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domingo, 18 de julho de 2010

A 19 de Julho de 1374, morreu Francesco Petrarca

Francesco Petrarca
Poeta e humanista italiano, nasceu a 20 de Julho de 1304, em
Arezzo (Toscana), e morreu em 18 ou 19 de Julho de 1374, em Arqua,
perto de Pádua (Carrara). Filho de um notário, exilado de Florença desde
1302, passou por Incisa e por Pisa antes de se radicar, em 1312, em Avinhão
(sul de França), onde o pai estabelece residência, indo, mais tarde, iniciar os
seus estudos em Carpentras (onde vivia a sua mãe) sob a orientação de
Convenevole da Prato. Mais tarde estuda Direito na Universidade de
Montpellier, transferindo-se, em 1320, para a Universidade de Bolonha. Por
esta altura já Petrarca demonstrava um grande interesse pela literatura
clássica, enquanto que se familiarizava com a poesia vernacular, mas só após
a morte do pai em 1326 pôde dedicar-se em pleno à actividade literária,
abandonando o curso de Direito.
Quando Petrarca regressou, pouco tempo depois, a Avinhão,
revelava-se já não só um amante da literatura, como também possuidor de
uma profunda fé religiosa, de um amor pela virtude e de uma rara
percepção da natureza transitória dos assuntos terrenos, características que
o levaram a tomar pequenas ordenações eclesiásticas (ficando sob a
protecção da poderosa família do cardeal Giovanni Colonna), embora ao
mesmo tempo a sua fama de turbulento (que partilhava com o irmão) se
fortalecesse. Mas, a 6 de Abril de 1327, na Igreja de Santa Clara de Avinhão,
ocorre um facto determinante na vida de Petrarca: conhece Laura, por
quem se apaixona de imediato e a quem viria a dedicar as suas principais
obras. Nos anos seguintes, viaja por França, Flandres, Brabant e Renânia
com o objectivo de aprofundar o seu conhecimento da literatura clássica,
descobrindo mesmo cópias de dois discursos de Cícero e da obra Confissões
de Santo Agostinho. Estas experiências levam-no a defender activamente a
ligação efectiva entre a cultura clássica e a mensagem cristã, rejeitando as
discussões dentro do sistema escolástico e tornando-se assim o grande
fundador do Humanismo europeu.
Em 1337, descobre em Vaucluse o seu retiro solitário, onde começa a
escrever África , um poema épico sobre a Segunda Guerra Púnica, e De viris
illustribus , uma série de biografias de heróis da Roma antiga. Por esta altura,
já tinha escrito parte dos poemas que seriam incluídos nas obras Epistolae
metricae, escrita em latim em versos hexamétricos, e Il Canzoniere, escrita
em vernáculo. Com o aumentar da sua fama, acabou por ser coroado como
poeta em Roma (por sua escolha, pois Paris tinha-lhe endereçado o mesmo
convite) a 8 de Abril de 1341, cerimónia efectuada no Monte Capitolino e,
posteriormente, na Basílica de S. Pedro, onde colocou a sua coroa de poeta,
acto de profundo simbolismo no que toca à ligação entre a tradição clássica
e a mensagem cristã, tão defendida por Petrarca.
De Roma o poeta parte para Selvapiana, perto de Parma, onde
atravessa uma crise moral provocada pelo ingresso do irmão num mosteiro
cartuxo, levando Petrarca a questionar a sua própria religiosidade, com a
qual o seu dia a dia pouco tinha a ver. Durante os dois anos que lá
permanece, escreve Secretum meum (1342-43), uma autobiografia que
consiste em três diálogos entre Petrarca e S. Agostinho na presença da
Verdade, obra na qual o poeta conclui que, apesar de tudo, o homem pode
sempre descobrir o caminho para Deus. Esta solução para o seu problema
espiritual mostrou-lhe que o amor que nutria por Laura estava errado, pois
era um amor pela criatura e não pelo Criador. Ao regressar a Avinhão no
Outono de 1343, desenvolve o conceito de vida solitária, exposto na obra
De vita solitaria (1346), após ter efectuado um alargamento da obra De viris
illustribus a textos sagrados e seculares.
Os anos seguintes foram importantes para Petrarca, quer como
homem, quer como poeta. Em 1345 descobre várias cartas de Cícero para
Atticus, Brutus e Quintus, que o inspiraram a escrever epístolas a diferentes
autores antigos que pertenciam ao seu imaginário. No final desse ano,
regressa à paz de Vaucluse, onde revê De vita solitaria e desenvolve o tema
da solidão num contexto estritamente monástico na obra De otio religioso.
Ao mesmo tempo, entusiasma-se com o esforço de Cola di Renzo em
restaurar a república romana, que provocou, em 1346, o fim da amizade
que o ligava ao cardeal Colonna. O ano de 1348 foi amargo para Petrarca,
pois, por causa da Peste Negra, perdeu inúmeros amigos e a própria Laura,
que morreu no dia 6 de Abril, precisamente 21 anos depois de a ter
conhecido. Entretanto, Petrarca dedica-se cada vez mais à sua carreira
dentro da Igreja, fazendo mesmo uma peregrinação a Roma em 1350 (ano
em que inicia a obra Epistolae Metricae), onde renuncia aos prazeres
sensuais, regressando a Vaucluse em Maio de 1351. Aqui inicia um novo
plano para a obra Il Canzoniere, dividida em duas partes: Rime in vita di
Laura e Rime in morti di Laura , ilustrando não só o seu amor por Laura,
mas sobretudo o seu crescimento espiritual, ou seja, o percurso do seu
amor pelo mundo em direcção à confiança final em Deus. Esta obra, aliás,
abre os horizontes da poesia a uma nova forma, o soneto, onde se conjuga
o que de mais cuidado e vigoroso existia na tradição lírica com a sua própria
apreciação dos clássicos, vindo a constituir-se como um modelo para
poetas vindouros, como Luís de Camões. Pouco tempo depois surge outra
obra sobre a elevação da alma humana em direcção a Deus, Trionfi , sendo a
história, no entanto, uma versão mais generalista. Entretanto, Petrarca
embarca num confronto aberto com o ensino aristotélico, propondo um
estilo que recupere o valor espiritual dos escritores clássicos - o que ele
denominou de "litterae humanae".
Em 1353, parte para Milão, onde permanece durante oito anos,
dedicando-se a preparar a primeira edição do Il Canzoniere, enquanto
completava obras como Familiares e Trionfi . De 1361 a 1362, vive em Pádua,
mudando-se para Veneza, cidade à qual promete o seu legado literário em
troca de casa e outros benefícios. No entanto, após ter sido insultado por
aristotélicos venezianos, regressa a Pádua em 1367, dividindo o seu tempo
entre Pádua e Arqua a partir de 1370. A partir de então, aplica-se na defesa
do seu Humanismo contra as críticas aristotélicas, através da obra De sui
ipsius et multorum ignorantia , bem como a completar as obras Posteritati
(de carácter autobiográfico e que serviria de conclusão à obra Seniles ) e
Trionfi .
Petrarca morre na noite de 18 para 19 de Julho de 1374, sendo
encontrado na sua secretária com a cabeça pousada num manuscrito de
Virgílio. Tal constitui, sem dúvida, uma imagem perfeita para definir o
pensamento de Petrarca: um profundo conhecimento do passado como
fonte inspiradora do presente.

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