Previsão do Tempo

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Josep Fontana, morreu a 28 de Agosto de 2018.



O mestre e amigo Josep Fontana, o maior historiador da Catalunha e da Europa, morreu. Um lutador anti-Franco e antifascista que sempre pensou que a história deveria estar a serviço da maioria: os trabalhadores, um dos nossos! Nossa melhor homenagem lê-lo!

José Maria Latino Coelho, militar e político português , morreu a 29 de Agosto de 1891

Latino Coelho

General de brigada do estado-maior de Engenharia, ministro da Marinha, sócio efectivo e secretario perpétuo da Academia Real das Ciências de Lisboa, lente na Escola Politécnica, vogal do Conselho Geral de Instrução Pública, deputado, par do Reino, jornalista, escritor, etc.
Nasceu em Lisboa a 29 de novembro de 1825, faleceu em Sintra a 29 de agosto de 1891. Era filho de João Alberto Coelho, que faleceu sendo tenente-coronel de artilharia, e de D. Maria Henriqueta Latino Martins de Faria Coelho.
Seu pai, pelas suas ideias liberais, emigrou para Espanha, e só em 1834 é que se estabeleceu em Lisboa novamente, podendo então dedicar-se à educação de seu filho. Latino Coelho estudou francês, inglês e rudimentos de Matemática e das ciências exactas. Em 1837 começou a estudar latim no Liceu Nacional de Lisboa, em 1838 estudou lógica, saindo sempre distinto nos seus exames. Naquele mesmo ando estudou a língua , grega, e tendo concluído os preparatórios, matriculou-se aos treze anos no primeiro ano da Escola Politécnica, em que obteve o primeiro prémio em nove aulas, sendo onze as diferentes disciplinas que estavam distribuídas por quatro anos. Da Escola Politécnica passou à do Exército a seguir o curso de Engenharia Militar. Assentou praça em infantaria n.º 16 a 14 de novembro de 1843, sendo pouco depois nomeado alferes aluno do mesmo regimento; foi promovido a alferes em 12 de dezembro de 1848, a tenente a 14 de julho de 1851, passando à arma de engenharia, a capitão em 10 de agosto de 1864, a major a 30 de janeiro de 1872, a tenente-coronel em 6 de maio de 1874, a coronel em 29 de maio de 1878, a general de brigada em 19 de setembro de 1888. Continuando os estudos na Escola do Exército, obteve três prémios e habilitou-se com distinção para a carreira de engenharia. Em 1851, depois dum concurso brilhantíssimo foi nomeado a lente substituto da cadeira de mineralogia e geologia na Escola Politécnica. Concluiu os estudos na Escola do Exército quando rebentava. a revolução popular, que em 1847 terminou pelo protocolo e pela intervenção das três nações estrangeiras, França, Espanha e Inglaterra, segundo o tratado da quádrupla aliança.
Entrando na política, filiado no partido regenerador, foi eleito deputado por Lisboa, nas eleições suplementares de 1854. Só dois meses depois de frequentar a câmara, é que fez o seu primeiro discurso, no dia 28 de março de 1855, discurso a que toda a imprensa teceu os maiores elogios. O diploma de deputado era a honra dada ao mérito e ao estudo, porque já nessa época, Latino Coelho se tornara distinto como jornalista, carreira que encetara em 1849. Tornou a ser deputado pelos Açores nas gerais de 1856 a 1860. Foi na Revolução de Setembro que se estreou escrevendo uma série de artigos sobre as questões que agitavam então a Europa, e outras sobre diferentes fases por que passava a ideia democrática, que já, por todas as partes lutava com a reacção. Entrando activamente a colaborar na Revolução, começou a combater o governo, e durante muitos meses foi também redactor principal dum jornal da sua política, A Emancipação.
Em 1851 fundou A Semana, jornal literário que se publicava semanalmente, colaborado pelos primeiros escritores da época, em cuja redacção Latino Coelho teve parte importante. Os seus melhores artigos de então foram os fac-símiles de diferentes homens eminentes nas letras. Já anteriormente escrevera muitos artigos biográficos de nacionais e estrangeiros, e uma colecção de tipos nacionais na Revista Peninsular. No ano de 1852 publicou-se uma memória de D. Sinibaldo de Más, antigo embaixador de Espanha no império da China, em favor da união pacífica de Espanha e Portugal, e o prólogo dessa obra era assinado por Latino Coelho. Em 1853, no Portugal Artístico, escreveu a maior parte dos artigos que acompanham as gravuras em grande formato, sendo escritos em francês e em português. No Panorama publicou uma minuciosa e extensa biografia do visconde de Almeida Garrett. Colaborou também na Época, Farol, Civilização Popular, Discussão, Política Liberal, Jornal do Comércio, de que foi algum tempo redactor principal, Democracia, distinguindo-se sempre pela elegância e pureza do seu estilo, e pelo vigor e correcção com que discutia os assuntos sujeitos ao seu exame. Tinha grande predilecção pelas línguas estrangeiras. Escreveu em espanhol a biografia de Almeida Garrett, que foi publicada na Revista Peninsular. Era raro o jornal literário importante que não tivesse colaboração sua. Para uso dos alunos da Escola Politécnica publicou um Curso Elementar de História Natural. Foi director do Diário de Lisboa por ocasião da nova organização dada em 1859 àquela folha oficial do governo. No Século escreveu por muito tempo o artigo editorial, no jornal que se publicava aos domingos.
A Academia Real das Ciências nomeou-o seu sócio efectivo, e pouco tempo depois foi por votação unânime nomeado em 1856 secretário da mesma academia, ficando depois considerado secretário perpétuo. A Academia incumbiu-o de dirigir o Dicionário da língua portuguesa, conforme os subsídios de Ramalho, legados a Alexandre Herculano, e vendidos pelo falecido historiador àquela corporação. Latino Coelho foi par do Reino, e ministro da Marinha desde julho de 1868 até agosto de 1869. Exerceu diversas comissões, como a encarregada da reforma da Academia das Belas Artes de Lisboa, e o encargo de escrever, oficialmente uma História do Cerco do Porto em 1832. Latino Coelho, entrando na política, filiara-se no partido da Regeneração, agremiação política que se tornou um grande benefício para o país, principalmente por acabar de vez com a intolerância arvorada em forma de governo, e por abrir uma época de paz, condição primária de toda a civilização e progresso, mas no momento em que o país soltou um brado de reprovação geral dos seus erros, abandonou esse partido, e aspirando à realização dum ideal mais perfeito, adquiriu a persuasão de que a forma de governo republicano dava mais seguras garantias ao direito do cidadão, nas suas múltiplas manifestações, filiou-se nesse partido com sinceridade e fé patriótica. Comparecia nas assembleias políticas, quando o partido reclamava o auxílio do seu saber e da sua experiência, usando da palavra com toda a correcção e dignidade, criticando, castigando, demolindo, sem perder a linha austera e nobre, que era uma das feições dominantes do seu carácter. Foi por isso que obteve o respeito e as atenções de todos os partidos, e que, dentro da monarquia que ele combateu, contava verdadeiras afeições, porque se fazia justiça à sua sinceridade. Latino Coelho era comendador da Ordem de Cristo, grã-cruz da Torre e Espada e de N. Sr.ª da Conceição.

Michael Jackson, cantor, compositor, actor e dançarino Norte- americano , nasceu a 29 de Agosto de 1958

António Assunção, actor português, nasceu a 29 de Agosto de 1945

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António Assunção nasceu em Paços de Ferreira e estreou-se como actor no Teatro Experimental do Porto, com apenas dezanove anos, com a peça “O Avançado Centro Morreu ao Amanhecer” de Guzani, seguido de “Desperta e Canta” de Clifford Odets e de “O Barbeiro de Sevilha” de Beaumarchais. Um ano depois, em 1966, viajou para Paris, onde cumpriu um exílio de oito anos, escapando assim à Guerra Colonial. Na capital francesa conheceu o actor e encenador Carlos César. Graças a ele, integrou espectáculos que incomodaram seriamente os governos de Salazar e Marcelo Caetano, como “A Excepção e a Regra”, “Felizmente Há Luar” ou “O Grande Fantoche Lusitano”.
Alguns dias antes da sua morte, António Assunção, viajou para Broadway. Num momento de emoção, António, sofreu uma paragem cardíaca e caiu desamparado. Os serviços de emergência chegaram pouco tempo depois para o tentarem salvar, mas de nada adiantou. Faleceu no dia 20 de Agosto de 1998 em Nova Iorque de ataque cardíaco.

Ingrid Bergman, atriz sueca, nasceu a 29 de Agosto de 1915

Aleijadinho, escultor, entalhador, desenhista e arquitecto brasileiro, nasceu a 29 de Agosto de 1730

John Locke, filósofo inglês, nasceu a 29 de Agosto de 1632

Jean-Baptiste Colbert, ministro das finanças de Luís XIV, nasceu a 29 de Agosto de 1619

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A Erupção do Krakatoa, deu-se a 27 de Agosto de 1883

Le Corbusier, arquiteto, suiço, naturalizado francês, morreu a 27 de Agosto de 1965

Ticiano, artista italiano, moreu a 27 de Agosto 1576

Cesária Évora, cantora cabo-verdiana, nasceu a 27 de Agosto de 1941

Charles Rolls, engenheiro automobilístico britânico, nasceu a 27 de Agosto de 1877

Georg Wilhelm Friedrich Hegel, filósofo alemão, nasceu a 27 de Agosto de 1770

Confúcio, filósofo chinês, nasceu a 27 de Agosto de 551 a.c.

A Batalha de Platéias deu-se a 27 de Agosto de 479 a.c.

domingo, 26 de agosto de 2018

Carlos Paião, cantor, autor e compositor português, morreu a 26 de Agosto de 1988



António de Portugal, Prior do Crato, morreu a 26 de Agosto de 1595

Madre Teresa de Calcutá, religiosa indiana, nasceu a 26 de Agosto de 1910

Guillaume Apollinaire, poeta e crítico de arte francês, nasceu a 26 de Agosto de 1880



Antoine Lavoisier, químico francês, naseu a 26 de Agosto de 1743

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi votada a 26 de Agosto de 1789.

sábado, 25 de agosto de 2018

O INCÊNDIO DO CHIADO (Lisboa), deu-se a 25 de Agosto de 1988

Ludwig II da Baviera, o Rei dos Contos de Fadas, nasceu a 25 de Agosto de 1845



Entre os castelos alemães, o de Neuschwanstein (construído no reinado de Ludwig II) bate todos os recordes de preferência junto dos turistas. Demora meia hora o percurso a pé de Schwangau, nas proximidades da cidade de Füssen, até ao Castelo de Neuschwanstein, que parece saído das páginas de um livro de contos de fadas.
Hipersensível, o rei da Baviera Ludwig II (25 de Agosto de 1845– 13 de Junho de 1886) viveu e governou entre os sonhos românticos de soberania e as coacções de uma monarquia moderna. Os inúmeros castelos que mandou construir na paisagem da Alta Baviera, entre a região do Ammergau e os Alpes do Allgäu, são expressão do desejo frustrado de concentrar o poder nas suas mãos, como um autocrata dos velhos tempos. Conhecido como "Rei Cisne" ou "Rei de Conto de Fadas", foi monarca da Baviera de 1864 até ser deposto três dias antes da sua morte. Era o filho mais velho do rei Maximiliano II e sua esposa a princesa Maria da Prússia.
Nascido no Castelo de Nymphenburg, em Munique, Ludwig II passou os primeiros anos de vida em Hohenschwangau, o castelo neogótico do pai, o rei Maximiliano II. Herrenchiemsee, a réplica de Versalhes construída numa ilha no lago de Chiemsee, simboliza mais do que qualquer outro edifício o desvario de Ludwig II pela majestade derivada de um "direito divino" segundo os moldes da França no século XVII.
Linderhof, erigido no local em que Maximiliano II tinha um pavilhão de caça, foi construído entre 1870 e 1872 em forma de "U", a ala central é formada por um dormitório gigantesco.
Neuschwanstein foi construído a partir de 1868 no estilo genuíno dos antigos burgos de cavaleiros medievais. A concepção do edifício foi esboçada por Luís II da Baviera numa carta a Richard Wagner, datada de 31 de Maio de 1868;

"É minha intenção reconstruir a ruína do velho castelo em Hohenschwangau, próximo do Desfiladeiro de Pollat, no verdadeiro espírito dos velhos castelos dos cavaleiros alemães (...) a localização é a mais bela que alguém pode encontrar, sagrada e inacessível, um templo digno para o divino amigo que trouxe a salvação e a verdadeira bênção ao mundo."

Luís usou a sua fortuna pessoal, complementada anualmente a partir de 1873 por 270.000 marcos para financiar a construção de uma série de castelos. Em 1867 visitou as obras de Viollet-le-Duc no Castelo de Pierrefonds, e o Palácio de Versalhes em França, bem como o Castelo de Wartburg, próximo a Eisenach, na Turíngia, obras que constituem referências para o que será o estilo das suas edificações. Embora o rei tenha pago os seus projectos com os seus próprios fundos e não com dinheiro público, isso não poupou a Baviera da derrocada financeira. Em 1885, o rei acumulava um total de 14 milhões de marcos em dívidas.
Buscando uma causa para depor Luís por meios constitucionais, os ministros decidiram rebelar-se, alegando que ele era mentalmente doente e incapaz de governar. Solicitaram ao tio de Luís, o príncipe Leopoldo, que assumisse a regência assim que o rei fosse deposto. Leopoldo aceitou, com a condição de que os conspiradores apresentassem provas confiáveis que atestassem a loucura de Luís.
Às 4 horas da manhã de 10 de Junho de 1886, uma comissão do governo, chegou a Neuschwanstein para entregar formalmente ao rei o documento de deposição e colocá-lo sob custódia. Os médicos haviam atestado que ele sofria de esquizofrenia paranóica. Ele morreu misteriosamente nas águas do Würmsee (hoje Starnberger See), no dia 13 de Junho de 1886, juntamente com o médico que o acompanhara de Neuschwanstein para o Castelo de Berg, às margens do lago.

Eduardo Prado Coelho, escritor português, morreu a 25 de Agosto de 2007

Carl Barks, ilustrador norte-americano, morreu a 25 de Agosto de 2000

Friedrich Wilhelm Nietzsche, filosofo alemão, morreu a 25 de Agosto de 1900

Michael Faraday, filósofo, físico e químico britânico , morreu a 25 de Agosto de 1767

David Hume, filósofo e historiador britânico, morreu a 25 de Agosto de 1776

Paris é libertada da ocupação nazi a 25 de Agosto de 1944

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Getúlio Vargas, político brasileiro, morreu a 24 de Agosto de 1954.

Jean-Michel Jarre, compositor francês, nasceu a 24 de Agosto de 1948.

Paulo Coelho, escritor e compositor brasileiro, nasceu a 24 de Agosto de 1947.

Yasser Arafat, líder palestino, nasceu a 24 de Agosto de 1929.

Léo Ferré, músico e poeta monegasco, nasceu a 24 de Agosto de 1916.

Jorge Luis Borges, escritor argentino, nasceu a 24 de Agosto de 1899.

Lavinia Fontana, pintora italiana, nasceu a 24 de Agosto de 1552.

O sistema operacional Microsoft Windows 95 é lançado a 24 de Agosto de 1995.

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A Revolução liberal do Porto tem ínicio a 24 de Agosto de 1820

O Massacre da noite de São Bartolomeu em Paris, deu-se a 24 de Agosto de 1572

Afonso de Albuquerque conquista Malaca a 24 de Agosto de 1511

Roma é saqueada por Alarico I, no dia 24 de Agosto de 410

As cidades de Pompeia e Herculano são arrasadas pela erupção do vulcão Vesúvio, no dia 24 de Agosto de 79



Começa hoje a maior Romaria de Portugal

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

O general De Gaulle renuncia à presidência da França a 23 de Agosto de 1969.

