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sexta-feira, 23 de abril de 2010

A 24 de Abril de 1917, morreu Abel Botelho

Foto do artigo 'Durienses Ilustres'
Abel Acácio de Almeida Botelho
Oficial do Estado-maior do Exército Português, político, diplomata, jornalista, crítico de arte, ensaísta, poeta, contista e romancista notável e «audacioso», Abel Acácio de Almeida Botelho nasceu em Tabuaço em 23 de Setembro de 1855, tendo falecido em Buenos-Aires em 24 de Abril de 1917, quando aí exercia as funções de Ministro Plenipotenciário de Portugal na República da Argentina, desde 1912. Foi por influência sua que a Argentina se tornou o primeiro país a reconhecer o regime republicano em Portugal.

Era filho de Luís Carlos de Almeida Botelho e de D. Maria Preciosa de Azevedo Leitão. Seu pai, proveniente de uma família burguesa de Viseu, era major de caçadores (infantaria), condutor de obras públicas e professor de liceu, em Vila Real de Trás-os-Montes. Sua mãe pertencia a uma antiga família de proprietários rurais abastados de Tabuaço, os Azevedo Leitão, «tidos por homens de engenho e miguelistas ferrenhos» (efectivamente, existem registos de que Bento de Azevedo Leitão, de Tabuaço, avô ou tio-avô de Abel Botelho, aparece referido no ano de 1852 como um dos subscritores da colecta a título de «Socorros Alimentícios» para prover à sustentação do ex-Monarca no exílio, D. Miguel I - COSTA, M. Gonçalves da, Lutas Liberais e Miguelistas em Lamego, págs. 197 e 198, Lamego, 1975).

Seus pais ansiavam que este seu filho tivesse uma carreira académica na Universidade de Coimbra, mas, por morte prematura de seu pai, a família viu-se obrigada a decidir pela sua entrada para o Real Colégio Militar em 1867, como pensionista do Estado. Ali esteve de 1867 a 1872, obtendo prémios em todas as cadeiras, tendo comandado, no último ano, o batalhão colegial. Seguiu-se a Escola Politécnica, que cursou de 1872 a 1876, onde fez o seu primeiro curso com prémios e distinções em varias cadeiras (Prémio pecuniário na 9.ª cadeira — 1874-75; 1.º accessit na 7.ª cadeira — 1875-76). De 1876 a 1878 seguiu o curso de Estado-Maior na Escola do Exército, sendo novamente premiado.

Data dessa época a sua estreia nas letras na Revista Literária do Pôrto com o soneto Nunquam!.

Em 18 de Maio de 1881 casa com D. Virgínia de Alcântara Pinto Guedes de Vasconcelos, oriunda de uma família nobre de Lamego (Casa do Espírito Santo), filha do coronel do Corpo do Estado-maior, José de Vasconcelos Noronha, não tendo, no entanto, havido filhos do matrimónio.

Abel Botelho, enquanto escritor, é considerado um representante, entre nós, do naturalismo de Zola, e o seu maior expoente em terras portuguesas. A sua obra, tanto no teatro como na literatura, exceptuando o volume de contos Mulheres da Beira, pertence à categoria da literatura crua e dura, em que o autor debuxa, aliás com mão de mestre, os quadros da mais sórdida e doentia miséria social, como forma de crítica social.

O seu primeiro livro foi Lira insubmissa (publicada em 1885 e escrita entre 1874 e 1883), a que se seguiram O Barão de Lavos (1891), abrindo o ciclo que intitulou de «Patologia Social», pretendendo com este ciclo criticar os vícios da sociedade, O Livro de Alda (1898), Amanhã (1902), Lázaros (1904), Fatal dilema, Sem remédio (1900), Próspero Fortuna e Amor creoulo (a sua última obra).

Para o teatro redigiu: Jucunda, comédia em 3 actos representada em 1889 no teatro Ginásio e que provocou grave escândalo; A Imaculável, representada no teatro D. Maria em 1897; Claudina, comédia em 4 actos, que é um estudo duma desequilibrada que a grande actriz Lucinda Simões desempenhou genialmente, em 1890, numa festa artística no Príncipe Real; Vencidos da Vida, comédia em 3 actos, representada em 1892 no teatro Ginásio; No Parnaso, farsa lírica em um acto, escrita para uma récita de estudantes, ocorrida em 1894 no teatro S. Carlos; Fruta do Tempo, comédia moderna representada em 1904, no teatro D. Amélia; Fatal dilema, Nevrose e ainda Germano, em verso, peça rejeitada no teatro D. Maria e que foi publicada em 1896, produzindo também enorme escândalo.

Foi em casa de Abel Botelho que se realizaram as primeiras conversas para preparo dos estatutos do «Grémio Artístico», oriundo do célebre «Grupo do Leão». Habitava em Lisboa, no 3.º andar do n.º 19, da Travessa do Salitre.

Abel Botelho era considerado académico de mérito da Academia das Belas-Artes e membro da Comissão dos Monumentos Nacionais. Foi, também, um dos pais da bandeira da República Portuguesa, juntamente com Columbano Bordalo Pinheiro e João Chagas.

Abel Botelho também detinha dotes artísticos, desenhando com muita perfeição, à pena, e colaborando com desenhos no Occidente. Diz-se que muitas vezes elaborava esquiços dos espaços interiores e exteriores onde decorriam os enredos dos seus romances, como forma de auxílio para a elaboração da sua prosa.

