Previsão do Tempo

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

António Variações - Deolinda de Jesus



A minha mãe.
É a mãe mais bonita,
Desculpem, mas é a maior,
Não admira, foi por mim escolhida,
E o meu gosto, é o melhor,
E esta é a canção mais feliz,
Feliz eu que a posso cantar,
É o meu maior grito de vida
Foi o seu grito, o meu despertar,
Canção de mãe é sorrir,
Canção de berço de embalar,
Melodia de dormir,
Mãe ternura a aconchegar,
Canção de mãe é sorrir,
Gosto de ver e ouvir,
Voz imagem de sonhar,
Imagem viva lembrança,
Que faz de mim a criança,
Que gosta de recordar
A minha mãe,
É a mãe mais amiga,
Certeza, com que posso contar,
E nem por isso, sou a imagem que queria,
Mas nem sempre me soube aceitar,
Razão de mãe é dizer,
Mãe cuidado a aconselhar,
Os cuidados que hei-de ter,
As defesas a cuidar,
Saudade mãe é escrever,
Carta que vou receber,
Notícia de me alegrar,
Cartas visitas encontros,
Essa troca que nós somos,
Este prazer de trocar,
Canção de mãe é sorrir,
Gosto de ver e ouvir,
A ternura de cantar.

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António Variações em Fiscal (Amares), sua terra natal, com a sua mãe Deolinda de Jesus, a quem dedicou uma canção com o seu nome.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Max " Quando a dor bateu à porta"

Max "A Rosinha dos Limões"



Quando ela passa, - franzina e cheia de graça, Há sempre um ar de chalaça - no seu olhar feiticeiro. Lá vai catita, - cada dia mais bonita E o seu vestido de chita - tem sempre um ar domingueiro. Passa ligeira, - alegre e namoradeira A sorrir p’ra rua inteira, - vai semeando ilusões. Quando ela passa, - vai vender limões à praça E até lhe chamam, por graça, - a “rosinha dos limões.” Quando ela passa - junto da minha janela, Meus olhos vão atrás dela, - até ver da rua o fim. Com ar gaiato, - ela caminha apressada, Rindo por tudo e por nada - e, às vezes, sorri p’ra mim. quando ela passa - apregoando os limões, A sós, “com os meus botões” - no vão da minha janela Fico pensando - que qualquer dia, por graça, Vou comprar limões à praça - e depois caso com ela. Quando ela passa - apregoando os limões, A sós, “com os meus botões” - no vão da minha janela Fico pensando - que qualquer dia, por graça, Vou comprar limões à praça - e depois caso com ela.

Recordando Maximiano de Sousa (Max)


Letra de Vasco de Lima Couto Música de Maximiano de Sousa (Max) Sou da noite um filho noite Trago rugas nos meus dedos De guardarem os segredos Nas altas pontes do amor E canto porque é preciso Raiar a dor que me impele E gravar na minha pele As fontes da minha dor Noite, companheira dos meus gritos Rio de sonhos aflitos Das aves que abandonei Noite, céu dos meus casos perdidos Vêm de longe os sentidos Nas canções que eu entreguei Oh minha mãe de arvoredos Que penteias a saudade Com que vi a humanidade A minha voz soluçar Dei-te um corpo de segredos Onde risquei minha mágoa E onde bebi essa água Que se prendia no ar Noite, companheira dos meus gritos Rio de sonhos aflitos Das aves que abandonei Noite, céu dos meus casos perdidos Vêm de longe os sentidos Nas canções que eu entreguei

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Ser Professor

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A GRANDE DÚVIDA: QUE COMER E BEBER?

A GRANDE DÚVIDA: QUE COMER E BEBER?