O arquiteto austríaco Adolf Loos, morreu a 23 de Agosto de 1933.

Os militantes anarquistas Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti são executados nos EUA a 23 de Agosto de 1927.

Rodolfo Valentino, ator italiano, morreu a 23 de Agosto de 1926.

Os alemães começam o bombardeio a Londres a 23 de Agosto de 1940.

RÃO KYAO ou João Maria Centeno Gorjão Ramos Jorge, músico e compositor português, famoso como intérprete de flauta de bambu e saxofone, a 23 de Agosto de 1947.

RÃO KYAO
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Nome artístico de João Maria Centeno Gorjão Ramos Jorge, músico e compositor português, famoso como intérprete de flauta de bambu e saxofone, nasceu em Lisboa a 23 de Agosto de 1947.
Foi aluno do Colégio Militar, em Lisboa.
Estreou-se ao vivo como intérprete de saxofone tenor aos 19 anos de idade, tendo sido nessa fase inspirado pelo jazz. Para além de tocar em numerosos clubes lisboetas, tocou também no estrangeiro, em países como Dinamarca, Espanha, França e Países Baixos. Fixou-se em França.
No fim da década de 1970 partiu para a Índia, tentando redescobrir o elo perdido entre a música portuguesa e a música do oriente. Durante esse período, estudou música indiana e flauta bansuri. Dessa experiência, resultaram o álbum Goa (1979), e novas sonoridades no seu trabalho.
Participou no álbum "Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos" da Banda do Casaco.
Em 1983, lançou o álbum Fado bailado que viria a ser o primeiro álbum português a chegar a disco de platina. Nesse trabalho, interpretou ao saxofone diversas obras de Amália Rodrigues, com a colaboração do mestre da guitarra portuguesa António Chainho.
No ano seguinte, lançou o álbum Estrada da luz, que viria a torná-lo famoso a nível nacional pelas suas interpretações com flauta de bambu.
No ano de 1996, regressou ao fado, gravando o álbum ao vivo Viva o fado.
Em 1999, compôs o hino oficial da cerimónia da transferência de soberania de Macau, tendo nesse âmbito gravado o álbum Junção, com a orquestra chinesa de Macau. O tema Macau viria a regressar à sua obra em 2008, no álbum Porto Interior, gravado em parceria com a intérprete chinesa Yanan.
A 8 de Junho de 2007 foi galardoado com a Ordem do Infante D. Henrique.
Em 2012, aceitou interpretar, e gravar, um álbum de "Melodias Franciscanas", em que empresta toda a sonoridade das suas flautas a melodias dos Franciscanos de Portugal (OFM), nomeadamente a composições de Mário Silva, Boaventura e Saldanha Júnior. Na gravação, feita na igreja de Santa Teresa de Jesus (Lisboa), foi acompanhado ao órgão por Renato Silva Júnior.

Arthur Duarte, cineasta português, morreu a 22 de Agosto de 1982.

A Cruz Vermelha Internacional, foi criada a 22 de Agosto de 1864.

A conquista de Ceuta pelos Portugueses, deu-se a 22 de Agosto de 1415.

Maria Lucília Moita, pintora, morreu a 22 de Agosto de 2011.

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Maria Lucília Moita, nasceu em Alcanena em 1928
Casou em 1954, com Fernando Simão, passando a residir em Abrantes
Morreu em Abrantes, a 22 de Agosto de 2011, aos 82 anos
A pintura foi a sua profissão, e não um passatempo. Começou a aprender cedo, em família, e mais tarde teve lições de pintura em Lisboa, com João Reis. Era apenas o princípio.
Embora longe dos grandes centros artísticos e culturais, construiu uma carreira, tendo obtido um vasto reconhecimento, sobretudo na região, mas também a nível nacional.
Considerada uma das últimas herdeiras dos grandes pintores naturalistas portugueses como Silva Porto e Henrique Pousão, Martia Lucília Moita encontrou uma linguagem pictórica própria.
Além de pintora, Maria Lucília Moita foi uma personagem da vida cultural da nossa região. O seu atelier encontrava-se aberto sobretudo a jovens interessados pela pintura. Foi membro da Comissão de Arte e Arqueologia de Abrantes e diretora do Museu D. Lopo de Almeida, também em Abrantes.
Numa das fases da sua vida, escreveu poesia, de que se encontram publicados vários livros: Tempo circulado, Apertado mundo de dentro e A segurar o tempo. Está também publicado um livro de memórias, justamente intitulado Aonde me leva a memória.
Sabe-se que escrevia um diário, que permanece inédito. Nele, certamente se encontra a sua sensibilidade artística e a expressão de uma certa dimensão mística.
Há alguns anos, Maria Lucília Moita cedeu uma parte do seu espólio ao município de Abrantes – um conjunto de quadros e desenhos representativos do seu percurso como pintora e um conjunto de documentação que espelha e ajuda a compreender a sua vida e obra. Essa doação está destinada a integrar o futuro Museu Ibérico de Arqueologia e Arte.
Sobre a sua vida e obra está editada pela Câmara Municipal de Abrantes uma monografia que leva o seu nome, Maria Lucília Moita.
A sua obra encontra-se representada em museus e colecções particulares.

António Telmo, morreu a 22 de Agosto de 2010.

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António Telmo nasceu em Almeida, distrito da Guarda,na casa da rua do Convento, no centro do hexagrama formado pelas muralhas que cercam a vila. Foi no dia 2 de Maio de 1927, pelas duas horas da tarde. O Leão aparecia no horizonte e o Sol erguia-se alto no Touro. Partiu deste mundo rumo ao Oriente Eterno no dia 22 de Agosto de 2010. Por uma dessas estranhas coincidências que, por vezes, marcam a relação íntima de certos acontecimentos, nas Centúrias de Nostradamus, escritas há cerca de meio milénio, vem anunciado o nascimento do "grande Portugalois", junto a um convento em "la Guardia". Claro que esta Guarda é outra e outro é o convento. Quem dera ao autor deste livro pertencer a uma organização conventual de altos espíritos que guardassem o mundo humano nestes tempos de fim. Viveu em Portugal 72 anos e os restantes fora de portas: em Moçâmedes (Angola), Brasília (Brasil) e em Granada (Espanha), dividindo-se até hoje o seu tempo por dezassete lugares. Recorda com gratidão Arruda dos Vinhos, da sua infância, que é ainda hoje a forma terrestre do seu Paraíso; Sesimbra, a da sua juventude que lhe ensinou o mar, a amargura e a imaginação; Évora e o seu passado de sombras e de história; Redondo, onde, antes do 25 de Abril, fundou a primeira escola democrática do país. Ensinou crianças em Estremoz durante vinte e tal anos. Em Brasília, a amizade de Eudoro de Sousa e de Agostinho da Silva pôs em professor universitário um homem que não teve a paciência nem gosto, até aos 40 anos, para completar a licenciatura na Faculdade de Letras de Lisboa. O aluno aqui era professor lá. Ensinou a Écloga IV, de Virgílio, durante três anos. Bastou-lhe este texto de algumas páginas, pois não confunde ensino com Internet. Iniciou-se como fazedor de livros aos 36 anos, com uma Arte Poética, não de versejar mas de dar voltas ao espírito. Tenciona nascer de novo, mas não sabe onde, nem quando, nem como, nem se isso é possível fora deste mundo.

José Armando Tavares de Morais e Castro, com o nome artístico José Morais e Castro, faleceu a 22 de Agosto de 2009.

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Advogado e actor, foi um dedicado e activo militante oposicionista.
Militante do PCP desde muito jovem, assumiu cargos de apoio à direcção do partido antes e depois do 25 de Abril de 1974. Foi sócio fundador do Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos.
Desde cedo, ainda durante o fascismo, exerceu a advocacia, mas nunca lhe faltou tempo para apoiar os presos políticos e as suas famílias. Homem de grande generosidade, simplicidade, alegria e bom humor, estava sempre disponível para uma nova amizade ou para quem precisava da sua ajuda. Era um homem leal e bom.
José Armando Tavares de Morais e Castro, com o nome artístico José Morais e Castro, nasceu em Lisboa em 30 de Setembro de 1939 e faleceu a 22 de Agosto de 2009. Era filho de dois grandes oposicionistas à Ditadura, Mário da Costa Carvalho Gonçalves de Morais e Castro e Maria Cesarina Martins Tavares Morais e Castro, cuja casa foi durante décadas apoio de retaguarda do PCP. Por ela passaram, ou nela estiveram abrigados, muitos dos mais conhecidos dirigentes clandestinos daquele partido.
Como actor e encenador, teve uma carreira teatral com mais de meio século, iniciada no Teatro Gerifalto. Se o teatro era entendido como a sua primeira paixão, a televisão e o cinema apareceram cedo no seu percurso. Fundou, ao lado de Rui Mendes, Irene Cruz e João Lourenço, o Grupo 4, no Teatro Aberto (1968). Trabalhou com Mário Viegas na Companhia Teatral do Chiado (1985) e, já em 2004, obteve os elogios da crítica com ‘O Fazedor de Teatro’, com a Companhia de Teatro de Almada. Foi um rosto celebrizado em telenovelas e séries da RTP, mas foram ‘As Lições do Tonecas’ que o tornaram muito popular.

Glauber Rocha, cineasta brasileiro, morreu a 22 de Agosto de 1981.

Henri Cartier-Bresson, fotógrafo Francês, nasceu a 22 de Agosto de 1908.

Deng Xiaoping, líder chinês, nasceu a 22 de Agosto de 1904.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Décio Pignatari, nasceu a 20 de Agosto de 1927.



Décio Pignatari (Jundiaí, 20 de agosto de 1927 -- São Paulo, 2 de dezembro de 2012)1 foi um publicitário, poeta, ator, ensaísta, professor e tradutor brasileiro. Desde os anos 1950, realizava experiências com a linguagem poética, incorporando recursos visuais e a fragmentação das palavras. Tais aventuras verbais culminaram no Concretismo, movimento estético que fundou junto com Augusto e Haroldo de Campos, com quem editou as revistas Noigandres e Invenção e publicou a Teoria da Poesia Concreta (1965). Como teórico da comunicação, traduziu obras de Marshall McLuhan e publicou o ensaio Informação, Linguagem e Comunicação (1968). Sua obra poética está reunida em Poesia Pois é Poesia (1977). Décio Pignatari publicou traduções de Dante Alighieri, Goethe e Shakespeare, entre outros, reunidas em Retrato do Amor quando Jovem (1990) e 231 poemas. Publicou se primeiro livro de poesias em 1950 ``Carrossel``, o volume de contos O Rosto da Memória (1988) e o romance Panteros (1992), além de uma obra para o teatro, Céu de Lona. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, turma de 1954.

Cora Carolina ou Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, poetisa brasileira, nasceu a 20 de Agosto de 1889



Cora Coralina nasceu na cidade de Goiás, no dia 20 de Agosto de 1889. Cora Coralina é o pseudónimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas. Era filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de dona Jacyntha Luiza do Couto Brandão.
Tornou-se doceira, ofício que exerceu até aos últimos dias da sua vida. Famosos eram os seus doces de abóbora e figo.
Cora Coralina já escrevia poemas em 1903 e chegou a publicá-los no jornal de poemas femininos "A Rosa", em 1908. Em 1910, foi publicado o seu conto "Tragédia na Roça" no "Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás". Em 1907 assumiu a vice-presidência do gabinete literário goiano. Em 1910 conheceu o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas e passam a viver no Estado de São Paulo. Casaram-se em 1925 e com ele teve seis filhos. Em 1934 o seu marido falece e Cora Coralina passa a vender livros na editora José Olímpio, onde lançou a sua primeira obra, em 1965, quando tinha 76 anos, "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais". Em 1976 é lançado o livro "Meu Livro de Cordel" pela editora Goiana. Mas o interesse do grande público é despertado graças aos elogios do poeta Carlos Drummond de Andrade, em 1980.
Cora Coralina recebeu o título de Doutor Honoris Causa da UFG e foi eleita com o "Prémio Juca Pato" da União Brasileira dos Escritores, como intelectual do ano de 1983.
Faleceu em Goiânia, no dia 10 de Abril de 1985.

domingo, 19 de agosto de 2018

A 18 de Agosto de 1955, foi reaberto o Grande Hotel de Santa Luzia (Viana do Castelo).

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Grande Hotel de Santa Luzia
(Viana do Castelo, Portugal)


Mandado construir em 1913 por Domingos José Morais, que fizera fortuna no Brasil, foi por este entregue à cidade de Viana do Castelo ainda inacabado. Pouco depois da morte do seu fundador, acabou por ser encerrado. Em 1917, é adquirido por um grupo de capitalistas do Porto que inicia a sua recuperação.
Nos anos 50, o Hotel recebe novamente grandes obras de beneficiação levadas a cabo pelo Ministério das Obras Públicas, sendo solenemente reaberto a 18 de agosto de 1955. O Diário de Lisboa desse dia informa que a diária a praticar oscilaria entre os 80 e os 200 escudos. Esse valor era incomportável para a maioria da população sujeita a enorme pobreza e, mesmo para a reduzida classe média existente na altura em Portugal – destinatária oficial deste Hotel – constituiria um sacrifício monetário elevado. Restava, assim, uma única classe social de utilizadores: os quadros superiores do Governo e da Administração Pública do Estado Novo e o patronato que os apoiava.
Desde 1979, encontra-se inserido na rede de Pousadas de Portugal.
Na atualidade, continua a prestar um excelente serviço hoteleiro mas, infelizmente, o elevado preço das diárias, não permite ainda, para a maioria da população, uma estadia muito prolongada.

Manuel Pinheiro,pintor, caricaturista e cineasta português, nasceu a 19 de Agosto de 1915.




