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sábado, 9 de maio de 2015

A 9 de Maio de 1858 -- Nasce Ricardo Jorge, médico, escritor, investigador, fundador do Instituto Nacional de Saúde.

Fotografia de Ricardo Jorge

Ricardo de Almeida Jorge nasceu no Porto, em 9 de Maio de 1858, no seio de uma família humilde. O seu pai era ferreiro na Rua do Almada.
Frequentou com brilhantismo a Escola Médico-Cirúrgica do Porto de 1874 a 1879, tendo concluído, aos 21 anos de idade, a licenciatura em Medicina com a "dissertação inaugural" Um Ensaio sobre o Nervosismo.
No ano de 1880 competiu pelo lugar de substituto da Secção Cirúrgica da mesma escola, com a apresentação do trabalho Localizações Motrizes no Cérebro. Uma vez aprovado, deu início à vida profissional na Escola Médico-Cirúrgica, ocupação que conciliava com a actividade clínica. Desde o início da sua carreira que criticou o ensino, a investigação e a medicina praticadas na sua época e tentou ultrapassar o atraso do país nessas áreas, vindo a tornar-se uma figura de topo da Ciência nacional, embora sendo uma personalidade polémica.
Nos textos que publicou na Revista Científica a partir de 1882, publicação que ajudou a fundar e na qual colaborou continuamente, expressou os princípios positivistas e experimentalistas que perfilhava.
Em 1883 fez uma viagem de estudo para aprender mais sobre neurologia. Deslocou-se primeiro a Estrasburgo, onde visitou os laboratórios de Anatomia Patológica de Recklinghausen e Waldeyer, e depois a Paris, onde conheceu o neurologista Charcot e assistiu às suas lições.
Após o regresso a Portugal, e com novas ideias a fervilhar-lhe no espírito, deu início a um curso de Anatomia dos Centros Nervosos e criou o pioneiro laboratório de microscopia e fisiologia do Porto.
A neurologia foi o seu primeiro domínio de interesse, mas não o único. Também se dedicou à hidroterapia, área na qual desenvolveu experiências sobre os efeitos dos fluoretos alcalinos e sobre águas termais, cujos resultados publicou em vários estudos, nomeadamente sobre as Caldas do Gerês. A Saúde Pública também beneficiou do seu labor, sendo o domínio que o atraiu na sequência da epidemia de cólera de 1883.
Depois da discussão sobre a instalação dos cemitérios no Porto decorrida na Sociedade União Médica, Ricardo Jorge promoveu quatro conferências em 1884 (A Higiene em Portugal, A Evolução das Sepulturas, Inumação e Cemitérios eCremação), para refutar as autoridades higiénicas que supunham que os cemitérios provocavam a inquinação do ar, do solo ou da água, colocando em perigo a saúde pública. As conferências, que lhe conferiram fama e prestígio, vieram a ser publicadas no livro A Higiene Social Aplicada à Nação Portuguesa, que contribuiu para o debate sobre a laicização da morte e é considerado um momento chave do sanitarismo em Portugal.
Na sequência destes acontecimentos, a Câmara Municipal do Porto convidou-o a associar-se a uma comissão de estudo das condições sanitárias do Porto, no âmbito da qual produziu um inquérito sobre as condições de salubridade urbana e o relatório final (O Saneamento do Porto), apresentado em 1888.
Este importante relatório motivou novo convite da Câmara Municipal do Porto, em 1892, desta vez para dirigir os Serviços Municipais de Saúde e Higiene da Cidade do Porto e chefiar o Laboratório Municipal de Bacteriologia. No âmbito destas actividades publicou a série do respectivo Anuário e um Boletim Mensal de Estatística Sanitária do Porto, que fizeram dele o introdutor da moderna estatística demográfica em Portugal.
O crescente prestígio de Ricardo Jorge contribuiu para a sua progressão na carreira académica. Em 1895 foi indigitado Professor Titular da cadeira de Higiene e Medicina Legal da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
No decurso do trabalho para a edilidade portuense editou, em 1899,Demografia e Higiene da Cidade do Porto, uma obra onde conjugou o estudo das origens do Porto com dados estatísticos e que serviu de exemplo para muitos trabalhos similares. Ainda hoje é uma obra de referência para todos quantos estudam a história da cidade.
