Irei falar de tudo e do nada. Histórias e estórias. Coisas pensantes e desconcertantes. Fundado a 30 de Novembro de 2009 numa 2ª Feira
Previsão do Tempo
segunda-feira, 9 de julho de 2012
A PRAIA, HÁ MUITOS ANOS
A PRAIA, HÁ MUITOS ANOS
Por Alice Vieira
MUITAS vezes penso como foi que nós – ou seja, todos os que já temos para lá de 50 anos – conseguimos sobreviver.
Como foi que conseguimos ser crianças, adolescentes, andar na escola, aprender. Como foi que conseguimos ser gente sem nos terem levado ao psicólogo. Como foi que crescemos mais ou menos saudáveis, sem ficarmos traumatizados por esse tempo pré-histórico em que – segundo os padrões de hoje – nada havia.
Para vocês deve ser praticamente impossível imaginar um mundo sem telemóveis, sem computadores, sem Power-points, sem tv interativa, sem downloads, sem i-Pad ou i-Pod, ou i-Outra Coisa Qualquer. Um mundo sem discotecas, sem mochilas às costas, sem inter-rails, sem férias em Lloret del Mar, sem Erasmus.
Até a mim – juro – me custa a acreditar.
Mas existiu.
E sobrevivemos.
E fomos tão felizes como vocês. Só que de outra maneira.
Quando chegam os meses de verão, por exemplo, lembro-me das minhas idas à praia, quando eu era muito criança. Vivíamos perto de Sintra mas, não sei porquê, os adultos lá de casa não seguiam, como destino comum de quem vivia naqueles lugares, para a Praia das Maçãs.
Não.
Armavam-se como se fôssemos para uma expedição para o deserto, e marchávamos para a Praia do Guincho.
Há 60 anos, a Praia do Guincho não existia. Ou seja, existia um imenso areal deserto, um mar bravo de meter medo ao susto, dunas onde os pescadores tinham construído umas minúsculas casotas para se abrigarem em caso de tempestade maior – e mais nada. Rigorosamente mais nada.
Nem pessoas, evidentemente, a não ser os pescadores na sua faina.
Ah, por acaso havia também um barracão mal amanhado no cimo das arribas, junto à estrada, que era uma espécie de restaurante de um senhor galego chamado Muxaxo, que gostava muito de nós porque éramos os únicos a descer à praia (e se era complicado descer por aquelas rochas até chegarmos ao areal!).
Fazia sempre muito mau tempo no Guincho. Mesmo quando fazia bom tempo no resto do país. Muito vento, muito frio e — nunca percebi porquê – enxames de abelhas desvairadas a atacar os invasores…
Então os adultos lá de casa, todas as manhãs, antes de sairmos, telefonavam para a barraca do Sr. Muxaxo para saber como estava o tempo. E o Sr. Américo ou a Josefa (que eram os únicos empregados) lá nos serviam de boletim meteorológico.
Mas mesmo que as precisões não fossem das melhores – raramente eram… – a gente marchava para lá. Era preciso haver uma tempestade muito, muito, mas mesmo muito grande para desistirmos. (E não, os adultos lá de casa nunca pensaram que podíamos apanhar resfriados ou gripes. E a verdade é que nunca apanhámos.) Connosco marchavam também mantas, cadeiras de verga, casacos, repelentes de insetos, mas não me lembro de alguma vez termos levado protetor solar.
As onze da manhã eram o ponto mais dramático do dia. Nós, os miúdos da casa, até tremíamos, mas nem pensar em fugir ou dizer que não.
Era a hora em que chegava o Sr. António.
O Sr. António pescava robalos, que vendia aos adultos da casa e, depois de feito o negócio, olhava para nós, esfregava as mãos e dizia “vamos lá a isto”.
E nós todos íamos atrás dele até à beira mar. Punha-nos em linha e depois, com uma das mãos apertava-nos o nariz e com a outra rodeava-nos o corpo e atirava-nos ao mar – e a gente que se desenvencilhasse. Lá longe, ao abrigo da barraca de lona, os adultos da casa nem se dignavam olhar.
Gritávamos, esbracejávamos, engolíamos litros e litros de água salgada, faltava-nos o ar -- mas foi assim que nós todos aprendemos a nadar na perfeição. Porque quem escapa ao mar do Guincho escapa a todos os mares do mundo.
E nenhum de nós ficou traumatizado.
Vou muito pouco ao Guincho, mas tenho sempre muitas saudades desse tempo, e sobretudo do sorriso do Sr. Américo e da Josefa. Nunca me lembro deles sem estarem a sorrir para nós. Sorriam muito, sorriam sempre.