Manuel Fernandes Pinheiro Guimarães, pintor, caricaturista e cineasta português, nasceu em Valmaior, Albergaria-a-Velha, no dia 19 de Agosto de 1915. Morreu em Lisboa, em 29 de Janeiro de 1975. Destacou-se pela aplicação dos princípios ideológicos do neo-realismo na arte do cinema em Portugal. A ditadura salazarista, mais atenta às manifestações da sétima arte do que às ‘transgressões’ no domínio da literatura, impediu-o de levar a bom termo os seus propósitos artísticos.
Depois de ter concluído o Curso Geral dos Liceus, seguiu o de Pintura, em 1931, na Escola de Belas Artes do Porto. A partir de 1936, foi decorador teatral, ilustrador e caricaturista. Desenhador de cartazes de cinema, interessou-se pela arte cinematográfica. Aderiu à profissão como assistente de vários realizadores como Manoel de Oliveira, António Lopes Ribeiro, Jorge Brum do Canto e Arthur Duarte.
Em 1949, realizou o documentário de curta-metragem “O Desterrado”, sobre a vida e obra do escultor Soares dos Reis. O filme recebeu o Prémio Paz dos Reis, atribuído pelo Secretariado Nacional da Informação (SNI) para as melhores curtas-metragens. A sua primeira longa-metragem foi “Saltimbancos”, obra adaptada do romance “Circo” do escritor Leão Penedo, cujo tema central era a vida dum pequeno circo ambulante. Entretanto, trabalhou em publicidade na distribuidora Metro Goldwyn-Mayer e começou a frequentar os meios intelectuais da capital.
Em 1952, Manuel Guimarães realizou o filme “Nazaré”, com argumento do escritor neo-realista Alves Redol, retratando a vida e hábitos dos pescadores da Nazaré, tal como Leitão de Barros já fizera antes (“Nazaré, Praia de Pescadores” – 1929), mas desta vez numa perspectiva de crítica social. A obra foi amputada pela censura.
“Vidas Sem Rumo” (1956), com argumento do próprio Manuel Guimarães e com diálogos de Redol, sofreu amputações mais graves. Cerca de metade do filme foi censurado, com várias cenas cortadas. O resultado final da intervenção dos censores tornou a obra quase ininteligível.
Acossado pelo regime e desejando não abandonar o ofício, Guimarães viu-se forçado a optar, a partir de 1956, pela realização de filmes de cariz comercial sobre eventos desportivos. A sua tentativa de retomar a ficção, com “A Costureirinha da Sé”, em 1958, não compensou pois teve de integrar no filme publicidade explícita. Fez em seguida alguns documentários de divulgação sobre Barcelos, o Porto e os vinhos seculares.
António da Cunha Telles, que entretanto se envolvera como produtor dos primeiros filmes do Cinema Novo português, interessou-se por ele e aceitou fazer a produção executiva e co-produção de dois dos seus filmes seguintes: “O Crime da Aldeia Velha” (1964), adaptação da peça homónima de Bernardo Santareno, e “O Trigo e o Joio” (1965), que Fernando Namora adaptou ao cinema do seu próprio romance. Na época, o grande público interessava-se sobretudo por filmes com uma vertente de entretenimento mais forte. Voltou ao documentário, aplicando-se em temas artísticos.
Manuel Guimarães teve períodos em que regressou ao grafismo e à ilustração em jornais e outras publicações periódicas e nunca deixou em absoluto de pintar, actividade que voltou a ocupar amiúde nos últimos anos de vida, embora sem expressão pública.
O 25 de Abril de 1974 trouxe-lhe esperança, mas já era tarde. Doente, Manuel Guimarães não terminaria o seu novo filme, “Cântico Final”, adaptado do romance homónimo de Vergílio Ferreira. A obra, afectada pelo desaire, seria concluída pelo seu filho Dórdio Guimarães.
Manuel Guimarães foi considerado por vários comentadores como injustiçado (e não só pelo velho regime). Faleceu em Janeiro de 1975.

Sérgio Vieira de Mello, diplomata brasileiro, morreu a 19 de Agosto de 2003.

Blaise Pascal, filósofo, físico e matemático francês, morreu a 19 de Agosto de 1662.

Augusto, imperador romano, morreu a 19 de Agosto de 14

Coco Chanel, estilista francesa, nasceu a 19 de Agosto de 1883.

Joaquim Nabuco, político e diplomata brasileiro, nasceu a 19 de Agosto de 1849.

Trindade Coelho, escritor Português, morreu a 19 de Agosto de 1908.

sábado, 18 de agosto de 2018

Isabel de Oliveira - Carmencita



Chamava-se carmencita A cigana mais bonita Do que um sonho, uma visão Diziam que era a cigana, Mais linda da caravana, Mas não tinha coração Os afagos, os carinhos Perdeu- os pelos caminhos Sem nunca os ter conhecido Anda buscando a aventura Como quem anda a procura De um grão de areia perdido Numa noite , de luar, Ouviram o galopar De dois cavalos fugindo Carmencita, linda graça Renegando a sua raça, Foi atrás de um sonho lindo Com esta canção magoada Se envolve no pó da estrada Quando passa a caravana Carmencita, carmencita Se não fosses tão bonita, Serias sempre cigana

Fadinho Alentejano

Federico García Lorca foi assassinado a 18 de Agosto de 1936



Federico García Lorca (1898-1936) foi um poeta e dramaturgo espanhol. Considerado um dos grandes nomes da literatura espanhola. Levou para sua poesia a paisagem e os costumes da terra natal.
Federico Garcia Lorca (1898-1936) nasceu em Fuente Vaqueros, em Granada, Espanha, no dia 5 de junho de 1898. Por imposição da família, estudou Direito na Universidade de Granada, mas sua vocação era a poesia. Também revelou interesse pela música, pintura e teatro.
Em 1918, publicou seu primeiro livro, "Impressões e Paisagens". Em 1919 mudou-se para Madri onde viveu até 1928. Foi amigo de Salvador Dali e Pedro Salinas. Em 1920, estreou no teatro com a peça "O Malefício da Mariposa". Federico García Lorca é considerado um dos mais importantes escritores modernos de língua espanhola. Cantou através de versos com extrema sensibilidade a alma popular da Andaluzia.
Através de sua poesia, identificou-se com os mouros, judeus, negros e ciganos, alvos de perseguições ao longo da história de sua região. Ele próprio sentiu na pele a discriminação com que os espanhóis da época trataram sua condição de homossexual. Jamais deixou de manifestar aversão aos fascistas e aos militares franquistas.
Federico García Lorca viveu nove meses em Nova York, onde escreveu poemas que só foram publicados após sua morte. De volta à Espanha, em 1931, criou e dirigiu a companhia teatral "La Barca", que percorreu as aldeias de todo o país encenando autores famosos como Cervantes e Lope de Vega. Escreveu "Bodas de Sangue" (1933), uma história verdadeira de ciume e morte entre camponeses de Andaluzia, peça teatral que abriu uma nova era no teatro moderno da época. Escreveu "Yerma" (1934) e "A Casa de Bernardo e Alba" (1936), que ficaram conhecidas e foram encenadas em diversos países.
Em 1934, já era o mais famoso poeta e dramaturgo espanhol vivo. Em Agosto de 1936, no auge de sua produção intelectual, foi fuzilado em Granada, por militantes franquistas, no início da Guerra Civil Espanhola.

Honoré de Balzac, escritor francês, morreu a 18 de Agosto de 1850.



Soledad Miranda ou Soledad Rendón Bueno, nasceu a 18 de Agosto de 1943.





Soledad Miranda, de seu verdadeiro nome Soledad Rendón Bueno, actriz e cantora espanhola, filha de pais portugueses de etnia cigana, morreu no Estoril, em 18 de Agosto de 1970. Nascera em Sevilha no dia 9 de Julho de 1943.
Soledad Miranda foi a musa do famoso realizador espanhol Jesus Franco, que a descobriu quando ela tinha apenas 16 anos (num papel não creditado no musical “Mariquita, la Reina del Tabarín”, em 1960). O primeiro filme em que participou foi “La Bella Mimí”, naquele mesmo ano.
Em 1964, participou no filme português “A Canção da Saudade” de Henrique Campos. Casou-se com José Manuel Simões, um jovem piloto de automóveis português, com quem teve um filho. Entre 1964 e 1965, gravou dois discos para a etiqueta Belter.
Vivia em Lisboa e faleceu num acidente de viação no Estoril, aos 27 anos de idade. Soledad actuou em cerca de 30 filmes, entre 1960 e 1970. Infelizmente, só se tornou um mito em Espanha (e no mundo) após a sua morte.
Em 1964, participou em três co-produções luso-espanholas rodadas em Portugal, duas das quais eram comédias musicais - com a participação de Victor Gomes e do seu grupo Os Gatos Negros - apesar de terem a mesma história e elenco, tinham variações, pois destinavam-se a cada um dos países ibéricos, sendo a versão espanhola (“Los gatos negros”) realizada por José Luis Monter e a versão portuguesa (“A Canção da Saudade”) por Henrique Campos.
José Manuel Simões, que viria a casar pouco depois com Soledad, participou igualmente nos três filmes (além das duas comédias musicais, a curta-metragem “Um dia em Lisboa”).
Participou em vários filmes de Jesus Franco, tais como “Count Dracula” e “Vampyros Lesbos”. Voltou ao cinema a convite de Franco, em “El Conde Drácula”, de 1969, tendo adoptado aí o nome artístico de Susann Korda e contracenando com Christopher Lee. Jess Franco dirigiu mais seis filmes com Soledad.
Quando “Vampyros Lesbos” foi estreado em Berlim, fez um grande sucesso. Não tanto pelo filme, que é óptimo, mas por Soledad. Franco veio visitá-la em Lisboa e trouxe consigo um produtor alemão, que ofereceu a Soledad um contrato de dois anos para actuar em produções de maior orçamento.
No dia seguinte, enquanto o contrato estava sendo redigido na Alemanha, Soledad Miranda sofreu um acidente de carro no qual faleceu. Está sepultada num ossário do Cemitério do Lumiar, em Lisboa.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A 17 de Agosto de 1897, nasceu o poeta António Botto






Balofas carnes de balofas tetas caem aos montões em duas mamas pretas chocalhos velhos a bater na pança e a puta dança. Flácidas bimbas sem expressão nem graça restos mortais de uma cusada escassa a quem do cu só lhe ficou cagança e a puta dança. A ver se caça com disfarce de um chato coça na cona e vai rompendo o fato até que o chato de morder se cansa e a puta dança. Os calos velhos com sapatos novos fazem-na andar como quem pisa ovos pisando o par de cada vez que avança e a puta dança Julga-se virgem de compridas tranças mas se um cabrito de cornadas mansas abre a carteira e generoso acode a PUTA FODE.

António Botto


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António Botto (1897-1959), um grande poeta português, nascido em Abrantes, autor de uma vasta obra poética, muito admirado por Fernando Pessoa e pelo grupo da Presença. A sua obra mais conhecida foi Canções (1921), de caráter abertamente homossexual, que causou grande escândalo nos meios intelectuais portugueses da época.
"António Tomaz Botto nasceu a 17 de agosto de 1897, em Casal da Concavada, uma aldeia na freguesia de Alvega, no concelho de Abrantes. Uma “terra de província, com arvoredos, piquenas casas, e uma fonte”, onde matou “a sede” da “infância”, como o próprio escreveu muitos anos mais tarde. O seu registo de nascimento e de batismo, guardado na Igreja Paroquial de S. Pedro, em Alvega, refere as oito da manhã como hora de nascimento, mas o horóscopo calculado por Fernando Pessoa na década de 1920 (não se sabe a data certa, mas terá sido depois de março de 1923, como referem Paulo Cardoso e Jerónimo Pizarro na edição de 2011 das cartas astrológicas pessoanas) indica que foi às três da manhã que António Botto nasceu (provavelmente por indicação do próprio). O poeta passou os primeiros anos de vida em Concavada, brincando “descalço e alegre na poeira dos caminhos”, mudando-se com a família para Lisboa quando tinha cinco anos. O pai, Francisco Tomaz Botto, trabalhava nas fragatas do Tejo. Os Botto escolheram Alfama para se instalarem.
Foi em Lisboa que, de acordo com a suas memórias, António Botto pisou, “pela primeira vez, o chão de uma escola” onde aprendeu “as primeiras letras num livro sempre bendito”. “Minha mãe queria que eu fosse padre — um ministro da Igreja Católica; mas, alguém a dissuadiu; alguém lhe disse uma noite seu filho é bonito de mais para ser padre”, escreveu o poeta em Cartas que me foram devolvidas(1924), a sua primeira obra em prosa, acrescentando que, depois, foi para Inglaterra “tirar um curso desses que dão rendimento na mecânica ou na ciência”. “E passados quatro anos regressei a Portugal sem nada ter aprendido!” A história era boa, mas era mentira. Ao longo dos anos, Botto procuraria reescrever a sua própria vida, sobretudo os anos da infância pobre numa pequena aldeia ribatejana, criando uma “autobiografia imaginada”, como lhe chamou Anna Klobucka.
Não se sabe onde ou até quando António Botto terá estudado, mas existem certezas de que foi em Lisboa que fez todos os seus estudos (ao contrário do que viria a afirmar mais tarde). Na sua biografia do poeta, Maria da Conceição Fernandes citou o testemunho da cunhada, Nazaré da Silva Botto, que, em conversa com a investigadora, recordou os “poemas” que António Botto “escrevia na escola e em casa, enquanto fazia os trabalhos escolares”. Nazaré — que, na altura da preparação da tese de mestrado de Maria da Conceição Fernandes que viria a ser publicada em livro em 1998, ainda vivia no mesmo n.º 22 da Rua da Adiça onde o poeta passou a juventude — não adiantou, porém, mais nenhum pormenor em relação à escolaridade do escritor. António Augusto Sales, autor de Botto: real e imaginário (1997), avançou, sem citar fontes, que Botto teria estudado num seminário em Lisboa, “que abandonou por razões inexplicáveis e contrárias à sua vontade”. “Em qualquer dos casos”, como escreveu Anna Klobucka em O Mundo Gay de António Botto, “é consensual a constatação da instrução formal extremamente limitada a que o jovem teve acesso antes de passar a trabalhar”.
Um outro ponto comum nas biografias disponíveis de António Botto é o facto de este ter começado a trabalhar muito cedo. 
Segundo Maria da Conceição Fernandes, fazendo eco do que foi escrito por Jorge de Sena no final dos anos 50, um dos seus primeiros empregos terá sido numa livraria da Baixa lisboeta, onde terá tido contacto “com escritores já eminentes nessa época”, as décadas de 1910 e de 1920, que terão incentivado o seu talento literário. Um destes seria Guerra Junqueiro. É, aliás, ao autor de Pátria que Botto, nas memórias tardias da sua adolescência, atribuiu o papel de maior destaque na sua iniciação no mundo da literatura. Tal como em muitos dos textos de carácter autobiográfico que o poeta escreveu nos últimos anos de vida, não há certezas de que o encontro com Junqueiro, que Botto insistia que tinha acontecido na Bertrand do Chiado, tenha de facto acontecido. A sua influência parece, porém, certa.Outra questão que permanece em aberto é a data da estreia literária de António Botto. Jorge de Sena, no prefácio da antologia Líricas Portuguesas (1958), que incluía alguns poemas do autor, propunha que o autor “ter-se-ia estreado nas letras em 1912”. O seu primeiro livro, Trovas, parece, contudo, ser mais tardio. Mas também aqui as fontes divergem: a tábua bibliográfica que foi publicada no número 20 da presença assinalava 1914 como o ano de publicação da primeira coletânea de poemas de Botto mas, segundo Maria da Conceição Fernandes, a cópia existente na Biblioteca Nacional, da Livraria Bertrand, é de 1917. O problema é que esse exemplar não existe hoje no catálogo da BNP. António Augusto Sales em Botto: real e imaginário também apontou o ano de 1917 como o da publicação de Trovas, referindo, porém, que a obra tinha sido editada pela Tipografia Editora, com sede em Lisboa. Depois de Trovas, António Botto terá publicado outros dois livros de poesia: Cantigas de Saudade, em 1918, e Cantares, no ano seguinte. Sobre este último, Sales escreveu que a primeira edição, “bastante descuidada”, saiu em 1919 a cargo da Tipografia do Anuário Comercial de Lisboa. Sobre o primeiro, o investigador não adiantou mais nenhuma informação além da data de publicação.
Dúvidas à parte, o que parece ser mais ou menos certo é o início da “colaboração como poeta na imprensa periódica — que manterá ao longo da vida inteira, em Portugal e no Brasil –”, em meados década de 1910, segundo Anna Klobucka. Mas a verdade é que, como afirmou a investigadora polaca ao Observador, sabe-se “muito, muito pouco sobre Botto antes de meados de 1920”, ou seja, antes da publicação de Canções. “As publicações anteriores ainda não estão muito estudadas. E até registadas”, disse. “No fundo, não se sabe se os livros anteriores a Canções existiram.” De acordo com a investigadora, só existem mesmo certezas em relação a Cantares, que “teve uma segunda edição em finais dos anos 20”, que está na Biblioteca Nacional de Portugal. Quanto à primeira edição, a professora da Universidade de Massachusetts Dartmouth encontrou-a “online, num site de um alfarrabista”. “De facto, parece ter existido, mas há mais dois que não encontro em lado nenhum. Pode ter sido que sim, que fossem panfletos, que tivessem tido uma circulação muito limitada mas que fossem efetivamente impressos.” Estes seriam poemas muito diferentes dos de Canções, modelados a partir da poesia popular, das trovas e das quadras, uma influência que acompanhou Botto até ao final da vida.
António Botto viveu com a família na Rua da Adiça, em Alfama, até 1920, altura em que se mudou para a Baixa lisboeta, para o 2.º esquerdo do n.º 151 da Rua da Madalena. Tinha 23 anos e, a julgar pelas cronologias disponíveis, várias obras publicadas. Nesse ano, juntou mais um importante volume à sua bibliografia: o livro de poemas Canções do Sul (com prefácio de Jaime de Balsemão), que alguns críticos, como Luís Amaro e Eduardo Pitta, consideram ser a sua obra inaugural. Esta, que viria a dar origem ao maldito Canções, terá sido impressa no mês de novembro e divulgado de forma “extremamente limitada, uma vez que até a sua própria existência chegaria a ser posta em causa na época”, adiantou Anna Klobucka. Hoje em dia, é extremamente difícil de encontrar.
Canções do Sul foi reeditado no ano seguinte com algumas alterações. Além do nome — encurtado para Canções —, o livro foi “ligeiramente recomposto e aumentado”, passando a apresentar 16 poemas em vez de 14. O prefácio de Jaime de Balsemão e a epígrafe — “O homem será sempre o mortal enigma; a sombra das sombras” — que faziam parte de Canções do Sul também foram incluídos. Apenas a frase deixou de ser assinada por “António Botto” para passar a ser da autoria de um tal de “António”. A capa reproduzia um busto do autor feito por Diogo Macedo. Tal como o livro anterior, a publicação de Canções começou por cair em saco roto. Segundo a investigação feita por Klobucka, a chegada às livrarias da coletânea de poemas coincidiu com “uma greve prolongada dos trabalhadores de jornais”, que teve início a 18 de janeiro de 1921. Foi por isso que as “críticas da imprensa demoraram a aparecer”. No jornal A Capital, por exemplo, o lançamento Canções só foi noticiado a 14 de abril, numa peça que dava conta do aparecimento na redação de várias novidades literárias, entre as quais a obra de Botto. O jornalista Armando Ferreira prometia ocupar-se dos livros recebidos nas próximas edições do vespertino lisboeta.
A crítica de Canções saiu logo na edição de dia 18 de abril. O artigo — publicado pela primeira vez em O Mundo Gay de António Botto — foi demolidor. Com o título “Canções… a ele!” e o subtítulo “Ânsia de reclame ou descalabro moral?”, o texto de Armando Ferreira era um protesto contra a afronta moral que a poesia de António Botto representava, que procurava denunciar o “desejo de exibicionismo” do autor. A homossexualidade que Botto estava a assumir tão corajosamente perante tudo e todos era, aos olhos de Ferreira, uma tentativa de chamar a atenção para si e para a sua poesia. Até porque, segundo o jornalista, até à saída de Canções, Botto era um autor desconhecido do “grande público”, cuja obra poética anterior era “extraordinariamente fraca”.

