Pedro Álvares Cabral nasceu em Belmonte, à volta do ano 1467/68. Filho de Isabel de Gouveia (filha de João de Gouveia, alcaide-mor do Castelo Rodrigo) e de Fernão Cabral (alcaide-mor dos castelos de Belmonte e da Guarda). Teve berço abastado numa casa, onde lhe incendiaram decerto, não só o orgulho de fidalgo, mas tanto ou mais que isso: a contemplação dos feitos de seu pai e a lembrança dos seus antepassados.
Um grande exemplo de bravura e coragem fora, sem dúvida, o seu bisavô Luís Álvares Cabral que fora, segundo se crê, o primeiro membro da família investido na alcaidaria-mor de Belmonte. E que, em 1415, tivera uma activa participação na primeira campanha marroquina, a da conquista de Ceuta, como um dos combatentes incorporados no grupo chefiado pelo Infante D. Henrique.
Outro, fora o seu avô, Fernão Álvares Cabral que se contava que tendo também participado na expedição da Conquista de Ceuta, não pudera por doença combater, mas tendo permanecido nessa cidade marroquina nos seguintes anos, ajudara a defendê-la, quando dos cercos a ela postos pelos mouros em 1418. Mais tarde, em 1437, na fracassada tentativa de conquista de Tânger, perdera a vida em combate.
E finalmente o seu pai, Fernão Álvares, cuja participação nas conquistas marroquinas se apresentavam para o pequeno Pedro como romances de aventuras. Devido também ao rigor com que exercia as suas funções militares e judiciais de alcaide-mor de Belmonte e corregedor da comarca da Beira, foi cognominado de O Gigante da Beira.
Como era costume da época, à volta de 1478, Pedro Álvares Cabral foi mandado para a corte com a finalidade de receber uma educação própria da elevada classe social. Esta consistia em alguma instrução literária e científica de ordem geral, bem como no uso de armas e sociabilidade cortesã. Já ali o precedera o seu irmão mais velho, João Fernandes Cabral.
Segundo Damião Peres, da vida de Pedro Álvares Cabral, desde a sua chegada à corte até ao fim do século, nada de concreto se sabe além de que, jovem ainda, desposou D. Isabel de Castro, prima do Marquês de Vila Real e sobrinha daquele que viria a ser o maior governador de Índia, Afonso de Albuquerque.
Dos navios da frota de Vasco de Gama regressados a Portugal, o primeiro foi a nau Bérrio, que ancorou no Tejo a 10 de Julho de 1499. Logo se conheceu o sucesso da empresa descobridora do caminho marítimo para a Índia. Esta ideia foi confirmada algumas semanas depois, à vista das especiarias trazidas, embora em pouca quantidade, por outra nau da mesma frota, S. Gabriel, o que causou grande entusiasmo entre a população lisboeta.
Quando no limiar do Outono, Vasco da Gama regressou a Portugal (após ter passado pelos Açores para sepultar o seu irmão Paulo da Gama), contou ao rei as suas dificuldades em comerciar com os povos orientais, visto que, aos olhos duma civilização tão avançada, os nossos presentes de homenagem pareciam-lhes insignificantes.Assim, o rei concluiu que convinha aparecer nos mares da Índia com maior aparato de força e melhor brilho de ostentação humana. Pois, pensava ele, os moradores daquelas partes pensariam que o reino de Portugal era muito poderoso para prosseguir com aquela empresa e que, vendo gente luzida e com riqueza, quereriam a sua amizade.
Com esta intenção, e sob o estímulo do interesse e do entusiasmo geral, começou-se sem demora a organizar uma nova armada, esta agora, bem mais "poderosa em armas e em gente luzida", isto é, capaz de obter, por persuasão ou pela força, os resultados que, Vasco da Gama, com a escassez dos seus meios militares-navais, não conseguira alcançar. No comando supremo desta armada, composta por treze navios, foi investido Pedro Álvares Cabral através da carta Régia de 15 de Fevereiro de1500.
Sobre o que levou o monarca a fazer esta escolha (segundo Damião Peres) não há certezas, só hipóteses. Por um lado, o prestígio da sua ascendência e a influência de alguns parentes por afinidade, tais como, Afonso de Albuquerque e principalmente o Marquês de Vila Real. Finalmente, aqueles seus desconhecidos "feitos e merecimentos" a que aludira a carta régia de 1497 e a sua categoria de fidalgo da casa real.