Hoje o progresso dá-nos muitas coisas melhores – mas acho que as pessoas sorriem menos.
Por Alice Vieira
MUITAS vezes penso como foi que nós – ou seja, todos os que já temos para lá de 50 anos – conseguimos sobreviver.
Como foi que conseguimos ser crianças, adolescentes, andar na escola, aprender. Como foi que conseguimos ser gente sem nos terem levado ao psicólogo. Como foi que crescemos mais ou menos saudáveis, sem ficarmos traumatizados por esse tempo pré-histórico em que – segundo os padrões de hoje – nada havia.
Para vocês deve ser praticamente impossível imaginar um mundo sem telemóveis, sem computadores, sem Power-points, sem tv interativa, sem downloads, sem i-Pad ou i-Pod, ou i-Outra Coisa Qualquer. Um mundo sem discotecas, sem mochilas às costas, sem inter-rails, sem férias em Lloret del Mar, sem Erasmus.
Até a mim – juro – me custa a acreditar.
Mas existiu.
E sobrevivemos.
E fomos tão felizes como vocês. Só que de outra maneira.
Quando chegam os meses de verão, por exemplo, lembro-me das minhas idas à praia, quando eu era muito criança. Vivíamos perto de Sintra mas, não sei porquê, os adultos lá de casa não seguiam, como destino comum de quem vivia naqueles lugares, para a Praia das Maçãs.
Não.
Armavam-se como se fôssemos para uma expedição para o deserto, e marchávamos para a Praia do Guincho.
Há 60 anos, a Praia do Guincho não existia. Ou seja, existia um imenso areal deserto, um mar bravo de meter medo ao susto, dunas onde os pescadores tinham construído umas minúsculas casotas para se abrigarem em caso de tempestade maior – e mais nada. Rigorosamente mais nada.
Nem pessoas, evidentemente, a não ser os pescadores na sua faina.
Ah, por acaso havia também um barracão mal amanhado no cimo das arribas, junto à estrada, que era uma espécie de restaurante de um senhor galego chamado Muxaxo, que gostava muito de nós porque éramos os únicos a descer à praia (e se era complicado descer por aquelas rochas até chegarmos ao areal!).
Fazia sempre muito mau tempo no Guincho. Mesmo quando fazia bom tempo no resto do país. Muito vento, muito frio e — nunca percebi porquê – enxames de abelhas desvairadas a atacar os invasores…
Então os adultos lá de casa, todas as manhãs, antes de sairmos, telefonavam para a barraca do Sr. Muxaxo para saber como estava o tempo. E o Sr. Américo ou a Josefa (que eram os únicos empregados) lá nos serviam de boletim meteorológico.
Mas mesmo que as precisões não fossem das melhores – raramente eram… – a gente marchava para lá. Era preciso haver uma tempestade muito, muito, mas mesmo muito grande para desistirmos. (E não, os adultos lá de casa nunca pensaram que podíamos apanhar resfriados ou gripes. E a verdade é que nunca apanhámos.) Connosco marchavam também mantas, cadeiras de verga, casacos, repelentes de insetos, mas não me lembro de alguma vez termos levado protetor solar.
As onze da manhã eram o ponto mais dramático do dia. Nós, os miúdos da casa, até tremíamos, mas nem pensar em fugir ou dizer que não.
Era a hora em que chegava o Sr. António.
O Sr. António pescava robalos, que vendia aos adultos da casa e, depois de feito o negócio, olhava para nós, esfregava as mãos e dizia “vamos lá a isto”.
E nós todos íamos atrás dele até à beira mar. Punha-nos em linha e depois, com uma das mãos apertava-nos o nariz e com a outra rodeava-nos o corpo e atirava-nos ao mar – e a gente que se desenvencilhasse. Lá longe, ao abrigo da barraca de lona, os adultos da casa nem se dignavam olhar.
Gritávamos, esbracejávamos, engolíamos litros e litros de água salgada, faltava-nos o ar -- mas foi assim que nós todos aprendemos a nadar na perfeição. Porque quem escapa ao mar do Guincho escapa a todos os mares do mundo.
E nenhum de nós ficou traumatizado.
Vou muito pouco ao Guincho, mas tenho sempre muitas saudades desse tempo, e sobretudo do sorriso do Sr. Américo e da Josefa. Nunca me lembro deles sem estarem a sorrir para nós. Sorriam muito, sorriam sempre.
Hoje o progresso dá-nos muitas coisas melhores – mas acho que as pessoas sorriem menos.
(In “Audácia”, revista juvenil dos Missionários Combonianos, número de Junho 2012)
E assim vai este país!
