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quarta-feira, 23 de junho de 2010

A 24 de Junho de 1519, morreu Lucrécia Bórgia

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Lucrécia Bórgia teve uma triste fama por toda a Itália renascentista devido à sua corrupção, carnalidade e preversidade. Para Lucrécia, a lealdade para com o pai e irmãos, todos eles vingativos, era muito mais importante do que qualquer outros laços e comprometeu-se de boa vontade com diversos casamentos que lhe serviam os interesses. A sua monstruosidade tem sido exagerada, mas os seus contemporâneos consideravam-na a personificação do mal e murmuravam que usava um anel oco, de onde discretamente deixava cair veneno no vinho de todos os que se lhe atravessavam no caminho.

Nasceu a 18 de Abril de 1480, Lucrécia foi a primeira filha, mas tinha já dois irmãos mais velhos do cardeal espanhol Rodrigo Bórgia e da amante Vannezza Catianei. Os dois irmãos mais velhos de Lucrécia, os quais se envolveram numa série de lutas políticas, chamavam-se Giovanni e César. Este era o mais velho e o mais cruel dos irmãos, que o escritor Maquiavel admirava. Dizia-se que tinha por Lucrécia uma atracção lasciva, tendo sido, alegadamente, responsável pela morte do irmão, cujo corpo foi encontrado no rio Tibre em 1497.
Lucrécia era uma criança bonita e cativante, transformou-se depois de crescida, numa mulher de grande beleza. Um contemporâneo descreve-a assim: “De uma altura mediana e formas graciosas… tem o cabelo doirado, os olhos cinzentos, uma boca de lábios grossos, os dentes de um branco esplendoroso, o peito macio e branco e admiravelmente proporcionado”. Aos onze anos já tinha sido prometida em casamento a dois nobres espanhóis, mas as prioridades políticas da família Bórgia alteraram-se quando o pai, Rodrigo, foi eleito papa em 1492, assumindo o nome de Alexandre VI. Lucrécia mudou-se para o recém construído palácio de Maia del Pórtico, que tinha uma porta privada para a Catedral de S. Pedro. Em Fevereiro de 1435, Alexandre arranjou o casamento de Lucrécia, então com 18 anos, com Giovanni Sforza, Senhor de Pesaro, para criar aliança com os Sforza, uma poderosa família milanesa, conta os aragoneses de Nápoles. O casamento realizado no Vaticano, foi um acontecimento sumptuoso, no qual se representou uma peça escandalosa sobre chulos e amantes. Lucrécia passou dois anos em Pesaro, mas sentia-se infeliz e regressou a Roma. Os Bórgia já tinham uma reputação terrível, suspeitavam de que Giovanni fazia espionagem a favor de Milão; quando visitou a mulher em Roma, ficou aterrorizado quando Lucrécia começou de repetente a sorrir e a mostrar-lhe sinais de afecto. Receando pela vida, fugiu de Roma disfarçado. A aliança entre Roma e Milão já não tinha utilidade para os Bórgia, que tentavam agora bajular Nápoles. O papa Alexandre exigiu que os Sforza concordassem com o divórcio, mas a única forma legal de o conseguir era obrigar Giovanni a fazer uma confissão falsa de que era impotente e que por isso, a recusara. Humilhado, ripostou alegando que o papa Alexandre tinha destruído o casamento para poder dar livre curso ao interesse que tinha pela sua filha.
No meio do processo de divórcio, Lucrécia, retirou-se para o convento romano de S. Sisto, onde recebeu um mensageiro do pai, o belo cortesão Pedro Calderou, com quem não tardou a iniciar uma relação amorosa. Um ano volvido apareceu no clã dos Bórgia um misterioso bébé do sexo masculino e pouco tempo depois Calderou foi encontrado a flutuar no rio Tibre, aparentemente mandado assassinar às ordens do papa Alexandre cheio de ciúmes. O historiador Potiglioho especulou que o pai do rapaz era o próprio papa Alexandre.
Em 1494 o tribunal concede o divórcio a Lucrécia que foi oferecida em casamento a Afonso, duque de Biscoglie, que tinha 17 anos e era filho ilegítimo de Afonso II rei de Nápoles. Não tardou muito tempo porém que os Bórgia se zangassem com Nápoles e se aproximassem mais do rei de França, Luis XII. Receando pela vida, o jovem marido de Lucrécia fugiu de Roma e, quando a mulher o convenceu a voltar, foi selvaticamente atacado nas escadarias da catedral de S. Pedro em Roma.
É possível que Lucrécia tivesse sido cúmplice no ataque, embora os seus contemporâneos achassem que amava o marido, e que foi ela a tratar-lhe dos ferimentos e a ajudá-lo a recuperar a saúde.
Mas a corte Bórgia, não era lugar seguro para a convalescença e, às ordens de Alexandre VI, um mês depois do primeiro ataque, Afonso foi estrangulado na cama. Diz-se que Lucrécia teve um grande desgosto com a morte do marido. Seja como for, não demorou muito a retomar o seu papel no poderoso mundo político dos Bórgias.
Em 1501, casou com Afonso d’Este, filho de Hercules I, duque de Ferrara. Embora a fama de Lucrécia a procedesse, o seu poder de sedução conquistou rapidamente os familiares do marido e, em 1505, recebeu o título de duquesa de Ferrara.
Depois da morte do seu pai Alexandre VII em 1503, Lucrécia transformou-se numa respeitadora protectora das artes e da literatura em Ferrara, embora ainda encontrasse tempo para uma relação com o cunhado e com o poeta humanista Pietro Bembo. Morreu de parto em 1514 com 39 anos. A vida de Lucrécia continua envolta em grande mistério. Teria sido, conforme é tradicionalmente conhecida, uma cúmplice das manobras políticas da família? Ou será que a dor que manifestou, na sequência do assassinato do seu segundo marido, sugere que nada mais era do que um peão indefeso apanhado na rede dos jogos da família? Para sobreviver no ambiente de brutalidade de Roma renascentista os ardis e as intrigas eram indispensáveis e Lucrécia era capaz de assumir muitos disfarces para atingir os seus fins. Assistiu em primeira mão à malvadez do pai e do irmão e, no entanto, manteve sempre a lealdade à família.

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