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Tocam os sinos da torre da igreja, Há rosmaninho e alecrim pelo chão. Na nossa aldeia que Deus a proteja! Vai passando a procissão. Mesmo na frente, marchando a compasso, De fardas novas, vem o solidó. Quando o regente lhe acena com o braço, Logo o trombone faz popó, popó. Olha os bombeiros, tão bem alinhados! Que se houver fogo vai tudo num fole. Trazem ao ombro brilhantes machados, E os capacetes rebrilham ao sol. Tocam os sinos na torre da igreja, Há rosmaninho e alecrim pelo chão. Na nossa aldeia que Deus a proteja! Vai passando a procissão. Olha os irmãos da nossa confraria! Muito solenes nas opas vermelhas! Ninguém supôs que nesta aldeia havia Tantos bigodes e tais sobrancelhas! Ai, que bonitos que vão os anjinhos! Com que cuidado os vestiram em casa! Um deles leva a coroa de espinhos. E o mais pequeno perdeu uma asa! Tocam os sinos na torre da igreja, Há rosmaninho e alecrim pelo chão. Na nossa aldeia que Deus a proteja! Vai passando a procissão. Pelas janelas, as mães e as filhas, As colchas ricas, formando troféu. E os lindos rostos, por trás das mantilhas, Parecem anjos que vieram do Céu! Com o calor, o Prior aflito. E o povo ajoelha ao passar o andor. Não há na aldeia nada mais bonito Que estes passeios de Nosso Senhor! Tocam os sinos na torre da igreja, Há rosmaninho e alecrim pelo chão. Na nossa aldeia que Deus a proteja! Já passou a procissão.
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No Bairro da Madragoa À janela de Lisboa Nasceu a Rosa Maria Filha de gente vareira Foi criada na Ribeira Entre peixe e maresia Flor mulher aquela rosa É a moça mais airosa Que a lota já conheceu E toda a malta do mar Suspira ao vê-la passar De chinela e perna ao léu Lá vai a Rosa Maria que é a alegria desta Ribeira Ouve e ri à gargalhada qualquer piada, por mais brejeira Vai bugiar meu menino, não deites barro à parede Que esta Rosa é peixe fino p'rás malhas da tua rede O jovem Chico Fateixa Já jurou que não a deixa Pois a paixão é teimosa É de tal modo a cegueira Que deu à sua traineira O nome daquela Rosa E a Rosa da Madragoa Ao ver escrito na proa Seu nome, Rosa Maria... Ergueu os braços ao Chico Começou o namorico E vão casar qualquer dia
VIDEO "Calçada de Carriche" -- António Gedeão Luísa sobe, sobe a calçada, sobe e não pode que vai cansada. Sobe, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe sobe a calçada. Saiu de casa de madrugada; regressa a casa é já noite fechada. Na mão grosseira, de pele queimada, leva a lancheira desengonçada. Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Luísa é nova, desenxovalhada, tem perna gorda, bem torneada. Ferve-lhe o sangue de afogueada; saltam-lhe os peitos na caminhada. Anda, Luísa. Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Passam magalas, rapaziada, palpam-lhe as coxas não dá por nada. Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Chegou a casa não disse nada. Pegou na filha, deu-lhe a mamada; bebeu a sopa numa golada; lavou a loiça, varreu a escada; deu jeito à casa desarranjada; coseu a roupa já remendada; despiu-se à pressa, desinteressada; caiu na cama de uma assentada; chegou o homem, viu-a deitada; serviu-se dela, não deu por nada. Anda, Luísa. Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada. Na manhã débil, sem alvorada, salta da cama, desembestada; puxa da filha, dá-lhe a mamada; veste-se à pressa, desengonçada; anda, ciranda, desaustinada; range o soalho a cada passada, salta para a rua, corre açodada, galga o passeio, desce o passeio, desce a calçada, chega à oficina à hora marcada, puxa que puxa, larga que larga, puxa que puxa, larga que larga, puxa que puxa, larga que larga, puxa que puxa, larga que larga; toca a sineta na hora aprazada, corre à cantina, volta à toada, puxa que puxa, larga que larga, puxa que puxa, larga que larga, puxa que puxa, larga que larga. Regressa a casa é já noite fechada. Luísa arqueja pela calçada. Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada, sobe que sobe, sobe a calçada, sobe que sobe, sobe a calçada. Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada.
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Mais uma noite perdida Mais uma noite de fado É mais um dia de vida A recordar o passado. Saudades são pombas mansas A que nós damos guarida Um paraíso de lembranças Da mocidade perdida Se a neve cai ao de leve Sem mesmo haver tempestade O cabelo cor da neve Às vezes não é da idade. Pior que o tempo em nos pôr A cabeça encanecida São as loucuras de amor São os desgostos da vida. Para o passado não olhes Quando chegares a velhinho Porque é tarde e já não podes Voltar atrás ao caminho.