No país da bandalheira
Vale e Azevedo. Duarte Lima. Armando Vara. Dias Loureiro.
Querem que continue? Querem que traga à colecção os nomes de todos, pulhas, sabujos, corruptos, políticos e amigos de políticos, bandalhos e amigos de bandalhos, que sujaram e sugaram este país ao longo das últimas décadas na mais descarada impunidade? Foram ministros, foram presidentes de clubes, deputados, lambe-botas do poder. Foram? São. A seita não se extingue, não acaba aqui enquanto não for o povo a acabar com eles. Exigindo mais. Indignando-se mais. Escolhendo melhor o que fazer na hora das eleições.
O cancro está diagnosticado mas nada se faz para o extirpar. Há anos, há décadas que dizemos mal dos políticos mas, mal abrem as urnas, acorremos a dar o voto aos políticos que transformam as urnas em caixões, os nossos. Onde sepultamos esperanças, sonhos, aspirações.
E aqui chegámos. Mais pobres, mais desprezados, mais explorados. Aqui chegámos. E por aqui não ficaremos. A cova abrir-se-á mais fundo. Será a vala-comum de progressos nunca alcançados, de futuros sempre adiados.
Em liberdade ficarão os Azevedos, os Limas, os Varas, os Loureiros. Nós, na prisão.
Portugal.
Publicada por Observador
Uma semana muito produtiva
Uma semana muito produtiva
Passos Coelho não sabia como havia de justificar mais uma pinochetada de austeridade sobre os trabalhadores para justificar o desvio colossal nas receitas fiscais, desta vez um desvio colossal que não pode ser atribuído a Sócrates, que não encobre as contas da Madeira e que só se deve ao brilhantismo intelectual de Vítor Gaspar que usa os pés para fazer os cálculos das previsões económicas. Mas o Tribunal Constitucional deu-lhe uma boa saída, vai tirar os subsídios aos que trabalham por conta de outrem mas a culpa não é dele, o Tribunal Constitucional é que disse que em Portugal ou há igualdade ou comem todos.
O Paulo Macedo só não teve a sua semana horribilis porque o Miguel Relvas é um vaidoso e há quatro semanas que quer as atenções todas para eles. O Opus ministro estava a preparar-se organizar missas de acção de graças por ter reintroduzido o esclavagismo em Portugal. A troco de um mês de trabalho os enfermeiros recebem o equivalente a um subsídio de refeição, trabalham que se fartam e no fim o Macedo, o tal que ganhava mais vinte mil no fisco, dá-lhes trezentos euros e diz-lhes “vá, tomem lá para irem almoçar à cantina da Santa Casa onde se come muito bem.”. Estava tentando fazer o mesmo aos médicos mas estes mandaram-no à bardamerda e agendaram uma greve. Queria negociar, mas para ter a certeza de que metia os médicos na linha o Opus ministro ameaçou-os com a requisição civil. Parece que os médicos não são apreciadores das auto flagelações da Opus Dei e voltaram a mandá-lo à bardamerda, ficou a negociar sozinho.
Os nossos cruzados do cristianismo já não são o que eram, longe vão os tempos em que foram como voluntários combater o Estaline ao lado das tropas de Hitler. Agora atravessam meio mundo para irem a Pequim dar graça ao pessoal do partido comunista local e como se isso fosse pouco, no fim das reuniões vão junto dos jornalistas que viajaram à borla à conta dos contribuintes, contar-lhes todos babados que os comunistas lhes elogiaram a pinochetada orçamental que aplicaram aos portugueses. Longe vão os tempos em que os líderes da nossa direita e os seus economistas tinham o sentido da dignidade e em vez de lamberem os ditos cujos dos comunistas os tinham em quantidade para assumirem os seus valores.
Cavaco Silva não consultou o Tribunal Constitucional a propósito do roubo dos subsídios porque nenhum outro presidente o tinha feito. O governo já pode tirar todos os vencimentos e decretar o esclavagismo, pode suspender as eleições, pode fazer tudo o que entender porque a não ser que tenha havido um precedente e um Presidente tenha consultado o Tribunal Constitucional o homem da Quinta da Coelha autoriza tudo sem consultar o Tribunal. Cavaco só consulta o Tribunal Constitucional se um antecessor já o tiver feito sobre o mesmo assunto!
In " O jumento"
9 DE JULHO: AS HISTÓRIAS DESTE DIA
1ª Página do Diário de Notícias de 09/07//2012
Greve 'obriga' ministro a abrir 1800 vagas para novos...
Macedo garante lugares para recém licenciados em 2013 e anuncia novo consurso de prestação de serviços até ao final do ano
Subscrever:
Mensagens (Atom)