Admitindo que, “se A Capital tivesse saído dez dias mais cedo, teria pedido em insistentes brandos” à polícia que apreendesse uns “livros da Biblioteca de Cupido, disfarçados de Canções embrulhados em papel almaço e expostos numa montra de livraria em volta dum retrato do seu autor, nuzinho até aos ombros e de olhos em alvo”, Ferreira questionou se já não haveria “entre nós polícia de costumes, ou três bons e honestos espíritos capazes de lançar para o monturo estes dejetos”. “A polícia; a polícia, o sr. ministro da instrução, seja quem for, que livre as montras destas e quejandos imoralidades que disfarçadas frases de filósofos dizem ser a ‘negra história dos mortais’: ‘O amor e a dor!’”, afirmou o muito indignado Armando Ferreira.
A “excitante e pornográfica foto” a que Armando Ferreira se referia — e que por altura da publicação da recensão crítica já tinha sido retirada das montra da livraria onde estava exposta, segundo admitiu o próprio Ferreira, não se sabendo porque é que tal terá acontecido — era a mesma que viria a ser reproduzida na segunda edição de Canções, que tanto escândalo causaria. Para Anna Klobucka, a “sua exibição na montra da livraria (não identificada), junto aos exemplares do livro, aponta para uma estratégia de divulgação e publicidade que se teria definido desde o lançamento de Canções do Sul e que continuaria a evoluir com a intervenção editorial de Pessoa”. Apesar de Fernando Pessoa lhe ter chamado uma obra de arte no seu próprio direito, para o jornalista d’A Capital não passava de “uma inédita forma de ser poeta” que devia ser “escorraçada pela moral”. Caso contrário, poderia vir a formar escola e a “perverter, debilitar a nossa raça já tão vítima das sensibilidades extraordinárias dos novíssimos poetas que por aí se espremem à procura da nota original que os imponha”. Subindo de tom e recorrendo a um discurso extremamente violento e homofóbico, Ferreira avançou com a solução para o problema: encher de “mocadas” os “‘ratões’ desta espécie”.
Canções foi recebido da pior forma pela imprensa nacional. A única crítica favorável que se conhece é um curto parágrafo da autoria de António Ferro (que, curiosamente, também seria afetado pela polémica da chamada “Literatura de Sodoma”, com a proibição da sua peça Mar Alto), inserido numa recensão sobre seis obras de poesia que tinham então saído. Publicado a 3 de maio de 1921, o artigo de António Ferro dava já a entender a existência de um “escândalo” que teria abalado a pacata vida literária portuguesa: “Canções, o novo livro de António Botto, parece que é um livro de escândalo, um livro do qual é difícil falar. Percorri-o, página a página, verso a verso, em busca desse escândalo. Fui infeliz. É que, para mim, só há um escândalo em Arte: a ausência de Beleza. Se a intenção de António Botto era simplesmente a de marcar uma atitude — António Botto falhou. Se ele quis, porém, com o seu opulento volume de Canções, demonstrar, a par de uma sensibilidade delicada, o avanço das artes gráficas em Portugal, o poeta triunfou”, escreveu Ferro nas páginas do Diário de Notícias. “Após este livro não há mais que duvidar. António Botto é um poeta de gosto.”
Ferro não chegou, porém, a “comentar de todo a matéria dos versos de Botto, cingindo-se ironicamente a aplaudir o triunfo da ‘Beleza’ que o livro representa por ‘demonstrar (…) o avanço das artes gráficas em Portugal”, escreveu a autora de O Mundo Gay de António Botto. Esse papel coube a Fernando Pessoa, fiel comentador, crítico e defensor do poeta de Canções.
A publicação de Canções é um caso único no panorama literário português, não só pela abordagem transparente da temática escolhida, mas sobretudo por se ter tratado de uma afirmação pública da homossexualidade do seu autor, feita na primeira pessoa, o que nunca tinha acontecido. “É nisto que residia a sua espantosa e absoluta novidade — o discurso do afeto homoerótico assumia-se como um idioma normalizado e naturalizado, recusando-se quase em absoluto a exibir qualquer traço discursivo da consciência do desvio da norma social que na verdade a poesia de Botto representava, e de forma radical”, escreveu Anna Klobucka. De acordo com a investigadora, este terá sido “o primeiro ato desta natureza ocorrido no foro público e mediático em Portugal”, numa altura em que os sentimentos homofóbicos dominavam a sociedade portuguesa, e não só. Dito por outras palavras, António Botto teve a coragem de se assumir como homossexual numa altura em que ninguém o fazia. Uma decisão que lhe causou grandes transtornos e o transformou, do dia para a noite, numa espécie de vedeta.
Como é que Botto tomou a decisão de se assumir como homossexual através da poesia não se sabe ao certo. “Isso permanece uma espécie de espanto como é que ele foi capaz de fazer uma coisa tão inovadora, não apenas em Portugal, mas também por todo o lado. Embrulhava-se o assunto com formas alegóricas, usava-se discurso codificado. Havia obras que eram impressas, mas que depois só circulavam privadamente, entre amigos, em pouquíssimos exemplares”, afirmou Anna Klobucka ao Observador. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com Corydon, um conjunto de ensaios do francês André Gide acerca da homossexualidade. Originalmente publicado em várias partes, entre 1911 e 1910, Corydoncomeçou por circular apenas entre amigos só sendo publicado num livro só em 1924. Apesar do conjunto de ensaios ser anterior a Canções, este não se trata de “discurso direto na primeira pessoa” como a obra de Botto. E essa é uma das grandes novidades da lírica bottiana. “A biografia de Gide, em que ele falava abertamente da sua homossexualidade, apareceu em finais dos anos 20, mas Botto antecede isso”, explicou Klobucka, dando também como exemplo o caso de Konstandinos Kavafis.
O poeta grego é anterior ao português, só que Kavafis “nunca publicou um livro em vida”. Como explicou Joaquim Manuel Magalhães no prefácio à sua tradução dos seus poemas: “Kavafis costumava imprimir e distribuir primeiro a amigos e conhecidos os seus poemas em folhas impressas dentro de uma capa (plaquetes). Paralelamente à distribuição guardava os poemas em ordem estritamente cronológica. Depois, costumava mandar a quem os pedisse todos os poemas anteriores em fascículos encadernados (cadernos), contendo as folhas (plaquetes) anteriores. Nunca elaborou, porém, nenhuma edição de poemas seus para serem vendidos.” A primeira antologia de poemas de Konstandinos Kavafis só saiu depois da sua morte, a 29 de abril de 1933.
Mesmo o caso de Oscar Wilde não tem comparação com o de Botto. Além da sua escrita ser “muito diferente”, a notoriedade do escritor irlandês “tinha mais a ver com uma exposição hostil através da denúncia homofóbica e do processo de que foi alvo”. Wilde foi condenado em maio de 1895 a dois anos de prisão com trabalhos forçados por “cometer atos imorais com diversos rapazes”. O julgamento do escritor, que durou dois anos, teve origem numa denúncia feita pelo pai de um dos seus alegados amantes, Lorde Alfred Douglas, conhecido por “Bosie”. “Até porque a homossexualidade não era legal em Inglaterra naquela altura e não havia sequer como assumi-la sem haver consequências disso”, acrescentou a investigadora. “Era tudo muito mais velado e o discurso literário também era muito mais erudito. Tinha raízes intelectuais e estéticas muito mais sofisticadas e elaboradas do que a poesia que Botto fazia.”
O que António Botto fez parece não ter precedentes na literatura ocidental e talvez até mundial: “[Ele] não só publica Canções, como esse livro é colocado na montra das livrarias, como se vê naquela crítica d’A Capital que cito. O autor [Armando Ferreira] descreve esse espetáculo — o livro na montra, com a fotografia do autor. Essa fotografia de ombros nus que era também uma obra de arte modernista extraordinária por seu próprio direito. Como Pessoa diz no seu panfleto, esse retrato valorizava a obra e devia ser estudado pelo seu próprio direito como uma grande lição de estética”, afirmou a investigadora e professora no Departamento de Português da Universidade de Massachusetts Darmouth. “É realmente uma espécie de comingout muito público, que provoca reações muito hostis. O retrato acabou por ser retirado, como diz a crítica d’A Capital. Se não tivesse sido retirado, [o jornalista diz que] ia fazer uma intervenção, ia chamar a polícia, já em antecipação do que viria a acontecer dois anos mais tarde com a polémica da ‘Literatura de Sodoma’. Foi um caso de uma projeção extraordinariamente corajosa e sem paralelo nas literaturas europeias da época.”
Eduardo Pitta — que dirigiu a coleção das obras completas de António Botto da desaparecida editora Quasi e que será agora responsável pela publicação de toda a poesia bottiana pela Assírio & Alvim — acredita que António Botto não teve medo de assumir a sua homossexualidade de forma tão aberta porque “era um outsider e, como tal, não tinha nada a perder”. “No Portugal de 1920, um diplomata, um juiz, um médico com prestígio, um professor universitário, mesmo um professor de liceu, teria pensado duas vezes antes de publicar aqueles livros”, afirmou em entrevista ao Observador o escritor, ensaísta e crítico literário. “No vasto mundo existiam Whitman, Wilde, Gide e outros, mas não há termo de comparação. Para não sair da Europa”, porque, naquela altura, era França que “dominava culturalmente o mundo ocidental”.
A obra de Botto é também pioneira na própria representação da homossexualidade. Até ao lançamento de Canções, não existia no discurso literário português “nenhuma expressão em primeira pessoa, e comparavelmente explícito em termos físicos, do desejo amoroso pelo mesmo sexo”, escreveu Koblucka. Durante séculos, foi representada de forma satírica (a primeira referência que se conhece, o meirinho FernanDíaz das cantigas de escárnio e maldizer medievais, é precisamente deste género). Esta abordagem ao tema só sofreu uma alteração em finais de século XIX, altura em que a literatura, influenciada pelas mais recentes teorias científicas (ou melhor, pseudo-teorias) que procuravam explicar questões ligadas à psicologia e sexologia, áreas ainda em desenvolvimento, começou a tratar a homossexualidade como uma “degeneração”.
A primeira obra do género a surgir em Portugal foi o romance O Barão de Lavos, de Abel Botelho, que fazia parte de uma série dedicada às “patologias sociais” que o autor considerava afetarem a sociedade portuguesa de finais do século XIX. Esta abordagem extremamente homofóbica só sofreu uma alteração já em pleno século XX, com o surgimento de obras como Nova Sapho (1912), do Visconde de Vila Moura, e A Confissão de Lúcio (1913), de Mário de Sá-Carneiro. Contudo, nenhuma delas tratou o tema da homossexualidade com tanta clareza e franqueza como Canções, de António Botto (ainda que tenham ajudado de alguma forma a preparar o terreno para a poesia bottiana).
A falta de obras semelhantes leva inevitavelmente a questionar as influências que António Botto poderá ter tido a nível literário. Também não há certezas quanto a isso, apenas especulações. Segundo Anna Klobucka, ”a educação do poeta, largamente informal e condicionada pelo meio social em que cresceu, não o teria exposto (a não ser tardia e superficialmente) ao cânone erudito, inspirado em fontes clássicas, da expressão homoerótica masculina que formava a base intelectual e literária comum nos ambientes” literários. Como a de Fernando Pessoa, por exemplo. Em vez disso, Botto terá ido buscar inspiração ao ambiente que lhe era mais familiar — o dos bairros populares lisboetas. As “letras de fado e outras expressões do discurso amoroso em poesia popular” terão modelado a escrita do poeta que, desde a sua estreia enquanto escritor até ao final da sua vida, “escreveu sempre quadras” e outros poemas “modelados sobre o padrão da poesia popular”.
São também recorrentes ao longo dos anos os versos com referências à região do Ribatejo, onde o poeta nasceu, e àquilo que mais a caracteriza. “Acho que [a sua poesia] deve claramente alguma coisa ao modernismo, até pela forma irregular que assume, mas acho que deve muito, e talvez até mais, à poesia popular pelas influências literárias que adquiriu através da sua própria inserção na comunidade, não do Ribatejo, porque saiu de lá quando tinha cinco anos, mas de Alfama”, afirmou Anna Klobucka. Isso significa que, pelo menos em termos temáticos, António Botto não se deixou influenciar diretamente por nada, criando, quase a partir do zero, o seu próprio estilo literário.
Como assinalou Maria da Conceição Fernandes na biografia António Botto — Um Poeta de Lisboa, apesar de Botto se ter distinguido “de entre os poetas da sua época, chamando, por isso, a atenção não só dos escritores mas também do leitor comum”, como provam as sucessivas reedições de Canções, se considerarmos esta obra como “moderna pela revolução que provocava ao ferir a moral duma sociedade burguesa e preconceituosa, quer pelos motivos glosados, quer pela escolha da imagética predominante, por outro lado, o seu estilo, nos processos formais que utiliza, colocava o poeta na tradição oposta aos ideias modernistas”. É que, apesar do carácter inovador da sua escrita, não se pode dizer que António Botto fosse um verdadeiro modernista. Na verdade, o poeta estava mais próximo da poesia popular do que dos vanguardistas, misturando “simbolismo” e “decandentismo, de um saudosismo quase nunca desligado de certo pendor romântico —, tanto na linha tradicional dos Cancioneiros, como na expressividade do tom confessional utilizado”. O que fez a diferença foi a “beleza do seu estoicismo” e o “ritmo dos seus versos”, como escreveu Maria da Conceição Fernandes.
Foi isso que fez com que conseguisse “emergir de uma corrente literária de vanguarda” e receber atenção da parte da crítica, “talvez menos fascinada do que surpreendida”, que lhe louvou “a originalidade”. Afinal, na obra de Botto, é a voz do povo que se ouve e não a dos autores modernos, que serviram de referência a muitos dos seus contemporâneos. “Efetivamente António Botto conserva-se sempre à margem do vanguardismo de Orpheu, nomeadamente na afirmação da necessidade de internacionalizar os valores culturais artísticos”, afirmou Maria da Conceição Fernandes, chamando a atenção para o facto de “o seu gosto pela tradição” também está “patente nos seus livros dedicados às crianças, onde as fábulas traduzem os valores morais que uma sociedade, para ser justa, deve manter”.
Botto publicou o primeiro livro para crianças, O Livro das Crianças, em 1931, com aprovação de D. Manuel Gonçalves Cerejeira, cardeal patriarca de Lisboa desde 1929. Este foi publicado em inglês, quatro anos mais tarde, pela Bertrand (com tradução de Alice Lawrence Oram) e em irlandês, em 1941, pela editora estatal irlandesa. O tradutor deste último, que decidiu permanecer anónimo por razões que se desconhecem, foi também autor de uma nota introdutória onde comparou Botto a Padráig Pierce, um dos mais importantes poetas irlandeses e símbolo nacional, e afirmou que O Livro das Crianças era o primeiro a ser traduzido do português para o irlandês.
