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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Miles Davis, morreu a 28 de Setembro de 1991


O que é ser “cool”? Na sua essência, ser “cool” tem a ver com as novas tendências. Na cultura popular as novas tendências é um caleidoscópio que contém o passado, o presente e o futuro: Este caleidoscópio é feito do que foi “cool” no passado, e o que pode ser “cool” no futuro. Esta qualidade intemporal, quando aplicada ao mundo da música, reduz-se a um pequeno número de figuras que tendo sido “cool”, serão “cool” para sempre.
Durante cerca de seis décadas, Miles Davis personificou tudo o que significa ser “cool” – na sua música (e mais especialmente no seu jazz), na sua arte, moda, romance e na presença internacional que se faz sentir ainda hoje, mais de meio século de brilhantismo, integridade artística e inovação que transcendem a figura do homem.
Construindo um caminho que sempre pareceu ter algo de missão, Miles Dewey Davis III- músico, compositor, produtor e “band leader”- esteve sempre no local certo, no tempo certo, outro dos aspectos distintivos de “cool”. Nascido em Alton, Illinois, e crescendo em no Este de St. Louis, onde o seu pai era dentista, MIles recebeu a sua primeira trompete aos 13 anos.
Miles Davis foi uma criança prodígio, cuja mestria da trompete se acelerou quando começou a ficar sob o feitiço de nomes como Clark Terry, Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Billy Eckstine, e outros grandes homens de jazz que o influenciaram. Miles entrou na escola Juiliard em 1944, mas apenas como uma desculpa para ir para Nova Iorque e poder chegar perto de Bird e Diz. Aos 18 anos.
Em apenas um ano conseguiu o seu objectivo. Pode ser ouvido em sessões conduzidas por Charlie Parker, lançadas em 1945 (com Max Roach), 1946 (com Bud Powell), 1947 (com Duke Jordan e J.J. Johnson) e 1948 (com John Lewis). Em 1947, os Miles Davis All Stars (com Bird, Roach, Lewis e Nelson Boyd) estreiam-se na Savoy Records. Os seus anos na Rua 52, durante a segunda parte dos anos 40 trouxeram Miles para a orbita de músicos cujas lendas, ele partilharia antes de ter 25 anos.
No virar da década de 50, enquanto Miles liderava as suas primeira pequenas bandas, uma associação com Gerry Mulligan e o produtor Gil Evans, fez nascer The Birth of Cool, um movimento que desafiava o domínio do bebop e do hard-bop. Os próximos trabalhos de Miles no inicio dos anos 50 (Blue Note e Prestige) ajudaram a lançar músicos como Sonny Rollins, Jackie McLean, Horace Silver e Percy Heath, entre muitos outros, fazendo de Miles o grande descobridor de talento no Jazz durante o resto da sua carreira.
Um passo histórico foi dado no Newport Jazz Festival em 1955, quando George Avakian levou Miles Davis para a Columbia Records, o que levou à formação do chamado “ primeiro grande quinteto”, com John Coltrane, Red Garland, Paul Chambers e Philly Joe Jones (em Round About Midnight Sessions). Os 30 anos de carreira de Miles na Columbia foram um dos mais longos contratos de exclusividade na história do Jazz, e que gerou, pelo menos, seis grandes mudanças na música – Virtualmente todas antecipadas ou lideradas por Miles Davis ou pelos seus músicos.
Durante esses 30 anos, trabalhar com Miles Davis definiu “quem é quem” na história do jazz. Kind of Blue, indisputadamente o álbum de jazz mais “cool” alguma vez gravado, foi feito em 1959 com a participação de Coltrane, Chambers, Cannonball Adderley, BIll Evans e Jimmy Cobb – que permaneceram juntos até 1961.
Depois de tocar com músicos como Hank Mobley, Wynton Kelly, Victor Feldman e George Coleman, o “segundo grande quinteto”, formou-se por volta de 1963 e 1964, incluindo Wayne Shorter, Herbie Hancock, Ron Cárter e Tony Williams ( que tinha apenas 17 anos quando se juntou a Miles). Gravaram com o produtor Teo Macero e andaram em tour por todo o mundo até 1968, conseguindo sucesso artístico e comercial sem precedentes na história do Jazz moderno.