«A semana passada, deixei de comer chouriços. E presunto. E fiambre. E mortadela!!! Esta semana, deixei de comer queijo. “Afecta a mesma molécula das drogas duras”, dizia um estudo. Eu não quero ter nada a ver com isso, gosto muito de queijo, mas não quero ter nada a ver com drogas, muito menos ser visto como um agarrado ao queijo. Acabou-se com o queijo cá em casa. Também já tinha acabado com o pão, por isso…
O mês passado deixei de beber vinho branco. Um estudo dizia que fazia mal a não sei quê. Se calhar era cancro também. Passei a beber só tinto que dizia um estudo ser ideal para uma série de coisas. Esta semana voltei a beber branco porque entretanto saiu um estudo a dizer que afinal o branco até tem propriedades que fazem bem e muito tinto é que não. Comecei a reduzir no tinto mas, também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.
Cortei nas azeitonas também porque um estudo dizia que têm demasiada gordura, são muito insaturadas, ou lá o que é, mas não parece nada bom.
Andava praticamente a peixe até perceber que os portugueses comem peixe a mais e são, por isso, prejudiciais ao ambiente. Eu sei que não moro no continente mas como sou português, e ainda contam todos para o estudo, sei lá, os que estão e os que não estão, e como eu não quero ser acusado de inimigo do ambiente, ando a cortar no peixe também. Especialmente no atum que está cheio de chumbo e o bacalhau também porque causa daquele estudo que saiu sobre a quantidade de sal mas, também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.
Esta semana saiu um estudo a dizer que afinal o vinho em geral faz mal. Fiquei devastado. Há dois meses foram as couves roxas. Vi até um especialista na televisão dizer que não devíamos comer nada cuja cor seja roxa; “é sinal que não é para comer”, dizia. Arroz também quase não como porque engorda, quanto mais esfregado pior, e saiu um estudo a dizer que implica com uma função qualquer mais ou menos delicada. Não é a reprodutora porque acho que essa é com a soja. Dá hormonas femininas aos homens, e consequentes mamas, o raio da soja (!) e prejudica as funções todas. Não, soja nem pensar!
Leite também já há muito que me livrei dele. Foi, salvo erro, desde que saiu um estudo a dizer que o nosso corpo não está preparado para leites. Por isso, leite não. Sumos de frutas também dispenso enquanto não resolverem o problema levantado no estudo que apontava para… não sei muito bem para quê, mas apontava e não era nada excitante mas, também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.
Carne vermelha, claro, também não. Ataca o coração, diz o estudo. Galinha nem sonhar porque umas estão cheias de gripe e as outras encharcadas de antibióticos. Além de que carne de galinha a mais, como dizia outro estudo, impacta com o desenvolvimento dental, o que até parecia óbvio mas ninguém percebia, pois as galinhas não desenvolvem dentes. Cortei a galinha há muito tempo. Porco? Só a brincar. É óbvio que não há cá porco. Não chegassem as salsichas e afins, ainda veio este outro estudo, ou ainda não leu? Pois então, diz que o excesso de carne de porco pode provocar uma diminuição de massa cinzenta e o aumento dos ciclos atópicos do mastóides singular. Ninguém quer passar por isso! Você quer? Eu não mas, também, acho que compreende, não quero morrer assim de qualquer maneira. Esqueça-se a carne de porco, pelo amor da santa!
Ah!… Já me esquecia do glúten! Glúten, também não. É que nem pensar! Durante muitos anos nem sabia que existia, mas desde que me apercebi da existência de semelhante coisa arredei tudo o que tivesse glúten. Deixa-me pouca escolha mas, também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.
Ovos! Claro que também não como ovos. Primeiro porque não sou nenhum ovíparo e depois por causa das quantidades de coisas que aquele estudo que saiu a semana passada dizia. É um rol senhores, um rol e colesterol! Vão ver e admirem-se! Os ovos! Quem diria os ovos… Enfim, é a vida: ovos nem vê-los! Como a manteiga: é só gordura! Desde que acabei com o pão e com o queijo, a manteiga também, por assim dizer, deixou de fazer falta. Ainda a usava para fritar ovos mas agora também não se pode comer ovos… Pois, a manteiga, dizia o estudo, é só gordura animal e animais não devem comer a gordura uns dos outros. Pareceu-me um bom fundamento e acabei com a manteiga.
Ia fazer uma salada. Sem muito azeite, claro, porque, compreendem, não quero morrer assim de qualquer man
eira, sem sal, naturalmente e vinagre só do orgânico, porque, compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira…
É quando recebo um email com o título “Novo Estudo Aconselha a Ingestão Moderada de Saladas e Hortaliças”.
Enchi um copo de água, filtrada, naturalmente, de garrafa de vidro, e sorvi um golo ávido. Espero que não me faça mal.»


