Herdeiro da coroa portuguesa, D. Pedro IV nasceu em ambiente de grande agitação política. As ideias liberais da Revolução Francesa proliferavam pela Europa. Portugal foi invadido pelas tropas napoleónicas, e a corte viu-se obrigada a fugir para o Brasil, em 1807. D. Pedro tinha 9 anos. Filho de D. João VI e de D. Carlota Joaquina, nunca se prendeu muito aos estudos. O espírito apaixonado e corajoso levou-o, no entanto, a assumir funções de destaque ao longo do seu percurso. “O Rei-Soldado” outorgou a Carta Constitucional e comandou as lutas entre liberais e absolutistas. “Foi um herói simultaneamente romântico e aventureiro”, aponta José Miguel Sardica, professor universitário. “Funda o estado liberal.”
Com o título de príncipe real desde Março de 1816, D. Pedro IV foi nomeado regente do Brasil aquando do regresso do pai a Portugal, em 1821.
A agitação de inspiração liberal começou a ganhar grandes proporções entre os naturais do Brasil. D. Pedro, que já se identificava com o liberalismo, recusou regressar quando foi pressionado pelas Cortes de Lisboa e proclamou a independência brasileira. “Em Janeiro de 1822 declarou o célebre ‘Eu fico!’. Para ele era a independência ou a morte”, diz José Miguel Sardica. “Quebrou o laço atlântico que, desde o século XVI, era o principal eixo económico do império.” Pouco depois, foi nomeado imperador do Brasil, ficando conhecido como D. Pedro I. “Um soldado imperador que sempre teve vontade de servir a pátria”, acrescenta Hélio Loureiro, chefe de cozinha do Porto Palácio Hotel e um apaixonado pela história de Portugal.
Com a morte de D. João VI, em 1826, D. Pedro tornou-se rei de Portugal. Na impossibilidade prática de reunir as duas coroas, decidiu apoiar a independência do Brasil. Outorgou a Carta Constitucional aos Portugueses e abdicou do trono a favor da sua filha mais velha, D. Maria da Glória (futura D. Maria II). Isto com a condição de esta se casar com o seu tio D. Miguel - líder da facção absolutista -, que devia jurar a Carta. D. Miguel acabou por defender os seus direitos ao trono e começou a governar como rei absolutista, iniciando a guerra civil que durou de 1828 a 1834. “Foi o conflito mais sangrento no País nos últimos 200 anos. Nem o Estado Novo criou tantos exilados e repressão política”, lembra José Miguel Sardica.
No governo do Brasil, a atitude autoritária de D. Pedro em relação às forças políticas mais liberais levou-o ao afastamento do poder. Viu-se obrigado a abdicar a favor do filho, futuro D. Pedro II, em 1831. Reduzido ao título de duque de Bragança, voltou para a Europa para defender os direitos da filha e ajudar a vingar a causa liberal. “D. Pedro foi um homem de sonhos, que quis avançar para o futuro”, afirma Hélio Loureiro. “Sabia perfeitamente que eram os ideais liberais que se propagariam e influenciariam o resto da Europa.”
Chegado aos Açores, o duque de Bragança formou governo, do qual faziam parte o jurista Mouzinho da Silveira e o diplomata marquês de Palmela. Tornou-se herói das lutas liberais, a personificação da viragem política, quando rechaçou, no cerco do Porto, os ataques das tropas miguelistas. Com a conquista de Lisboa, em 24 de Julho de 1833, pelas forças liberais e a assinatura da Convenção de Évora-Monte, em 26 de Maio de 1834, terminou, finalmente, com a guerra civil e exilou o rei absoluto. O trono foi restituído a D. Maria e deu-se início aos seus 19 anos de reinado. D. Pedro IV morreu quatro dias depois, no mesmo quarto do Palácio de Queluz - o de D. Quixote - onde tinha nascido. “Implantou e consolidou o Estado constitucional em Portugal. Deixou uma marca indelével”, conclui José Miguel Sardica
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