De acordo com Anna Klobucka, existem cópias deste livro — editado com o título Leabhar na hóige: scéalta ón bPortaingéilis, que é como quem diz, Livro da juventude: Contos do português — em bibliotecas públicas irlandesas e inglesas. Há ainda um exemplar na Universidade de Wisconsin, em Madison, nos Estados Unidos da América (que Klobucka acredita que poderá ter pertencido a Jorge de Sena, que aí deu aulas entre 1965 e 1970). Além deste, Botto publicou ainda outros cinco livros infantis (com um deles a ser indicado também para adultos), segundo a bibliografia reunida por António Augusto Sales que, em Botto: real e imaginário, disse ter encontrado ainda “alguns contos” que foram “individualizados em pequenos livrinhos de algumas edições”, como seria o caso de “Amor com Amor se Paga”.
Outra fonte de inspiração para António Botto terá sido a literatura homoerótica que circulava de forma privada. Porque, apesar de não se encontrarem à venda nas livrarias obras que abordavam a homossexualidade, isso não queria dizer que elas não existissem. “A um ponto do livro [no sub-capítulo “Para uma contextualização das Canções de 1921”], especulo um pouco sobre que tipos de discursos poderiam existir. Porque é claro que existiam — existiam cartas que homens escreviam a outros homens, mulheres a outras mulheres”, afirmou Anna Klobucka, dando como exemplo a correspondência trocada entre António Nobre e Alberto de Oliveira, entre 1890 e 1892, quando o Nobre esteve a estudar em França. “Quando Nobre foi estudar para Paris eles concordaram em trocar correspondência em dois formatos: em cartas mais formais, mas que eram pessoais, claro, e através do chamado ‘diário’, postais que seriam mais íntimos, mais diretos.” Apesar de saber com certeza de que estas missivas existiram, estas foram destruídas anos mais tarde por Oliveira devido à “natureza pessoal e íntima do seu conteúdo”. As que sobreviveram são, segundo explicou Anna Klobucka ao Observador, “às vezes extremamente abertas sobre o afeto e a amizade amorosa” que unia os dois homens. “Obviamente que haveria muita correspondência assim entre homens e pode ter sido assim que Botto começou a escrever, de forma privada, e depois aquilo extravasou para a poesia publicada.”
Ao contrário de Canções, que conheceu múltiplas edições depois de 1921, Canções do Sul é um livro extremamente raro. Sabe-se da existência de apenas dois exemplares, sendo que apenas um deles se encontra em Portugal. Esta última é referida por várias fontes (nomeadamente por Luís Amaro, responsável por um volume sobre António Botto publicado em 1999 pela Biblioteca Nacional de Portugal) como pertencente à Biblioteca Municipal do Porto (BMP), informação que foi confirmada pelo próprio organismo público ao Observador. A Biblioteca Nacional, em Lisboa, não tem nenhuma cópia física do livro de poemas de António Botto, mas tem à disposição dos leitores um microfilme da edição.
A cópia da BMP fazia parte da biblioteca do poeta Alberto de Serpa, que foi adquirida em leilão em 1988, no quadro da Lei do Mecenato Cultural, de acordo com a informação disponibilizada ao Observador pela biblioteca. A venda foi organizada pela firma Soares & Mendonça, Lda. na sala de visitantes da Sandeman, então localizada no Largo Miguel Bombarda em Vila Nova de Gaia. De acordo com o catálogo do leilão — organizado pelo livreiro-alfarrabista portuense Manuel Ferreira, do qual foram feitas apenas 20 cópias –, este aconteceu no dia 14 de novembro, pelas 21h30. O exemplar de Canções do Sul foi descrito por Ferreira como sendo uma “espécie bibliográfica de altíssimo valor e interesse”. O catálogo tinha 121 entradas referentes a Botto.
No que diz respeito ao espólio de Serpa comprado pela BMP, este inclui “correspondência (também com António Boto), provas tipográficas, recortes de imprensa, manuscritos de terceiros, fotografias e desenhos. Esta documentação pode ser consultada presencialmente na Sala de Coleções Especiais Eugénio de Andrade”.
A outra cópia que se conhece de Canções do Sul pertence à Biblioteca Houghton da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América. Josiah Blackmore, responsável pelo departamento de língua e literatura portuguesa de Harvard, explicou ao Observador que o exemplar da Houghton foi comprado à Soares & Mendonça em janeiro de 1989 e que fazia parte do “catálogo de Serpa, verbete número 124”. Relativamente a esta cópia, existe nos arquivos da biblioteca “uma anotação entre aspas” que, segundo Josiah Blackmore, terá sido extraída do catálogo: “Unique proof copy of an aborted edition”. “Ou seja, o nosso exemplar é uma prova do livro final”, explicou o professor de língua e literatura portuguesa, o que significa que provavelmente nunca a estar à venda.
Outro dado que parece indicar que a cópia da Biblioteca Houghton não chegou a ser comercializada é a ausência de uma assinatura do autor. Numa das páginas iniciais, existe a indicação de que “todos os exemplares são rubricados pelo autor”, uma “declaração muito frequente nos livros de Botto”, como salientou Blackmore. Mas a rubrica não existe.
Apesar de ter recebido alguma atenção por parte da imprensa, António Botto só ficou verdadeiramente conhecido quando se tornou num dos principais alvos da Liga de Ação de Estudantes de Lisboa que, em inícios de 1923, decidiu levar a cabo uma ação moralizadora contra a chamada “Literatura de Sodoma”, um termo cunhado pelo jornalista conservador Álvaro Maia. Apesar de ter conhecido o seu apogeu em fevereiro de 1923, a campanha começou vários meses antes, em julho de 1922, pouco depois da publicação da segunda edição de Canções pela editora Olisipo de Fernando Pessoa. Foi no âmbito deste lançamento que o autor de Mensagemescreveu e enviou para a revista Contemporânea, dirigida por José Pacheco, um texto de análise da obra bottiana intitulado António Botto e o Ideal Estético em Portugal. Não sabemos qual era a intenção de Pessoa, mas o que é certo é que o artigo acabou por desencadear aquele que foi apelidado pelo historiador Jesué Pinharanda Gomes “o maior escândalo erótico-social do século” XX.
Fernando Pessoa criou a Olisipo em outubro 1921 com o objetivo de publicar a boa literatura que faltava nas prateleiras das livrarias. Depois de editar os seus English Poemas e a Invenção do Dia Claro, de Almada Negreiros, lançou, no ano seguinte, a segunda edição de Canções, “muito aumentada com um retrato do autor e palavras de Teixeira de Pascoaes e novas referências por Jaime de Balsemão”, como indicado na folha de rosto. O “retrato do autor” era o mesmo da casa Bobone Lda. que tanto escândalo tinha provocado na primeira edição. As “palavras de Teixeira de Pascoaes”, a grande adição em relação à edição anterior, nada mais eram do que uma pequena carta, datada de junho de 1921, em que o poeta elogiava as “Cançõesencantadoras” de Botto, afirmando que havia “um requintado dandismo na sua Arte”.
Foi a propósito da segunda edição da obra de poesia que Pessoa decidiu enviar para a Contemporânea um ensaio sobre o seu autor, António Botto e o Ideal Estético em Portugal, que saiu no número 3 da revista, em julho de 1922. Neste, Pessoa anunciou Botto como “o único português, dos que convencidamente escrevem, a quem a designação de esteta se pode aplicar sem dissonância”, declarando que as Canções se distinguiam “com facilidade da obra de qualquer outro poeta, português ou estrangeiro”. Afirmando que não existiam “elementos metafísicos e morais” na base dos poemas de Canções, Fernando Pessoa descreveu aquelas que considerava serem as duas ideias centrais da obra: a beleza e o prazer.
ssim, Canções seria, aos olhos do poeta da Mensagem, um “hino ao prazer, porém, não ao prazer como alegria, nem como raiva, senão simplesmente como prazer”, onde havia “a intuição do fundo trágico do ideal helénico”. Só que, como explica a entrada relativa a António Botto no Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, da autoria de Manuela Parreira da Silva, “a concretização deste estetismo” só podia acontecer através de um “desvio patológico sem desequilíbrio”, numa alusão à homossexualidade do autor. Afirmando que “o livro” era “uma obra de talento”, Fernando Pessoa considerou ainda “Canções como “o único exemplar (…) na literatura europeia, do isolamento espontâneo e absoluto do ideal estético em toda a sua vazia integridade”. “Artistas tem havido muitos em Portugal; estetas só o autor de Canções”, concluiu o poeta.
Álvaro de Campos decidiu responder à análise de Fernando Pessoa no número seguinte da Contemporânea, de outubro de 1922, com uma carta dirigida a José Pacheco. Nesta, Campos — que já não era “um poeta decadente” por acreditar estar “decadente” — criticou Pessoa, recusando a ideia de que a estética bottiana era semelhante à dos gregos mas admitindo ter gostado das Canções de Botto por causa da sua “amoralidade absoluta, despida de dúvidas”. Para o engenheiro naval, era essa a sua força, que nada tinha “a ver com ideias nem com estéticas”. “Tem que ver com imoralidade. É a imoralidade absoluta, despida de dúvida”, afirmou o engenheiro naval a partir de Newcastle-on-Tyne, defendendo que a arte de Botto era “integralmente imortal” e que isso era “uma força” porque era “uma não-hipocrisia, uma não complicação”. “Wilde tergiversava constantemente. Bauldelaire formulou uma tese moral da imoralidade; disse que o mau era bom por ser mau, e assim lhe chamou bem. O Botto é mais forte: dá à sua imoralidade razões puramente imorais, porque não lhe dá nenhumas”, disse ainda. Para Campos, António Botto tinha uma “energia tenaz para todo o imoral” e “a harmonia de não tender para mais coisa alguma”.
Por mais interessante que fosse, a resposta de Álvaro de Campos acabou por ser eclipsada por um outro texto publicado no número 5 da revista Contemporânea: Literatura de Sodoma, assinado pelo jornalista católico e monárquico Álvaro Maia. No artigo — que tinha o subtítulo O Sr. Fernando Pessoa e o Ideal Estético em Portugal —, Maia acusava Pessoa, “sequiso de ineditismo”, de ter pescado “do justo esquecimento um livro sem arte nem beleza” e de ter saído em defesa de uma “torpe exibição do amor trácio”. “E como, nessa miséria impressa, fosse claramente feita a apologia daquelas aberrações sexuais que levaram Deus a sepultar Sodoma e Gomorra sob um dilúvio de fogo e enxofre, o Sr. Fernando Pessoa, sacudiu de sobre o livro a poeira espessa que o envolvia (…), falou-nos do culto da Beleza entre os Gregos e, com toda a imponência — aquela imponência que lhe dá a admiração que todos os novos lhe dedicam —, proclamou are rotundo, que o autor daquela escorrência literária é o único entre os portugueses a quem o título d’esteta pode caber”, escreveu Álvaro Maia.
Considerando depois a teoria do historiador de arte alemão Johann Joachim Winckelmann sobre a imparcialidade da beleza na arte — que Pessoa citou no seu artigo –, o jornalista considerou o argumento do poeta como um “daqueles que voltam os bicos contra o argumentador”, acrescentando de seguida: “Sendo a arte grega o culto da beleza plástica e um perfeito concerto de harmonias e de linhas terrenas, a perros teria de se dar a Sr. Fernando Pessoa para me convencer de que os seus estetas possuem esse culto, sentem esse concerto. Se me dá licença (…) os seus estetas não vão além de simples devotos do orgasmo invertido; para d’isso nos capacitarmos bastará ler o livro do seu panegirisado. Uma coisa é ter veneração pela beleza plástica, como a maioria dos gregos; e outra, inteiramente diversa é a impulsão genésica, seja ela eterno ou homossexual”. A Botto chamou um “rebotalho” da sua geração, cujo “culto da beleza máscula” não era mais do que uma “ânsia de satisfação de uma carnalidade monstruosa”.
De acordo com um artigo do historiador José Barreto publicado no número 2 revista Pessoa Plural, “depois de alguma hesitação”, Fernando Pessoa optou por não responder “nem ao seu heterónimo nem, seriamente, a Álvaro Maia” (existe um rascunho da resposta a Campos no espólio pessoano, publicado em 1988 por Teresa Sobral Cunha, e uma carta dirigida a Pacheco em que o assunto de Maia é abordado que se mantém inédita). A este último limitou-se a apontar, na secção “Jornal” (onde eram noticiados e comentados acontecimentos ligados à vida social e cultural portuguesa) do número 5 da Contemporânea, em tom irónico, um erro de gramática: “Pede-nos o sr. Fernando Pessoa que indiquemos que houve um lapso ou erro de citação no trecho de Winckelmann, na forma que lhe deu o sr. Álvaro Maia ao transcrevê-lo do estudo de António Botto e o Ideal Estético em Portugal, em que apareceu traduzido. Onde o sr. Álvaro Maia transcreve ‘tem de ser concebida’, está na tradução transcrita ‘tem que ser concebida’ — exatamente como em português”.
Apesar de Fernando Pessoa não ter dado continuidade à discussão, a polémica acabou por estalar em fevereiro do ano seguinte. Foi por essa altura que a Liga de Ação dos Estudantes de Lisboa — um grupo de duas a três centenas de estudantes liderado por Pedro Teotónio Pereira, estudante monárquico e católico que frequentava o quarto ano do curso de Matemática da Faculdade de Ciências — começou a organizar na capital portuguesa várias iniciativas públicas contra dois acontecimentos que considerava “escandalosos”. O primeiro deles foi um baile na escola da Graça — uma espécie de festa de Carnaval onde teriam participado homens vestidos de mulheres que terminou com a detenção, julgamento e condenação de 16 pessoas. O escândalo provocado pelo baile foi tal que, uma semana depois, já se havia um movimento organizado, composto por alunos universitários. À sua frente estava Pedro Teotónio Pereira, que prometia meter na ordem os travestis da Graça e outros “senhores” com “maneiras femininas e elegâncias ridiculamente exageradas”.
O segundo acontecimento escandaloso foi a publicação de Sodoma Divinizada, de Raul Leal, pela editora Olisipo. Com o subtítulo Leves Reflexões Teometafísicas Sobre um Artigo, era uma longa resposta ao artigo de Álvaro Maia, na qual Leal comparava o ideal helénico com o cristão. De acordo com a cópia de um documento de Raul Leal que existe no espólio de Pessoa, consultado por José Barreto, foram impressos 350 exemplares de Sodoma Divinizada, que foram postos à venda pelo preço unitário de um escudo e cinquenta centavos. O livro foi recebido de forma hostil pela Liga de Estudantes e pelo diário católico e monárquico A Época, “que tentaram conotar a obra com o referido baile ‘escandaloso’, ambos descritos como sintomas da ‘vergonhosa desmoralização’ que, perante a inação da polícia, alastrava na sociedade portuguesa”, sintetizou Barreto.
