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terça-feira, 2 de março de 2010

Foi há 105 anos que Nicolau II criou a Duma (parlamento) Russo

No início do século XX, a Rússia contava com 176 milhões de habitantes, mais do que a soma das populações de Alemanha, França e Inglaterra. Era um país pobre e atrasado tecnologicamente, conhecido como o "celeiro" da Europa por apenas exportar cereais ao Velho Continente. 80% da sua população activa vivia no campo, em muita regiões nem sequer se conhecia o arado. Os camponeses viviam na miséria, trabalhavam a -25ºC, com roupas de pano e botas de papelão. Do outro lado, no Palácio de Inverno, os bailes com a realeza europeia, os uniformes de gala e as prendas luxuosas que o Czar Nicolau II oferecia à sua família sucediam-se constantemente.
Um enorme movimento grevista em 1902-03 precedeu a revolução de 1905. Mas o principal factor detonante dos eventos de 1905 foi a guerra entre Rússia e Japão em 1904. Os russos foram derrotados pelos japoneses, numa guerra motivada pela disputa da região da Manchúria.
As tropas russas foram humilhantemente derrotadas. Os custos da guerra recaíam nos ombros dos trabalhadores e camponeses, que por isso aumentavam a sua oposição à guerra.
Os camponeses viviam na miséria, trabalhavam a -25ºC, com roupas de pano e botas de papelão. Do outro lado, no Palácio de Inverno, os bailes com a realeza europeia, os uniformes de gala e as prendas luxuosas que o Czar Nicolau II oferecia à sua família sucediam-se constantemente.

A partir de finais de 1904, Gapon (1) começa a elaborar, com proletários que defendiam a abolição da autocracia czarista, um documento que suplica ao Czar alguns direitos sociais.
Os camponeses, liderados pelo padre Gapon, acreditando que o czar não tinha a consciência de que o povo passava fome e miséria, reuniram-se, e mais de 200 mil pessoas dirigiram-se até ao Palácio de Inverno. Segundo algumas fontes, durante a caminhada eram cantadas músicas religiosas, e também a canção nacional "Deus Salve o Czar", muitos manifestantes carregavam ícones religiosos e retratos do Czar, a quem até então as massas não identificavam como um inimigo de classe, como revelam os termos da petição:
«Majestade! Nós, operários da cidade de São Petersburgo, as nossas mulheres, os nossos filhos e os nossos velhos pais inválidos, viemos a V. Majestade à procura de justiça e protecção (...) somos compelidos cada vez mais para o abismo da miséria, da ausência de direito, da ignorância. O despotismo e a arbitrariedade nos esmagam, e estamo-nos a afogar. O que nós pedimos é pouca coisa. Só pedimos aquilo sem o qual a vida não é vida, mas prisão de forçados e tortura infinita. O nosso primeiro pedido era que os nossos patrões examinassem, connosco, as nossas necessidades; mas mesmo isso foi-nos recusado, recusaram-nos o direito de falar das nossas necessidades, achando que a lei não nos reconhece este direito. Eis o que está diante de nós, Majestade, é isto o que nos concentrou junto aos muros do seu palácio. É aqui que estamos à procura da nossa última salvação. Não recuse protecção ao seu povo; tire-o do túmulo do arbitrário, da miséria, da ignorância».
O Czar vê o povo reunido e ordena aos cossacos (tropas de soldados imperiais) o extermínio das massas. A neve que os camponeses pisavam ficou vermelha, os disparos só pararam quando uma multidão de corpos colapsou a avenida. Dezenas de camiões intervieram na retirada dos cadáveres.
Há 100 anos atrás ocorreu o ensaio geral da onda revolucionária que iria varrer a História do século XX: a Revolução Russa de 1905. Esta primeira revolução, de facto, foi o culminar de todo um longo processo de luta operária e camponesa no Império Russo. Como Rosa Luxemburg muito bem analisou: «a Revolução que rebentou em Janeiro de 1905 foi buscar a sua influência directa à gigantesca greve geral que se deu em Bacu, no Caúcaso, em Dezembro de 1904. Estes eventos de Bacu, por sua vez, foram a última e poderosa ramificação das tremendas greves e manifestações que atravessaram todo o sul da Rússia em 1903 e 1904, que tiveram como prólogo a greve de massas de Batum em Março de 1902. Esta foi, portanto, o reavivar de outras grandes greves e movimentações da classe trabalhadora que em 1896 e 1897 tinha levado a cabo a estrondosa greve dos trabalhadores têxteis de São Petersburgo».
A selvagem reacção do governo czarista no "Domingo Sangrento", em vez de provocar um refluxo no movimento operário, fez explodir a energia revolucionária das massas, surpreendendo as suas próprias direcções e aterrorizando a autocracia. Em 10 de Janeiro, levantaram-se barricadas em São Petersburgo. Rapidamente, a greve se estendeu por todo o país, mobilizando 400.000 trabalhadores ainda durante o mês de Janeiro. A onda revolucionária atingiu a Polónia, os Estados bálticos, Geórgia, Arménia e a Rússia Central. Nos meses que se seguiram ao "Domingo Sangrento", um milhão de operários entraram em greve em todo o império russo. "As massas proletárias" - afirmava Trotsky - "estavam agitadas no verdadeiro coração da sua existência. Por quase dois meses, sem nenhum plano, em muitos casos sem levantar nenhuma reivindicação, parando e recomeçando, obedeciam só ao instinto de solidariedade, a greve dominou o país" (León Trotsky, A Revolução de 1905).
Assustado com o crescimento do movimento grevista, o czar Nicolau II publicou um manifesto em 18 de Fevereiro, em que fazia promessas de uma Constituição e de reformas.
As pressões sobre o governo imperial czarista levou-o a promulgar o "Manifesto de Outubro" em 1905, no qual fazia promessa liberais, tentando acalmar a oposição ao seu governo. Entre essas promessas, além de transformar o seu governo numa monarquia constitucional, o czar prometia a adopção da DUMA (2), ou seja, uma Assembleia Nacional Parlamentar com a finalidade de exercer um poder de carácter legislativo. Seria eleita com base na afiliação político partidária e estender-se-ia a todos os partidos, incluindo os revolucionários mais radicais.

