Previsão do Tempo

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A 11 de Junho de 2009, A Organização Mundial de Saúde anunciava ao mundo que estava perante uma nova pandemia

Pandemia Gripe A

A 11 de Junho, A Organização Mundial de Saúde anunciava ao mundo que estava perante uma nova pandemia. Até então o novo vírus infectara cerca de 30 mil pessoas em 74 países diferentes, e provocara já 114 mortes. Mas que vírus é este? Os vírus são entidades muito simples, formadas por uma cápsula proteica que envolve no seu interior material genético. Mas serão os vírus seres vivos? Alguns cientistas são de opinião que sim, já que os vírus têm capacidade de se reproduzirem. Outros defendem o contrário, salientando que os vírus não têm metabolismo próprio. Como não têm as ferramentas necessárias à reprodução, apoderam-se das que existem nas células que infectam. A forma como todo este processo decorre é crucial para explicar a imprevisibilidade do comportamento do vírus. Há duas características que contribuem para a enorme plasticidade dos virus gripe A.  A primeira é que o material genético é formado por um filamento único de ARN (ácido ribonucleico) e não pela famosa dupla hélice de ADN (ácido desoxirribonucleico) como acontece nos seres humanos. Ao contrário do ADN, o ARN não tem capacidade para corrigir os erros que ocorrem durante a replicação, pelo que as mutações são frequentes. De facto, os vírus em que o material genético é o ARN têm uma taxa de mutação 300 vezes superior à dos micróbios que possuem ADN. Esta é uma das razoes que obrigam a que todos os anos a vacina contra a gripe sazonal seja ligeiramente diferente. As alterações por mutação espontânea são chamadas variações Minor ou drift antigénico. A segunda característica resulta de o filamento de ARN ser composto por oito segmentos distintos que se separam durante a replicação na célula hospedeira. O problema é que quando dois vírus diferentes infectam a mesma célula poderá haver troca de segmentos entre eles, o que possibilitará que um dado vírus adquira características de outro. Este fenómeno, conhecido por “rearranjo genético”, esteve na origem do actual vírus A H1N1 e é um dos maiores motivos de preocupação face a esta pandemia.

A estas alterações drásticas no genoma geral dá-se o nome de variações Major ou shift antigénico. A designação da actual pandemia tem causado alguma confusão, principalmente desde que a OMS alterou o nome de “Gripe Suína” para “Gripe A”, já que todas as gripes pandémicas são provocadas por um vírus tipo A. No entanto houve varias razoes para a mudança, como o tratar-se já de uma doença humana, pois transmite-se de pessoa para pessoa, embora a origem seja suína. O extermínio injustificado de porcos em vários países, a ameaça ao comércio de carne suína, e a recusa das autoridades do México a aceitar a designação de “Gripe Mexicana”, alegando que prejudicava a imagem do país. A confusão surge porque o vírus responsável pela gripe espanhola foi uma
influenza A H1N1 e, por exemplo, o virus da gripe sazonal que circulou em Portugal em 2008 foi também um influenza A H1N1. A verdade é que o vírus da gripe A e o do ano passado são muito diferentes e, até ao momento, não há evidencias de que a vacina de 2008 ou o contacto com a gripe sazonal do Outono passado confiram qualquer protecção face ao vírus pandémico.

Em 22 de Maio de 2009, a revista cientifica Science publicou na sua edição on-line os resultados de uma análise à nova virose (variante), o qual apelidaram de “influenza A / Califórnia / 04 / 2009 H1N1 de origem suína.” Para facilitar chamemos-lhe 
Gripe A 2009  H1N1 . O artigo estava assinado por quase sessenta cientistas e continha revelações surpreendentes. Antes de olhar para o conteúdo do artigo convém perceber a nomenclatura dos vírus da gripe. Há três tipos de vírus influenza: A, B e C. O tipo A infecta seres humanos, cavalos, suínos e, particularmente, aves. É o único vírus da gripe com potencial pandémico. O tipo B é um vírus essencialmente humano, embora já tenha sido encontrado em cães, gatos e suínos. O tipo C é também predominantemente humano, mas o seu quadro clínico não é relevante. O vírus tipo A tem vários subtipos resultantes das características de duas proteínas (no total são 11 proteínas e 9 genes) por ele fabricadas: a hemaglutinina (HÁ), que permite ao vírus agarrar-se à membrana da célula que vai parasitar; e neuraminidase (NA) que é responsável por os vírus recém-formados conseguirem abandonar a célula hospedeira. Dito de outra maneira, e copiando uma metáfora do cibernauta Jay Allen, se a infecção pelo vírus da ripe fosse um assalto a um banco, a hemaglutinina seria o perito em explosivos responsável por abrir um buraco na parede, e a neuraminidase seria quem abrisse o cofre e viabilizasse a fuga.

No nome vírus, a hemaglutinina é representada por H e a neuraminidase por N. Nas aves encontram-se dezasseis subtipos H e nove N, enquanto no Homem prevalecem três subtipos H e dois N. Ambas as proteínas se encontram à superfície do vírus e é contra elas que os organismos desenvolvem anti-corpos. Posto isto, o artigo publicado na Science a 22 de Maio revelava que o novo 
vírus A/ 2009 H1N1 resultou do rearranjo de dois vírus suínos, um de origem euro-asiática e outro que circulava na América do Norte e na Ásia desde 1998. Mostrava ainda que os oito segmentos continham material genético, proveniente de vírus aviários, suínos e humanos, que foram progressivamente incorporados entre 1918 e 1998. No entanto, e tal como aconteceu nas três pandemias do século XX, todos os genes são de origem aviaria. Os vírus suíno euro-asiático, que circula em porcos pelo menos desde 1979, contribuiu com os segmentos NA e M. Os resultantes seis segmentos resultaram de rearranjos triplos entre vírus humanos, suínos e aviários. A “contribuição” do Homem para esta amálgama de genes foi o segmento PB1, que herdou das aves em 1968 e passou aos porcos por volta de 1998. O segmento genético que codifica a hemaglutinina é descendente do vírus A H1N1 responsável pela gripe espanhola. Os dados revelam ainda mais um aspecto curioso. É que este vírus não contem as alterações genéticas quês e julga terem possibilitado a adaptação ao Homem do vírus A H1N1, da gripe espanhola, e A H5N1, da gripe das aves. Daí que Gripe A 2009 terá de ter outras componentes genéticas que lhe permitem passar de pessoa em pessoa.

Sem comentários:

Enviar um comentário