Ao baile e à resposta de Raul Leal veio ainda juntar-se um terceiro elemento: a publicação de Decadência, de Judith Teixeira. O lançamento da primeira coletânea de poemas da autora — que já tinha publicado em vários jornais sob o pseudónimo de Lena de Valois e contribuído para a revista Contemporânea — foi noticiado a 16 de fevereiro pelo Diário de Lisboa e tornou Teixeira, até então uma perfeita desconhecida, famosa. O jornal A Época chamou-lhe, num artigo intitulado “Livros para o Fogo” de 25 de fevereiro de 1923, “um talento poético prostituído” que fez “gala da miséria repugnante”, devido aos poemas de Decadência que abordavam a homossexualidade feminina. Aquilino Ribeiro, num artigo publicado alguns meses depois no Diário de Notícias, defendeu-a, considerando-a uma “poetisa de valor”. Decadência também se tornaria num dos alvos dos estudantes lisboetas.
Indignados com a situação, os estudantes começaram a organizar concentrações, rusgas em livrarias e a distribuição de um panfleto — Dos Estudantes das Escolas Superiores de Lisboa — Aos poderes constituídos e a todos os homens honrados de Portugal –, no qual exigiam uma “reação pronta e implacável” à “última abominação”. Declarando que não queriam “tratar de política”, “aprofundar as causas ou apontar responsabilidades”, mas simplesmente denunciar a situação “desgraçada” de Portugal”, isto era, a derrocada moral e intelectual que os rodeava, os estudantes lisboetas pediram justiça a “quem manda”, defendendo que “o mal” era “mais fundo e mais avassalador” a cada dia que passava.
“Derrubaram-se todas as fronteiras do espírito entre a inteligência e a loucura, entre a beleza e a perversão”, afirmaram, garantindo que “Sodoma” estava a ressurgir ”nos livros e nos escritores, nos espíritos e nos corpos. “Atingiu-se a última abominação, aquela que nas tradições bíblicas fazia chover o fogo do céu.” Apelando aos “livreiros honrados”, a Liga de Estudantes pediu a expulsão dos “livros torpes”. “É necessário que os adeptos da infâmia caiam sob a alçada da lei, que um movimento enérgico de repressão castigue em nome do bem público. Que a justiça venha e implacável!”, terminava o panfleto. Segundo José Barreto, “os estudantes tinham sido provavelmente encorajados por notícias provenientes de Itália em fins de fevereiro, divulgadas pelo Diário de Notícias e por A Época, dando conta de idêntica campanha contra a literatura imoral, lançada naquele país por ordem de Mussolini”.
Os argumentos apresentados pelos estudantes acabaram por convencer as autoridades. O governador civil de Lisboa, o major Viriato Lobo, ordenou de imediato a apreensão e destruição dos livros “imorais”. Canções, Sodoma Divinizada e Decadência foram retirados das livrarias e queimados.
Desta vez, Fernando Pessoa não ficou calado: sob a pena de Álvaro de Campos, fez sair, no mês de março de 1923, o manifesto Aviso Por Causa da Moral, remetido a partir da “Europa”. Neste, o heterónimo pediu aos “meninos” que estudassem, que se divertissem e, sobretudo, se calassem. “Estudem ciências, se estudam ciências; estudem artes, se estudam artes; estudem letras, se estudam letras; Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte. Mas quanto ao resto, calem-se. Calem-se o mais silenciosamente possível”, escreveu Campos. Leal também lançou um novo panfleto, Uma Lição de Moral aos Estudantes de Lisboa e o Descaramento da Igreja Católica, presumivelmente depois do texto de Álvaro de Campos. Neste, o escritor acusou diretamente o líder dos estudantes, Pedro teotónio Pereira, e a Igreja Católica, que acusou de ter organizado “na sombra” a campanha moralizado e de ter estado na origem das apreensões.
A polémica continuou com mais uma resposta por parte dos estudantes, um manifesto onde davam Raul Leal como doido. O autor de Sodoma Divinizada foi o primeiro a reagir, com um papel intitulado Para os sórdidos estudantes de Lisboa, no qual, segundo a discrição de José Barreto, usou “termos muito mais agressivos, em flagrante contraste com o tom do seu anterior panfleto, mais sereno, pedagógico e paternalista — pelo menos para com os estudantes, já que o tom usado para com a Igreja era bastante agressivo”. Uma vez que só se conhece um exemplar deste texto, recentemente vendido num leilão de livros, o historiador avança com a possibilidade de que, seguindo o conselho dos amigos, Leal terá desistido da ideia de o divulgar, o que “lhe poderia ter causado graves dissabores e um processo de difamação”. Entre as minhas acusações que fez, Leal fazia “uma insinuação grave ao comportamento sexual dos líderes da liga estudantil, que acusava de souteneurs de homens”.
rá sido então Fernando Pessoa a responder com o panfleto Sobre um manifesto de estudantes, que foi distribuído pelas ruas de Lisboa. Assinalando que tinha sido divulgado “há dias” uma “estúpida, vil e entristecedora blague” sob a forma de um manifesto de estudantes, contra o altíssimo espírito, e o não menos alto caráter, do dr. Raul Leal”, Pessoa começava por defender que Sodoma Divinizada era “um notável documento de verdade e de nobreza, que, sendo dirigido aos estudantes de Lisboa, nenhuma ofensa a eles” continha, “a não ser que dizer-lhes que estudem o seja” e que o texto em que Leal era acusado de louco era estúpido, vil e entristecedor. “Só a última canalha das ruas insulta um louco, e em público. Só qualquer canalha abaixo dessa imita esse insulto, sabendo que mente.”
Acusando os estudantes de Lisboa de atacarem “um homem que não os atacou, que está sozinho ou tão pouco acompanhado”, Pessoa considerou-os “estúpidos e sórdidos” por não serem capazes de “conceder a possibilidade de um talento alheio que não compreendem” e preferirem “rebelar-se contra a alheia dignidade, como se a existência dela os humilhasse”. “É por essa mesma estupidez, e esta mesma complexa vileza, que o manifesto dos estudantes, sendo que é de jovens, é entristecedor. Moços, cuja inteligência deveria ser, não por certo disciplinada, porém álacre e desperta, rastejam assim na imbecilidade.” Mas Pessoa não os culpava totalmente — eles eram um produto da sociedade em que viviam, da “Monarquia dos Bragança e da República Portuguesa”, da “educação fradesca e jesuítica” e da “anulação do espírito crítico e científico”. Era por isso que valia “o esforço” da publicação de uma resposta, cuja intenção os transcendia. “É isto um dever social.” Segundo Barreto, entre 10 e 18 de maio de 1923, foram enviados 205 de exemplares do manifesto pelo correio.
De António Botto, conhece-se pelo menos uma resposta — o panfleto O Meu Manifesto a Toda a Gente, no qual o poeta descreveu o seu livro, acabado de apreender, como “um raro ensinamento de beleza e uma grande lição de estética a todas as mocidades”. Afirmando que “alguns dos mais altos espíritos” que o acompanhavam, os mais altos do seu tempo, lhe diziam que as suas “Canções da Renascença” eram “constantemente insultadas” e que o seu nome era “diariamente agredido”, Botto admitia que lhe custava a acreditar que assim fosse. O poeta vivia “tanto nas garras” da sua arte que não ouvia nada, nem mesmo “os uivos da vilanagem”. Este texto — que incluía uma citação de uma alegada “carta particular de Álvaro de Campos” — é datável de cerca de 1923, de acordo com Jerónimo Pizarro e Nuno Ribeiro, que reproduziram, na edição de Canções da editora Guimarães, o exemplar do texto que existe no espólio de Fernando Pessoa na Biblioteca Nacional. Curiosamente, o verso da folha foi usado por Pessoa para desenhar o mapa astrológico de António Botto. No espólio pessoano existe ainda uma cópia dactilografada de uma entrevista a António Botto, dada a conhecer pela primeira vez na mesma edição, “que talvez tenha sido redigida por Pessoa com pouca ou nenhuma participação de Botto”. Não se sabe se chegou a ser distribuída.
Depois de meses de discussão, a polémica finalmente abrandou. Não se publicaram mais textos a partir de maio de 1923, “embora a controvérsia fosse tudo menos esquecida e a controvérsia fosse tudo menos esquecida e os atos de apreensão continuassem”, como salientou Anna Klobucka. Esta também não seria a última vez que a declarada homossexualidade de Botto causaria burburinho na imprensa portuguesa. A 21 de julho de 1934, por ocasião do lançamento do volume de poesia Ciúme, José Régio desencadeou, sem querer, uma nova controvérsia ao admitir ter gostado da mais recente obra de Botto num artigo do Diário de Notícias. Esta desenrolou-se nas páginas da Fradique e opôs Régio a Tomás Ribeiro Colaço, diretor da revista. Manifestaram-se ainda a favor de Botto Marques Matias e Artur Augusto, ligados à revista Momento.
De acordo o Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, Pessoa terá ponderado entrar na discussão, conforme mostra o rascunho de uma carta dirigida a Ribeiro Colaço que, segundo Parreira da Silva, não terá sido enviada. O poeta voltou a pegar no tema vários meses depois, altura em que publicou, no Diário de Notícias, uma recensão de Ciúme. “Pode, pois, Botto agradecer a Pessoa o facto de este lhe ter dedicado tanto tempo do seu labor de crítico literário, ajudando, assim, a chamar a atenção para uma obra tantas vezes incompreendida e desprezada pelos piores motivos. Pessoa procura sempre centrar-se no essencial da escrita bottiana, deixando o acessório para os outros”, escreveu Manuela Parreira da Silva. Para Anna Klobucka — ainda que Pessoa viesse a ter alguma influência no esquecimento que depois se abateu sobre Botto e sobre muitos dos modernistas portugueses, ofuscando todos eles —, Fernando Pessoa “teve um mérito enorme ao procurar divulgar, dar mais visibilidade, mais ênfase à escrita de Botto”. “E foram genuinamente muito amigos, isso não está em dúvida”, afirmou ao Observador.
De facto, o diálogo entre António Botto e Fernando Pessoa não se ficou pelo escândalo da publicação da segunda edição de Canções. Além da amizade que os unia — de que são testemunho algumas cartas que chegaram aos dias de hoje — os dois poetas firmaram uma colaboração que durou até perto da morte de Pessoa, em 1935. De acordo com a listagem feita por Jerónimo Pizarro e Nuno Ribeiro na sua edição de Canções, publicada no âmbito da coleção “Pessoa Editor” da Guimarães, depois do estudo e defesa sistemática desta coletânea de poemas, o autor de Mensagem prefaciou ainda Motivos de Beleza (1923), fez estudos críticos para o volume Cartas que me foram devolvidas (1932) e para a novela dramática António (1933). Pessoa também co-editou com Botto uma Antologia de Poemas Portugueses Modernos. Esta começou a ser publicada em fascículos em 1920 (saíram três nesse ano) mas só foi terminada já depois da morte de Pessoa, em 1944, por Botto, que acrescentou uma seleção de poetas feita por si e a homenagem “Poema de Cinza”, escrita e publicada na altura do terceiro aniversário da morte de Pessoa, em 1938.
Enfim: “Não é preciso referenciar todos os textos e projetos pessoanos que versam sobre António Botto para perceber até que ponto estes são tão abundantes que permitiriam novos e demorados estudos sobre ambos”, escreveram Pizarro e Ribeiro. E talvez até chegar a novas e surpreendentes conclusões. No ensaio O Mundo Gay de António Botto, Anna Klobucka avança com a possibilidade de Botto ter tido uma influência mais direta sobre a obra pessoana, nomeadamente sobre o poema em inglês Antinous, que sofreu alterações depois da publicação de Canções. Antinous, que tinha sido divulgado em 1918, foi republicado por Pessoa precisamente em 1921, a data da primeira edição do livro de Botto. Para esta edição, Fernando Pessoa eliminou do texto do poema todas as palavras e formulações que poderiam indicar um valor negativo sobre a homossexualidade, o que levou a investigadora a especular se isso não teria sido influenciado “pelo aparecimento de Botto e da sua poesia descomplexadamente homoerótica”.
“É puramente especulativo”, frisou Anna Klobucka em conversa com o Observador, admitindo acreditar que “pode muito bem ter sido esse o caso” e Pessoa “ter sido realmente influenciado pelo exemplo tão desembaraçado e tão direito do discurso que Botto produzia”. “Será que as Canções tiveram algum papel [nas mudanças em Antinous]? A amizade com Botto terá começado por essa altura. Quase de certeza que eles se terão conhecido nesse intervalo entre a primeira e a segunda versão de Antinous. Faz sentido que assim seja por causa da cronologia”, disse ainda.
A história das Canções de António Botto também não ficou por aqui. Talvez tendo consciência de que era o seu melhor trabalho, Botto não parou de alterá-lo, acrescentando, eliminando ou deslocando poemas. A obra chegou também a ser dividida em vários livros e o nome a ser ligeiramente alterado (a terceira edição, por exemplo, teve o nome de As Canções, voltando a chamar-se apenas Canções na quarta, publicada no mesmo ano de 1930). As Canções eram tantas que o próprio Pessoa tinha na sua biblioteca, hoje conservada na Casa Fernando Pessoa, cinco exemplares da obra — dois da segunda edição, publicada por si na Olisipo, um da terceira, um da quarta e ainda um da quinta (1932). Foi esta última que serviu de modelo à tradução que fez entre 1932 e 1933, cuja publicação já não testemunhou. Também não chegou a conhecer a sexta (1941), muito aumentada, a sétima (1944) e a oitava (1956) edições. Esta última foi publicada apenas três anos antes da morte de António Botto no Brasil.
Curiosamente, as Canções foram também uma preocupação para Pessoa até ao final da sua vida. No espólio pessoano, existe um plano editorial com o título “António Botto”, datável de 1935, ano da morte do poeta. Neste — reproduzido na edição de 2010 de Canções da editora Guimarães —, Pessoa mostrou o aparente interesse em compilar e organizar todos os textos que tinha escrito até então sobre Botto, desde o prefácio de 1923 ao texto introdutório para a tradução de Canções, que concluiu a pedido do seu autor em 1933. Este último nunca chegou a ser publicado — a edição de Songs (1948), publicada já depois da morte do autor de Mensagem, não incluiu o prefácio de Pessoa, por decisão de António Botto.
Dona Carminda
António Botto publicou o livro seguinte ainda em 1923, quando a polémica ainda estava a arrefecer. Intitulado Motivos de Beleza, este incluía uma coletânea de poesia e a versão definitiva de Flor do Mal, “um esboço em três atos” e um prefácio da autoria de Fernando Pessoa. Mantendo o ritmo que lhe foi característico até ao final da vida, lançou, um ano depois Curiosidades Estéticas, com prefácio de Mário Saa e capa de José de Almada Negreiros. Sobre o desenho de Almada, João Gaspar Simões escreveu muitos anos mais tarde: “Era a única imagem física que todos nós, em Coimbra, tínhamos desse aristocrata do sodomismo pátrio”, que o artista retratara “com finesse, agudeza, segundo sentido, ou ambiguidade, como hoje se dirá”. Data também de 1924 a estreia de Botto na prosa, com a publicação de Cartas que me foram devolvidas, no número 1 da revista Athena de Fernando Pessoa (que teve apenas cinco números). Estas foram depois reunidas em livro em 1932, com um estudo crítico de Pessoa.