Fernando Eloy
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quinta-feira, 27 de junho de 2019

"O PORTUGUÊS E A LETRA " F "

"O PORTUGUÊS E A LETRA " F ".
..
De facto, este " F " é das letras muito fortes do nosso léxico... Já todos o sabíamos.
Mas que desse para uma ementa tão abundante, certamente que poucos o imaginariam...!
Um homem chega ao restaurante, senta-se e, acenando com o braço, diz:
- Faz favor: frango frito, favas, farinheira.. .
- Acompanhado com quê ?
- Feijão.
- Deseja beber alguma coisa ?
- Fanta fresca.
- Um pãozinho antes da refeição ?
- Fatias fininhas.
O empregado anota o pedido, já meio intrigado: " o tipo fala tudo com F's !"
Depois do homem terminar a refeição, o empregado pergunta-lhe:
- Vai querer sobremesa ?
- Fruta.
- Tem alguma preferência ?
- Figos.
Depois da sobremesa, o empregado:
- Deseja um café ?
- Forte. Fervendo.
Quando o cliente termina o café:
- Então, como estava o cafézinho ?
- Frio, fraco. Faltou filtrar formiguinha flutuando.
Aí o empregado pensa: " Vamos ver até aonde é que ele vai ".
- Como é que o senhor se chama ?
- Fernando Fagundes Faria Filho.
- De onde vem ?
- Faro.
- Trabalha ?
- Fui ferreiro.
- Deixou o emprego ?
- Fui forçado.
- Por quê ?
- Faltou ferro.
- E o que é que fazia ?
- Ferrolhos, ferraduras, facas... ferragens.
- Tem um clube favorito ?
- Fui Famalicense.
- E deixou de ser porquê ?
- Futebol feio , farta.
- Qual é o seu clube, agora ?
- Farense.
- O senhor é casado ?
- Fui.
- E sua esposa ?
- Faleceu.
- De quê ?
- Foram furúnculos, frieiras... ficou fraquinha... finou-se.
O empregado de mesa perde a calma:
- Olhe! Se você disser mais 10 palavras começadas com a letra F... não
paga a conta. Pronto !
- Formidável, fantástico. Foi fácil ficar freguês falando frases fixes.
O homem levanta-se e dirige-se para a saída, enquanto o empregado ainda lança:
- Espere aí ! Ainda falta uma !
O homem responde, sem se virar:
- Faltava

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Ilhas de Bruma



Ilhas de Bruma
Autor: José Ferreira



Ainda sinto os pés no terreiro
Onde os meus avós bailavam o pezinho
A bela Aurora e a Sapateia
É que nas veias corre-me basalto negro
E na lembrança vulcões e terramotos


Por isso é que eu sou das ilhas de bruma
Onde as gaivotas vão beijar a terra


Se no olhar trago a dolência das ondas
O olhar é a doçura das lagoas
É que trago a ternura das hortênsias
No coração a ardência das caldeiras.


Por isso é que eu sou das ilhas de bruma
Onde as gaivotas vão beijar a terra


É que nas veias corre-me basalto negro
No coração a ardência das caldeiras
O mar imenso me enche a alma
E tenho verde, tanto verde a indicar-me a esperança.

domingo, 23 de junho de 2019

Avelino Henriques da Costa Cunhal nasceu em Seia, a 28 de Outubro de 1887 e faleceu em Coimbra, na Sé Nova, em 19 de Fevereiro de 1966

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AVELINO CUNHAL (1887 – 1966)


Advogado, historiador, dramaturgo e artista plástico, foi um resistente da Ditadura do Estado Novo. Era um humanista, um homem íntegro e de grande carácter, com uma personalidade caracterizada por uma rara versatilidade.
Enfrentou com grande coragem e dignidade a opção de clandestinidade do filho, Álvaro Cunhal, e a violenta repressão fascista de que este foi vítima.

