Foi o facto de ter
Aqui viveu entre 1836 e 1839, altura em que acompanha a irmã Carolina, mais velha do que ele quatro anos, para Vilarinho da Samardã, ainda no concelho de Vila Real, quando esta casou com Francisco de Azevedo, filho de lavradores remediados daquela povoação e ao tempo estudante de Medicina. Note-se que Camilo já tinha vivido
A permanência em Vilarinho da Samardã não foi muito longa, pois em 1841 já se encontra em Ribeira de Pena, onde completou a sua educação com o padre Manuel da Lixa e deve ter tido o primeiro emprego, como ajudante de tabelião. Foi também na Igreja do Salvador, de Ribeira de Pena, que casou com Joaquina Pereira de França, de Friúme, tendo apenas 16 anos (a noiva tinha 15). Provavelmente a expensas do sogro, passou em 1843 ao Porto, onde frequentou a Escola Médica, com aproveitamento modesto. Segundo o seu próprio testemunho, terá também tentado o curso de Direito, em Coimbra, mas não parecem restar documentos que o sustentem. (Em matéria de estudos há ainda a registar que, mais tarde, em 1850, se matricula no Seminário do Porto, mas uma vez mais não dá sequência ao curso.)
Baldadas as expectativas de um curso superior, vemo-lo de novo
Em Setembro de 1848, acossado pelas antipatias e animosidades que inspirou, abandona Vila Real em direcção ao Porto – cidade que, com os seus burgueses e barões mais ou menos broncos e a sua buliçosa juventude ligada aos jornais e à boémia, será o palco ideal para as suas irreverências e provocações, das quais a menor não será decerto a sua ligação com Ana Plácido, que seria a companheira para o resto dos seus dias. Isso não exclui, naturalmente, estadias mais ou menos longas, em outros lugares, nomeadamente Viana do Castelo, Lisboa e Coimbra.
Finalmente, a partir de finais de 1863 (ano da morte de Manuel Pinheiro Alves), instala-se com Ana Plácido
É geralmente aceite a ideia de que a reputação literária de Camilo não provém da sua produção poética. Na verdade, não falta quem, com razão ou sem ela, aponte a diferença de qualidade entre a prosa (seja o romance, seja o texto de natureza histórica, genealógica, jornalística, etc) e a poesia de Camilo. E no entanto, Camilo terá, no começo da sua carreira literária (descontadas as referidas correspondências nos jornais), idealizado conquistar renome como poeta e deixou uma produção mais vasta do que geralmente se supõe neste campo. As suas primeiras obras, publicadas sob a forma de folheto, são poemas de carácter mais ou menos jocoso, próximos do género herói-cómico (o último é mesmo composto em estrofes de oitava-rima): Os pundonores desagravados e O juízo final; e o Sonho do inferno(ambos de 1845) e A murraça (1848).
Segundo Camilo confessa, na novela As três irmãs (1862), os seus «primeiros versos lá estão abertos naquela pedra [do assim-chamado mausoléu de Camilo, no cemitério do Carmo,
Mais tarde, na nótula que dedicou a si próprio no Cancioneiro Alegre (ver abaixo), insistiria na apreciação negativa da sua poesia, ao escrever: «No cérebro deste sujeito nunca fosforeou pirilampo de poesia bem medida.»
(Há sempre margem para pensar, contudo, que Camilo se autodeprecia para ser lido a contrario sensu.)
Mas antes ainda dessa sextilha inscrita no supedâneo do dito mausoléu, terá certamente Camilo escrito os seus poemas muito juvenis, muito incipientes, de que se perdeu totalmente o rasto. «Como eu, saudoso das montanhas que deixara, continuasse a escrever outras odes (…)», confessa em Ao anoitecer da vida, referindo-se ao tempo em que viveu em Ribeira de Pena (entre 1841 e 1843). E sabemos que, por essa altura, teria já entre o povo alguma fama de poeta, pois escreve, no mesmo prefácio: «Poeta era só eu naquele quadrado de dez léguas.» Os versos a propósito dos quais escreve isto terão sido uma sátira chocarreira a um casamento desigual – e por pouco não lhe valeram uma sova, e foram a causa da sua retirada intempestiva de Ribeira de Pena, «com os ossos direitos que me aquela ingrata terra queria comer».
Uma vez mais, portanto, encontramos em Camilo poeta o cultor da sátira. Este é de facto um dos grandes veios da sua poesia (como o foi aliás, da sua prosa). Mas não podemos ignorar dois outros veios igualmente significativos: o lirismo e a inspiração religiosa.
De qualquer modo, não é de ignorar, por muito secundária que seja, a obra poética de Camilo Castelo Branco. Para Manuel Simões, que foi camilianista distinto e director da Casa de Camilo,
A produção camiliana no campo da poesia conheceu o seu momento mais fecundo entre os anos de 1849 e 1854, correspondente à sua fase de afirmação literária no Porto. Incansavelmente, publicou poemas em diversos jornais e recitou outros tantos em abadessados e sessões culturais. «(…) A poesia foi, em Camilo, ou uma tempestade de verão, ou funcionou por revoadas (…)», diz Ernesto Rodrigues (in prefácio a Camilo Castelo Branco – Poesia).
A obra poética em livro de Camilo Castelo Branco inclui: Os pundonores desagravados (1845), O juízo final; e o sonho do inferno (idem), A murraça (1848), Inspirações (1851), Hosanna! (1852), Duas épocas na vida (1854), Folhas caídas, apanhadas na lama (idem), Um livro (idem), Ao anoitecer da vida (1874), Nostalgias (1888) e Nas trevas(1890).
Note-se que muitos destes títulos correspondem a compilações de poemas publicados algures, como é o caso deInspirações, Hosanna! e Ao anoitecer da vida. Note-se ainda que Camilo intercala por vezes poemas em muitas obras de prosa, como é o caso de Coração, cabeça e estômago ou Serões de S. Miguel de Ceide, e também de teatro, como O Morgado de Fafe amoroso e A Morgadinha de Vale de Amores, esta incluída no volume Teatro cómico (1871). Note-se igualmente que, a partir de 1856 (ano em que publica o romance Onde está a felicidade?), a produção poética de Camilo abranda significativamente, marcando a sua inflexão no sentido da prosa.
O seu engodo pela poesia levou-o ainda a publicar o Cancioneiro alegre de poetas portugueses e brasileiros (1.ª ed. em 1879), uma antologia de poemas mais ou manos risonhos, em que inclui dois “Sonetos da decrepitude”, de sua autoria. Esta antologia viria a provocar algum burburinho, especialmente no Brasil, tanto que Camilo a reimprimiu acrescentando uma secção chamada “Os críticos do Cancioneiro Alegre”.
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