Além disso fomentou uma colaboração literária notável, como a que deu, entre outras, a O Dia, publicando em folhetins Os Lázaros. Foram também publicados artigos seus de grande mérito em Ocidente, O Século, A Ilustração, Revista Moderna, Revista Literária, Serões, Mala da Europa, Diário da Manhã (onde publicou os contos mais tarde reunidos sob o título Mulheres da Beira – 1898 – e onde consta o conto O Cerro, talvez a obra de Abel Botelho com a qual os tabuacenses mais se identifiquem devido às excelentes e realistas descrições da vila, dos arredores, do Fradinho, e da «pitoresca» «Quinta do Cerro»), Novidades, Correio Português, Portugal e Reporter, de que foi director.

Como facto curioso, e capaz de nos fazer perceber o porquê de Abel Botelho ter conhecido bastante bem o Serro de Santo Aleixo onde se localiza a Quinta do Serro, é o de que os armazéns que hoje se denominam Armazéns da Quinta do Monte Travesso (pertença da família Nápoles de Carvalho), e que se encontram edificados na cota superior do Serro, fronteiros à Quinta do Serro propriamente dita (actualmente pertença de herdeiros de Jeremias de Macedo), pertenceram até 27 de Novembro de 1887 a um parente do escritor, de nome João de Azevedo Leitão, e que os vendeu ao primeiro proprietário da Quinta do Monte Travesso, Francisco Corrêa Cardoso Monteiro e Santos (Documento do Arquivo Histórico da Quinta do Monte Travesso). Arriscamo-nos a acreditar que o escritor, na sua juventude, terá passado algumas temporadas neste local, provavelmente nos períodos de vindima…

Também em jeito de curiosidade, é possível respigar em enciclopédias do início do séc. XX, que Abel Botelho tinha um irmão, de nome Luís Botelho, que foi redactor do Primeiro de Janeiro, onde publicou artigos excelentes de critica, alguns dos quais foram reunidos em volume sob o título de Farrapos, sendo considerado um homem «tão modesto como talentoso, e estimadíssimo por todos os que o conhecem» (Maximiano Lemos, Encyclopedia Portugueza, vol. II, pág. 196, s/d.)

Para concluir, resta-nos referir que em Setembro de 2003, o Município de Tabuaço criou o Prémio Abel Botelho, com o desiderato de homenagear aquele ilustre filho do concelho e de incentivar os hábitos de escrita e de leitura nos estudantes locais.

No próximo dia 23 de Setembro comemoram-se os 149 anos do nascimento de Abel Botelho na vila de Tabuaço, e, ao mesmo tempo, será atribuído pela primeira vez o Prémio Abel Botelho, contando com um interessante programa pensado pela Comissão Organizadora e pelo Município que, cremos, terá a dignidade necessária e ajudará a reconhecer, mais uma vez, a grandeza de um homem que bem longe soube levar o nome de Tabuaço e do Douro, permitindo a todos os tabuacenses e durienses elevar a sua estima e compreensão de que estas terras de «Riba Douro», sempre foram, e continuarão ser, nas mais diversas circunstâncias, o berço de grandes nomes de Portugal e do Mundo.

Gustavo Monteiro de Almeida

Fontes Bibliográficas:
- ALMEIDA, Justino Mendes de, Escorço bibliográfico e estudo linguístico, in Obras de Abel Botelho, vol. I, Porto, 1979;
- ARQUIVO HISTÓRICO DA QUINTA DO MONTE TRAVESSO;
- BENOIT-DUPUIS, Monique, Contribution à la Bibliographie d'Abel Acácio de Almeida Botelho, in Sillages, n.º 5, págs. 49-78, Paris, 1977;
- BOTELHO, Abel Acácio de Almeida, Obras de Abel Botelho, 2 vols., Lello & Irmão, Porto, 1979;
- Botelho, Abel, in Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. IV, pág. 973, Lisboa / Rio de Janeiro, s.d.;
- Botelho, Abel, in Lexicoteca, Moderna Enciclopédia Universal, vol. IV, Lisboa, 1984;
- Botelho, Abel, in Portugal Século XX – Portugueses Celebres, (coord. Leonel de Oliveira), pág. 53, Círculo de Leitores, Rio de Mouro, 2003;
- CORREIA, Alberto, Tabuaço - Roteiro Turístico, Tabuaço, 1997;
- COSTA, M. Gonçalves da, Lutas Liberais e Miguelistas em Lamego, págs. 197 e 198, Lamego, 1975;
- FERNANDES, José Guilherme Macedo, Abel Botelho: filho ilustre de Tabuaço, Lisboa, 1986;
- LEMOS, Maximiano (dir.), Botelho, Abel, in Encyclopedia Portugueza Illustrada, vol. II, pág. 196, Porto, s.d.;
- MONTEIRO, J. Gonçalves, Tabuaço (Esboço e subsídios para uma monografia), Câmara Municipal de Tabuaço, Tabuaço, 1991;
- PEREIRA, Esteves, RODRIGUES, Guilherme, Botelho, Abel, in Portugal, Diccionario Historico, Biographico, Bibliographico, Heraldico, Chorographico, Numismatico e Artistico..., vol. II, Lisboa, 1906;
- SAMPAIO, Albino Forjaz de (dir.), Abel Botelho – A Sua Vida e a Sua Obra, Lisboa, 1931.
Imagem:
- Retrato a óleo de Abel Botelho, por António Ramalho, Museu do Chiado.

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