Porém, esta manobra (criação das Dumas e outras cedências), que tinha como objectivo apenas dividir o movimento e acalmar o ânimo da classe operária, não teve efeito e as greves intensificaram-se ainda mais. O espírito revolucionário do proletariado das cidades atingiu o campo, provocando revoltas camponesas com ocupações de terras. A agitação camponesa repercutiu-se no exército, provocando insurreições e motins. Um dos levantamentos militares mais importantes foi o dos marinheiros do Couraçado Potemkin, apoiado pela greve geral da classe operária de Odessa.
A sublevação do Potemkin começou em 14 (27) de Junho de 1905. Na cidade de Odessa, onde a greve geral tinha sido declarada, as condições favoráveis para a unidade de acção dos operários e marinheiros não foram aproveitadas. A organização bolchevique na cidade estava gravemente fragilizada por uma série de prisões. Os mencheviques manifestaram-se contra a insurreição armada e deixaram escapar a possibilidade de uma luta ofensiva conjunta de operários e marinheiros.

O governo czarista enviou ordens para que toda a frota do mar Negro sufocasse a revolta, mas os marinheiros negaram-se a disparar contra seus companheiros do navio sublevado e o comando viu-se obrigado a retirar a esquadra para evitar que a revolta se propagasse. Depois de vaguear onze dias pelo mar, o Potemkin, privado de víveres e de carvão, atracou na Roménia, onde os marinheiros se entregaram às autoridades locais. A maioria ficou no estrangeiro. Os que retornaram à Rússia foram detidos e julgados. A revolta havia fracassado, mas o facto da tripulação do maior navio de guerra do império russo ter-se somado à revolução constituiu um passo significativo no desenvolvimento da luta pelo fim do czarismo.

Notas:

1) Georgi Apollonovich Gapon (em russo, Георгий Аполлонович Гапон; 1870 - 10 de Abril de 1906)
Foi um sacerdote Ortodoxo Russo e um líder popular da classe operária antes da Revolução Russa de 1905.Gapon era filho dum fazendeiro rico da região de Poltava. Foi educado num seminário. Após à morte da sua mulher passa a viver em São Petesburgo onde se licencia na academia de teologia em 1903.
O Padre Gapon organizou a Assembleia de Operários Industriais Russos de São Petesburgo, apoiada pelo Departamento da Polícia e pela polícia secreta de São Petesburgo, a Ojrana. Os objectivos da Assembleia consistiam em defender os direitos dos trabalhadores e aumentar a sua moral e fé religiosa. Só as pessoas afiliadas á confessão ortodoxa podiam aceder aos seus cargos. Em breve, a organização conseguiria contar com 12 divisões e 8000 membro. Gapon tentou expandir as suas actividades para Kiev e Moscovo.
A 9 de janerio (22 de janerio C.G.), um dia depois do começo da greve geral em São Petesburgo, Gapon organizou uma marcha de operários, com o fim de apresentar um comunicado ao czar, que acabaria em tragédia (Domingo Sangrento). Os seus seguidores salvaram-lhe a vida naquele dia. Após este acontecimento, o padre Gapon, excomunhou o imperador e suplicou aos trabalhadores que actuassem contra o regime. Muito cedo o Padre Gapon fugiria para o estrangeiro, onde manteve estreito contacto com o Partido Social-Revolucionário. Após o manifesto de Outubro voltou à Rússia e continuou à sua relação com a Orjana. Suspeito de ser um agente provocador, Gapon foi enforcado numa cabana finlandesa pelas mãos de Pinhas Rutenberg, pondo em prática uma sentença emitida pela direcção do Partido Social-Revolucionário.

2) As Dumas:
A primeira Duma foi eleita em Março de 1906. Mais de 40 partidos e grupos políticos estavam representados com predomínio dos "cadetes", afectos à burguesia. Quando começou os seus trabalhos, a Duma mostrou-se demasiado liberal para a administração czarista, levando o governo a dissolvê-la;

A segunda Duma reuniu-se em Março de 1907. Era uma Duma hostil ao governo imperial e dela fazia parte Lenine e os bolcheviques e por isso foi dissolvida mais depressa que a primeira.
O governo fez algumas mudanças no processo eleitoral para escolha dos representantes da Duma de forma a favorecer os partidos mais conservadores.

A terceira Duma, beneficiada pelas mudanças do processo de eleição, possuía nas suas fileiras uma maioria de representantes da direita conservadora e cumpriu, integralmente, o seu mandato de cinco anos. Apesar do seu aspecto conservador, essa Duma introduziu muitas reformas; concedeu direitos civis aos camponeses ao introduzir a justiça local e a expansão do sistema educacional.

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