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domingo, 12 de setembro de 2010

D. Duarte , morreu a 13 de Setembro de 1438





O reinado de D. Duarte ficou marcado pela expansão marítima. Gil Eanes dobrou o cabo Bojador em 1434, desencadeando a tão desejada exploração da costa africana. Um governo que ficou também assinalado pela frequência da convocação das Cortes, pela promulgação da Lei Mental - que defendia o património da coroa - e pelo desastre militar de Tânger. Em cinco anos de governação, D. Duarte procurou gerar o consenso. Dava voz às partes envolvidas antes de tomar uma decisão. Espírito curioso, foi um rei dado às letras. Escreveu o primeiro ensaio filosófico na língua portuguesa, o “Leal Conselheiro”.


Foi educado para reinar. Quando D. Duarte chegou ao trono já tinha experiência notável. Desde 1412 que estava ligado ao governo do pai, D. João I. Foi o seu braço-direito. Todos os que estavam ligados à governação do progenitor transitaram para a sua administração. “Por isso, a passagem do reinado de D. João I para o dele fez-se suavemente, com progresso, é certo, mas sem rupturas - quase um milagre em Portugal”, escreve Luís Miguel Duarte, investigador e docente de História Medieval, na biografia de D. Duarte, publicada pelo Círculo de Leitores. 

Décimo primeiro rei de Portugal, D. Duarte era filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. Inicialmente a coroa não lhe estava destinada. Mas a morte do irmão D. Afonso - primeiro filho varão - tornou o infante D. Duarte o herdeiro do trono. Começou, então, uma história de vida diferente. A atenção que foi dada, quase desde o berço, à educação do príncipe herdeiro recaiu sobre D. Duarte. Todos os infantes tiveram, aliás, uma educação de alto nível. Tinham bibliotecas variadas e ricas, gostavam de viajar e valorizavam um bom livro. “Saiu uma geração de infantes com uma informação cultural e uma desenvoltura na escrita e na leitura muito acima da média”, diz o autor na mesma obra. 

Mas D. Duarte destacou-se dos irmãos. Era um pensador e escritor nato. Tinha o dom da palavra, exprimia-se com facilidade e simplicidade. Ficou conhecido como o “rei eloquente”. Durante o seu reinado fomentou a tradução de autores italianos e latinos e organizou uma importante biblioteca familiar. Escreveu a célebre obra “Leal Conselheiro”, considerada o primeiro ensaio filosófico escrito na língua portuguesa. Uma compilação de textos, pensamentos, notas e, até, cartas, em que ficaram famosas as suas análises dos sentimentos de tristeza e de saudade. 

Espírito culto e curioso, D. Duarte teve um reinado sem grandes sobressaltos, até, talvez, ao episódio de Tânger. Durante os curtos cinco anos que governou preocupou-se em gerar consenso. Fazia questão de ouvir todas as partes antes de tomar uma decisão. Chegou a convocar as Cortes cerca de cinco vezes para discutir assuntos de Estado. “Há quem confunda este modo de fazer as coisas com tibieza, falta de personalidade, incapacidade para mandar”, escreve Luís Miguel Duarte. Mas “há também quem veja nele - é o meu caso - simples prova de inteligência, sabedoria e bom senso”, continua. A convocação das Cortes e a promulgação da Lei Mental, que se destinava a defender o património da coroa, mostrava bem a política interna do monarca. 

A expansão marítima foi o sector da vida do reino em que D. Duarte mais teve protagonismo. Foi durante a sua governação que se deu início à descoberta atlântica e Portugal viu o seu papel de nação marítima reforçado. Gil Eanes dobra o cabo Bojador em 1434, façanha decisiva para a exploração da costa africana e há muito desejada pelo Infante D. Henrique. O seu reinado foi, no entanto, ensombrado com a guerra em Marrocos. A política de conquistas em África não era consensual. Tinha o apoio da rainha D. Leonor e dos irmãos D. Fernando e D. Henrique e a oposição dos outros infantes, D. Pedro e D. João. O monarca avançou e o resultado foi o desastre militar de Tânger e a morte do irmão D. Fernando no cativeiro. “As responsabilidades devem ser repartidas: por D. Henrique, que revelou incompetência militar e imprudência, e por ele, que autorizou a experiência e talvez não devesse tê-lo feito”, considera Luís Miguel Duarte. 

Surpreendido pela peste, D. Duarte morreu aos 47 anos. Deixou em testamento que os seus sucessores deviam devolver aos muçulmanos a cidade de Ceuta e recuperar o infante D. Fernando. E que a regência do reino devia ser confiada à rainha D. Leonor, a sua esposa, até à maioridade do seu filho D. Afonso. Nada foi cumprido. “Ninguém fez por ele o que ele fizera pelo pai, ninguém lhe cuidou, com carinho e com respeito, do corpo e da memória”, lamenta o investigador.

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