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domingo, 7 de março de 2010

"D. João VI construiu um país" segundo Laurentino Gomes a ida da família real foi a sua causa.


"O D. João ao mudar-se para o Rio de Janeiro não só passa a ser o centro agregador do Brasil nas suas actuais dimensões territoriais como ele constrói um país que não existia", disse Laurentino Gomes à agência Lusa.
"Até 1807 o Brasil não existia, não havia uma noção de identidade nacional, as províncias eram estranhas umas às outras, eram rivais entre si, tinha havido várias rebeliões regionais que tentaram a independência mas uma independência regional", sublinhou.
"A Corte passa pela primeira vez a ser o centro agregador das elites das diferentes regiões e se isso não acontecesse o Brasil ter-se-ia fragmentado em três, quatro ou até cinco pequenas repúblicas, como na América espanhola", acrescentou.
Este ano -afirma Laurentino Gomes - "não é só a chegada da Corte que se comemora, mas os 200 anos da Industria, da Imprensa, do Banco do Brasil, da Marinha, das Escolas Superiores, do Comércio Internacional, na realidade o Brasil está fazendo duzentos anos".
Antes da chegada da Rainha D. Maria I, do Príncipe regente D. João (futuro D. João VI) e da sua mulher Carlota Joaquina, fugidos de um Portugal fustigado pelas tropas napoleónicas, "o Brasil era uma colónia atrasada proibida, sem identidade nacional que em 13 anos se transformou num país", disse.
O livro, editado pelas Publicações D.Quixote, apresenta um D. João "fraco, medroso, tímido, solitário e até indeciso" e revela que o desembarque na Bahia "não foi fruto da tormenta que houve e dividiu a frota" mas "uma decisão tomada um mês antes" pelo filho da Rainha, D. João que assumiu a regência do Reino dada a insanidade da sua mãe.
"S. Salvador da Bahia era estrategicamente importante, os baianos se ressentiam da mudança da capital em 1763 para o Rio de Janeiro", disse.
"Além do mais, a Bahia era a segunda mais importante capitania, tinha um forte peso económico, e tinha havido sinais de revolta, nomeadamente a dos alfaiates, e por outro D. João precisava do apoio de todo o mundo e foi a ali fazer um afago nos baianos", explicou.
O desembarque na Bahia foi uma ideia "politicamente muito sábia e inteligente" e o decreto de abertura dos portos que "teve uma importância económica crucial", é assinado em S. Salvador da Bahia".
Se o autor qualifica D. João como um "Rei medroso e muito solitário" salienta que tinha "capacidade de escolher bem os seus auxiliares".
"D. João se submetia ao jogo político e deixava que a opinião predominante prevalecesse", explicou.
Neste sentido "três homens salvaram a biografia" do Rei: "os seus ministros D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Conde de Linhares, que orientou D. João na saída de Lisboa - já em 1803 ele aconselhara D. João a sair" -, o Conde da Barca, o intelectual da Corte que levou a imprensa para o Brasil, "na sua bagagem pessoal", e D. Tomás António Vila Nova Portugal.
"O Rei que assume que tem dificuldades para tomar decisões, escolhe os seus ministros a partir de pressões da corte e delega neles o poder", rematou.
Quanto à Corte portuguesa, a sua chegada é comparada pelo autor, aos olhos dos autóctones, à de "extra-terrestres".
"Há um choque cultural de uma Corte refinada que gostava de música sacra, usava roupas de seda, galardões, não sendo a de Versalhes, e uma colónia tropical, exótica de gente muito bruta, homens da grossa ventura, como escreveu um historiador baiano", explicitou.
"A primeira reacção dos brasileiros é a da ironia, pareciam personagens de teatro vindos de Marte", acrescentou.
A Corte portuguesa, segundo Laureano Gomes, "era muito depressiva, sem festas, vivendo em torno da Igreja com muito `Te Deum`, mas que tinha uma consciência muito grande a respeito pelo papel político de Portugal e da sua importância geo-política, nomeadamente do império colonial português".
Ao longo do livro, que no Brasil vendeu 300.000 exemplares, surge o arquivista Luís Joaquim dos Santos Marrocos, personagem que "serve de fio condutor".
"É uma personagem símbolo, o cidadão comum que testemunha os acontecimentos, não é o diplomata nem nada oficial, ele dá-nos o relato da rua, do que pensam as gentes nas 178 cartas que escreveu ao pai e à irmã".
"Fala-nos dos hábitos sexuais do conde de Galveias, da doença do Rei, que navios chegaram e partiram, da criminalidade, do escravo que comprou por 98.000 réis, e é duma candura muito tocante, mais que isso ele se transforma junto com o Brasil e Portugal", disse.
Marrocos que chega ao Rio de Janeiro acompanhando parte da Biblioteca Real começa "detestando tudo, dizendo que as pessoas eram imorais, feias, que o clima era ruim, doentio, que a cidade era feia, com muita bagunça na rua e água parada".
"Três ou quatro anos depois começa a dizer; `olha aqui é futuro`, na véspera da independência tenta convencer a família a vir para o Brasil, e tudo isto porque ele se apaixonou por uma carioca", concluiu o jornalista.
Laureano Gomes prevê voltar a escrever "sobre matéria histórica, neste período antes e depois da chegada da família real, até à República" mas não tem "ainda um plano" e prefere "dar tempo ao tempo".

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