O dia 25 de Julho de 1978 foi um sábado muito especial para o casal Leslie e John Brown, de Bristol, no Norte de Inglaterra. Mas também foi um sábado especial para muitos casais em todo o mundo, que estavam, até aí, impossibilitados de ter filhos naturalmente. Leslie preparava-se para ser a mãe do primeiro bebé-proveta de sempre, uma menina, chamada Louise Brown. Hoje, no dia dos seus 25 anos, a ciência continua a agradecer a Robert Edwards e Patrick Steptoe por um dia terem decidido investir anos de vida a conseguir recriar o milagre da vida num tubo de ensaio.
As primeiras experiências com maturação de ovócitos de mamíferos, nomeadamente ratinhos e coelhos, em tubos de ensaio tinham sido iniciadas ainda durante a década de 30. Mas muito tempo passou até que os resultados começassem a ser verdadeiramente aliciantes. Foi com o trabalho desenvolvido por Robert Edwards, na Universidade de Edimburgo, Escócia.
Mas farto de fazer experiências com células sexuais de animais, nos últimos anos da década de 50, Edwards decidiu que ia dar um passo em frente: "O que é que eu podia fazer pelos pacientes? Provavelmente nada, a não ser a partir da altura em que conseguisse fertilizar os ovócitos humanos 'in vitro'", conta o pioneiro num artigo que escreveu este ano, na revista "Nature Medicine", para comemorar a efeméride dos 25 anos do bebé-proveta.
"Comecei a fazer estudos com tecido ovárico humano recolhido em cirurgias. Mas tinha de conseguir fertilizar os ovócitos no laboratório", conta Edwards. As primeiras experiências de Pincus e Saunders, com coelhos, tinham mostrado que bastavam 12 horas para o amadurecimento e fertilização dos ovócitos no tubo de ensaio. Ter acreditado que esses resultados poderiam aplicar-se a células humanas custou-lhe vários desgostos. Até que chegou o dia: "Decidi então esperar 25 horas por três ovócitos que me restavam. De repente, foi a alegria. Agora havia esperança para a fertilização 'in vitro'".
Ainda havia que contornar o problema de como chegar, da melhor maneira, aos óvulos de uma paciente: "Tive de procurar um colega que conseguisse chegar ao ovário de uma forma pouco invasiva. Em 1968, telefonei a Patrick Steptoe para saber como estava a correr o seu trabalho com a laparoscopia." Steptoe tinha desenvolvido uma técnica de cirurgia minimamente invasiva para recolher os ovócitos. Foi assim que se juntou a equipa que faria nascer, dez anos de trabalho depois, o primeiro bebé-proveta do mundo, a famosa Louise Brown.
É claro que toda a vida de Louise Brown foi seguida de perto. Todos queriam saber quem era o primeiro bebé-proveta do mundo. Em conferências internacionais, em entrevistas, em reportagens, a bebé loura gordinha e extrovertida transformou-se numa criança activa, depois numa adolescente típica, que trabalhou no "Burger King" de Bristol e que, aos 18 anos, conseguiu realizar um sonho: trabalhar com crianças. Tornou-se então assistente de um infantário, em Bristol, onde ainda hoje trabalha.
Leslie Brown diz que só contou à filha que era ela o primeiro bebé-proveta do mundo aos quatro anos. Mas ela não entendeu nada do que lhe estavam a falar. Aos dez anos percebeu, de facto, o que a tinha feito nascer. O mesmo se passou com Alastair MacDonald, o segundo bebé a nascer através de fertilização médica assistida. Tinha dez anos quando ouviu a notícia da morte do tio Steptoe, Patrick Steptoe. A televisão contava como ele tinha feito nascer a sua amiga Louise Brown. Ficou então tudo claro para Alastair sobre o tio Steptoe, sobre Louise e o facto de os pais terem sempre dito que ele era um bebé especial.
Natalie Brown, irmã de Louise, hoje com 21 anos, é também um bebé especial, concebido por fertilização "in vitro". E o mundo está cheio de centenas de milhares de bebés especiais, que, desde 1978, nasceram em todo o mundo por meio da técnica de fertilização "in vitro" desenvolvida por Edwards e Steptoe.
Questionada aos 17 anos, numa conferência de imprensa em que o PÚBLICO participou, Louise, uma adolescente como qualquer outra, disse que do seu futuro só sabia de uma coisa: "Quero trabalhar com crianças." Em relação ao que pensava sobre bebés-proveta, confessou: "Não, não me tenho interessado muito por essas técnicas de fertilização."
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