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sábado, 12 de junho de 2010

A 13 de Junho de 2005, morre Álvaro Cunhal

Álvaro Barreirinhas Cunhal. Barreirinhas por parte da mãe, Cunhal por parte do pai. Nasceu em Coimbra, na freguesia da Sé Nova, no dia 10 de Novembro de 1913. Era o segundo filho do advogado Avelino Henriques da Costa Cunhal e da doméstica Mercedes Barreirinhas Cunhal.
O pai, liberal e republicano, nunca foi comunista, era advogado de província nas horas livres, pintava e escrevia, tendo mesmo publicado cinco livros – SenalongaNevrose e três peças teatrais –, sob o pseudónimo de Jorge Serôdio.
Álvaro manteria viva esta tradição cultural. Avelino Cunhal – homem de forte personalidade e de sólida cultura humanista, dizem quantos o conheceram – marcaria profundamente o filho Álvaro. Na apetência pelas artes, já se viu. Mas também no gosto pela política. Avelino foi governador civil da Guarda durante a I República e opositor de sempre do chamado Estado Novo, tendo-se empenhado particularmente na defesa de prisioneiros do regime salazarista, ao mesmo tempo que leccionava na "Universidade Popular" e colaborava na revista Seara Nova.
Já com a mãe, católica fervorosa, a relação era conflituante. Em casa, para provocar a senhora, o jovem Álvaro chegava a andar de fato-macaco. Um dia, aliás, convenceu um amigo barbeiro a ensinar-lhe a cortar o cabelo, porque queria ter "uma profissão operária".
Não terá, porém, perdido tudo da sua origem social. "Por nascimento e educação, ele nunca deixará de ser um aristocrata. Por mais que se misture com o povo e aprenda a gostar de sardinhas assadas e tinto do barril, terá sempre um porte fidalgo", escreveu em Abril de 1996 o escritor Mário de Carvalho.
O pequeno Álvaro é baptizado em Seia, terra natural do pai, para onde a família entretanto se mudara. Por influência da mãe, está bom de ver, que aliás escolhe para madrinha de baptismo do petiz… Nossa Senhora da Assunção. Padrinho, o irmão mais velho, António, que haveria de morrer novo, tal como uma das duas irmãs, Maria Massunta. A outra, Maria Eugénia, dez anos mais nova do que Cunhal, terá sido sempre a mais próxima de Álvaro. É dela, de resto, a única morada oficial que, durante muitos anos, se conheceu ao defunto líder comunista. O número 17 da lisboeta Rua Sousa Martins ficava quase colado à antiga esquadra do Matadouro, nas Picoas, de onde se vigiava permanentemente a casa da família Cunhal.
É ainda em Seia que Álvaro faz, aos nove anos, a primeira comunhão. E começa a frequentar a escola primária, que contudo abandona logo ao fim do primeiro dia de aulas. Passa a ser directamente ensinado pelo pai, que aceitara o acto de rebeldia, na casa das cercanias da Serra da Estrela. Fez a primária em casa, mas aos 11 anos, a família mudou-se para Lisboa, tendo estudado nos liceus Pedro Nunes e Camões.
Muda-se, depois, para o Camões, onde apresenta trabalhos de investigação sobre Garrett, Herculano e a Revolução Liberal, o realismo em Eça e em Fialho, Bocage e a luta pela liberdade. Em 1931, com 17 anos, tem o curso liceal terminado...

O carro funerário sobe a Avenida da Liberdade em direcção ao cemitério do Alto de São João.
Por todo o percurso, uma multidão enche as ruas. Na Praça do Chile milhares de pessoas esperam o cortejo que começa depois a subir a Rua Morais Soares, em direcção ao cemitério. Gritam palavras de ordem como "A luta continua" e"Assim se vê a força do PC".
São milhares. Muitos milhares. Vieram de todo o lado.
Só do Porto vieram cerca de mil pessoas, militantes e simpatizantes, alguns transportados em 14 autocarros alugados pela estrutura local.
Da Área Metropolitana de Lisboa, o PCP alugou camionetas para transportar militantes, sobretudo, da Margem Sul: Barreiro, Moita e Seixal.
Évora, Beja, Montemor-o-Novo, Avis, Portel, Estremoz, Mora, Vendas Novas, Serpa, Castro Verde, Baleizão, Sines, Santiago do Cacém e Couço foram algumas das localidades que reuniram militantes para virem até Lisboa, assistir ao funeral. Vieram mais de dois mil. 
O carro funerário, coberto de cravos vermelhos, chega ao cemitério perto das 18 horas onde milhares de pessoas aguardavam a chegada na urna do líder histórico do PCP, muitas com o punho erguido e algumas com bandeiras do partido.Recebido com uma ovação de palmas e gritos “PCP, PCP” subiu a Morais Soares, a muito custo. Todos queriam tocar no carro funerário, todos queriam olhar a família do líder.
Maria Eugénia era abraçada pela sobrinha, Ana, a filha do líder comunista chegada da Austrália, onde reside com os dois filhos.
Ana, vestida de preto, beijara a tia, momentos antes, gesto que repetiu para com a companheira do pai, Fernanda Barroso, provocando-lhe lágrimas. Já na carrinha funerária, onde a urna foi transportada, Ana e Fernanda percorreram todo o caminho entre a Praça do Chile e o cemitério, de mão dada; um percurso curto mas demorado porque acompanhado por milhares de pessoas a pé.
O cemitério do Alto de São João encontrava-se repleto de cravos vermelhos e brancos e muitas coroas de flores, uma das quais em forma de bandeira do PCP, com cravos amarelos a desenhar uma foice e um martelo. 
Um grupo de jovens da JCP colocou-se igualmente junto da urna, gritando palavras de ordem e alguns militantes subiram aos jazigos mais próximos de onde assistiram à cerimónia, empenhando uma bandeira do partido. 
Entre os milhares de populares que se concentraram no cemitério do Alto de São João, via-se um cartaz com a inscrição "a vida tem fim, mas a luta é eterna"
Já dentro do cemitério, a urna foi transportada por dirigentes comunistas que ladearam depois o caixão comovidos, aos quais se juntaram a filha, a viúva e a irmã e outros militantes do partido. 
Todos ouviram a voz dos militantes a gritar palavras de ordem e cantar ‘A Internacional’ seguida de o ‘Hino Nacional’. Não há discursos.
O corpo entrou no crematório pelas 18h10. Foi a última “ordem” de Álvaro Cunhal.
Funeral de Cunhal

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