1. Avelino Henriques da Costa Cunhal nasceu em Seia, a 28 de Outubro de 1887 e faleceu em Coimbra, na Sé Nova, em 19 de Fevereiro de 1966. Era filho de José Henriques Jr. (Castanheira de Pera, 1850 - 1905) e de Umbelina Jeny da Costa Cunhal (Seia, 1858 - 1902). Com o seu irmão Alfredo Henriques da Costa Cunhal frequentou o Colégio do Piódão.
Casou em Coimbra, em 1908, com Mercedes Simões Ferreira Barreirinhas (Coimbra,1888 - 1971), e teve dois filhos e duas filhas: António, Álvaro, Maria Mansueta e Maria Eugénia. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e começou a exercer advocacia. Pouco tempo depois mudou-se de Coimbra para Seia, onde teve o cargo de Administrador do Concelho de Seia; fundou então a Sociedade de Propaganda e Defesa do Concelho de Seia, [terra onde se realizou o último comício republicano no regime monárquico com Afonso Costa]. Depois, em 1923, durante escassos meses, foi advogado e Governador Civil da Guarda. Foi advogado em Seia de 1917 até 1924.
Em 1924, a filha Mansueta morreu (aos 7 anos) e a família Cunhal foi viver para Lisboa, onde Avelino C. passa a exercer advocacia e a leccionar História.
Durante vários anos, Avelino C. foi professor de História no Colégio Valsassina, marcando profundamente aqueles que foram seus alunos (1).

2. Quando, em 1935, o filho Álvaro entra para a clandestinidade no PCP, Avelino Cunhal e Mercedes Cunhal já tinham perdido dois filhos: Mansueta e António (3 anos mais velho do que Álvaro), que morrera de tuberculose, com 24 anos.
A PIDE vigiava Avelino Cunhal à procura de uma pista que levasse ao filho. Depois de lhe invadirem casa e de sequestrarem a sua mulher e a filha Eugénia, durante três dias e três noites, os agentes da PIDE instalaram-se em sua casa até acabarem por prendê-lo. Avelino Cunhal esteve então alguns dias incomunicável em Caxias, forçado a comer no balde dos dejectos, uma humilhação com que, na cadeia, pretendiam atingir-lhe o filho.
Avelino Cunhal destaca-se como advogado nos tribunais fascistas na defesa de inúmeros presos políticos, acusados pela ditadura de crimes de subversão contra o regime.

3. Com uma postura intelectual e política inequivocamente democrática e antifascista, Avelino Cunhal consagra-se como artista plástico e aparece sempre integrado na corrente neo-realista, com trabalhos de intervenção social e política, na perspectiva da luta contra o regime. Participou em Salões da Sociedade Nacional de Belas Artes (Lisboa), e nas Exposições Gerais de Artes Plásticas (SNBA), tendo visto uma das suas obras apreendida pela polícia na segunda mostra, em 1947: «O menino da bandeira branca» (2).

Foi colaborador das revistas Vértice, Seara Nova e O Diabo. Escreveu dois romances, Senalonga (3), cujo tema é Seia, sua terra natal, e Areias Secas. Foi, ainda, dramaturgo, tendo escrito várias peças de teatro em um acto, estas sob o pseudónimo de Pedro Serôdio: Naquele Banco, Ajuste de Contas, Dois Compartimentos e Tudo Noite são algumas delas. Estas peças tinham claras intenções de intervenção social, pelo que foram alvo de censura (4). Há, porém, um outro romance, este só publicado em 2009: «Nenúfar no Charco». Escrito e ilustrado pelo próprio em 1935, altura em que a sua publicação foi proibida pela censura fascista, veio a ser apresentado numa sessão em que Domingos Lobo (crítico literário do Avante) identifica na obra "influências de Dostoiévski e Tólstoi, de Zola e Victor Hugo no realismo social sempre perseguido por Avelino Cunhal, tanto na literatura como no seu trabalho de pintor".

4. Avelino Cunhal foi visto pelo filho, Álvaro C., como um modelo de cidadania, que o ajudou na descoberta das artes, da literatura e do desenho; como um homem excepcional de carácter e de integridade, de quem recebeu muitos ensinamentos (5).

Avelino Cunhal faleceu em 19 de Fevereiro de 1966.