Entre Junho e Setembro de 1899, o Porto foi assolado pela peste bubónica, uma epidemia teoricamente extinta no Ocidente desde Setecentos, mas por ele diagnosticada e noticiada às autoridades competentes, a quem solicitou o auxílio de especialistas, nacionais e estrangeiros, como Câmara Pestana, que apenas confirmaram as suas suspeitas. No relatório de sua autoria -A Peste Bubónica no Porto -, publicado nesse ano, deu conta da descoberta da epidemia e das primeiras medidas profiláticas.
As medidas profiláticas que enunciou para a erradicação da peste, tais como o isolamento dos doentes e a desinfecção das casas onde se verificaram casos patológicos, ao mesmo tempo que o consagraram como um epidemiologista de renome despoletaram a ira da populaça, instigada por grupos políticos. Esta reacção violenta levou o médico a abandonar a cidade.
Em Outubro de 1899, já em Lisboa, foi nomeado Inspector-geral de Saúde (na posteriormente designada Direcção Geral de Saúde) e, de seguida, foi professor da cadeira de Higiene da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Nesta nova fase da sua vida, fundou, em 28 de Dezembro de 1899, o Instituto Central de Higiene (que veio a ter o seu nome), com o intuito de formar sanitaristas e de desenvolver a investigação na área da Saúde Pública. A reforma dos serviços sanitários que promoveu conduziu à publicação do Regulamento Geral dos Serviços de Saúde e Beneficência Pública, em 24 de Dezembro de 1901.
Fez parte da organização da Assistência Nacional Contra a Tuberculose, participou no Congresso Internacional de Medicina, de 1906, no qual presidiu à Secção de Higiene e Epidemiologia, colaborou na reforma do ensino médico de 1911 e, em 1912, passou a representar Portugal noOffice Internacional d'Hygiene de Paris, onde se notabilizou.
Em 1913 começou a publicar os Arquivos do Instituto Central de Higiene e, em 1914, principiou a edição da série estatística Movimento Fisiológico da População (1914-1925).
Entre 1914 e 1915 presidiu à Sociedade das Ciências Médicas. Nos anos subsequentes visitou formações sanitárias na área de guerra na França, vindo depois a organizar a luta contra a epidemia da gripe pneumónica, do tifo exantemático, varíola e difteria, consequências das más condições sanitárias no período do pós I Guerra Mundial.
Em 1926 foi incumbido de reformar o seu Regulamento de Saúde Pública, de 1901.
Por mérito próprio foi escolhido para representar Portugal no Comité de Higiene da Sociedade das Nações. Em 1929 foi nomeado Presidente do Conselho Técnico Superior de Higiene.
Foi autor de inúmeros trabalhos científicos (sobre problemas sanitários e temas como a difteria, a cólera, a tuberculose, a profilaxia anti-venérea, o tifo exantemático, a lepra, a febre amarela, o cancro, a varíola, etc.) mas, como homem intelectualmente curioso e culto que era, também produziu obras sobre literatura, história da ciência ou arte. Estudou grandes figuras da cultura e da ciência (Ribeiro Sanches, Luís António Verney, Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Gil Vicente, Ramalho Ortigão, Rodrigues Lobo, Gomes Leal, Amato Lusitano, Pasteur ou El Greco), tentou desmistificar problemas históricos, como o hipotético envenenamento de D. João II, e escreveu textos polémicos e crónicas de viagem.
Muitos destes trabalhos foram, por certo, baseados em títulos da sua vasta e erudita biblioteca, parte da qual foi doada à Sociedade de Ciências Médicas, em 1985.
A aproximação do final da sua vida não o impediu de trabalhar, tendo feito a última intervenção numa reunião do Office Internacional de Higiene três meses antes de morrer em Lisboa, em 29 de Julho de 1939.
Foi um ilustre professor, a figura maior da Medicina Social em Portugal e um grande humanista, que teve, entre outros, como companheiro o Professor Maximiano Lemo (1860-1923) e como amigo Camilo Castelo Branco (1825-1890).

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