Nesse mesmo ano de 1924, partiu para Angola para ocupar o lugar de funcionário público na Repartição Política e Civil do Zaire. Não se sabe ao certo por que motivo António Botto decidiu partir para África.António Augusto Sales, na biografia de 1997 Botto: real e imaginário, especulou que a nomeação para a Repartição do Zaire ter-se-ia devido ao “incómodo e perturbador vozeiral criado à sua volta e alimentado pela vaidade pessoal, representando “uma forma diplomática de afastamento temporário desagradável para o poeta”. Independentemente das razões que levaram Botto a Angola, a estadia foi curta. O poeta regressou a Portugal um ano depois, sendo colocado no posto antropométrico do Governo Civil de Lisboa. Ainda em 1925, publicou mais uma obra de poesia: Piquenas Esculturas, muito elogiada por Ferreira de Castro, e, em 1927, Olympíadas.
Terá sido dois anos depois, segundo Maria da Conceição Fernandes, que António Botto terá iniciado um relacionamento com Carminda da Conceição Silva Rodrigues (natural de Santiago do Cacém), conhecida por Dona Carminda, com quem viveria até ao final da sua vida. Esta informação parece ser confirmada pelas cartas trocadas entre Botto e Ferro nos últimos meses de 1929 e fevereiro de 1930. De acordo com Anna Klobucka, “as missas de 1929 contêm queixas amargas sobre as dificuldades de alojamento, com Botto transitando de pensão em pensão, ainda aparentemente sozinho”. Já as cartas datadas dos primeiros meses de 1930, dão conta da existência de uma presença feminina na vida do poeta — à qual Botto chamava “minha enfermeira” —, com o poeta a pedir dinheiro a António Ferro para pagar uma viagem dos dois à Guarda.
A investigadora polaca acredita que o pedido de ajuda financeira e “a circunstância de Carminda Rodrigues passar a acompanhá-lo naquela mesma altura (…) parecem relacionados com uma crise de saúde física e mental”. “Esta crise combinaria a recorrência de ‘uma velha doença descuidada’ com o que hoje seria provavelmente diagnosticado como uma depressão aguda”, escreveu Klobucka, referindo mais à frente no seu ensaio que “parece razoavelmente seguro especular que o desamparo material de Botto terá jogado um papel importante na decisão que o levou a procurar ou aceitar um contrato de convivência doméstica convencionalmente heteronormativa”, que é muitas vezes apontado como uma contradição na biografia de António Botto.
António Botto continuou a publicar regularmente, sobretudo poesia, estreando-se também nos contos infantis e no teatro, com a peça Alfama (encenada em junho de 1933 no São Carlos pela companhia de Ilda Stichini e publicada em livro no mês seguinte), sobre os habitantes de uma casa de hóspedes no bairro de Alfama, na véspera da noite de Santo António, e a “novela dramática” António (1933), que se passa numa casa de campo e que tem como tema central a relação de António e Luiz. Ambos trabalhos exploram, de maneiras diferentes, a temática homossexual. A partir de cerca de 1934, começou a colaborar assiduamente em vários jornais diários, nomeadamente no Diário de Lisboa. Em 1937, Botto, que vivia na Rua da Madalena, mudou-se para o terceiro andar do n.º 56 da Rua Tenente Ferreira Durão. Data também desse ano a sua nomeação para o lugar de escriturário de 2.ª classe do Arquivo Geral de Registo Criminal e Policial, sendo mais tarde promovido, ainda em 1937, a escriturário de 1.ª classe.
Fora do escritório, a vida fazia-se pelos cafés da Baixa lisboeta. Fernando Pessoa tinha morrido em 1935, mas as tertúlias continuam à mesa do Martinho da Arcada e de outros estabelecimentos. Esta rotina foi interrompida a 9 de novembro de 1942, quando, depois de oito anos de serviço, Botto foi expulso da função pública, sem direito a qualquer pensão. No parecer do Conselho Disciplinar da Justiço, consultado por Maria da Conceição Fernandes, o poeta foi considerado como carecendo “da necessária idoneidade moral para o exercício das suas funções”. Em causa estaria o comportamento pouco adequado de António Botto no Arquivo Geral de Registo Criminal. De acordo com o mesmo parecer, Botto teria “desacatado uma ordem verbal de transferência dada pelo 1.º oficial” e feito “versos”, que recitava nas “horas de serviço, prejudicando assim não só o rendimento dos serviços mas a sua própria disciplina interna”. E o mais grave de tudo: não teria mantido “na repartição a devida compostura e aprumo, dirigindo galanteios e frases de sentido equívoco a um seu colega, denunciado tendências condenadas pela moral social”.
António Botto intensificou a sua colaboração com a imprensa depois do seu despedimento da função pública, passando a viver, tanto quanto se sabe, exclusivamente da escrita. A partir de 1942, começou a escrever regularmente para Os Sports, um jornal de grande tiragem que era publicado às segundas, quartas e sextas-feiras. Além de cobrir a atualidade desportiva, a publicação tinha também um espaço dedicado à crítica literária e de espetáculos, onde Botto escrevia semanalmente sobre cinema, teatro, ópera e até circo. O poeta ficou no jornal até meados de 1945, altura em que, ao que tudo indica, terá saído pelo seu próprio pé. Ainda assim, na redação do jornal diziam-se coisas sobre ele. Carlos Pinhão, que começou a trabalhar n’Os Sports depois do jornal mudar de nome para Mundo Desportivo, a 6 de abril de 1945, contou, anos mais tarde, que corria o boato de que Botto tinha sido demitido da função pública “por dizer piropos aos colegas”. Uma história que não era assim tão mirabolante quanto isso, de acordo com o despacho do seu despedimento.
A par da colaboração com Os Sports e outros jornais, depois de 1942, Botto deu continuidade à publicação de livros e chegou até a escrever textos para emissões de rádio. Apesar desta atividade frenética (em 1944, o Rádio Clube Português convidou-o para dirigir as emissões infantis, segundo a biografia de Maria da Conceição Fernandes), em meados da década de 1940, o poeta começou a sentir-se cada vez mais insatisfeito com o meio cultural português. Sentia-se desprezado, incompreendido e “cada vez mais repudiado pelos meios intelectuais”, como escreveu Maria da Conceição Fernandes em António Botto — Um Poeta de Lisboa. Foi nessa altura que terá tomado a decisão de ir para o Brasil, ainda que não se saiba exatamente quando e porquê o terá feito.
Numa carta enviada ao escritor brasileiro João das Neves, já depois da sua chegada ao Brasil, António Botto admitiu estar “imensamente cansado de Portugal, ou de alguns portugueses indesejáveis”. “Sonho com a Terra de Santa Cruz, e resolvo, em dois meses, com a santa companheira que o amor me deu, vir vê-la custasse o que custasse. (…) Trófeus de luz me chamavam da capital Federal. O imenso território iluminado emocionou a minha sensibilidade ansiosa de ternura e de sossego”, relatou a Neves. Em Portugal, porém, fez de tudo para esconder o verdadeiro motivo da viagem, fazendo correr a ideia de que estava a deslocar até ao Brasil em negócios. Um mês antes da partida, até solicitou à Livraria Portugal um documento em que se declarava que “o Exm.º Senhor António Botto vai ao Brasil em viagem comercial por conta desta firma da publicação e venda dos seus livros no mercado brasileiro”. O documento é datado de 31 de julho de 1947.
Para Maria da Conceição Fernandes, contudo, “a fuga de António Botto transcendia todo o clima de calúnias, todas as inimizades e até as próprias instituições”. Não era apenas disso que se tratava. Botto fugiu, sobretudo, “dele próprio da sua decadência física, dos seus traumas, do avizinhar da velhice”, esperando, talvez, que, num lugar onde não tivessem conhecido a exuberância da sua juventude, o aceitassem tal como ele era agora e reconhecessem, então e simplesmente, o seu valor como ser humano e sobretudo como poeta”. Outra questão que terá pesado terá sido a “velha doença descuidada”, que muitos autores apontam como sendo sífilis, ainda que, segundo Anna Klobucka, não existam dados suficientes para o afirmar. Apesar de a investigadora não ter tido acesso às pastas reservadas do espólio na BNP, nomeadamente a que contém os registos médicos, a investigadora sabe que entre esses documentos não existe nada que fale nessa doença. “É isso que se diz — que ele tinha sífilis —, e provavelmente é verdade, mas não há nenhuma documentação conclusiva a esse respeito”, afirmou a autora de O Mundo Gay de António Botto ao Observador.
António Botto e Carminda Rodrigues partiram de Lisboa a 17 de agosto de 1947, dia em que o poeta celebrou o seu 50º aniversário. Antes disso, foram organizados dois recitais de homenagem e despedida a Botto, um em Lisboa e outro no Porto, que tinham como objetivo, segundo Gaspar Simões, angariar fundos “para custear as despesas da sua partida para o Brasil”. António Manuel Couto Viana no livro Coração Arquivista, referindo-se particularmente ao do Porto, contou que “fora um fracasso pois o público não acorrera a festejar o autor das Canções”. No de Lisboa, colaboraram Amália Rodrigues, Aquilino Ribeiro, João Villaret e Palmira Basto, mas o dinheiro angariado provavelmente não terá chegado. A viagem foi paga com a ajuda do banqueiro Ricardo Espírito Santo, que contribuiu com 40 contos. Na despedida, Botto disse: “Levo comigo os meus versos, a minha alma e a minha angústia”. Não podia ser mais verdade.
Apesar do esquecimento em que António Botto sentia que a sua obra tinha caído, houve um breve momento, antes da sua partida para o Brasil, em que os seus poemas foram recuperados e o seu nome elogiado por uma geração de escritores que não a sua — a geração da presença. A revista presença foi fundada a 10 de março de 1927 por um grupo de estudantes de Coimbra — Branquinho da Fonseca, João Gaspar Simões e José Régio — com o objetivo de proclamar a originalidade da arte proveniente “da parte mais virgem, mais verdadeira e mais íntima de uma personalidade artística”. A publicação, dirigida durante os primeiros anos por Branquinho da Fonseca, levou também a cabo um importante trabalho de divulgação dos autores esquecidos da geração anterior, nomeadamente daqueles ligados ao Orpheu.
Luís de Montalvor, Fernando Pessoa e seus heterónimos, Mário de Sá-Carneiro, José de Almada Negreiros, Ângelo de Lima, Raul Leal, Mário Saa e António Botto foram alguns dos escritores recuperados e pelos presencistas, que também publicaram, a partir do número 6, “tábuas bibliográficas” que “contribuíram para relançar a geração órfica na cena literária”, refere o Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português. Uma destas foi precisamente dedicada a Botto (número 20, de abril/maio de 1929), escritor que, segundo David Mourão-Ferreira, “muito influenciou os ‘presencistas’ (inclusivamente o próprio José Régio, que viria a dedicar-lhe um belo estudo) não todavia pelo conteúdo dos seus poemas, mas pela técnica versificatória em que foi mestre desarticular em ‘kola’ rítmicos os metros radicais”.
Botto começou a colaborar com a revista coimbrã em março de 1928, antes até da publicação da sua “tábua bibliográfica” em 1929. Essa contribuição foi acompanhada por rasgados elogios da parte de Régio e Gaspar Simões, que procuraram “não só defender o lado humano do poeta mas, sobretudo, ajuizar criticamente e concluir do mérito e do valor inequívoco da sua obra”, escreveu Maria da Conceição Fernandes. José Régio — que, como apontou Mourão-Ferreira, se interessou especialmente pela obra do poeta de Canções, escrevendo vários ensaios acerca de Botto antes e depois da presença — publicou a 13 de junho de 1928 (curiosamente o dia do aniversário de Fernando Pessoa) o artigo “António Botto”, onde desenvolveu “a sua tese de defesa da poesia botiana”. Apontando que “António Botto tem sido considerado o nosso primeiro poeta esteta”, o que “já é muito”, Régio questionou o que é “o esteta ideal” tendo em conta “as verdades extra-estéticas que tenderão a sobrepôr-se à sensibilidade puramente estética que o Artista delas tinha” para chegar à conclusão de que o ideal estético “corrupto só existe na nossa pobre humanidade”.
“Se é verdade, em suma, que na base da Arte Magnífica de António Botto está a sua fatalidade de homem; — também é verdade que António Botto continua a ser dos nossos mais perfeitos estetas”, escreveu o também escritor, acrescentando: “Somente eu procuro despir aqui a palavra ‘esteta’ de toda a hipocrisia ou de toda a ilusão”. Elogiando a “espontaneidade da sua elegância [de estilo], a sobriedade dos seus recursos, a simplicidade dos seus requintes, a sinceridade impúdica, ousada, ingénua, subtil e pérfida”, Régio terminou o seu texto declarando que Botto realizou “na nossa língua qualquer coisa como uma ‘re-habilitação’ e uma ‘re-animação’ das palavras”.
Antes da presença já Régio tinha dedicado algumas linhas ao autor das Canções. Na sua sua dissertação de licenciatura em filologia românica (que viria mais tarde a ser publicada em livro com o título Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa), que frequentou na Faculdade de Letras de Coimbra, o escritor (que na altura respondia pelo nome de José Maria dos Reis Pereira) descreveu a obra de Botto da seguinte forma: “António Botto é um clássico — no mais amplo sentido da palavra. Mas há na sua Arte esquisitices de ritmo, subtilezas de ironia, recantos de intenção e sínteses de expressão — que fazem do Poeta o mais aristocrata, o mais pessoal intérprete de certos aspetos da sensibilidade contemporânea”, citou Eduardo Pitta na introdução à edição de Canções e Outros Poemas, publicada em 2008 pela Quasi, frisando que este foi “o primeiro de vários ensaios de fundo que o autor de Poemas de Deus e do Diabo” dedicou a Botto, todos eles “notáveis exemplos de crítica compreensiva” que, infelizmente, “não fizeram escola”.
Depois do texto inaugural da presença, a 19 de setembro de 1957, José Régio publicou no Diário de Notícias o artigo “Evocando um Poeta”, afirmando-se mais uma vez como um dos grandes defensores de António Botto. Relatando que lhe tinha chegado às mãos um jornal brasileiro que considerava o autor “um dos seis maiores poetas portugueses”, Régio resumiu a vida do poeta até àquele mês de setembro, em que estava “doente numa casa de saúde num quarto modesto e pobre”, vítima dos “erros, quedas e desconcertos”, mas também “dos fados”. É que “sempre a celebridade de António Botto despertou ciúmes e invejas. Além que sempre a incompreensão acompanhou a sua obra”. Recordado o momento em que um “também literato” lhe disse que tinha sido a presença a inventar “a superioridade de António Botto”, José Régio defendeu que, “se alguém a inventara, fora Fernando Pessoa”. Só que a verdade “é que nem Fernando Pessoa nem as gentes da presençainventaram nada, se se trata da excecional talento de António Botto. Descobriu, sim, ou reconheceu Fernando Pessoa que, na poesia portuguesa assumia António Botto uma posição que o mesmo Fernando Pessoa tinha por única entre nós: a do puro, ou mais puro esteta”.