Notas:


(1) «Avelino Cunhal marcou para sempre a minha formação académica e cívica. A minha forma de pensar foi muito moldada pelo seu exemplo. Conheci-o no Colégio Valsassina em Lisboa em 1960. Foi meu professor de História nesse ano. Ensinou-me muito. Ficaram memoráveis as explicações que dava sobre a Antiguidade, os Grandes Filósofos, os Cidadãos de Atenas ou a Guerra do Peloponeso. Na aula, sentado ao canto esquerdo da mesa, ligeiramente elevado pelo estrado, perna traçada que evidenciava o uso de capas de feltro a cobrir os sapatos, Avelino Cunhal falava de forma muito expressiva, animada pelos movimentos dos seus braços estendidos e das mãos semifechadas colocadas em distintos planos.
Iniciei o ano escolar com Avelino Cunhal em Outubro de 1960. Poucos meses antes, em Janeiro, o filho tinha protagonizado a mais espectacular das fugas de presos políticos em presídios portugueses. (…) Pedi a meu Pai que me explicasse o que se passava com o filho do Professor. Foi então, com entusiasmo indisfarçável, que me relatou o sucesso da fuga de Álvaro Cunhal da prisão de Peniche. Conseguira fugir e nunca mais regressar até, catorze anos depois, ter trepado para cima do tanque do MFA que o esperou no aeroporto de Lisboa. Antes do final de 1960, abordei Avelino Cunhal quando subia o lance de escadas para o piso superior do corpo principal do Colégio. Disse-lhe que compreendia o desgosto que seguramente tinha em não poder ver o filho e que em minha casa estavam todos solidários. Pôs-me a mão por cima dos ombros, nada disse de concreto e continuou a caminhada, a meu lado, para a lição daquele dia. Seguiram-se, em diferentes ocasiões, cumprimentos do mesmo género. No ano seguinte, também lhe comuniquei que o meu Pai tinha ouvido o filho na Rádio Moscovo que, apesar das interferências ruidosas, era motivo frequente de atenção em minha casa. Avelino Cunhal morreu em Fevereiro de 1966. Estive no cemitério do Alto de São João. Era um dia de chuva intensa. Algumas dezenas de pessoas aglomeraram-se no pátio interior junto ao portal principal. Todos esperavam a urna. Percebia-se a presença da polícia. Os agentes da PIDE à entrada estavam inquietos. Sentia-se a tensão. Ambiente pesado. Subitamente, ouve-se vozearia para apoiar o motorista de uma camioneta que tentava acertar a manobra para entrar no portão apertado. Era um camião de caixa aberta que transportava uma coroa gigante de flores vermelhas. Na enorme faixa que a atravessava lia-se: “DO TEU FILHO ÁLVARO”. Foi preciso um guindaste para movimentar a própria coroa. A emoção conjugou-se com a satisfação pelo destaque que a coroa naturalmente assumiu.» – Francisco George, Fevereiro de 2011, “Dossier de lutas”, in http://www.franciscogeorge.pt/10201.html

(2) As Exposições Gerais de Artes Plásticas foram realizadas anualmente pela Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, entre 1946 e 1956, com excepção de 1952, ano em que a SNBA esteve encerrada pela PIDE. A I Exposição Geral de Artes Plásticas foi um êxito, até junto da crítica mais conservadora, que não se apercebeu das intenções de intervenção política. Esse êxito aumentou na segunda (1947), principalmente depois da crítica avassaladora do Diário da Manhã, que denunciava o seu carácter subversivo. Este facto provocou a intervenção do Governo, que enviou à SNBA o próprio Ministro do Interior, Cancela de Abreu, acompanhado pela PIDE. Desta intervenção resultou a apreensão de obras de vários artistas, entre os quais, Júlio Pomar, Avelino Cunhal e Manuel Ribeiro de Pavia.