Assim, um dos propósitos do rei estava concluído. Pois, Pedro Álvares Cabral, que com o comando geral acumulava a capitania do navio-chefe, juntamente com os demais capitães - Nicolau Coelho, Bartolomeu Dias, Diogo Dias, Sancho de Tovar, Simão de Miranda de Azevedo, Aires Gomes da Silva, Pedro de Ataíde, Vasco de Ataíde, Simão de Pina, Nuno Leitão da Cunha, Gaspar de Lemos e Luís Pires - de igualmente portentosa ascendência, constituíam um bom núcleo daquela "gente luzida" com que o monarca pretendia mostrar ao Oriente os melhores brilhos de Portugal.
Porém, a par deste aspecto, o outro, o de a armada ser "poderosa em armas", fora igualmente tratado, pois além de abundantemente provida de artilharia e demais armamento - tudo do melhor que se conseguiu arranjar -, a armada transportava 1500 homens, dos quais 1000 eram combatentes. Estes são bem esclarecedores quando comparados com os da frota de Vasco da Gama, cujos tripulantes, incluindo mareantes e combatentes, rondavam os 150 homens.
Outro aspecto importante era o de converter ao cristianismo "os mouros e as gentes idólatras daquelas partes" - como dizia o próprio rei. Para isso, este embarcou alguns sacerdotes para os serviços religiosos da armada e eventual fixação de um pequeno grupo de Franciscanos no Oriente.
Finalmente, os meios de navegação e a rota a seguir foram também cuidadosamente assentes, recorrendo-se, quanto a esta, a instruções régias cujas normas foram sugeridas por Vasco da Gama. Em cada navio ia um piloto e, pelo menos nos maiores, um sota-piloto. O único piloto conhecido actualmente é Pedro Escobar, a quem também chamavam Pero Escolar. O facto de Pero Escolar ter pilotado, entre outras, uma caravela de Diogo Cão, outra de Gonçalo de Sousa e também a Bérrio, da armada de Vasco da Gama , juntamente com alguns pormenores sobre a sua competência profissional, faziam dele um piloto exemplar. Assim, esta grandiosa armada, parecia estar disposta a cumprir a todo o custo, a sua missão no Oriente.
Concluídos todos os preparativos, o rei fixou a data da partida: 8 de Março de 1500, devendo pomposamente realizar-se o embarque na praia do Restelo que, nesse tempo, ficava perto da Ermida de Nossa Senhora de Belém.
Desde a madrugada que devem ter convergido para os extensos areais de Belém, com as suas famílias, os soldados e marinheiros que iam embarcar. Aqui e além, brotavam algumas lágrimas, talvez de medo da separação ou de terror dos mares desconhecidos. Era um Domingo, dia de preceitual assistência à missa, celebrada, nesse dia, na Ermida do Restelo. Acabada a cerimonia religiosa, e depois de beijar a mão ao monarca D. Manuel I, Pedro Álvares Cabral, com a bandeira portuguesa na mão, entrou com os demais capitães, para os batéis onde já os aguardavam os demais tripulantes. O cenário era fantástico. Todo o povo de Lisboa tumultuava perante um tão grandioso espectáculo, no Tejo vogavam os batéis repletos de gente e toda a esplendorosa armada. Animando tudo isto, ouvíam-se, em terra e no Tejo, os sons melodiosos de vários instrumentos musicais, tais como: trombetas, tambores, flautas e pandejos.
Porém, o único a faltar, foi o vento, levando a armada a um inesperado adiamento da largada. Mas não foi grande a enervante espera, pois logo no dia seguinte um vento favorável de norte ou nordeste, tornou possível a partida. Erguidas as velas, a armada rumou à barra iniciando-se uma viagem de sucessos inesperados.Por fim, ao anoitecer do dia 9 de Março de 1500, a grandiosa armada transpunha a barra do Tejo e cortava finalmente a águas do Atlântico.
A bordo da nau-capitânia viajava o famosa escrivão, antigo mestre da Balança da Casa da Moeda do Porto, Pero Vaz da Caminha que começava a escrever os primeiros incidentes da viagem e que, mais tarde, enviaria numa carta ao rei D. Manuel. Essa carta. Enviada do Brasil, é o documento principal que permite aos historiadores actuais saber o que se passou na primeira parte da viagem. As instruções náuticas, inspiradas, como já disse, por Vasco da Gama, diziam que a armada se devia dirigir à ilha de S. Nicolau, no arquipélago de Cabo Verde, em vez de se dirigir à ilha de Santiago pois esta contraía-se uma epidemia que era preciso evitar. Mas, se tivesse água necessária para quatro meses, não precisaria de aí fazer escala. Deveria então remar a sul, sem perda de tempo, enquanto o vento fosse favorável. A seguir deveria fazer a volta do largo a fim de atingir a latitude necessária para dobrar o cabo da Boa Esperança.