Outro presencista que se dedicou ao estudo (e elogio) da obra bottiana foi João Gaspar Simões. Autor de “António Botto e o Problema da Sinceridade”, texto que publicou no número 24 da revista presença, em janeiro de 1930, Gaspar Simões já tinha antes disso demonstrado admiração pela obra de António Botto, que conheceu “primeiro” carteando-se “com ele”, como contou no livro Retratos de Poetas que Conheci. Numa carta também datada de 1930, que hoje se encontra no espólio de Botto na BNP, Simões contou a Botto que tinha acabado de ler Canções e de “sair da intimidade da sua alma”. “Que admirável intuição a de reunir as suas poesias num só volume com este, sem títulos, nem vestígio algum de terem sido escritas com outra intenção além da de se exprimir!”, escreveu João Gaspar Simões, considerando o livro de poesia como “o jornal íntimo mais belo de toda a poesia portuguesa”.
António Botto começou por viver em São Paulo, na Rua 24 de Maio, mudando-se por volta de 1951 para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até à data da sua morte. Aos poucos, a sua situação foi-se deteriorando, como testemunham as cartas trocadas com os amigos em Portugal. As dificuldades financeiras eram cada vez maiores, e a desilusão e desespero também. O sonho brasileiro, afinal, não se realizou. “Não sei o que é que o levou a fazer isso, se havia uma indicação fiável de que poderia ter uma segunda vida no Brasil, uma carreira razoavelmente bem sucedida”, admitiu Anna Klobucka. “Mas, em qualquer dos casos, isso não aconteceu. Foi para o Brasil em boas condições, mas depois o dinheiro acabou e viveram numa série de pensões baratas, apartamentos e quartos alugados com muito más condições. Aquilo deve ter sido uma vida muito triste.”
Em 1945, António Botto pediu a repatriação. Tal como aconteceu antes da sua partida para o Brasil, tentou angariar apoios “a favor do Sr. Construtor e Arquiteto António Botto”. Botto gostava de desenhar e, ao que parece, no Brasil não só se dedicou ao desenho como chegou mesmo a expor alguns dos seus trabalhos. Ilustrou alguns dos seus poemas para a imprensa brasileira e realizou também alguns projetos na área da arquitetura. De acordo com Maria da Conceição Rodrigues, existe no espólio da BNP “um projeto de um complexo habitacional a construir em S. Paulo”.
O projeto de regressar a Portugal não deu em nada e Botto virou-se mais uma vez para os seus poemas, lançando novos livros e promovendo novas edições. Mas a escrita do “único esteta” em Portugal já não era a mesma. “Há algumas coisas muito boas [no espólio], pequenos poemas muito bem conseguidos, mas muito do que existe é muito mau em termos de escrita, muito desorganizado, de muito má qualidade. Não corresponde realmente àquele Botto dos anos 20 e 30”, explicou Anna Klobucka. “Talvez o Botto sempre tivesse tido rascunhos muito maus e depois umas coisas muito boas, mas formalmente não era bem assim. Vê-se aquele declínio, aquela decadência em que ele entrou em termos mentais mas também em termos criativos e estéticos.”
Em 1955, publicou o seu último livro: Fátima. Poema do Mundo, no âmbito do XXXVI Congresso Eucarístico. De acordo com a edição de 2010 de Eduardo Pitta, a obra “dá a medida da profunda crise de religiosidade que o acompanhou nos anos de vida”. “Se nos lembrarmos que a reunião dos seus contos para a infância, em 1942, assumira o beneplácito explícito da hierarquia da Igreja — ‘Aprovados em Portugal por Sua Eminência o Cardeal Patriarca’, lê-se no frontispício do volume —, Fátima surge como corolário dessa revisão de vida e obra.” Neste longo poema, como apontou Pitta, “o esteta sensualista de Piquenas Esculturas (1925)”, deu lugar “ao crente face à expiação, alguém que, vamos supor, tendo lido Heidegger, sabe que o homem ‘não está apenas carregado de erros, está em falta”. A mudança formal também foi grande — Fátima segue a métrica tradicional, lembrando os poemas populares que terão servido de inspiração a Botto para escrever os seus primeiros versos. É também deste ano que data o “Hino de Nossa Senhora do Rosário de Fátima” (mais conhecido por “Avé de Fátima”), um dos hinos mais famosos a Nossa Senhora de Fátima. Segundo a biografia do autor disponível no site da união de freguesias de Alvega e Concavada, Botto terá sido escrito o poema para tentar angariar algum dinheiro para o seu regresso a Portugal.
Em 1956, adoeceu gravemente, sendo obrigado a hospitalizar-se. Segundo as datas das cartas que lhe foram enviadas por Carlos Drummond de Andrade, Botto terá permanecido no Hospital da Santa Casa do Rio de Janeiro (enfermaria 14, quarto 18) de janeiro a maio de 1956. A doença não deu tréguas até ao final da vida de António Botto, mas não foi da alegada sífilis que o poeta de Canções acabou por morrer — quase surdo, foi atropelado a 4 de março de 1959 enquanto atravessava a Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Botto foi imediatamente transportado para o Hospital Miguel Couto e, dois dias depois, para o de Sousa Aguiar. Acabou por não sobreviver à fratura do crânio causada pelo carro do governo brasileiro. Morreu no dia 16, pelas 17h, sem ter chegado a acordar do estado de coma em que entrou depois do atropelamento. Tinha 61 anos. Foi sepultado no cemitério de S. João Batista, na cidade do Rio de Janeiro.
Os restos mortais de António Botto, que sempre manifestou o desejo de ser sepultado em Portugal, foram trasladados seis anos depois, em outubro de 1965. Ficaram à guarda do Instituto de Alta Cultura durante mais de um ano até que, a 17 de novembro de 1966, depois de vários impasses burocráticos, foram depositados no gavetão n.º 1952 da Rua 17 do Cemitério do Alto de São João, em Lisboa. Às cerimónias fúnebres, assistiram familiares, entidades oficiais, amigos, poetas e escritores — como José Régio, David Mourão-Ferreira, Natália Correia e Ferreira de Castro —, artistas plásticos, atores e muitos outros ligados ao mundo das artes. Coube a José Galhardo, poeta, dramaturgo e amigo próximo do autor de Canções, dizer algumas palavras. No seu discurso, Galhardo lembrou a personalidade original do poeta, o esteticismo da sua obra e “o contraste violento entre uma vida humana repleta de amarguras” e “uma vida literária repleta de triunfos — tantos que marcaram um dos momentos mais felizes da nossa literatura nacional”.
Depois de 1959, pouco mais se ouviu falar de António Botto. O seu nome só voltou a ganhar algum destaque nos anos 70, graças ao trabalho de alguns críticos e, sobretudo, ao de Jorge de Sena e Natália Correia que, “numa época em que a censura estendia vigorosamente as suas malhas”, foram capazes de “defender a poesia bottiana”, para recorrer às palavras de Maria da Conceição Fernandes. Tanto Sena como Correia escolheram incluir poemas de Botto em antologias — o primeiro em Líricas Portuguesas(1958) e a segunda na mal-afamada Antologia da Poesia Erótica Portuguesa (1966), proibida pela censura –, procurando defendê-lo dos injustos ataques de que foi alvo no seu tempo e realçando a modernidade da sua poesia.
No prefácio do primeiro volume de Líricas Portuguesas, Sena, considerando António Botto “uma das grandes forças da poesia portuguesa, se bem que uma das menos confessadas e reconhecidas”, falou na “aguda sensibilidade expressiva e rítmica” de um poeta “moderno”, autor de versos que “transcendiam por completo a tradição literária de que provinham”. De acordo com Sena, Botto foi capaz de “transformar o versilibrismo pós-simbolista (…) em microdramas de uma subtileza psicológica e emocional por vezes admirável, brevíssimos monólogos dramáticos, densos da amarga teatralidade dos encontros e das separações eróticas, em que os versos desarticulados ou as pausas e os intervalos estróficos adquirem uma poderosa capacidade expressional”.
Sobre o modo como os seus versos — e ele próprio — foram recebidos, Sena escreveu: “O poeta apenas veio a ser vítima menos dos problemas da vida (que outros têm vivido igualmente, sem afligirem a crítica), que da sua ao mesmo tempo ingénua e presunçosa ânsia de (…) segurança e aplauso, numa cultura onde só o triunfo dos medíocres se consente (e livres então de serem desonestos). E, sobretudo, vítima de uma atitude geral que poderia resumir-se assim: em Portugal, neste século, cada geração ou grupo tem todo o Botto que merece”. Natália Correia, no texto da sua Antologia que antecede os poemas de Botto, considerou que “a suprema originalidade de António Botto residia, sobretudo, no desassombro com que procurou “redimir o lado negro do erotismo, disputando luminosamente a homossexualidade a uma maldição que até aí a aprisionara à grilheta da sátira ou da musa obscena”.
Atualmente, António Botto é um nome pouco conhecido do nome literário português, que surge quase sempre associado a Fernando Pessoa. Como se não tivesse personalidade própria, interesse por si só. “Pessoa é, até certo ponto, um problema no modernismo português porque a escrita dele é avassaladora. É tão extraordinária que realmente ofusca outros autores e sobretudo autores que não tiveram uma ligação próxima a Pessoa”, afirmou Anna Klobucka. “Pelo menos Botto e Leal estão no palco, por assim dizer. Como personagens secundárias, mas ainda existem. E depois há outros autores que realmente caíram no esquecimento por não terem muito a ver com os circuitos pessoanos, com o Orpheu ou com o grupo da presença. E isso inclui quase todas as mulheres.” Mas se este não é o caso de Botto, porque é não se fala mais sobre ele?
Um dos problemas parece ser a falta de bom material crítico sobre o poeta. Durante várias décadas, prevaleceu na academia portuguesa uma visão depreciativa da obra bottiana, em parte incentivada por estudos feitos por alguns críticos muito conceituados. Foi o caso de Óscar Lopes que, em finais dos anos 80, denunciou António Botto como um “mito de um talento que não resiste à leitura atenta”: “As Canções falham inteiramente, até por simples falta de inteligência e de cultura, no seu visível intuito de recriar a lírica anacreôntica em tempos modernos. O culto da sensualidade, do vinho, o seu específico donjuanismo ou narcisismo, o registo das vicissitudes de um amor escondido, não recuperam a dignidade dos predecessores”, afirmou no volume de história literária Entre Fialho e Nemésio, declarando mais à frente que “o mau gosto é por vezes atroz”. Opiniões como a de Lopes, que “provavelmente várias pessoas seguiram como um evangelho”, diminuíam “qualquer valor que Botto podia ter — valor literário, estético”, considerou Klobucka. Nesse sentido, ensaios como “António Botto”, de Joaquim Manuel Magalhães, ou Fractura: A condição homossexual na literatura portuguesa contemporânea, de Eduardo Pitta, onde Botto é inúmeras vezes, representam uma lufada de ar fresco numa área que pouco desenvolvimento tem tido desde o tempo em que António Botto passeava pelas ruas da Baixa.
Esta falta de avanço no entendimento da obra bottiana foi precisamente apontado por Eduardo Pitta na introdução a Canções e Outros Poemas. Passados dez anos da edição da Quasi, o panorama continua o mesmo. “Em março de 2019 passam 60 anos da sua morte. As gerações que se formaram em democracia ouviram falar pouco ou nada de Botto. Isto cria um buraco”, afirmou Pitta, por email, ao Observador. “Nos últimos 44 anos, apenas se publicaram quatro edições da primeira fase da sua poesia. A mais recente foi organizada por mim em 2008, ou seja, há dez anos. Mas a obra inclui contos e teatro. Nada disso voltou aos prelos, quanto mais às livrarias.” Além da dificuldade no acesso às obras de António Botto, Eduardo Pitta acredita que, “num país de castas, é natural que um homem de origens humildes como era Botto caísse no esquecimento. Ao contrário de outros autores, Botto não tinha por trás um grande nome de família, não pertencia à Academia e, last but not least, era homossexual e anti-comunista. Apesar da ditadura salazarista, mesmo na ilegalidade, o Partido Comunista dominava a vida intelectual portuguesa. Junte a tudo isto o facto de ter morrido no estrangeiro, doze anos após ter deixado de Portugal, e vê como o silenciamento era praticamente inevitável”.
Outro problema parece estar relacionado com o próprio estudo da história da literatura homoerótica portuguesa. “[Não há muitos trabalhos sobre] literatura homoerótica nas épocas anteriores aos anos 70”, afirmou Anna Klobucka. “Em Portugal, não surgiu, no ambiente académico, aquilo que existe sobretudo na academia anglo-saxónica, mas também noutros países, como França ou Alemanha. Até na Polónia — sou polaca, e vejo que se publicam muitos mais artigos, mas também livros, sobre história cultural LGBT que vão até ao século XIX, sobretudo. Não sei diagnosticar o porquê disso, não faço parte da academia portuguesa, mas não sei até que ponto isso se deve ao conservadorismo do ambiente.” Joaquim Manuel Magalhães, no seu ensaio “muito interessante e importante sobre Botto”, disse que o poeta “não podia ser um tópico nos seminários da Faculdade de Letras [de Lisboa], que não seria apropriado”.
Ainda que não existiam indícios de que o panorama vá mudar num futuro próximo, as estrelas parecem estar a alinhar-se. Depois de ter saído, em finais de maio, o ensaio O Mundo Gay de António Botto, deverá ser publicado ainda este ano um volume com a poesia completa de Botto. A nova edição, coordenada por Eduardo Pitta, terá chancela da Assírio & Alvim e irá incluir os poemas que já tinham sido publicados na coleção de 2008 e todos os que ficaram de fora. Como explicou o também poeta ao Observador, o plano original traçado para a Quasi incluía “nove volumes destinados a reunir a obra completa de Botto. Como a editora falou, apenas saíram dois. O primeiro, Canções e Outros Poemas, colige os quinze livros de Canções, mais O Livro do Povo, mais dez poemas do livro póstumo Ainda Não Se Escreveu. No segundo estão os poemas religiosos de Fátima. Fiz essa escolha na qualidade de editor (editor no sentido anglo-saxónico do termo, não confundir com publisher)”. Por editar ficaram os volumes de Cartas Que Me Foram Devolvidas, O Livro das Crianças, Contos, Cantares, Teatro, O Livro do Povo e Ele Que Diga Se Minto. Para esses, não parece haver publicação à vista.
Se tudo correr bem, deverá estrear também em 2018 o documentário sobre Botto que está a ser realizado por Cristina Ferreira Gomes para a RTP. Em março de 2019, por altura dos 60 anos da morte de António Botto, poderão ainda surgir algumas iniciativas. A Câmara Municipal de Lisboa está a ponderar realizar uma conferência para assinalar a data mas, por enquanto ainda nada está definido. O mais importante é que se fale de Botto, da sua obra, que não se esqueça que ele existiu e que fez coisas extraordinárias."
(in: jornal online observador.pt  por Rita Cipriano a 11.08.2018)