Aos quatorze anos, a sua familia publica-lhe alguns poemas, considerados maus pelo poeta. No entanto, Ary dos Santos revelaria verdadeiramente as suas qualidades poéticas em 1954, com dezasseis anos de idade. É nessa altura que vê os seus poemas serem seleccionados para a Antologia do Prémio Almeida Garrett.
Foi nessa altura que Ary dos Santos abandonou a casa da família, exercendo as mais variadas actividades para seu sustento económico, actividades essas que passariam pela venda de máquinas para pastilhas até à publicidade. Contudo, paralelamente, o poeta não cessa jamais de escrever e em 1963 dar-se -ia a sua estreia efectiva com a publicação do livro de poemas " A Liturgia do Sangue".
Ary dos Santos morreu a 18 de Janeiro de 1984.
Com ele, os festivais RTP da canção atingiram alguma dignidade. Poeta empenhado nas lutas sociais do seu tempo, foi autor (com Nuno Nazareth Fernandes, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, José Luís Tinoco e outros) de algumas belas canções. "Menina", por Tonicha, "Desfolhada", por Simone de Oliveira e sobretudo a "Tourada", com Fernando Tordo, foram algumas das suas canções de maior sucesso nos festivais anteriores ao 25 de Abril.
Com algum escândalo à mistura: primeiro, no ano da "Desfolhada", onde Ary teve a "ousadia" de escrever um verso que fez corar as mentes puritanas da época ("quem faz um filho fá-lo por gosto"); depois com "Tourada", que esteve mesmo para ser impedida de representar Portugal no Eurofestival.
Após a Revolução, Ary continuou a escrever canções: "Portugal Ressuscitado", escrita em cima dos acontecimentos, foi a primeira canção sobre o 25 de Abril, e muitas se lhe seguiram, algumas de cunho militante e circunstancial (como o "Fado de Alcoentre"), outras capazes de resistir à passagem do tempo, como "Estrela da tarde" ou os "Putos", ambas cantadas por Carlos do Carmo.
Ary dos Santos foi um dos mais talentosos poetas da sua geração, conhecido pela sua linguagem irreverente e ágil e que contribuiu de grosso modo para a viragem de música popular portuguesa. Como ele próprio dizia, a poesia era a maneira que ele tinha de falar com o povo porque ser poeta é escolher as palavras que o povo merece.
«…Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
Falso médico ladrão
Prostituta proxeneta
Espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!»