Iniciando essa marcha, a frota lançou-se " por este mar de longo", como escreveu Pêro Vaz de Caminha, aí permanecendo, virado a sudoeste, por quase um mês. Desfalcada pela perda da nau de Vasco de Ataíde que, tresmalhada, nunca mais fora vista, no mar ou em terra, tendo sido "engolida pelo mar", como dizia a tripulação.
Durante esses dias, nada de aliciante se passou, que despertasse a curiosidade de Pêro Vaz de Caminha, que se limitou a descrever as tarefas banais de bordo, abrindo uma excepção no dia 19 de Abril, visto que se tratava das celebrações da Páscoa. Porém, dois dias depois (dia 21 de Abril), começou a haver alvoroço entre a tripulação. Embora sabendo que viajavam longe da costa Africana, os marinheiros começaram a ver umas algas boiantes, que, segundo os mais experientes, indicavam que havia terra por perto. Nas primeiras horas do dia seguinte, dia 22 de Abril, o aparecimento de aves, veio confirmar as suspeitas. E finalmente, ao entardecer desse dia, começaram-se a distinguir, embora muito mal devido à névoa, os contornos de montanhas. E, à medida que a frota ia avançando foram-se distinguindo, segundo escreveu Caminha, " um grande monte, mui alto e redondo, e outras serras mais baixas, e terra chã, com muitos arvoredos; ao qual monte o capitão deu o nome de Monte Pascoal e à terra, Terra de Vera Cruz". Era a primeira visão daquilo que actualmente se chama Brasil.
Ao crepúsculo desse dia, embora ainda a umas seis léguas da costa, a frota ancorou. O entusiasmo duma descoberta tão inesperada , não permitia adiamentos. A falta de fontes históricas comprovadoras, não nos permite saber se este facto foi casual ou intencional. Conhece-se, é verdade, um regulamento minucioso sobre o que Pedro Álvares Cabral iria fazer durante o percurso, assim como as instruções de Vasco da Gama. Infelizmente, esses arquivos estavam tão incompletos quando chegaram aos nossos dias, que as informações àcerca deste problema, não vieram acrescentar muito ao que já se sabia. Até ao séc. XIX, pensava-se que a descoberta tinha sido meramente casual e, a certa altura, já era tal a fantasia que se diziam coisas, completamente contraditórias aos relatos de Pero Vaz de Caminha. Como por exemplo, nos livros estava escrito que a frota, ao passar pelas ilhas de Cabo Verde presenciara uma terrível tempestade que fizera desaparecer a nau de Vasco de Ataíde. Enquanto Pero Vaz de Caminha diz : " E Domingo, 22 do dito mês (Março), (...) houvemos vista das ilhas de Cabo Verde (...). Na noite seguinte, segunda-feira, se perdeu a nau de Vasco de Ataíde sem haver motivo vento forte ou contrário, para que tal acontecesse."
Porém, formada a lenda da tempestade e da casualidade do descobrimento, deveu-se a um brasileiro, em 1854, sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a primeira hipótese da sua intencionalidade. De facto, não era necessário fazer um tão grande desvio para sudoeste se se queria apenas dobrar o Cabo da Boa Esperança. Desde então, esta tese tem tido tantos defensores como contraditores. Intencional ou não, este descobrimento foi o ponto de partida para três séculos de desenvolvimento das terras sul-americanas sob aspectos de fusão nacional, aproximação humana, valorização económica e criação espiritual, que iria formar, a grande e independente nação: o Brasil dos nossos dias. Na manhã seguinte, dia 23, Nicolau Coelho foi a terra e, embora deslumbrado com a originalidade das populações, estabeleceu os primeiros contactos com os povos indígenas daquelas terras.
No dia seguinte, toda a tripulação, desembarcou, umas 10 léguas a norte. Ficaram completamente deslumbrados com o clima, a paisagem, as plantas, os animais e sobretudo, as gentes " pardos e todos nus", como disse Pero Vaz de Caminha na carta que escreveu ao rei, a contar a descoberta.
Após uma semana no Brasil, a nau de Gaspar de Lemos, regressou a Lisboa, com a carta de Pero Vaz de Caminha. As outras, seguiram o seu destino para a Índia. Porém, a segunda parte da viagem, foi terrível. À passagem do Cabo da Boa Esperança, houve uma tão violenta tempestade que dissipou a armada afundando várias naus com as suas tripulações, incluindo, o grande descobridor daquele cabo, Bartolomeu Dias, o seu irmão, Diogo Dias (que foi ter a uma grande ilha, a actual Madagáscar) e muitos outros. As restantes chegaram à Índia e estabeleceram contactos com vários reinos locais: Cochim, Cananor e Coulão. Regressaram a Lisboa a 23 de Julho de 1501 carregadas de riquezas.