(3) «De Avelino Cunhal conhecemos o pícaro mordaz, a agudeza metafórica dessa magnífica colectânea de contos que é Senalonga, livro que só por si mereceria atenta e demorada análise, não apenas pelo estilo satírico (herdado do Eça, de Camilo, de Aquilino) mas pelo novo que essa escrita imprime na desmontagem de uma realidade rural que era tudo menos plácida e ingénua, visão contrária, portanto, ao que o idealismo burguês de Júlio Dinis profusamente desenvolveu e difundiu. A mordacidade cósmica da escrita de Avelino Cunhal denuncia em Senalonga, com desarmante humor, os peralvilhos, os oportunistas e os demagogos de todos os quilates. O conto sobre a inauguração de um urinol público é paradigma dessa argúcia, desse derribado humor.
A crítica pouco tempo e espaço dedicou à análise da obra de um escritor que foi parco em títulos publicados – o referido Senalonga e Areias Secas, este último publicado pela Caminho em 1980 (14 anos após a morte do autor, ocorrida em 1966) e uma colectânea de 3 peças de teatro em 1 acto, saída numa colecção da Prelo, dirigida por Luís Francisco Rebello» – Domingos Lobo, no Jornal Avante, 22 de Outubro de 2009.

(4) Constituíram «uma das raras presenças do neo-realismo na literatura dramática portuguesa» (Manuel Alves de Oliveira, 1990).

(5) Avelino Cunhal foi recordado pelo filho como um modelo de cidadania, que o ajudou na descoberta das artes, da literatura e do desenho; como um homem excepcional de carácter e de integridade, de quem recebeu muitos ensinamentos sobre o comportamento cívico. À sua Mãe, Mercedes, Álvaro C. referia-se como sendo uma mulher voluntariosa, profundamente crente, católica, possuidora de uma personalidade muito forte, que o tinha auxiliado muito em momentos da sua vida. Mercedes discordava profundamente das opções políticas do filho, e tendo já perdido dois filhos, sentia que a escolha que ele fizera os tinha levado a perder um terceiro. Essa dor está expressa numa derradeira carta que escreve ao filho, dizendo que já não tem forças para ir vê-lo à prisão.

Biografia da autoria de Helena Pato, a partr de:

segunda-feira, 10 de junho de 2019

A verdade e a mentira!

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Pintura "a verdade que sai do poço"
jean-leon gerome, 1896

A verdade e a mentira!

A verdade e a mentira se encontraram um dia.
A mentira disse a verdade: " Hoje é um dia maravilhoso! ».
A Verdade olhou para o céu e suspirou, porque o dia estava realmente lindo. Eles passaram muito tempo juntos, chegando finalmente a um poço.
A mentira disse a verdade: "A água é muito bonita, vamos tomar um banho juntos! ».
A verdade, mais uma vez desconfiada, colocou a água à prova e descobriu que era realmente muito bonita.
Então elas se despiram e começaram a tomar banho.
De repente, a Mentira saiu da água e fugiu vestindo as roupas da Verdade.
A Verdade furiosa saiu do poço e perseguiu a Mentira para recolher as roupas.
Mas o mundo, vendo a Verdade nua, desviou o olhar com raiva e desprezo.
A pobre Verdade retornou ao poço e desapareceu para sempre, escondendo sua vergonha.
Desde então, a Mentira corre ao redor do mundo, vestida como a Verdade, satisfazendo as necessidades da sociedade ... porque o Mundo, em todo caso, não tem desejo de encontrar a Verdade nua.

domingo, 26 de maio de 2019

Hino do Benfica ARREPIANTE!!! - Benfica x Santa Clara

NOVA VERSÃO DO XICO FININHO

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Borrado de medo pela rua acima
Depois de mais um tweet na retrete
Sabendo que vai chegar o dia
De lhe apertarem o gasganete.

Chico Fininho, uh, uh
Chico Fininho, uh, uh

De caganeira à rasca
À rasca da caganeira
Conhece os corruptos
Todos de ginjeira!

Chico Fininho, uh, uh
Chico Fininho, uh, uh

Ele é o herói da corja inteira...

O Adepto Anarquista

sábado, 4 de maio de 2019

A tragédia de Superga



 Faz hoje 70 anos a tragédia de Superga. Depois de um jogo amigável com o Benfica em Lisboa, no regresso a Itália o avião do Torino despenhou-se e vitimou 31 pessoas. Abaixo imagens do funeral a 6 de Maio (com 500 mil pessoas, segundo fontes do Torino).