Lisboa por António Aniceto Monteiro (1907-1980), Manuel Valadares (1904-1982), e Aurélio Marques da Silva, entre outros, para proferir quatro conferências: “As equações fundamentais e o seu grupo de invariância”, “O tempo em relatividade”, “A interpretação física das fórmulas de Lorentz”, e “Cinemática relativista”.
A teoria da relatividade era então o centro das atenções de Ruy Luís Gomes, tendo-se familiarizado com o Cálculo Diferencial Absoluto e com a Geometria Riemanniana. Iniciou um convívio regular com o Prof. Abel Salazar, o que lhe permitiu pôr-se a par dos temas do neopositivismo, e prestou cada vez mais atenção à Teoria da Relatividade. Entretanto publicou na Seara Nova, por solicitação de Gago Coutinho, uma série de artigos de divulgação sobre a Relatividade, que viriam mais tarde a ser reunidos num volume intitulado A Relatividade, origem, evolução e tendências actuais, Lisboa, Seara Nova, 1938.
Entre outras actividades relevantes, destaca-se a participação de Ruy Luís Gomes no esforço de dinamização da matemática em Portugal que se materializou na fundação da revista Portugaliae Mathematica, em 1937, dedicada à investigação, e daGazeta de Matemática, fundada em 1939, dedicada à divulgação, e ainda na fundação da Sociedade Portuguesa de Matemática, em 1940. Entretanto, fundava-se em Lisboa, no então ISCEF, o Centro de Estudos de Matemáticas Aplicadas à Economia, em 1938, e o Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa, em 1940.
Em 11 de Outubro de 1941 Ruy Luís Gomes elaborou uma exposição ao Presidente do Instituto para a Alta Cultura (I.P.A.C.), Celestino da Costa (1884-1956), em que propunha a criação de um Centro de Estudos Matemáticos na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Este Centro foi formalizado em 1942 e Ruy Luís Gomes ficou como seu director. A fundação deste Centro fazia parte de uma estratégia de Ruy Luís Gomes e de outros matemáticos portugueses, como António Aniceto Monteiro e Mira Fernandes, para a dinamização da investigação e do ensino da matemática em Portugal, promovendo diálogo e colaboração científica entre os investigadores portugueses e com cientistas estrangeiros.
Logo no primeiro ano, este Centro de Estudos Matemáticos teve intensa actividade, através de iniciativas de António Almeida e Costa, Manuel Gonçalves Miranda, Manuel Pereira de Barros, Luís Neves Real e Ruy Luís Gomes, que apresentaram comunicações ao Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências e publicaram diversos trabalhos. Foi ainda promovida a realização de um curso por António A. Monteiro, intitulado “Introdução ao Estudo da Noção de Função Contínua”, de palestras de A. A. Monteiro e de conferências por Bento Caraça. Iniciou-se um seminário de Física Teórica por Guido Beck (1903-1988), que regeu também um curso do “Introdução à Teoria dos Quanta”.
Em 1943 foi fundada por Mira Fernandes, António Monteiro e Ruy Luís Gomes a Junta de Investigação Matemática, à qual aderiram muitos dos matemáticos portugueses da época. Esta Junta tinha por objectivos a promoção do desenvolvimento da investigação científica, a sistematização e coordenação da investigação científica dos matemáticos portugueses, o estabelecimento de relações com o movimento matemático de outros países e o incentivo do interesse dos jovens pela investigação matemática.
Na Argentina, regeu cursos de Análise do 4º ano da Licenciatura em Matemática do Instituto de Matemática da Universidade Nacional del Sur, na cidade de Bahia Blanca, onde já antes se encontrava Aniceto Monteiro. Em 1962 aceitou um convite da Universidade Federal de Pernambuco, no Recife, para ensinar no Curso de Matemática, preparar pessoal docente, fazer investigação e orientar assistentes e bolseiros.
Na Universidade de Pernambuco, a par das suas actividades lectivas, Ruy Luís Gomes assumiu, juntamente com José Morgado, a direcção da colecção Textos de Matemática. Pouco depois os dois matemáticos fundaram duas novas colecções Notas e Comunicações de Matemática e Notas de Curso. Ambos tiveram uma acção determinante na formação de futuros doutorados. Em 1967 Gomes e Morgado fundaram um curso de mestrado em Matemática na UFPE, que adquiriu prestígio assinalável, tendo formado muitos mestres e contribuído também para a formação de doutores.
Após a sua jubilação, em 1975, continuou a desenvolver trabalhos em matemática, dirigindo seminários, apoiando bolseiros portugueses e brasileiros de matemática, fazendo conferências promovidas pela Sociedade Portuguesa de Matemática, e publicando no Boletim da S. P. M.

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