1968 foi um ano de cataclismos sociais para os Estados Unidos e para Miles Davis, o escalar da guerra no sudeste Asiático, o assassinato de Martin Luther King e Robert Kennedy e a subida de influência do movimento Black Power, foram alguns dos factores que direccionaram a musica de Miles para um som mais eléctrico. Miles começava a ser influenciado também pela musica de James Brown, Jimmy Hendrix e Sly Stone. O que começou em 1968 com a adaptação do quinteto de Miles Davis a adoptar o piano e guitarra eléctricos, explodiu num som de banda Rock no álbum de ruptura Bitches Brew ( que levou Miles à capa da Rolling Stone. Foi o primeiro “jazzmen” a fazer capa desta revista).
Nas sessões de Bitches Brew, cujas gravações tiveram lugar uma semana após o festival de Woodstock em Agosto de 1969, estava um grupo de músicos conhecidos como “o terceiro grande quinteto” – Shorter, Chick Corea, Dave Holland, Jack deJohnette – havendo também as participações de John McLaughlin, Larry Young, Joe Zawinul, Bennie Maupin, Steve Grossman, Billy Cobham, Lenny White, Don Alias, Airto Moreira, Harvey Brooks e os ex-membros do quinteto,Hancock e Carter.
Seis meses mais tarde, em Fevereiro de 1970, Miles começou com as Jack Johnson sessions. Trabalhando com os músicos referidos anteriormente e ainda com Sonny Sharrock, Steve Grossman, Michael Henderson, Keith Jarret e outros. O movimento de fusão entre o Jazz e o Rock estava lançado sem margem para dúvidas, e o espírito de Miles Davis permeava as três bandas que dominavam os palcos – Weather Report, Return to Forever e The Mahavishnu Orchestra.
Este novo som, de alta energia que se estendia ao Funk e R&B, teve uma breve baixa de popularidade que coincidiu com um período de problemas de saúde no inicio dos anos 70. Miles, deu o seu ultimo concerto em 1975 no Central Park Music Festival nesse Verão.
Miles reapareceu mais forte que nunca em 1981 com The Man With The Horn, com um alinhamento de jovens músicos: Mike Stern, Marcus Miller, Bill Evans, Al Foster e Mino Cinelu (Todos viriam a ter carreiras de sucesso). Foi o primeiro LP de Miles a chegar ao Billboard Top 50 desde Bitches Brew, e a banda foi gravada ao vivo para o seguinte LP Duplo We Want Miles. O grupo manteve-se estável até Star People em 1983. Depois a composição mudou no álbum Decoy de 1984, quando Miller foi substituído por Daryll “Munch” Jones, Robert Irving III acrescentou sintetizadores e programação, e Branford Marsalis partilhou o saxofone com Evans.
O último álbum de Miles Davis para a Columbia Records saiu em 1985 com o título You’re Under Arrest. Apresentou ao mundo o sobrinho de Miles Vince Wilburn que se juntou ao grupo de músicos que gravitavam em redor de Miles. Neste álbum estão duas baladas que marcarão a carreira de Miles Davis: “Human Nature” de Michael Jackson e “Time after Time “ de Cindy Lauper.
No ano seguinte, Miles começou a gravar para a Warner Bros., um período prolífico, pontuado por um álbum por ano ( os primeiros 4 co-produzidos com Marcus Miller): Tutu (1986) , Music from Siesta ( 1987), Live Arround The World ( 1988), Amandla (1989), Dingo(1990), e o seu ultimo álbum de originais, Doo-Bop (1991) , cujo tema de titulo deu a Miles um sucesso póstumo como single de Rap/R&B em 1992.
“Miles Dewey Davis III – trompetista, visionário e eterno modernista – foi uma força da natureza” escreveu Ashley Khan ( autor de Kind of Blue: the Making of Miles Davis masterpiece, DaCapo, 2000) no jantar do Rock and Rolll Hall of Fame. “Com um ouvido que não conhece categorias de estilo, ele procurou novos universos musicais, e levou gerações na sua pegada. Enquanto a centelha criativa de muitos músicos se esgota na sua juventude, Miles Davis teve sempre desejo de explorar novos limites nos seus 65 anos de carreira. Tinha de ser novo, ou esquecer”.
Para lá da sua postura de desafio, do seu olhar penetrante, das suas conquistas amorosas e de uma posição de vanguarda no mundo da moda – haverá sempre uma verdade universal – A musica de Miles Davis.

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